Internacional: Da Colômbia, camaradas uma vez filiados a F.O.R.A. (Federação Operária Regional Argentina) nos enviam uma atualização sobre a revolta naquele país.
Passou um mês desde a Greve Nacional na região colombiana, um mês de terrorismo de Estado marcado pela repressão mais aguda dos últimos anos, e isso já é muito a dizer em uma região dominada pelo Estado colombiano, na qual foram realizados 76 massacres no ano passado, com um total de 272 pessoas mortas, segundo dados oficiais do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OHCHR) e onde a subnotificação de pessoas desaparecidas desde o início da greve chegou a 341 e desde 1958 atingiu o preocupante número de 82.472 vítimas.
A Greve Nacional chegou há 30 dias com mais de 1.133 vítimas de violência física, mais de 60 mortes, 10 delas ontem (28/05) em Cali, 1.445 detenções arbitrárias, 47 vítimas de danos ou perdas oculares, 22 vítimas de violência sexual, mais de 175 casos de tiroteios por civis armados acompanhados pela polícia nacional.
Tudo isso no contexto de uma luta nas ruas e rodovias, onde o Estado, liderado pelo Presidente Ivan Duque, estabeleceu o roteiro habitual, apontando os manifestantes como vândalos, e de estar sob ordens de grupos armados ilegais. O tratamento dado à explosão social é criar o cenário de uma guerra frontal contra organizações étnicas, de bairro, estudantis e sindicais que permaneceram nas ruas e rodovias mobilizando-se contra anos de políticas criminosas dos governos no poder que estiveram sob a hegemonia de Álvaro Uribe Velez, ex-presidente investigado várias vezes por crimes contra a humanidade como os chamados “Falsos Positivos”, ou seja, 6.402 mortes extrajudiciais de civis mortos pelas forças militares para apresentar resultados e obter benefícios.
Os protestos que começaram com um chamado do Comitê Nacional de Greve, uma plataforma que reúne as principais centrais sindicais, as organizações de aposentados, o principal sindicato de professores e algumas organizações de camponeses e caminhoneiros, se transformaram em ações de rua, graças principalmente aos jovens que viram a ação direta nas ruas como seu principal motivo de protesto.
Enquanto a burocracia sindical representada no Comitê Nacional de Greve está em espaços de conversa e mediação com instituições estatais, as ruas têm mantido um nível de beligerância e organização distante desses velhos métodos de conciliação da burocracia. Espaços de resistência têm sido organizados em diferentes partes da região colombiana como Cali, Bogotá, Buga, Popayán, Bucaramanga e outros, onde os métodos de luta são baseados na horizontalidade, ação direta e apoio mútuo. É importante destacar a relevância das linhas de frente como método de contenção da violência policial, onde não só os jovens, mas também professores, mães e até mesmo padres estão se organizando sob esta figura, que acumulou um nível de resistência e legitimidade bastante importante neste momento, que mesmo em alguns lugares como Cali, são interlocutores legítimos e reconhecidos com as autoridades governamentais.
A situação hoje, após um mês, é agridoce, pois ainda há manifestantes mortos e feridos nos confrontos com as forças públicas, além da impunidade diante das práticas de guerra, como as agressões contra as comissões de verificação dos Direitos Humanos nas ruas, e também os métodos de terror, tais como cortes de energia e internet, pressões de grupos paramilitares, montagens judiciais contra manifestantes e métodos de censura, tais como restrições à transmissão ao vivo de protestos. Por outro lado, as razões da chamada Greve Nacional foram ampliadas; podemos contar como realizações da mobilização a retirada da reforma tributária com a qual os protestos começaram, também a retirada da reforma sanitária, e a renúncia de 3 altos funcionários do governo (Ministro da Fazenda, Ministro das Relações Exteriores e o Alto Comissário para a Paz).
Estas são pequenas conquistas porque sabemos que o governo, pressionado pelas grandes empresas, sempre buscará reformas para aumentar seus interesses enquanto os trabalhadores e suas famílias continuam a sofrer de uma pobreza de mais de 40% da população. As demandas que se ouvem nas ruas e rodovias vão desde a exigência da demissão de Ivan Duque e todo seu gabinete, a desmilitarização dos territórios, reformas estruturais das forças militares e policiais, a não perseguição de pessoas que foram capturadas no contexto de protesto social, a efetiva implementação dos acordos de paz assinados entre as FARC-EP e o governo, garantias para os líderes sociais e ambientais em territórios rurais e urbanos, o fim da pulverização de glifosato e fracking, entre muitas outras.
Sabemos que estamos vivendo um momento histórico como resultado de anos de terrorismo de Estado e políticas criminosas que tornam precárias as condições de vida de milhões de pessoas no campo e nas cidades. Neste momento, vemos o acúmulo das greves de 2018 e 2019, e as explosões sociais de 2020. Os protestos, longe de terminar, estão em seus pontos mais altos de repressão e criminalidade estatal. Infelizmente, as formas de organização ainda estão muito dispersas e sem um horizonte claro, mas a raiva e os métodos assemblearios estão latentes em um povo que procura mudar sua condenada história em busca de um bom viver.
Finalmente, gostaria de convidar todos aqueles que estão lendo isto a acompanhar de perto o processo que a região colombiana está passando, pois as garantias de protesto e de vida diante do Estado repressivo não existem, e prova disso é a negação destas práticas sistemáticas pelo Ministro da Defesa e do Comandante da Polícia. Somente a organização popular e os observadores internacionais podem registrar um genocídio que está sendo cometido neste momento. A difusão e as ações internacionalistas de pressão sobre o governo Duque são essenciais para o processo que estamos vivendo.
Deixamos aqui uma lista de mídias alternativas e organizações de direitos humanos que vêm registrando as manifestações:
Meios de Comunicação:
http://-facebook.com/ccsubversion
http://-facebook.com/ColombiaInforma
http://-facebook.com/revista.hekatombe
http://-facebook.com/noticierobarrioadentro
http://-facebook.com/contagioradio
http://-facebook.com/conlaorejaroja
Organizações de Direitos Humanos:
http://-facebook.com/tembloresong
http://-facebook.com/DerechosdelosPueblos
http://-facebook.com/ObjetivLibertad
http://-facebook.com/fundacionddhhPASOS
Organizações Sindicais:
http://-facebook.com/larojaxlapaz
http://-facebook.com/TJERpensamientocritico
Tradução > Liberto
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!