No final de novembro de 2018, os ativistas do Movimento Artístico de San Isidro se reuniram pela primeira vez para se manifestar nas ruas de Havana e em frente ao Ministério da Cultura, com o objetivo de obter a revogação do projeto de decreto-lei 349 que visava restringir a criatividade de qualquer atividade artística na ilha. Desde o início do movimento, nossos camaradas do Taller Libertario Alfredo López de La Habana participaram dessas mobilizações.
A maioria dos ativistas da campanha contra o Decreto 349 é originária de Havana e muitos deles vivem no bairro do Alamar. Um bairro que foi palco de um importante movimento de arte alternativa e lar do mais importante festival de hip-hop e poesia da ilha, até ser interrompido e finalmente cancelado pelo Ministério da Cultura.
Os ativistas deste movimento adotaram o nome de San Isidro devido ao apoio dos habitantes deste bairro de mesmo nome, localizado na parte mais antiga de Havana, porque os moradores do bairro se rebelaram contra as forças da lei e da ordem durante um concerto musical organizado para protestar contra o Decreto Lei 349.
Para os artistas unidos contra o Decreto Lei 349, ficou claro que o governo cubano não queria a existência de arte independente do Estado. Demonstramos isso com a supressão dos festivais de hip-hop e poesia já mencionados, mas acima de tudo a Bienal de Havana e o Festival de Cinema Jovem. O Decreto 349 foi a resposta oficial a estes tipos de eventos e para os artistas uma declaração de guerra. O governo não esperava tal rejeição popular como resposta; mas, apesar da manifestação pacífica da arte diante da instituição mais importante da cultura, o decreto entrou em vigor em 7 de dezembro de 2019.
Assédio, ameaças e prisões seguiram durante toda a campanha, não apenas após a convocação para o Ministério da Cultura. Por exemplo, o Movimento San Isidro tentou realizar uma meditação coletiva em um parque público, mas todos os artistas que participaram do encontro foram cercados pela polícia. Vários foram presos por horas. Para o governo cubano, a dissidência não é reconhecida como um direito, portanto, qualquer pessoa que protesta contra um projeto oficial é considerada criminosa e é classificada como um caso de CR (contra-revolucionário). Este estigma continua para o resto da vida.
O pouco tempo em que foram presos mostrou que as repercussões internacionais haviam sido significativas e que o governo estava preocupado com as implicações da repressão. A resposta oficial foi dada através de um programa de televisão no qual as autoridades justificaram a necessidade de aplicar o Decreto 349. No entanto, foi dito que sua entrada em vigor não ocorreria imediatamente e que o regulamento precisava ser revisto e discutido. Para o movimento, isto representou uma vitória. Mas esperar que o governo cubano reconheça publicamente um erro é utópico, porque há muita arrogância de sua parte, por medo de perder o controle absoluto sobre a população.
Uma greve de fome e suas consequências
Entre 9 e 19 de novembro, as autoridades novamente prenderam e assediaram arbitrariamente um grande número de membros do movimento San Isidro, muitas vezes em várias ocasiões. Membros do movimento, que inclui artistas, poetas, ativistas LGBTI, acadêmicos e jornalistas independentes, têm protestado nos últimos dias contra a prisão do rapper Denis Solis Gonzalez. Denis Solis foi preso em 9 de novembro e em 11 de novembro foi julgado e condenado a oito meses de prisão por “desprezo”, um crime incompatível com as leis internacionais de direitos humanos. Ele está sendo mantido em Valle Grande, uma prisão de alta segurança na periferia de Havana.
Após uma semana de greve da fome e de sede dos membros do Movimento San Isidro, a polícia cubana invadiu a sede do Movimento San Isidro na noite de quinta-feira, para acabar com a greve de fome e de sede desses artistas exigindo a libertação do rapper Denis Solis, expulsando Luis Manuel Otero Alcántar e outros 14 cubanos da sede do Movimento San Isidro em Havana por um suposto crime de propagação da epidemia de Covid-19, de acordo com a mídia estatal cubana.
O governo cubano alegou o crime de propagação da epidemia de Covid-19 para prender os artistas e ativistas reunidos na sede do Movimento San Isidro. Um grupo de artistas cubanos pediu então às autoridades que dialogassem com os membros do Movimento San Isidro e depois ouvissem os jovens presentes na sede do Ministério da Cultura. A polícia manteve cerca de 15 pessoas sob prisão por várias horas. Entre eles estavam jornalistas, artistas e professores que se reuniram para protestar contra a repressão e as políticas governamentais que restringem cada vez mais a liberdade de expressão. Vários dos presos foram libertados algumas horas depois. Após as prisões, escritores e jornalistas de todo o mundo denunciaram a expulsão da sede e exigiram a libertação dos detentos, que começou algumas horas depois.
Membros do Movimento San Isidro, o artista Luis Manuel Otero Alcántara e o cantor Maykel Castillo (Osorbo), continuam sua greve de fome até que o governo cubano libere o rapper Denis Solis. Luis Manuel Otero Alcántara está agora no Hospital Fajardo de Havana e continua sua greve de fome”, relata o comunicado oficial no Twitter do Movimento San Isidro. Luis Manuel Otero Alcántara se recusa a ir a qualquer lugar a não ser sua casa na Rua Damasco, em Havana, onde se localiza a sede do movimento.
Na sexta-feira, a Anistia Internacional declarou Luis Manuel Otero Alcántara, líder do movimento San Isidro, um prisioneiro de consciência e pediu sua libertação. A Anistia Internacional pediu ao governo cubano que parasse de assediar os membros do Movimento San Isidro e manifestou preocupação com a situação da comissária de arte Anamely Ramos, que também está sob vigilância policial na casa da professora Omara Ruiz Urquiola.
Daniel Pinós
Fonte: http://rojoynegro.info/articulo/ideas/cuba-solidaridad-el-movimiento-san-isidro
Tradução > Liberto
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