[França] Tapa na cara do Macron | Três reflexões

Três reflexões sobre o tapa dado em Macron por um homem, provavelmente monarquista ou fã dos Visitantes, antes de gritar “Montjoie Saint-Denis, no momento de atingir o presidente.

Ingratidão: Macron deu tudo para a extrema-direita. Nomeou um ministro do Interior da Ação Francesa, liderou uma política de extrema-direita ao mesmo tempo autoritária e racista, votou  com o RN as leis mais duras desde a Liberação contra os exilados, reprimiu todas as mobilizações sociais, ou mesmo vagamente de esquerda, reforçou o estado policial. Além dessa violência, Macron mostrou sua amizade com o extremista de direita Phillippe De Villiers e presenteou em seu Puy du Fou, amigo com o jornal reacionário Valeurs Actuelles, mantido por Eric Zemmour e ficou em silêncio a todas as violências da extrema-direita há 4 anos. E apesar disso levou um tapa de um indivíduo de extrema-direita. Vingança do destino.

Vulnerabilidade: Uma tradição bem francesa se instalou desde Sarkozy: os líderes políticos não andam sem um exército do CRS [Companhias Republicanas de Segurança] e guardas super equipados. O ponto máximo foi atingido por Macron, que mesmo numa visita ao interior da França é acompanhado de dezenas de forças da ordem. Mas mesmo com uma guarda pretoriana, ninguém é invulnerável. Esta bofetada é um exemplo, mas também, há alguns dias numa cidade do Lot, quando os habitantes gritaram para ele: “Você não vai durar, Macron” e “Onde está Steve?” Visto o clima de tensão política reinante, é provável que este não seja o único incidente.

União sagrada: depois da bofetada toda a classe política levou seu “apoio” a Emmanuel Macron e “condenação” ao ato. Uma espécie de “remake” da “Frente Republicana”, tipo de união em torno do presidente. Um concerto de hipocrisia. Quem nunca sonhou em bater em um presidente da república? Quem nunca desejou expressar sua raiva frente a Macron? O que é uma bofetada frente a quatro anos de mutilações, crimes policiais, de violência social e insultos? O corpo do monarca presidencial é mais sagrado que os outros? Quanto à denúncia da extrema-direita, é indigno usar essa bofetada para tentar falar de antifascismo a pessoas que metodicamente fazem crescer Marine Le Pen. A violência de extrema-direita, os ataques à mesquitas, as agressões racistas, os militantes violentados, acontecem a cada semana frente a uma indiferença mortífera. Nenhum apoio aos cúmplices do fascismo.

Nantes Révoltée

agência de notícias anarquistas-ana

o céu e o mar
no horizonte nenhuma fresta,
para te espiar.

Núbia Parente