A seguir, carta do companheiro Danilo, escrita no final do mês de março.
Olá a todes!!!
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Eu sou Danilo, um dos detides na manifestação de 27 de fevereiro.
Como muitos de vocês já sabem, escrevo de Brians 1 (Martorell). Hoje, há um mês desde a nossa prisão, eu queria publicar alguns escritos antes, mas precisava ter uma ideia melhor do que iria acontecer, tanto para mim quanto para os outros, também receber notícias de fora, etc.
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Posto isto, gostaria de começar por vos agradecer pelos tantos gestos de solidariedade que estamos a receber, muitas pessoas se envolveram nisso, contribuíram muito, seja a nível material com cartas, massas, postais, roupas, etc. , tanto a nível prático com manifestações, iniciativas e afins. Cada uma dessas contribuições ajuda muito a ficar com o ânimo e se sentir apoiado, o que é muito importante aqui, muito obrigado!
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Em suma, para quem não sabe, somos acusados de tentativa de homicídio, agressão à autoridade, desordem pública, continuação do crime de dano e pertencer a um grupo criminoso.
Recentemente a companheira que é acusada de ter posto fogo no furgão urbano foi libertada provisoriamente, isso é ótimo por si só e também pensamos que talvez seja um sinal de que a coisa está começando a se desmontar.
Mesmo assim, ainda é muito difícil fazer previsões de qualquer coisa, dado o absurdo e patético circo midiático que montaram, além da seriedade de algumas denúncias, por isso pessoalmente prefiro ter a ideia de que vai demorar um pouco de tempo para sair daqui, não é que eu goste da ideia, eu simplesmente prefiro ter boas surpresas às decepções, me preocupar demais antes da hora etc., até agora tem funcionado para mim e posso dizer que apesar de tudo estou sereno!
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Agora se há outra coisa muito positiva próxima a libertação da Sara e que eu não esperava, é o fato de estarmos todes aqui no Brians 1, dividides em três módulos diferentes, sim, mas aqueles de nós que estão no mesmo módulo nos vemos todos os dias no pátio (6 horas por dia, 4 da manhã, 2 da tarde), enquanto de módulo em módulo nos escrevemos e as cartas levam “apenas” três dias para chegar, em além de poder ter comunicações, vis-à-vis, etc. Tudo isso é muito bom, nos apoiamos uns aos outros e ajudamos quem você não vê.
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O módulo 4, onde eu, o Albo e o Luca estamos, é o mais tranquilo de todos, como se costuma dizer, “o pátio da escola”, a gente chama assim, “módulo do respeito” para os funcionários. A maioria deles é para drogas (tráfico), roubos e besteiras, então têm alguns desses que em outro módulo não sobreviveriam um dia, (crimes sexuais) e muitos informantes, por isso o módulo é tão quieto, alguns presos são mais guardas que os guardas, aqui mais do que em outros módulos ao mínimo que mentem te mandam para o especial e depois em algum módulo dos conflitivos. Enfim, felizmente você conhece gente legal também, dentro do mal, poderia ser bem pior.
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Passando ao assunto da nossa prisão, devo dizer que me surpreendeu (suponho que não só eu) não termos levado uma grande surra, foi algo que dei por certo quando nos algemaram na rua, pensei que fosse o protocolo normal nestas situações (ainda acredito) talvez fosse a exceção que confirma a regra. A verdade é que isso me deixou perplexo por um tempo, e no final eu cheguei à não conclusão de que talvez o fato de os policiais terem estado no turbilhão da mídia por dias devido à questão de “respostas desproporcionais” que tenham estado a nosso favor, como dizem, ou que tenham tentado evitar novos “mártires” que deram origem aos protestos para recuperar o vigor… ideia nenhuma, mesmo, mas melhor para nós! Não faltaram insultos ou ameaças, “a gente se vê na rua de Mataró quando te soltarem porcos, vamos ver se você joga pedras na gente!” Alguém na delegacia de Mataró me disse antes de me levar, Luca, Albo e Hermen algemados ao teatro miserável que eles montaram para revistar o Nabat, ocupação onde alguns de nós vivíamos, com a tropa de choque em frente ao jornalistas, no meio da estrada, antes de nos levar de volta ao calabouço!
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Outra coisa, antes de me despedir, quero expressar meu total desprezo pelos meios de desinformação do regime, mais uma vez ou eles se destacaram em seus esforços para manipular a opinião pública com suas mentiras, sensacionalismo e charlatanismo, tornando-os um pilar de apoio à repressão , abutres necrófagos servis que se aproveitam do desconforto alheio, chamam isso de trabalho? Sempre oferecendo uma base sobre a qual os aparatos repressivos possam construir suas represálias, cada vez que são ameaçados, tentam vender a mesma velha história: por trás da difusa agitação social e tumultos há apenas um grupo de conspiradores, para realizar qualquer punição exemplar, matar dois pássaros com um tiro: acertam quem incomoda com suas lutas e demandas e, por outro lado, tentam aterrorizar quem pensa em sair à rua para protestar. Fingem se surpreender quando uma multidão de jovens explode de raiva identificando-os como responsáveis (policiais, jornalistas, bancos, multinacionais e grandes empresas) por condições de vida cada vez mais precárias e miseráveis e sistemas de controle social cada vez mais sufocantes, fazem-se passar por vítimas, como fazem os piores carrascos, lobos disfarçados de ovelhas! Queria deixar claro para aqueles que nos apoiam o que penso sobre isso, acho que é importante. Fodam-se os aparelhos repressivos e seus estados! Não vou negar minhas ideias, por mais que tentem criminalizá-las.
De qualquer forma, me desculpem se estendi mais do que o necessário, mas havia muito o que contar sobre este mês e não queria fazê-lo em um telegrama chato ou plano de comunicação.
Um grande abraço a todes! Espero poder voltar para vocês em breve!
E mais uma vez obrigado por tudo de coração!
Muita força e solidariedade também com os demais reprimides nas prisões de todo o mundo!
LIBERDADE PARA TODES!!
DEIXEM OS MUROS CAIR
E VIVA A ANARQUIA!
Danilo
Tradução > Da Vinci
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agência de notícias anarquistas-ana
O ruído do rato
Andando sobre o prato –
Que frio!
Buson
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!