Construção do sindicalismo revolucionário no Rio Grande do Norte

O atual problema político do Brasil e do mundo reside na colonização do imaginário organizativo. Este estando dominado pelos limites da Social Democracia, ou linhas conservadoras como “alternativa” e vícios inerentes destas, a saber: economicismo (no campo SD), apoliticismo (no campo conservador), programas imediatistas e finalistas, “pragmatismo” e idealismo. O economicismo executa uma separação simplista entre economia e política, como se meras reformas de pessoas na administração da última solucionassem as questões de desigualdade de classes da primeira. O apoliticismo conservador tenta organizar a classe trabalhadora por categoria para negociações diretas com o patronato, afirmando não caber à classe envolvimento político. Os programas imediatistas apregoam vitórias em conquistas de categorias específicas de ramos trabalhistas, gerando uma alienação do problema de classe como um todo. Os programas finalistas advogam que as mudanças, na realidade social, só são executáveis por um partido ou governo por via eleitoral, mantendo a “luta” no campo do jogo burguês. O “pragmatismo” defende uma pseudo-objetividade via disputas de ganhos salariais em negociações de gabinetes, relegando a segundo plano ações diretas de organizações de classe (ou ignorando-as completamente). O idealismo nega a luta econômica em detrimento a um programa partidário, a relação com as classes fica alienada e as organizações passam a ser meros palanques de disputas pelas direções burocratizadas. É imperativo a identificação com a causa de classe ampliada, seja esta econômica (explorados), étnica, de gênero ou orientação sexual, de modo a criar laços de solidariedade e apoio mútuo, via uma organização que identifique sem mediações a fonte das opressões de todas essas categorias, numa proposta de eliminá-las pela força de revoluções de seus paradigmas associativos. Na mudança das formas de nos associarmos e nos organizarmos, podemos revolucionar nossas condições de vida.

Para tanto, acreditamos que os métodos do Sindicalismo Revolucionário, trabalhados e aperfeiçoados pela Federação das Organizações Sindicalistas Revolucionárias do Brasil (FOB), são as ferramentas necessárias para dar coesão, objetividade, força e combatividade a uma luta de classes cada vez mais pautada e focada na ação direta pelas bases, segundo princípios de solidariedade de classes e apoio mútuo que podem trazer ganhos efetivos às populações mais vulneráveis, a saber, as pessoas pretas de periferias, os povos indígenas e quilombolas, os ribeirinhos das praias, dos rios e dos lagos, à comunidade LGBTQIA+, aos subempregados, à população em condições de habitação de ruas e das populações carcerárias vitimadas nos calabouços do Estado, assim como acreditamos que essas metodologias combativas de ações diretas são, em si mesmas, pedagógicas e trazem à consciência o gosto pela emancipação via a experimentação de processos de luta organizados autonomamente.

Também cremos que os métodos de Democracia Direta pelas bases associativas, de ação direta (como a greve geral), devolve às bases o protagonismo da organização e das lutas, constituindo um importante empecilho e impedimento das práticas autopromocionais de pseudo lideranças que queiram nos guiar via algum vanguardismo que saberia melhor do que o povo o que seria melhor para este povo, sendo um contraponto orgânico ao parlamentarismo eleitoral da esquerda institucional. Sendo uma eficaz metodologia ao combate contra o Capitalismo local e internacional tanto quanto ao Estado e suas instituições alienantes das potências populares.

