Por Carlos Crespo
“Eu conto com você. Você conta comigo. Se você precisar, tome-o. Se você não tiver o suficiente, doe”. Assim lê a placa pendurada em uma mesa onde descansam vários alimentos e suprimentos. Ela resume as práticas de cooperação, solidariedade e empatia que floresceram no país com o coronavírus, a “peste negra do século 21”.
Vizinhos que se oferecem para comprar alimentos e remédios para idosos solitários e doentes, um coletivo de inquilinos que dão seus legumes cultivados organicamente para os necessitados, professores universitários que doam seus salários a estudantes em situações críticas, pessoas que coletam alimentos para os que ficam retidos nas fronteiras. Uma mensagem no Facebook: “Irmão de Tiquipaya, se você não tem nada para comer você pode pendurar uma bandeira branca em sua janela; desta forma podemos nos ajudar mutuamente”. Ou comunidades em territórios indígenas que são auto-organizadas para se protegerem da pandemia.
Em nível global, a capacidade humana de cooperar emerge com sua energia primordial. Os agricultores palestinos deixam produtos para as pessoas que não podem comprar, com o sinal “leve o que você precisa”. Na Tunísia os trabalhadores decidem ficar voluntariamente isolados para produzir máscaras faciais. Em Resistencia, Argentina, eles fazem comedores populares para os necessitados. Mesmo para animar o espírito, surge a cooperação, como no Irã, onde as ruas estão cheias de poemas, ou na Itália, onde as pessoas saem à noite para cantar em suas varandas.
Todas estas iniciativas se desenvolvem de forma autônoma, sem pedir permissão de ninguém, e funcionam como dispositivos diante da calamidade.
A cooperação é parte da longa contagem do planeta, é um fator chave na evolução humana. Piotr Kropotkin já sabia disso, definindo essas práticas como Apoio Mútuo, título de um de seus livros seminais, publicado em 1902. Ele estava convencido da solidariedade e da espontaneidade criativa das pessoas. Contra o darwinismo reducionista, ele argumentou que a luta pela existência é uma luta contra circunstâncias adversas e não entre indivíduos da mesma espécie. Com seus estudos biológicos na Sibéria, ele mostrou que a cooperação operava na natureza e que espécies com maior grau de cooperação e apoio mútuo entre seus membros eram mais propensas a florescer.
A cooperação é contraditória com a servidão voluntária, com as práticas de exigir e esperar do Estado, da Igreja, do capital. Além disso, como Gustav Landauer salientou, o Estado autoritário é o resultado da passividade humana, em vez de uma tirania imposta externamente.
O apoio mútuo na história humana, portanto, constitui um padrão comum de conduta, uma prática que foi reproduzida e adaptada às paisagens locais, uma estratégia de vida diante das relações de dominação, em qualquer forma. A solidariedade designa uma qualidade emancipadora das relações sociais, pois ela está prefigurando, hoje, o mundo em que desejamos viver.
Hoje, mais do que nunca, o apoio mútuo é essencial contra o coronavírus, e quando os dias sombrios estão chegando, repito Pancho Villa: “Animem-se, seus bastardos, vai ficar mais feio mais tarde”.
Fonte: https://www.lostiempos.com/actualidad/opinion/20200406/columna/apoyo-mutuo-tiempos-coronavirus
Tradução > Liberto
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