Por Black Rose/Rosa Negra Federação Anarquista local de Miami
A atual situação em Cuba teve início na noite de 10 de julho. Há relatos de protestos espontâneos na cidade de Palma Soriano, localizada em Santiago de Cuba. Pessoas começaram a marchar nas ruas carregando tachos e panelas, protestando através de um cacerolazo (“panelaço”) por conta dos apagões, que se tornam cada vez mais frequentes, da falta de alimentos e da crise na saúde pública que já vem borbulhando há algum tempo.
Ao passo em que os números de infecções e mortes por Covid começaram a crescer no início deste ano, se espalharam pela internet muitos relatos de pessoas desesperadas, deixadas para morrer em casa por causa da falta de recursos essenciais e suprimentos hospitalares.
Os cidadãos cubanos foram capazes não apenas de se informarem, mas ao mundo, enquanto estavam tendo seu acesso a comida e medicina negados, aguardavam em longas filas por mercadorias básicas e muito caras e se submetiam a períodos de isolamento causados pela ineficácia do estado para lidar com a crise. No dia 11 de julho, pela manhã, uma onda de rebelião se espalhou pela ilha, fazendo deste levante popular o mais relevante em décadas.
Esta imensa crise enfrentada pelos cubanos foi se construindo como um resultado não somente da dominação do estado nacional, mas também por conta de estados estrangeiros antagônicos e imperialistas. Esta intervenção ficou ainda mais evidente tendo em vista o estreitamento do embargo pelos Estados Unidos, restrições recentes a remessas e o chamado por “intervenção humanitária”. Esta imposição sobre as pessoas é o contínuo legado dos estados em toda parte, especialmente em Cuba.
Nós, enquanto anarquistas, esperamos que toda rebelião popular se torne uma força revolucionária a caminho da libertação final da classe explorada pela dominação do estado. No entanto, por conta das raízes autoritárias do capitalismo de estado cubano e da sistemática cooptação de quase todos os opositores pelo governo dos Estados Unidos, organizações políticas a partir de classes sociais são praticamente inexistentes na ilha. Desta maneira, construir um movimento autônomo é um desafio.
A respeito da crise humanitária e social que se desenrola no momento, é cedo para tentar prever desenvolvimentos futuros. Ainda assim, devemos ter em mente que se os protestos populares em Cuba continuarem a evoluir para uma rebelião mais generalizada, o atual estado de Cuba e o Partido Comunista talvez estejam caminhando para o seu estágio final.
Nós acreditamos que o poder popular está emergindo e que ele tem a capacidade de defender sua própria autonomia. Contudo, também tememos tanto a repressão pelo governo de Cuba quanto a capacidade da oposição de direita de cooptar os movimentos populares. Em ambos os casos, isso já começou.
Por exemplo, em Miami, no dia 13 de julho, um bloqueio de uma das maiores vias expressas se deu por horas, como iniciativa de imigrantes cubano-americanos que exigiam intervenção militar dos Estados Unidos. Para nós, isto levanta o questionamento sobre como as classes populares cubanas se beneficiariam com uma mudança de regime. Tendo em vista a falta de organizações populares, nos parece claro que a sua luta neste momento só pode terminar sendo explorada por interesses capitalistas e de direita.
De qualquer maneira, não está fora de cogitação esperar o seguinte, caso o regime seja derrotado:
1) As classes populares cubanas se reconheceriam como atores sociais com auto-determinação e capazes de tomar o poder. Esta realidade foi raramente experimentada pelas gerações em Cuba nos últimos 60 anos.
2) Provavelmente veríamos a substituição do regime atual por uma administração política colonial e neoliberal com um verniz de retórica “democrática”. Porém, paradoxalmente, as classes cubanas exploradas talvez ganhem mais espaço para se organizar ao desenvolver uma consciência de classe muito necessária que permitirá o surgimento de tendências revolucionárias autênticas e práticas que as alimentem.
No entanto, estamos cientes de que tudo isso pode ocorrer em um ambiente em que muitas mudanças sociais positivas, implantadas pela Revolução Cubana, seriam eliminadas ou desgastadas. Lembremos que estas classes populares que heroicamente lutaram contra um regime opressivo seriam aquelas que sofreriam as piores consequências de tudo isso.
Sob esta perspectiva, compreendemos que o caminho a seguir não será fácil. Enviamos nosso amor e solidariedade internacional ao povo cubano. Exigimos liberdade para todos aqueles que foram presos durante os protestos, responsabilização das instâncias por assassinato e abuso físico, a retomada dos serviços de internet e o fim do bloqueio genocida. Nossas esperanças estão com vocês e nós aclamamos cada tentativa de poder social popular, cada rebelião, cada insurreição e cada protesto por libertação social.
¡Arriba les que luchan!
Tradução > Calinhs
Conteúdos relacionados:
agência de notícias anarquistas-ana
Tormenta hibernal —
O rosto do passante,
Inchado e dolorido.
Bashô
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!