Por Marino Boeira | 03/07/2020
A Guerra Civil Espanhola, de 1936 e 1939, onde os dois lados representavam claramente a divisão ideológica em que vivia o mundo, socialistas republicanos de um lado e fascistas da extrema direita do outro, continua dando argumentos para novas e importantes obras de ficção.
Há alguns anos, Lydie Salvayre venceu o prêmio Goncourt, o mais importante prêmio literário da França, com o romance Pas Pleurer. Filha de republicanos espanhóis que emigraram para o sul da França para escapar do franquismo, Lydie, com o seu livro, mostra que o assunto está longe de se esgotar num momento em que as divisões ideológicas voltam a se acentuar em todo mundo.
Antes dela, vários outros escritores usaram essa guerra como tema com destaque para Ernest Hemingway, que foi motorista de ambulâncias no lado republicano com o seu clássico Por Quem os Sinos Dobram, e Gerorge Orwell, que lutou ao lado do POUM contra os fascistas e que descreveu esse período em Homenagem à Catalunha.
Até mesmo Érico Veríssimo usou a guerra para um livro menor em sua obra literária, Saga, um romance dentro do ciclo urbano de Érico, narra a trajetória de Vasco Bruno desde sua vivência na guerra, na Espanha, até o seu retorno a Porto Alegre.
Eu volto ao tema motivado pela leitura do magnífico livro de Alejo Carpentier, Sagração da Primavera, em que ele retoma o tema da Guerra Civil e mais especificamente a ação das Brigadas Internacionais que lutaram ao lado da República.
Talvez a Brigadas Internacionais tenham sido o último grande gesto a marcar uma solidariedade entre os homens acima dos países, das bandeiras, dos mesquinhos interesses nacionais, todos unidos na defesa de algo muito tênue, mas fundamental para a preservação da condição humana, uma ideia.
Carpentier descreve assim a ida do seu alter ego, o cubano Henrique, para se juntar às brigadas na Espanha: “E às 10h da noite, sob os amplos vidros da Gare d´Austerlitz, o trem começa a andar. Então, enorme, multitudinária, tremembunda, em plataformas repletas de gente, e nos vagões que já começam a rodar, soa, solene, acolhedora, a Internacional, tal qual um Magnificat cantado em nave de abóbadas, sobre o organum da locomotiva, que, com um longo assobio, toma o rumo dos Pirineus”.
Foram quase três mil combatentes vindos de cerca de 70 países diferentes, inclusive o Brasil, mas majoritariamente da França, Alemanha, Polônia e Itália.
Enquanto se travavam furiosas batalhas em Bilbao, Santander, Gijon, Almeria, Turuel, Ebro e a decisiva por Madri, o que une os brigadistas é a Internacional, com suas primeiras estrofes cantadas em uma babel de línguas:
De pé, ó vítimas da fome. / Arise! Ye starvellings from your slumbers. / Wacht auf. Verdammte diese erde.
Compagni avanti il gran partito./ Debout, les dannés de la terre. / Arriba, parias de la tierra.
No outono de 1938, a República apresentou uma proposta ao Comitê de Não Intervenção, coordenado pela Inglaterra e França, incluindo a saída da Espanha dos combatentes estrangeiros. As Brigadas Internacionais foram dissolvidas, mas a Alemanha nazista e a Itália fascista continuaram, porém, apoiando Franco com armas e homens até a sua vitória final, em abril de 1939.
Nunca mais depois disso, surgiu outro grande movimento capaz de unir todos os homens em torno de um objetivo comum, quando, como diz um personagem do autor, “tudo se resume em saber se você está com o cão ou quer acabar com o cão. O resto é perfumaria”.
A leitura de Carpentier nos leva a sonhar que um novo homem talvez seja possível com os mesmos propósitos que uniram os que lutaram nas Brigadas Internacionais.
Fonte: https://www.coletiva.net/colunas/o-ultimo-grande-gesto-de-solidariedade-humana,362844.jhtml
agência de notícias anarquistas-ana
Toma nota, rapaz:
Hai-kai é a captura
De um momento fugaz
Lubell
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!