Por Laura Vicente | 23/08/2020
O anarquismo perdeu a batalha no campo da história, seus recursos e seu poder no campo da pesquisa, divulgação e publicação de livros é minúsculo em comparação com aqueles que controlam esses campos. O trabalho de desacreditá-lo é feito há muito tempo: o anarquismo é fraco em sua abordagem, é o trabalho dos desmiolados, de gente primitiva e violenta. É por isso que se alguém é responsável pela violência do lado republicano (agora que se reconhece que também houve repressão e violência indiscriminada) essa cota é reservada para o anarquismo e sua organização mais relevante: a CNT.
O livro de Jesús F. Salgado¹ tinha, segundo seu próprio autor, um duplo objetivo: fazer um estudo biográfico de Amor Nuño, um homem relevante tanto dentro da CNT em Madrid (no Sindicato dos Transportes e na Federação Local) quanto na Junta de Defesa desta cidade, e em segundo lugar estabelecer seu envolvimento e o da CNT em alguns dos eventos sangrentos da Guerra Civil.
Com relação ao estudo biográfico, o livro tem o mérito de resgatar da invisibilidade um homem que foi muito ativo nas posições que a CNT adotou em momentos cruciais da Guerra Civil, mas é o aspecto menos trabalhado do livro. Sua biografia é quase exclusivamente centrada em suas ações políticas e sociais, e perdemos a pessoa entre nossos dedos.
O mesmo não acontece com o segundo objetivo, que foi marcado pelas acusações de alguns historiadores, especialmente Preston e Martínez Reverte, que atribuíram a Nuño e a CNT a responsabilidade pelos ataques aos presos em novembro de 1936, as execuções de Paracuellos, Torrejón e outros lugares em Madrid. Salgado, baseando seu estudo em evidências documentais, que não foram levadas em consideração pelos historiadores acima mencionados, e questionando as memórias ou lembranças de outras pessoas parciais e esquecidas (como é o caso de Santiago Carrillo), revê os fatos e mostra outra versão destes com base na documentação. Neste trabalho quase de detetive, Salgado demonstra o escasso envolvimento de organizações ligadas ao anarquismo nos eventos repressivos e o destaque do republicanismo, socialismo e comunismo que Preston e Martínez Reverte estão tentando exonerar (especialmente os dois primeiros).
Tenho apenas um porém com esta parte, que é a que ocupa a maior parte de um livro grosso de 555 páginas sem contar Anexos, Bibliografia e Índice de nomes, mas é o recurso excessivo à citação literal e a meticulosidade em seu desenvolvimento que, às vezes, torna a leitura entediante. Suponho que o autor precisava recorrer a ela para desmontar os argumentos dessa história abençoada pelos poderes da esquerda que hoje administram os recursos econômicos. Certamente o livro de Salgado não terá a divulgação que estes historiadores do sistema tiveram e a maioria dos leitores continuará a contribuir com suas opiniões para o mito da violência do anarquismo.
1] Jesús F. Salgado (2014): Amor Nuño e o CNT. Crônicas de vida e morte. Madrid, Fundação Anselmo Lorenzo.
Fonte: http://pensarenelmargen.blogspot.com/2020/08/manipulaciones-historicas-sobre-el.html
Tradução > Liberto
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