Por Aline Pellegrini
Memorial da Resistência oferece acesso a seu arquivo, o mais completo registro da história do período
Marcado pelo golpe de 1964 que mergulhou o país em uma violenta ditadura (1964-1985), o dia 31 de março pode ser encarado como um lembrete da importância da preservação da memória do país. Dedicado a essa conservação e também à divulgação da história das reações à repressão política, o Memorial da Resistência de São Paulo hospeda um acervo único.
O prédio, que até 1983 abrigou o Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social), cuja função era assegurar as regras militares no país tomado pela ditadura, passou a maior parte de 2020 com as portas fechadas e com seus documentos inacessíveis por causa da pandemia do novo coronavírus. Assim, a coordenação do museu buscou uma nova forma de disponibilizar o acervo do local (memorialdaresistenciasp.org.br): digitalizou seus materiais e elaborou um novo site.
O endereço virtual foi lançado em 24 de março de 2021, data em que se comemora o Dia Internacional do Direito à Verdade. A plataforma reúne fontes materiais, documentais e bibliográficas, com fotos, vídeos e textos, referentes ao período autoritário do Brasil.
Os depoimentos das vítimas
Entre as pesquisas disponíveis estão a do Programa Coleta Regular de Testemunhos, que contém 155 vídeos curtos de depoimentos de pessoas envolvidas na ditadura, como ex-presos e perseguidos políticos, e o Programa Lugares da Memória, que identificou e inventariou 186 locais vinculados a eventos de resistência e de repressão políticas do estado de São Paulo.
As conversas foram gravadas em vídeo, alguns com uma ou duas horas de duração. Por enquanto, o site só disponibilizou trechos de até cinco minutos.
Entre eles está o depoimento do ator Celso Frateschi, que conta as artimanhas de companhias de teatro para burlar a censura. Frateschi, que foi preso algumas vezes pelo regime militar, integrava um grupo de jovens atores que trabalhava com uma proposta desenvolvida pelo diretor Augusto Boal em 1964 de teatralizar notícias de jornal que denunciavam questões como a violência do regime.
O acervo também conta com um vídeo da ex-presidente Dilma Rousseff, que, nos anos 1970, passou um tempo presa onde hoje é o Memorial. Na entrevista, realizada em 2018, Rousseff refletiu sobre a conjuntura política e social que possibilitou o golpe de 1964.
Ex-secretário de Justiça do Estado de São Paulo, Belisário dos Santos Junior fala em sua entrevista ao acervo sobre sua relação com o prédio que atualmente abriga o Memorial, que ele frequentava regularmente na condição de advogado de presos políticos.
“O Deops, de início, tinha uma importância única, e depois se tornou uma instância de passagem ainda que aqui [no prédio] se cometesse tortura”, afirmou o advogado. No depoimento, ao mencionar a violência dos militares, relembra a morte de Eduardo Leite, conhecido como Bacuri.
Aos 25 anos, Bacuri foi brutalmente torturado na sede do Deops até perder o movimento das pernas. Ele foi visto pela última vez em 1970 por sua mulher, que também tinha sido presa e estava grávida na época. Bacuri soube que seria morto quando os militares lhe mostraram os jornais com notícias de sua fuga, que nunca aconteceu. Após 109 dias de tortura, ele foi assassinado pelos militares.
agência de notícias anarquistas-ana
O tempo virou
Apressam o passo as saúvas
Onde o guarda-chuva?
Chico Pascoal
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!