[Argentina] É possível uma sociedade livre?

A ajuda mútua é o princípio predominante da existência humana. É maior do que a luta de classes, que resulta de imposições à sociedade. As pessoas comuns praticam a ajuda mútua como uma questão natural (por exemplo, os encarregados dos barcos de resgate), ou em qualquer caso reconhecem que afastar-se dela é vergonhoso.

Uma sociedade baseada na ajuda mútua é natural para o homem. Uma sociedade na qual ela não é praticada é antinatural. Instituições repressivas são impostas a nós. Devemos eliminá-las. Uma sociedade livre não deve precisar de apologistas. Aqueles que questionam sua praticabilidade significam que certas instituições repressivas são essenciais. Entretanto, a maioria das pessoas concordaria que poderíamos prescindir de alguns dos Órgãos de Repressão, mesmo que houvesse discordância sobre quais deles são indispensáveis. Os múltiplos instrumentos repressivos do Estado incluem: O aparelho do governo: o legislativo; o judiciário; a monarquia; os funcionários públicos; as forças armadas; a polícia; o partido (em países totalitários) ou a organização político-partidária em outro lugar. O aparato da persuasão: a Igreja (onde faz parte do Establishment), embora em estado não secular possa fazer parte do aparato governamental; o sistema educacional; o partido em seu papel persuasivo – tudo o que temos chamado, de fato, de “a neo-igreja”. O aparato da exploração: econômico: o sistema monetário; os bancos; o controle financeiro; a bolsa de valores; a gestão na indústria. Muitos reformadores políticos querem abolir alguma parte do sistema não livre. Os republicanos consideram a monarquia desnecessária. Os secularistas desejam abolir a Igreja. Pacifistas se opõem aos militares. Os comunistas se opõem ao aparelho de exploração econômica, pelo menos quando ele não é baseado no Estado. Cromwell dispensou a legislatura. Hitler ridicularizou o Judiciário. Os anarquistas são os únicos que querem abolir essas três forças de repressão, e em particular a força policial, uma vez que a polícia (ou o exército em sua capacidade policial) é a pedra angular do Estado.

É verdade que o governo assume o controle de certas funções sociais necessárias. Não se segue que somente o Estado possa assumir tal controle. Os trabalhadores postais são “funcionários públicos” apenas porque o Estado os faz assim. As ferrovias nem sempre eram administradas pelo Estado. Eles pertenciam aos capitalistas, e teria sido igualmente fácil para os trabalhadores ferroviários dirigi-los.

Agora somos mais sensatos, mas substituímos uma superstição por outra. Os opositores do anarquismo nos asseguram que se removêssemos o governo não haveria educação, porque o Estado controla as escolas. Não haveria hospitais – de onde viria o dinheiro para apoiá-los? Não haveria trabalho – quem pagaria o salário – “Não haveria uma menina virgem ou uma rupia entre Calcutá e Peshawar”, costumavam assegurar presunçosamente os anglo-indígenas àqueles que queriam abolir o domínio britânico, pois apenas o Estado impedia o sequestro e o roubo (uma piada que tomou um gosto amargo na Europa ocupada pelos nazistas). Mas na realidade, não foi nem a Igreja nem o Estado, mas o povo que forneceu o que o povo tem. Se as pessoas não se sustentam, o Estado não pode ajudá-las. Parece que só o faz porque exerce controle. Aqueles que têm poder podem dividir o trabalho ou regular o padrão de vida, mas isso faz parte do ataque ao povo, não é algo que é empreendido para ajudá-los. Considerar se os órgãos de repressão são indispensáveis ou não é o mesmo que considerar se o armamento do inimigo é indispensável ou não. Eles são essenciais para ele se ele pretende fazer uma conquista. Podemos encontrar argumentos contra eles. Ele tentará justificar estes armamentos. Devemos estar convencidos da necessidade de sua abolição. Nestes termos, uma sociedade livre é aquela em que o inimigo é privado de suas armas ou, em outras palavras, em que as instituições repressivas são abolidas ou contornadas de forma a torná-las inúteis.

[…] Dizer que uma sociedade livre é quimérica é dizer que as instituições repressivas são essenciais e, portanto, a derrota é inevitável. […]

Para nós, nenhuma instituição repressiva tem qualquer valor, exceto para a minoria conquistadora.

>> Texto publicado como artigo no jornal Anarquista # 15, Buenos Aires, julho-agosto de 2020. Edição completa disponível em:

https://drive.google.com/file/d/1uNZ4arRCKGdwuu1es0agQrtLHJ9q4bA1/view

Fonte: https://acracia.org/posible-una-sociedad-libre/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Trovão ribomba
Galinhas levantam a crista
de uma única vez!

Naoto Matsushita