Aparecem novas marcas nas zonas onde se aquartelaram os milicianos. Os investigadores estão trabalhando na documentação dos restos descobertos
Na semana passada os milicianos da guerra civil que combateram na comarca dos Monegros lançaram de novo sua mensagem ao mundo. Após uma parede de cal na casa de obediências da Cartuja de las Fuentes descobriram novas inscrições gravadas na parede, ocultas por uma camada de cal. Sua iconografia mescla as siglas da CNT e da FAI junto ao perfil de uma capela. Uma descoberta que se soma aos numerosos vestígios catalogados previamente a estas tipologias. O enorme edifício religioso situado no limite municipal de Sariñena é o lugar no qual se encontram os restos mais conhecidos, mas em localidades como Tardienta, Alcubierre ou Torralba pode-se encontrar mensagens que sobreviveram aos meses mais convulsos dos anos 30 nas casas com mais soleiras.
Uma das pessoas que contribuíram de forma ativa nos últimos anos na recuperação destas inscrições é Alberto Lasheras. Ele foi o que descobriu estas últimas inscrições nas quais reflete o dia a dia do conflito armado. Ao trabalhar no interior do recinto teve que mostrar a muitas pessoas estas inscrições, inclusive a familiares dos soldados que deixaram sua assinatura. “O certo é que o tema dos grafitis e os anos da última guerra, despertam grande interesse entre os visitantes”, revela.
Desde 2018, e através de uma bolsa do Instituto de Estudos Altoaragoneses (IEA), se fez um profundo trabalho de investigação e documentação sobre estas pinturas, traços ou gravados que se encontram na Cartuja de las Fuentes. Conforme se avança nos trabalhos de restauração deste conjunto monacal, se descobrem novas inscrições e desenhos das tropas que o ocuparam durante a guerra civil. No entanto, sua conservação não está garantida. Não se pode esquecer que muitas destas inscrições se encontram sobre uma camada de cal que cobre as pinturas de Bayeu, assim que serão os restauradores encarregados dos trabalhos os que decidem se se conservam ou se documentam e se destroem para deixar visíveis as pinturas originais.
A comarca dos Monegros também conta com grafites deste tipo em outro tipo de edificações. Algumas estão em mãos de particulares e serão os proprietários das moradias onde ficaram estes restos de memória os que decidirão sobre sua conservação. É o caso de Torralba de Aragón. Na localidade, segundo destaca o jornalista Víctor Pardo se habilitarão vários casarões como hospitais de sangue, incluído o edifício das escolas. Na última planta de uma central e enorme moradia que acolheu feridos e convalescentes se conservou este mural de grande tamanho, além de um bom número de inscrições alusivas à situação pessoal ou procedência dos combatentes. “Cada gota de vuestra sangre é hoy uma semilla; mañana uma flor de libertad”, escreveu sobre a parede, em rotundas letras maiúsculas, um miliciano da FAI.
Qualidade artística
Lasheras tem documentadas mostras similares em edifícios de relevância de Alcubierre. Destacam-se as de casa Ruata, um palácio coletivizado que foi usado como sede da CNT e no qual se instalaram as forças enviadas desde a Catalunha. Suas figuras tem “certa qualidade artística” e refletem a dureza daqueles anos de levantamentos e entusiasmo popular.
Contudo, os restos da guerra civil na cartuja monegrina são só uma parte minúscula do patrimônio que um visitante pode desfrutar em seu interior. A Assembleia Provincial de Huesca adquiriu o edifício em junho de 2015. Desde então a instituição investiu mais de um milhão e meio de euros em diferentes atuações, tanto para a reabilitação de parte das instalações como em trabalhos de renovação de estadias e limpeza do recinto ou a aquisição de elementos que em seu dia fizeram parte do conjunto e que foram vendidos, como o Libro de Actas ou, mais recentemente, o esboço de Fray Manuel Bayeu La adoración de los pastores.
Enquanto a igreja, situada no recinto e edifício principal do mesmo, a DPH receberá nas próximas semanas as obras de restauração do átrio e está a ponto de licitar os trabalhos de recuperação das pinturas situadas nas abóbadas da igreja. Brevemente se licitarão também as obras para a reabilitação do edifício das portarias, que se converterão em um centro de acolhida para os milhares de visitantes que a cada ano chegam até a Cartuja para conhecer suas instalações, história e rico patrimônio histórico e artístico. Chamam a atenção inscrições sobre as obras sacras como o No pasarán de um miliciano, observada este mês pela primeira vez no claustro ou a anticlerical reflexão que outro soldado deixou nas capelas: La religión es la muleta de los estúpidos y los ignorantes.
O interesse que produzem estas pinturas se mantêm no presente. Os próprios guias se encarregaram de localizar os familiares daquelas pessoas que assinaram com nomes e sobrenomes. A emoção que sentem quando podem visitá-las é enorme, reconhecer Lashera.
Mudança na frente
Finalmente, as esperanças daqueles homens que desenharam aviões, soldados e documentaram a rotina da frente nas paredes de um território em guerra se desvaneceram. Ao romper a frente da serra de Alcubierre em março de 1938, os republicanos abandonaram o monastério e desmantelaram as coletividades nas quais haviam investido tantos esforços, ficando todo o território ocupado pelas tropas franquistas.
Ainda que possa parecer o contrário, esta situação não salvou os muros dos edifícios religiosos de servir como tela para os militares. Lasheras explica que o coronel Eduardo González-Gallarzalo utilizou como quartel general da esquadra de caças-bombardeiros Junquer 52, que operavam desde os aeródromos próximos. Aproveitou as paredes para marcar a distribuição de suas unidades. E ai fica sua presença.
Tradução > Sol de Abril
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Jorge Lescano
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