Baixa Califórnia: Anarquismo e a Revolução mexicana

Se instituiu um governo militar encabeçado principalmente por Esteban Cantú e se construiu um regime de exceção

Por Crisstian Villicaña| El Sol de Tijuana | 21/11/2020

Para abordar o tema da Revolução mexicana em Baixa Califórnia, mais que fazê-lo desde o ‘Magonismo’ ou ‘Filibusterismo’, teria que fazê-lo desde o anarquismo, comentou o coordenador do Arquivo Histórico de Tijuana, Josué Beltrán.

Durante este período de 1911, diferentes grupos tentavam derrubar o regime estabelecido por Porfirio Díaz, uma época marcada pela ditadura.

“O contexto da Revolução Mexicana em Baixa Califórnia é daquelas ideias, questões, que para dar fim ao ‘Porfiriato’ e ao ‘Porfirismo’, encabeçava o Partido Liberal Mexicano (PLM), particularmente através do imaginário, do ideário de Ricardo Flores Magón”.

“Os acontecimentos, ações e sucessos que ocorrem em Baixa Califórnia durante a Revolução Mexicana abarcam janeiro, fevereiro a junho de 1911, onde a Baixa Califórnia é invadida e tomada e onde o desenlace é a ocupação ‘Floresmagonista’, anarquista, inclusive filibustera, e o desenlace da mesma tem como cenário Tijuana, entre maio e junho também desse mesmo ano”.

Mexicali foi dos primeiros lugares a ser tomado. Como foi esse processo?

“Em Mexicali houve resistência. Também em Tijuana, em Tecate e eventualmente alguns distúrbios que foram vividos em Ensenada, mas Ensenada nunca foi tomada nem pelos ‘Floresmagonistas’, nem pelos filibusteros, ainda que sim por forças adeptas a Francisco I. Madero”.

“Se diz que em Mexicali não houve resistência porque a população era muito pequena, Mexicali não surgia como o povoado que nós conhecemos; Mexicali foi a primeira praça que os ‘Floresmagonistas’, anarquistas, assaltam”.

Em Tijuana como foi a luta?

“A defesa de Tijuana foi entre 9 e 10 de maio de 1911 e claro que os defensores eram habitantes do povoado, um muito pequeno destacamento de soldados. Os anarquistas, os ‘Floresmagonistas’ logo se desarticularam e começaram a buscar interesses próprios”.

“A Baixa Califórnia foi recuperada pelas colunas comandadas por Celso Vega, e eventualmente uma figura importante também foi Esteban Cantú”.

“Se no movimento de Baixa Califórnia as forças federais não foram divididas; enquanto estão lutando na Baixa Califórnia em favor da federação, estão perdendo Ciudad Juárez”.

Que buscava o movimento encabeçado por Ricardo Flores Magón?

“Seu propósito é formar em Baixa Califórnia uma república anarquista. O projeto do anarquismo, socialismo e comunismo é global. No anarquismo as instituições não existem porque a sociedade se autorregula a si mesma, significa também a eliminação da propriedade privada, mas também a abolição do Estado”.

“Buscavam tomar a Baixa Califórnia e depois o norte do México, os movimentos dos ‘Floresmagonistas’, anarquistas, não foram exclusivos em Baixa Califórnia, aconteceram também movimentos muito importantes em toda a extensão do norte do México”.

“O projeto era mudar o regime para acabar com a época conhecida como o ‘Porfiriato'”.

Uma vez que conseguiram controlar os movimentos de Flores Magón e filibusteros, qual foi o panorama em Baixa Califórnia?

“Podemos dizer que na Baixa Califórnia se construiu uma espécie de regime de exceção e foi tomada por forças federais, mas de imediato a nível nacional se deram situações com o ‘Maderismo’ particularmente até chegar à ‘Dezena trágica’, a execução de Madero por parte de Victoriano Huerta”.

“Mas apesar da ‘Dezena trágica’ e o assassinato de Madero, começa o que os historiadores conhecemos como ‘La Bola’, uma extensão da Revolução Mexicana”.

“O tráfico de drogas que era ilegal nesses momentos começou a ter proibições para regulá-lo. Também começaram a construir as primeiras obras públicas para Baixa Califórnia, o caminho que conhecemos como caminho à Rumorosa, também estruturas de caráter hidráulico, de caráter urbano, isto enquanto no México se desenvolvia o movimento conhecido como ‘La Bola’ e em Baixa Califórnia não estava sucedendo”.

“Os adeptos do filibusterismo foram os últimos que ficaram em pé de guerra, mas depois cruzam os Estados Unidos para render-se na Califórnia, muito perto da fronteira”.

“Em Tijuana se fala de filibusterismo porque os invasores de 1911 eram estadunidenses, que foram identificados entre outros estrangeiros como filibusteros, eles foram derrotados em 22 junho de 1911 na batalha de Agua Caliente, mas não se renderam ante as forças dos contingentes federais mexicanos, cruzaram a fronteira e se renderam”.

“Como de maneira muito rápida foi pacificada a Baixa Califórnia, se instituiu um governo militar encabeçado principalmente por Esteban Cantú e se construiu um regime de exceção que manteve à margem a Baixa Califórnia na Revolução mexicana”.

“Então o regime de exceção manteve de maneira ou outra isolada a Baixa Califórnia”.

Como encerramento, que se pode dizer do papel de Baixa Califórnia durante a Revolução mexicana?

“Pela natureza da Revolução mexicana em Baixa Califórnia, foi primordial para o regime em turno terminá-la, porque esta representava sobre todas as coisas, anarquismo, e o regime de Díaz preferia abater o anarquismo que o ‘Maderismo’, porque ao final das contas o ‘Maderismo’ significa continuar com as dinâmicas do ‘Porfiriato’, mas já em um contexto mais democratizado”.

“O anarquismo se tem matiz separatistas entendido através de Ricardo Flores Magón, que é diferente do ‘Maderismo’, porque o anarquismo busca o ideal da convivência social e a sociedade regulada por si mesma”, concluiu.

Fonte: https://www.elsoldetijuana.com.mx/local/baja-california-anarquismo-y-la-revolucion-mexicana-6041521.html

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

entre os vinte cimos nevados
nada movia a não ser
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Wallace Stevens