[Reino Unido] Crítica: “Emma Goldman, ‘Mother Earth’ and the Anarchist Awakening”

“Este volume importante e essencial de Rachel Hsu volta às fontes primárias em uma tentativa de permitir que as ideias e ações de Goldman falem por si mesmas.”

by Rachel Hui-Chi Hsu

Notre Dame: University of Notre Dame Press

2021

ISBN 9780268200299

$45.

Crítica por Barry Pateman | Apareceu pela primeira vez na Biblioteca Kate Sharpley através do KSL Spring Bulletin.

É difícil não sentir alguma simpatia por Emma Goldman depois de seu tratamento nas mãos de alguns historiadores e escritores. Com muita frequência, eles recortam as ideias dela para “provar” suas teses preconcebidas ou simplesmente falham em reconhecer a complexidade de “Luz e Sombra” na vida dela, sobre a qual Candace Falk escreve no volume três do Emma Goldman Papers (“Documentos de Emma Goldman”). (“Light and Shadows [‘Luz e Sombra’], 1910-1916”. Stanford: Stanford University Press, 2012). Há, no entanto, algumas evidências de que essa situação está sendo gradualmente remediada além do trabalho “The Emma Goldman Papers”. O “Emma Goldman: Political Thinking In The Streets” (“Emma Goldman: Pensamento Político Nas Ruas”) de Kathy Ferguson (Londres: Rowan e Littlefield, 2011) aceita os princípios subjacentes do anarquismo que conduzia Goldman e seus camaradas e discute como Goldman tentou tornar essas ideias e princípios uma realidade. Agora, este volume importante e essencial de Rachel Hsu volta às fontes primárias em uma tentativa de permitir que as ideias e ações de Goldman falem por si mesmas. É um lembrete oportuno de que Goldman é ela mesma com tudo o que isso significa e não apenas uma frase de inspiração do Facebook, normalmente tirada de contexto.

Como o título sugere, Hsu se concentra nos anos 1906-1917, nos anos da revista “Mother Earth” e nos eventos e iniciativas que foram uma parte fundamental de sua vida. Não pode haver dúvida de que esta revista desempenhou um papel de liderança no mundo do anarquismo de língua inglesa por introduzir e desenvolver ideias anarquistas em partes antes inalcançadas da América e, na verdade, por meio dos correios e pela tradução, em muitas partes do mundo. Hsu é perspicaz ao discutir muitos dos tópicos que preenchem suas páginas: anarquismo, antimilitarismo, feminismo, a luta pela contracepção, lutas trabalhistas, liberdade de pensamento, liberdade de expressão, socialismo, sindicalismo, raça, a natureza do estado americano e um transnacionalismo pragmático, mas inspirador. É realmente uma lista de tirar o fôlego, mas Hsu é rápida em notar que todos esses tópicos provenientes de Goldman e do grupo “Mother Earth” eram sustentados por seu compromisso inabalável como ao anarco-comunismo. Goldman era feminista, por exemplo, porque ela era anarco-comunista e todas essas áreas que eu mencionei se tornaram, ou já eram, uma parte integrante do seu anarquismo. Algumas eram mais importantes do que outras de acordo com as circunstâncias, mas para ela nunca foram separadas ou contraditórias.

Durante esse período, Goldman ganhava a vida com discursos públicos, mas precisamos lembrar que foi durante a linha do tempo deste volume que ela se descobriu como escritora, percebendo que ela tinha a capacidade de expressar ideias complexas de forma forte e direta e foram esses escritos que aumentaram sua reputação imensuravelmente. Dito isso, foi através de seus discursos que a reputação dela também cresceu. Ela embarcou em viagens enormes e exaustivas que cruzaram a América, às vezes falando para um punhado de pessoas, às vezes para grandes e animadas multidões. Ela era uma propagandista em tempo integral e falava sobre qualquer assunto que pudesse atrair uma multidão e de formas indiretas apresentá-los às ideias anarquistas. Ela era deliberadamente provocativa e desafiadora e, na pior das hipóteses ao menos, encorajava as pessoas a pensarem sobre o papel desempenhado pela autoridade em suas vidas.

Devemos também deixar claro, como faz Hsu, que tudo isso não era apenas Goldman. O meio anarquista incluía aqueles que colocaram as cadeiras para a reunião e enfrentaram os efeitos posteriores de sua visita em uma pequena cidade americana, assim como os correspondentes assíduos e a equipe editorial em torno da “Mother Earth”. Ela era frequentemente editada por outros – Alexander Berkman por exemplo – quando ela realizava suas viagens, que lhe exigiam muito, e precisamos estar cientes da dinâmica política entre aqueles próximos à “Mother Earth” para ver como suas ideias se desenvolveram e sua influência em Goldman.

Você vai encontrar tudo isso e mais em “Emma Goldman, ‘Mother Earth’ and the Anarchist Awakening”. Hsu vasculha a “Mother Earth” por informação e não se esquiva das contradições ou complexidades que podemos encontrar lá. Ela está igualmente ciente da importância da cultura impressa para o anarquismo, assim como das animadas e às vezes desafiadoras reuniões públicas que são mencionadas. Ela vê Goldman como uma pioneira cujo anarquismo consiste em uma riqueza que, talvez, só agora esteja sendo totalmente compreendida. O trabalho de Hsu significa que, depois da leitura deste livro, ganhamos um senso real de todos os eventos e ideias que estavam borbulhando e se fundindo durante esses anos críticos.

Há algo mais que Hsu sugere e espera-se que ela decida levar isso adiante em seu trabalho futuro. A saber, que efeito as ideias anarquistas tiveram sobre aqueles que entraram em contato com elas durante esse tempo? Como o grupo de estudos literários, os defensores da liberdade de expressão, aqueles que lutam pela contracepção ou aqueles engajados nas lutas trabalhistas, por exemplo, se viam em relação aos anarquistas que frequentemente trabalhavam com eles? E qual efeito as ideias de Goldman e de outros anarquistas tiveram sobre a sociedade em geral? Como Hsu sugere, o anarquismo de língua inglesa durante esse período – principalmente graças a Goldman e todos aqueles em torno da “Mother Earth” – atraía um público mais amplo do que jamais foi capaz de atrair na América antes e traçar seus efeitos em pensamentos e ações mais amplos seria um projeto emocionante.

Além de compreender e apreciar a mulher difícil, decidida e corajosa que foi Emma Goldman, o trabalho de Hsu analisa o desenvolvimento da complexidade do pensamento anarquista de Goldman (e de outros) revelado por todos aqueles anos de desafios à autoridade em tantas arenas diferentes. Às vezes eles tomavam a ofensiva, mas muitas vezes eram forçados a ficar na defensiva. “Emma Goldman, ‘Mother Earth’ and the Anarchist Awakening” nos permite ver Goldman como ela mesma e não como quem gostaríamos que ela fosse durante, talvez, os anos mais importantes de sua vida. Através do trabalho de Hsu, nós apreciamos Goldman como uma anarquista e pensadora consciente que é parte de um movimento anarquista mais amplo que está em constante reação ao mundo ao seu redor.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/book-review-emma-goldman-mother-earth-and-the-anarchist-awakening/

Tradução > Brulego

agência de notícias anarquistas-ana

Leve esvoaçar
do cabelo da menina.
Aragem do mar.

Benedita Azevedo