Quando a solidariedade nos torna cúmplices e alegres, sorrimos por estarmos lá! Luta contra o arrependimento!
Breves palavras no apelo à solidariedade internacional com xs presxs anarquistas do mundo. Uma instância de reflexão anticarcerária.
Faz pouco mais de um mês que xs camaradas Mónica e Francisco estão em custódia sob a acusação de serem responsáveis por várias ações que visaram figuras do poder estatal. Não é intenção deste comunicado discutir sua inocência, pois como inimigos do Estado e de suas instituições, não nos identificamos com o sentido de “justiça” nem muito menos com o sistema moral de inocência e culpa oferecido pelo serviço da verdade e suas formas legais. Nem usaremos o conceito conveniente de “montagem” para nos referirmos à forma como o Estado e o governo atacam e agem contra xs camaradas, pois nunca consideramos tal espetáculo (juntamente com os fetiches, sensacionalismos e desculpas que ele expira) como uma defesa contra a suposta inocência dos anarquistas. Como destacaram por aí, não eram “nem culpados nem inocentes, apenas anarquistas” ou “culpados ou inocentes? Anarquistas!”.
Compartilhamos as recentes reflexões escritas por Mónica e Francisco a respeito de suas prisões, das lutas e de suas consequências. Sempre abraçamos a reafirmação anárquica do que acreditamos, seus golpes e contra-ataques, e nos orgulhamos de ouvir a convicção revolucionária diante da punição punitiva, mesmo – e quero dizer independentemente – se forem considerados inocentes ou não desde qualquer espectro político, pois acreditamos que a inocência nestes casos nada mais é do que uma incompreensão das incertezas ou certezas repressivas daqueles que se consideram em guerra com o Estado, pois o reconhecimento do perigo potencial do que acreditamos é argumento suficiente para o poder iniciar e articular suas perseguições, assassinatos e prisões contra aqueles que tentam defender a liberdade e a vida. E bem, temos que esclarecer que nossa ideia de “atentado” é muito comprometida do que um impacto explosivo, compreende um campo amplo e multiforme de ações, sensações e gestos que aceitam o desafio da autonomia na convivência com a luta contra o estabelecido. Com isto queremos dizer que consideramos como perigoso um dispositivo explosivo como um livro, como vindicativo uma ação em memória de um camarada caído como solidariedade ao povo, como perigosos os espaços okupados e bibliotecas, bem como a presença nas ruas com comícios e concentrações, e mais exemplos em um não tão largo etc. que achamos necessário discutir e repensar a partir do político e insurrecional, como a partir do psíquico e social.
Consideramos todas essas noções de periculosidade como expressões imediatas de ação direta e de violência quando assumimos as consequências disso. Acreditamos que é necessário nos despojarmos do imaginário armado e de suas diversas conotações explosivas ao formarmos nossas impressões sobre o que construímos e suas respectivas repercussões. Isto não significa que não afirmamos que tais ações sejam cometidas de forma armada ou por iniciativa do tradicional “ataque”; pelo contrário, estamos felizes em ver as estruturas de poder, seus símbolos e cúmplices serem atacados, mas também acreditamos que a importância e a periculosidade do que fazemos se expande em grande medida nas/para as convicções que colocamos sobre tais ações, como indivíduos e/ou coletivos, em força incondicional, de modo que acreditamos, em seu sentido anárquico mais amplo, que pode comprometer uma iniciativa ou projeto na guerra contra o poder. São as decisões pessoais que tomamos em nossa contínua motivação de destruição, que nos expressam as diferentes faces da luta, suas consequências e aprendizado. É a partir do compromisso consigo mesmo que se assume e se determina suas ações.
Lamentamos sempre que nossxs camaradas caiam nas mãos dos carcereiros e por isso sempre mostramos nossa solidariedade por sua liberdade precoce. Nunca derrotados! Porque a prisão não é o fim dos princípios, nem é uma conquista gloriosa para o “percurso” de alguém. Pensar o confinamento do indivíduo como um ato de reconhecimento ou glória, é continuar reproduzindo a figura clássica do mártir que a esquerda costumava projetar em presos políticos ou subversivos, além de ampliar, por meio da construção de um herói imaginário, o indivíduo apenas por sua condição de prisão. O sentimento iconoclástico nos proporciona a destruição do mártir e seu vertical conteúdo reivindicativo da imagem.
