Desde 8 de junho um avião Persuader CASA C-295 da Marinha do Chile sobrevoa esporadicamente a província de Arauco. Um caso semelhante ocorreu na região da Araucanía, onde foram detectados drones aéreos não tripulados em maio. A que se devem esses exercícios de aviões de guerra militarizando o território mapuche?
Os sobrevoos realizados tanto pela Força Aérea como pela Marinha chilena na região da Araucanía e da Província de Arauco na região de Biobío podem ser considerados como um golpe nas garantias dos cidadãos durante o atual estado de emergência constitucional por catástrofe no território mapuche. Em ambos os casos, trata-se de voos de reconhecimento tático com aviões militares em territórios onde vive a população civil, que expressaram seu incômodo e desconcerto diante desses eventos.
Um avião de reconhecimento tático sobrevoando Arauco
Na província de Arauco, particularmente na comuna de Tirúa e no setor do Lago Lleu Lleu, a Marinha utilizou uma de suas três aeronaves de reconhecimento tático CASA C-295 Persuader para realizar sobrevoos sistemáticos em territórios habitados por civis e longe de qualquer base ou objetivo militar. Foi possível identificar a aeronave através de fotos comparativas de imagens e vídeos capturados pelos habitantes locais com material de arquivo existente da aeronave durante sua escolta do Supertanker nos mega incêndios das plantações florestais em 2017, resultando no equivalente da cauda, fuselagem, asas e nariz.
Desses voos do Persuader, há evidências de seus primeiros registros de 8 de junho durante a manhã, tarde e noite, e tem continuado esporadicamente até seu mais recente voo confirmado em 26 de julho, novamente sobrevoando Tirúa. Durante duas semanas, os voos pareciam ter cessado, mas novamente ele tem sido visto voando diariamente sobre a área sul da província de Arauco desde os últimos cinco dias, em horários próximos às 17:00 horas.
O CASA C-295 Persuader, longe de ser uma aeronave civil, é uma “Patrulha Marítima e Aeronave de Guerra Antissubmarino”, como detalhado na mesma página da Marinha, e está equipada com a mais avançada tecnologia para reconhecimento terrestre e marítimo: câmeras eletro-ópticas e infravermelhas (que podem detectar variações de temperatura), um detector de anomalias magnéticas, um sistema de inteligência ELINT através da obtenção de sinais eletrônicos (como ondas de rádio, micro-ondas, etc.) que são coletados e analisados, um Sistema de Inteligência de Comunicações (COMINT) que permite a interceptação de comunicações de voz, texto e sinal, e a identificação de veículos amigáveis ou inimigos (IFF), entre outras características.
Também tem 6 pontos sob as asas onde se pode colocar “torpedos, mísseis ar terra, minas e cargas de profundidade”.
Além disso, o avião tem uma sala de controle onde se pode gerenciar em tempo real todos os sistemas de monitoramento mencionados acima.
Em outras palavras, trata-se de uma aeronave que não foi projetada para cumprir qualquer propósito civil, mas apenas militar, embora tenha sido utilizada em missões humanitárias como os megaincêndios de 2017, uma situação que está claramente longe do contexto atual.
A descrição do avião também se encaixa perfeitamente no que Carlos Huber, Contra-Almirante da Marinha e chefe da Defesa Nacional em El Biobío durante o atual estado de emergência, disse em uma coletiva de imprensa em 9 de junho que “há um avião de exploração aérea marítima realizando patrulhas para reforçar a vigilância aérea”, de acordo com a Cooperativa.
Mesmo assim, não está totalmente claro quais são os objetivos específicos ou quem deu a ordem para os sobrevoos, sem deixar claro se é uma ordem do governo central (Ministério do Interior ou Defesa) ou se é uma iniciativa do comando militar, aproveitando-se de seus poderes conferidos pelo estado de catástrofe à Marinha no Biobío.
É exatamente isso que o padre jesuíta Carlos Breschiani s.j., que vive em Tirúa tentou encontrar, ele está se perguntando qual a origem desses sobrevoos. Ele aponta que tem visto repetidamente o avião circular à tarde e à noite, voos que não são feitos sobre o mar, mas ao longo da costa em direção ao interior, às vezes a baixa altitude, com todos os inconvenientes que isso implica para a população. Ele também aponta que no setor do Lago Lleu Lleu ele também foi visto repetidamente, e que por sua vez foram vistos drones na área, acrescentando que estes geraram grande preocupação na comunidade.
A principal preocupação é “conhecer o propósito dos voos”, pois até agora não houve autoridade para dar-lhe uma resposta satisfatória. Também se descarta que eles estejam relacionados à própria pandemia, uma vez que a comuna de Tirúa tem sido exemplar em lidar com o contágio, mantendo-o em zero na maioria das vezes, e se um caso surgir, ele geralmente é totalmente rastreável.
RESUMEN comunicou-se com a unidade de imprensa da Segunda Zona Naval da Marinha do Chile, onde preferiram não se referir ao assunto.
Um veículo aéreo não tripulado (drone) da FACh em Araucanía
Da mesma forma, e também alertando a população, foram os voos feitos pelo drone Hermes 900 da Força Aérea Chilena através da cidade de Temuco e arredores, no final de maio deste ano.
Trata-se de um veículo aéreo não tripulado de grande autonomia de altitude média (UAV) de fabricação israelense, cujo projeto responde a tarefas de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (ISR). O contrato entre a Força Aérea Chilena e a Elbit Systems foi finalizado em 2011 e atualmente conta com três unidades.
De acordo com seu folheto comercial, o Hermes 900, assim como o C-295 Persuader, possui os sistemas COMINT e ELINT, também com câmeras de última tecnologia (eletro-ópticas) e com capacidade de reconhecimento de infravermelho. Com um motor Rotax 914 de 100 cavalos de potência, ele pode voar mais de 36 horas em altitude de cruzeiro sem a necessidade de reabastecer.
Também, similar ao Persuader, o Hermes 900 tem sido usado para monitorar incêndios florestais, mesmo em Araucania, como observado pelo Infodefensa, porém, como pode ser visto no site Onemi, nenhum alerta de incêndio florestal foi detectado na região durante o mês de maio deste ano.
Tanto a Marinha como o Ministério da Defesa precisam esclarecer a razão destes exercícios militares onde a população civil, Mapuche ou não, vive em um território já militarizado e considerando os gastos envolvidos na mobilização destes aviões de guerra em um contexto onde todos os gastos fiscais devem ser concentrados para aliviar a crise que uma grande parte da população chilena está vivendo em meio à pandemia.
Tradução > Liberto
agência de notícias anarquistas-ana
Grande sol poente
chupa no horizonte
estrada serpenteante
Winston
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!