Por Debbie Bookchin
Eu conheci David depois que meu pai, Murray Bookchin, faleceu, em 2006. Meu pai, embora um orgulhoso revolucionário, tornou-se um crítico severo de certos aspectos do anarquismo, e ele próprio se declarava um comunalista. Procurei David como parte de um sentimento incipiente de que era necessário construir pontes onde meu pai havia às vezes (na minha cabeça, pelo menos) criado abismos desnecessariamente grandes. Anarquistas e comunalistas compartilham muito de suas visões por uma sociedade livre, e parecia certo discutir esses assuntos com David.
Eu sabia que David era brilhante e um dos escritores mais talentosos de sua geração, mas eu não tinha como prever que amigo sincero, leal, e gentil ele seria. Ele era profundamente modesto e profundamente generoso: quando você dava um presente a David, ele tentava te retribuir com três. E ele era divertido. O humor de David era irresistível, porque para ele a irracionalidade do mundo era algo para se rir – e combater.
Então, havia sua generosidade intelectual. Ele parecia projetar seu próprio brilho nos outros, pegando o núcleo latente de uma ideia não reconhecida por um palestrante e seguindo sua lógica, e então costurando-a junto com seu próprio conhecimento de história, antropologia, e teoria política até ele tecer uma bela síntese, uma análise compreensiva do objeto em questão, pelo qual ele sempre estava inclinado a dar o crédito ao orador original.
Antes de sua morte, comecei a ler o manuscrito de seu novo livro com David Wengrow, The Dawn of Everything (“O amanhecer de tudo” em tradução livre). Ele o enviou para mim com seu eufemismo característico, dizendo: “Este é, hmmm, meio longo”. Mas quando respondi a mensagem, pasmo com o quão elegante sua escrita era — como se fosse possível para ele ser ainda mais eloquente do que em seu trabalho anterior — ele se iluminou com entusiasmo. “Você já chegou à parte sobre Kandiaronk?? É incrível que ninguém tenha ouvido falar dele…” E ele ia embora.
David sempre me dizia que seu livro favorito escrito pelo meu pai era Post-Scarcity Anarchism (“Anarquismo Pós-Escassez” em tradução livre). Isso não era coincidência. David era um verdadeiro utópico: e aquele trabalho do início da década de 1970 estava transbordando da promessa de um novo mundo possibilitado pelos saltos extraordinários na tecnologia e pelo idealismo de uma contracultura que exigia que fizéssemos o impossível. Todos os dias, David concretizava essa visão pessoal, durante uma vida inteira de estudos, análises e ativismo. Essa visão se mostrava especialmente em seu intenso comprometimento com o projeto curdo em Rojava, uma sociedade em grande parte sem Estado que para David provava que a democracia de assembleia poderia funcionar até em grande escala. Ele ficou profundamente frustrado porque a esquerda mais ampla não incluiu Rojava com mais força, também.
A bondade de David surgiu naturalmente para ele, e ele nos presenteou com muito. É inacreditavelmente doloroso acreditar que ele se foi. Ele tinha uma crença vibrante nas possibilidades inexploradas da imaginação humana e nunca perdeu seu otimismo de que nós teríamos sucesso em criar uma sociedade digna do melhor em nós. Acho que ele poderia nutrir esse sonho até nas piores circunstâncias, porque em suas próprias ações, ele exemplificava a própria humanidade com que ele sonhava. A abertura e a vontade de David de estar presente com quem quer que estivesse na sala eram como um alívio, uma bondade que ele projetava inocentemente para o mundo. Parecia que ele poderia sozinho corrigir as injustiças da sociedade simplesmente sendo quem ele era. Esse sonho vai viver em sua enorme obra. Cabe ao resto de nós trazê-lo à vida.
Tradução > Brulego
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agência de notícias anarquistas-ana
As águas silentes
E a névoa sobre o capim —
Entardece agora.
Buson
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!