Não exigimos que o Estado reconsidere suas ações, não esperamos nada do que eles chamam de justiça ou bom senso. Não relaxamos nem paramos de bater sobre as condições “humanitárias” que os Estados democráticos presumem, mesmo que concordem em defender os “direitos humanos” através de convênios internacionais. Um dos “truques mais engenhosos do Estado” é fazer as pessoas acreditarem que o sistema, por mais imperfeito que seja, vai mudar. Sob esta premissa, será que as prisões, por mais reformadas que sejam, poderão ser reconfiguradas a tal ponto que não serão mais considerados centros de matança? Para alguns, esta resposta poderia ser respondida com um “sim” sem convicção, talvez por causa da esperança de que haverá melhores condições no confinamento ou da ausência de gendarmes no processo de “reinserção” social. A verdade é que não compartilhamos a ideia de que a prisão, não importa o quanto de “melhora” seja feita nela, para o bem-estar dxs prisioneirxs, pode ser transformada em algo diferente de um centro de extermínio. Mesmo assim, somos solidários com aqueles que se mobilizam por si mesmos sob estas expectativas e parâmetros, não compartilhando o discurso da reforma, mas acompanhando a destruição da sociedade penitenciária. Isso nunca significará um abandono daqueles que se mobilizam nesse sentido, quer acreditem ou não nas garantias do sistema judiciário, quer acreditem ou não na reforma prisional, quer acreditem ou não na inocência. Nós sempre chamamos a estar presentes e ativos para xs prisioneirxs de ontem e de hoje, porque “aqueles que esquecem seus prisioneiros abandonam a luta”.
Atualmente, existem coordenadorias, redes, organizações, coletivos e indivíduos que têm trabalhado arduamente para manter um importante nó de comunicação entre xs presxs e o mundo exterior, bem como agitando constantemente contra a prisão e tornando visível a instituição imunda que tal prisão. É a existência e a constância desta solidariedade antiprisão no campo prático que permite uma prisão mais “agradável” para aqueles que sobrevivem no interior, porque cada gesto faz a diferença, para eles, para o mesmo e para as intenções torturadoras do isolamento, porque não nos calamos, não damos tréguas ao abandono, pelo contrário, Nós o atacamos e o atingimos onde mais dói, com as sempre inquebráveis redes de apoio, porque como se diz “a solidariedade é uma arma”, e há exemplos recentes em nossa história antiprisão disso, de ter visto camaradas presos pelo simples – mas nunca passivo – ato de presença, de não esquecê-los e segui-los, com mais raiva, no caminho da anarquia e de suas imagens.
A semana de solidariedade internacional com xs prisioneirxs anarquistas sempre nos faz suspirar profundamente, porque é um lembrete de que ainda há companheirxs presxs no mundo inteiro, e o que é frustrante: a preservação da estrutura punitiva e sua lógica prevalecente na sociedade penitenciária, onde a punição é considerada a ferramenta da chamada reinserção. Aqui no território dominado pelo Estado chileno, lá no território dominado pelo espanhol, francês, italiano, indonésio, bielorrusso, americano, grego, inglês, português, chinês, mexicano, etc. Presxs de diversas tendências anárquicas continuam presentes, das quais nos alimentamos e discutimos. Consideramos vital a comunicação (por qualquer meio e -in-formalidade que seja) e a retribuição à distância (reflexões, saudações, lembretes do amplo mundo em que vivemos), no chamado internacionalismo do qual somos sempre acompanhados por leituras e ações que são compartilhadas sem reconhecer fronteiras e que nos encorajam a continuar presentes no caminho do diálogo insurrecional.
Com muito mais a dizer, viva a anarquia!
Uma forte saudação axs camaradas Mónica, Francisco, Joaquin, Marcelo, Juan Aliste, Gabriel Pombo da Silva, Dinos Giagtzoglou, Christos Rodopoulos, Anna Beniamino, Marius Mason, Marco Bolognino, Mumia Abu-Jamal, axs camaradxs anarquistas de Santiago 1, e a todxs aqueles que estão em pé de guerra!
Um apelo afetuoso à solidariedade com as comunidades mapuches em guerra e seus prisioneirxs políticxs, muitos dos quais estão atualmente em greve de fome.
Em memória de Mauricio Morales e Xosé Tarrio.
Do território dominado pelo Estado chileno, uma livraria anarquista.
Tradução > Liberto
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o ronrom
estridula sem cessar
Ross Clark
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!