Avaliamos que o atual contexto mundial de pandemia agrava ainda mais as desigualdades sociais e aprofundam os efeitos negativos aos mais vulneráveis em favor do enriquecimento e aumento de poder das elites minoritárias. Fato este que fica evidenciado pelo aumento e escalada de violências domésticas contra as mulheres e do número de feminicídios, o racismo estrutural e institucional contra as pessoas pretas de periferias e a escalada do fascismo nacional e internacionalmente. Entendemos também que a pandemia escancarou as injustiças do sistema totalitário da mercadoria que impera no mundo. As classes privilegiadas, na ânsia de se manterem em tal posição, conseguem pressionar os Governos (que no mundo todo existem para salvaguardar seus privilégios) para salvar a economia às custas das vidas dos que geram sua riqueza, o trabalhador que têm seu tempo de existência roubado para produzir a desigualdade que o oprime, em troca de salários insuficientes a uma vida digna. O oprimido fica preso nessa condição pelo triplo roubo que sofre, a saber, do excedente que produz (pela mais valia), do seu tempo de vida (gasto na produção) e pelo consumo (ideologicamente induzido). No Brasil as táticas aplicadas para alcançar esse objetivo agem em várias frentes: o atraso no pagamento dos auxílios emergenciais (por parte do governo), a campanha “Solidariedade/ SA” (dando uma falsa impressão de humanidade ao sistema), que cega o oprimido em relação ao quanto o mesmo alcança quando se auto-organiza (prática que têm sido a verdadeira salvação do povo, mas que é, a cada dia, mais silenciada pelos canais de mídia hegemônicos) e a privatização de recursos essenciais à vida (como a recente privatização da água). Tudo isso contribui para um totalitarismo das formas de organização social, sustentado com a vida dos explorados. Entendemos que o trabalho de base, proposto e apontado, pelo Sindicalismo Revolucionário são métodos mais pertinentes ao bem viver dos seres humanos e não humanos do campo e da cidade, principalmente quando comparados às medidas administrativas adotadas por gestores dos mais variados níveis, municipais, estaduais ou Federal, que usaram de tal contexto para passar suas “boiadas” e projetos de destruição da economia, meio ambiente, seguridade social, educação pública e aposentadoria (previdência).

O núcleo que dá início às atividades da FOB no RN, tem uma experiência em organizações libertárias, autônomas, independentes e horizontalizadas que remonta ao surgimento do Movimento Passe Livre (MPL) na cidade de Natal (em 2005), e vêm adquirindo uma larga experiência na luta pelo direito à cidade, na luta contra as tarifas que executam a exclusão classista do povo à cultura, lazer e educação, o grupo esteve também diretamente envolvido nas lutas radicalizadas que impediram o aumento de tarifa dos ônibus urbanos por três anos consecutivos, 2011; 2012 e 2013, revolta popular que se inicia na luta contra a gestão corrupta e degradante da ex prefeita Micarla de Souza (PV) e evolui para a luta tarifária. Bem como esteve na luta contra a “PEC do Fim do Mundo”, em ocupações de ambientes escolares em 2016, e foi para a caravana em Brasília em Novembro daquele mesmo ano, para lutar contra o teto dos gastos, e também vêm lutando contra o governo Bolsonaro/Mourão e sua política de desmonte da educação pública de qualidade, regularmente organizados desde o ano passado. Dada essa longa trajetória percebemos que o eventualismo, depender do aprofundamento de condições de vida degradantes para se radicalizar as lutas, não é benéfico para a construção da luta prolongada e efetiva, tanto quanto o ativismo, que é intermitente e incipiente, também se mostra um problema para o avanço das lutas e emancipação política dos mais vulneráveis, portanto defendemos a organização pelos métodos do Sindicalismo Revolucionário.

Faz-se necessário a ampliação da prática de apoio mútuo dos que vivem essa condição de explorados, através da articulação efetiva de redes de comunicação e trocas (materiais e técnicas) que envolvam as mais variadas iniciativas de solidariedade entre, por e para os de baixo. A troca e popularização de saberes fundamentais à vida, como a produção de alimentos, moradia, manutenção da saúde (física e mental), de geração de energia limpa, por exemplo, quando somadas a estas redes de solidariedade e apoio mútuo, são gestos emancipadores e que ampliam a liberdade social e a organização popular. Para que não dependamos de gestores profissionais que apenas aliviam as pressões do (e no) sistema? Greve selvagem e autogestão generalizada.

Só o povo salva o povo!

agência de notícias anarquistas-ana

Entre a roça e a montanha,
A chuvinha vai parando…
A folhagem nova!

Buson