[Reino Unido] A Monarquia, o Estado e a BBC

A ampla cobertura da morte do príncipe Philip destacou o papel que a família real desempenha na manutenção do sistema.

Mais de 110.000 pessoas protestaram junto à BBC sobre essa cobertura servil, antes de seu Diretor Geral, Tim Davie, que apoia o Partido Conservador, ordenar que o formulário de reclamação fosse retirado, para evitar mais constrangimentos à medida que os números subiam.

Boris Johnson realçou o papel fundamental que a monarquia desempenha tanto na manutenção do status quo quanto como cimento que preserva o Reino Unido e a Commonwealth, em seu elogio de Philip em estilo bajuladoramente sicofântico: “Como o exímio condutor de carruagens que era, ajudou a dirigir a família real e a monarquia para que esta permanecesse uma instituição indiscutivelmente vital para o equilíbrio e a felicidade de nossa vida nacional.” Essa visão foi ecoada pelo líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer e seu predecessor, Jeremy Corbyn. Starmer disse: “O Reino Unido perdeu um extraordinário funcionário público no Príncipe Philip.” Enquanto isso, o Congresso dos Sindicatos (TUC) tuitou “O movimento sindical do Reino Unido envia nossas condolências à rainha e à família real pela morte do duque de Edimburgo”. Alguns deputados trabalhistas de “esquerda”, que já haviam alardeado seu republicanismo no passado, também estavam ansiosos para rastejar, assim como os líderes do Partido Nacional Escocês e do Plaid Cymru. Tanto Siân Berry, atual líder do Partido Verde, quanto Caroline Lucas, sua ex-líder, elogiaram Philip, um notório assassino de criaturas de grande porte como tigres ou menores como tetrazes e faisões, por sua preocupação com o meio ambiente e com o World Wildlife Fund (Fundo Mundial para a Vida Selvagem).

O racismo e o sexismo amplamente divulgados de Philip foram retratados pela mídia como excentricidades adoráveis, como pelo jornal Sunday Times que afirmou: “O príncipe Philip foi o consorte real mais longevo da história britânica – uma figura muitas vezes rabugenta, que ofendia pessoas com gafes sobre olhos puxados, mesmo que secretamente nós as tenhamos apreciado”. Isto se referia aos comentários que ele havia feito sobre estudantes britânicos que estudavam mandarim na China.

O “nós” usado pelo Sunday Times ilustra a divulgação da ideia da Nação Única como uma massa uniforme e concordante. Respondendo a essa legitimação do racismo, um grupo de jornalistas do leste asiático elaborou uma declaração assinada por 17.000 pessoas dizendo que: “Retratar a nação como um ‘nós’ coletivo que ‘secretamente’ aprecia calúnias racistas e depreciativas para grupos étnicos é insensível na melhor das hipóteses e incentivador de violência racista na pior.”

A cobertura exagerada da morte de Philip marca o início de uma guerra ideológica contra qualquer sinal de rebelião ou dissidência. Prova disso é que, quando do tombamento de estátuas nos protestos Black Lives Matters do verão passado, o establishment ficou tão horrorizado que respondeu com tentativas de controlar mais ainda o currículo escolar e com elogios aos “benefícios” trazidos pelo Império Britânico.

Nesta guerra cultural, a chamada “esquerda” tem sido espetacularmente frouxa e capitulou muito rapidamente para ganhar cócegas na barriga se se calasse sobre a monarquia, a herança racista da Grã-Bretanha e a brutalidade policial.

Philip vem de uma família que governou a Grécia. A população grega decidiu que não queria mais monarquia. Suas irmãs casaram todas com nazistas alemães de primeira linha e o desprezo de Philip pelas massas foi às vezes revelado como, por exemplo, nas suas observações quando visitou o ditador do Paraguai onde disse que era um prazer visitar um país não governado pelo próprio povo.

O funeral de Philip atraiu 13 milhões de telespectadores. A futura morte de Elizabeth será usada para desencadear outro frenesi de bajulação. Apelos para a abolição da monarquia e uma campanha consistente para expô-la como ferramenta essencial usada pela classe dominante deste país para preservar o status quo são cruciais. Apesar do “nós” usado pelo establishment, pode-se ver que muita gente se opõe à monarquia, fato comprovado pelas mais de 110.000 reclamações à BBC e a queda de audiência da ITV (de 60%), mas também de outros canais durante a cobertura da cerimônia.

Fonte: https://www.anarchistcommunism.org/2021/04/25/the-monarchy-the-state-and-the-bbc/

Tradução > Alainf_13

agência de notícias anarquistas-ana

Bolhas de sabão
sopradas no ar da manhã
exalam arco-íris.

Ronaldo Bomfim