[Espanha] Mais de mil mulheres catalãs foram voluntárias na frente em 1936

• Um livro de Gonzalo Berger e Tània Balló documenta 1.195 combatentes

• A Generalitat cria um registro com os 1.685 mortos em campos de concentração na França

 Por Josep Playà Maset | 14/02/2021

Toda guerra necessita de seus mártires e toda revolução, seus ícones. Na guerra civil espanhola quase todas as histórias têm nome masculino. E no entanto as mulheres estavam ali, na retaguarda e na frente, e como eles sofreram repressão e exílio, mas suas vidas são anônimas. A história também foi contada até bem pouco pelos homens e com uma visão androcêntrica.

“Les combatents” (Ed. Rosa dels Vents), o livro que acabam de publicar Gonzalo Berger e Tània Balló, é uma tentativa de dar voz a muitas das milicianas antifascistas. Para entender este esquecimento há que recordar que não foi até as eleições gerais da República, de junho de 1931, quando pela primeira vez as mulheres puderam se apresentar como candidatas. E não foi até as gerais de 1933 quando se reconheceu o sufrágio feminino. Em 14 de janeiro de 1934 Natividad Yarza, professora, se converteu na primeira prefeita do Estado ao ganhar as municipais de Bellprat (Anoia), nas listas de ERC.

Tània Balló e Gonzalo Berger resgatam dois ícones deste período: Lina Ódena e Marina Ginestà. Paulina Ódena García, cujos pais dirigiam uma alfaiataria em Gràcia, havia deixado a escola aos doze anos para trabalhar no negócio familiar. Com a chegada da República aos 20 anos entra no Partido Comunista. Pouco depois a Internacional Comunista a convida junto a outros quatro militantes a cursar estudos na Escola Marxista-leninista de Moscou. No seu regresso, consagrada como hábil oradora será secretária geral das Juventudes Comunistas e o estouro da guerra a surpreendeu em Almería, em um congresso. Se uniu aos combatentes e em 14 de setembro de 1936 morreu na frente de Granada. Se converteu em mártir e objeto de propaganda, mas ainda assim sua figura apenas foi estudada.

Um caso distinto é o de Marina Ginestà, hoje conhecida pela fotografia na qual aparece vestida de miliciana com um fuzil no terraço do hotel Colón de Barcelona. Filha de um militante da UGT e de uma cooperativista, quando se produz o levante militar tem 17 anos e é uma das atletas que está a ponto de participar na Olimpíada Popular. Se alistou como voluntária, mas a foto que a imortalizou esteve oculta nos arquivos de Efe e não foi recuperada até 2002. Marina trabalhou primeiro como tradutora de um agente soviético, enviado como correspondente do Pravda, e mais tarde em Valência escreveu crônicas da guerra. Detida ao final da contenda, escapou e foi ao exílio.

O livro recolhe biografias de mulheres que obtiveram um mínimo reconhecimento, como a cenetista Libertad Ródenas, ou tão anônimas como Pepita Laguarda Batet, que faleceu na frente de Aragão. Sua família conservava uma foto, onde a informavam de sua morte. Atrás, uma nota assinada por um tal Juan López Carvajal: “Com a presente recebe a mais afetuosa saudação de quem compartilha contigo a dor por uma perda irreparável de um ser querido”. Era de seu companheiro sentimental. Haviam saído juntos de Barcelona na coluna Ascaso, despedidos por uma multidão nas ruas. Ele sobreviveu e mais tarde explicou que não tinha intenção de se alistar, mas ao ver a decisão de Pepita, lhe disse: “Se tu vais, eu vou contigo”.

O livro termina com os nomes das 1.195 combatentes antifascistas organizadas na Catalunha que puderam documentar. São 360 filiadas ao PSUC, 424 da CNT, 119 do POUM, 64 de ERC, 48 de Estat Català… As mulheres do PSUC chegaram a criar um batalhão exclusivamente feminino e em 16 de agosto saíram em barco até Mallorca. A expedição foi um fracasso. Amalia Lobato Rosique foi a primeira a cair no dia 23 e seus restos repousam no cemitério de Ciutadella. Em princípios de outubro de 1936, o próprio PSUC corta o acesso às mulheres às unidades de combate e decide que sua atividade estará na retaguarda. O dirigente da CNT Antonio Ortiz também decidiu expulsar as mulheres da coluna Durruti e também as culpou das enfermidades venéreas detectadas. Apesar do decreto de militarização, muitas se negaram a abandonar e seguiram na frente.

Les combatents encerra com a investigação sobre cinco catalãs fuziladas em Mallorca em setembro de 1936. Um obscuro episódio do qual apenas se conhecia uma foto das cinco e a acusação franquista de que eram prostitutas desembarcadas para satisfazer os milicianos. Os autores descobriram que uma delas, Maria García, aparece na capa da revista Life quando partia o batalhão feminino até a ilha. As outras quatro saem em uma foto de Robert Capa do mesmo dia. Todas eram milicianas voluntárias.

Fonte: https://www.lavanguardia.com/cultura/20210214/6245786/milicianas-olvidadas-guerra-civil-berger-ballo.html

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

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Rosa Elias