• Libertário, anarquista, professor, amigo de Ramón Acín, combatente antifascista… Não conta com nenhuma referência nem rua com seu nome na cidade que lhe acolheu desde pequeno e onde, em um desejo não realizado, quis que se devolvessem seus restos mortais.
• Assassinado nas mãos dos alemães em Toulouse em 1944, desempenhou um papel-chave na rede europeia de evasão de perseguidos pelo nazismo. O ramo que operou entre Espanha e França, o Grupo Ponzán, foi denominado assim em sua homenagem.
Por Miguel Barluenga | 07/01/2020
O olhar do oscense Paco Ponzán (1911-1944) observou com assombro a história espanhola e europeia da primeira metade do século XX. Libertário, anarquista, professor, amigo de Ramón Acín, combatente antifascista… Seu nome apenas encontra eco mais além dos estudos e artigos acadêmicos e de memória histórica. Tampouco conta com nenhuma referência nem rua com seu nome na cidade que lhe acolheu desde pequeno e onde, em um desejo não realizado, quis que se devolvessem seus restos mortais. Assassinado pelos nazis depois de colaborar na resistência contra Hitler e Franco, sim se trata de uma figura venerada no país gaulês.
Nascido em Astúrias, onde seu pai trabalhava no setor ferroviário, criou-se forjado pelo ferro da severa educação religiosa que lhe impôs sua mãe, viúva quando Ponzán só tinha sete anos. Estudou o bacharelado com os padres Salesianos neste centro floresceu um caráter rebelde, insatisfeito e apaixonado, que se enfrentou com os religiosos e lhe valeu a expulsão do colégio. Foi ajudante de boticário e aprendiz de livraria antes de matricular-se no Magistério aos 14 anos. Nessa escola dava aulas Ramón Acín, artista, jornalista e pedagogo, a vítima da repressão franquista mais tristemente célebre da cidade.
Acín inspirou a nascente carreira política de Paco Ponzán para o anarcossindicalismo junto a outro de seus grandes amigos, Evaristo Viñuales. Ambos foram detidos com assiduidade por protestos estudantis ou seu apoio a greves e a participação em comícios e ações anarquistas. A profissão de professor acabou conduzindo-o à La Coruña, embora o golpe militar de 18 de julho de 1936 o surpreendeu em Huesca, onde se encontrava alertado pelos sinais que apontavam à tragédia que estava a ponto de se desencadear.
Ponzán participou na reunião do Governo Civil que, na madrugada de 19 de julho, determinou que não se entregassem armas à população para defender a República. “Ponzán era partidário de defender a República com as armas. Ramón Acín lhe pediu um pouco de calma, mas no dia seguinte já era tarde. Paco Ponzán fugiu de Huesca. Quando se inteirou do assassinato de Ramón Acín, fuzilado em 6 de agosto de 1936, chorou amargamente”, indica o historiador Víctor Juan.
Durante a Guerra Civil combateu nas fileiras anarquistas como parte do Conselho Regional de Defesa de Aragão até sua dissolução. Mais tarde foi nomeado responsável do denominado Serviço de Informação Especial Periférico (SIEP), encarregado de ações de sabotagem e espionagem em território inimigo. Exilado na França após a derrota republicana, esteve interno no campo de concentração de Vernet e ali começou a segunda parte de sua viagem vital. Participou no início de um grupo de evasão integrado na denominada Red Pat O’Leary, responsável pela evasão de milhares de perseguidos pelo nazismo.
“O principal objetivo era o de resgatar os aviadores aliados que caíam em solo francês e conduzi-los a refúgios seguros, procurar-lhes roupa, comida, documentação para cruzar os Pirineus e devolvê-los desde Portugal ou Gibraltar a território aliado. Neste último elo da cadeia trabalhavam os homens de Paco Ponzán”, assinala Víctor Juan.
O Grupo Ponzán toma o nome do oscense e também contou com os serviços de sua irmã, Pilar, instalados ambos em Toulouse. Trabalharam para os serviços secretos franceses, belgas e, sobretudo, ingleses. No contexto da guerra e da França ocupada, os aliados tinham necessidade de contar com passagens clandestinas da fronteira espanhola que lhes permitissem evadir pessoas em perigo e conduzir correios a suas embaixadas e consulados. Os anarquistas do Grupo Ponzán pretendiam estender e fortalecer a luta contra Franco em todas as frentes possíveis e a colaboração com os serviços secretos aliados lhes aportavam financiamento, armas e contatos.
O Grupo participou na evasão de ao redor de três mil pessoas e prestou um número indefinido de serviços de correio. Detido em 1942 e ingressado de novo em Vernet, de onde conseguiu escapar, Paco Ponzán caiu em mãos dos nazis em 28 de abril de 1943. Foi assassinado em Toulouse e seu cadáver queimado em 17 de agosto de 1944, só dois dias antes da liberação da cidade francesa. Havia deixado escrito em seu testamento: “Desejo que meus restos sejam transladados um dia a terra espanhola e enterrados em Huesca, ao lado do professor Ramón Acín”.
Apesar deste desejo não ser realizado e da ausência de homenagens em sua terra, Ponzán foi reconhecido e condecorado a título póstumo pelos governos e exércitos da França, Reino Unido e Estados Unidos. Dos cadernos de Ponzán recuperados após sua morte é possível conhecer a identidade, e às vezes inclusive a fotografia, de 311 pessoas evadidas pelo Grupo: militares de alta graduação, políticos, personalidades científicas, famílias judias… A municipalidade de Toulouse sim dedicou uma avenida em sua homenagem.
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Eu acordo
contando as sílabas;
o haikai ri
Manuela Miga
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!