No sábado 3 de maio de 1924, na primeira página do Humanité, se pode ver uma fotografia do mais extraordinário monumento não aos mortos, mas aos vivos após a guerra. Reconciliação: uma mulher sentada vestida com um longo vestido até os tornozelos, com dois soldados sobre os joelhos, nus porém de capacetes, um francês e um alemão, abraçados como um casal apaixonado em um beijo cinematográfico. O autor da imagem: um certo Émile Derré.
Derré é aquele que afundou vivo na lenda, pouco se sabe de sua vida e, pior ainda, parte de suas obras desapareceu, sua estátua de Fourier derreteu sob a ocupação, o grupo Reconciliação evaporou em data incerta, Le Chapiteau des Baisers, em que se vê Louise Michel beijando Blanqui foi retirado do Jardim de Luxembourg a pedido de Mitterrand. O título de artista maldito lhe cai com uma luva. Para se convencer disso bastaria ficar frente a frente com a fotografia de Nadar, onde o vemos posando orgulhosamente de terno escuro, barba rala, olhar profundo, dizendo que é isso, que ele chegou, que do nada ele faz parte do cenáculo, dos grandes homens, dos artistas que importam, e alguns anos mais tarde um certo Emmanuel Bourcier lhe fez uma caricatura, um velho homem de olhar fundo, grande bigode, e que gostaria de parecer elegante em seu traje, mas o amarrotado denuncia a miséria.
De Montmartre a Nice, do busto de Élisée Réclus ao mais belo monumento pacifista, eis Émile Derré, escultor anarquista, injustamente tombado no esquecimento.
>> Thierry Guilabert vive na Île d’Oléron. Ele é autor de vários romances, coletâneas de novelas e biografias históricas, em particular nas Éditions Libertaires: As Aventuras verídicas de Jean Meslier; Gracchus Babeuf, a liberdade ou a morte; Caracremada, vida e lenda do último guerrilheiro catalão; e As ruínas de Auschwitz, ou a jornada de Alexandre Tanaroff.
Publicado com a participação da Libre Pensée, da Union Pacifiste e da FNL-M (Federation Nationale Laique des Associations des Amis des Monuments pacifistes, républicains et anticléricaux)
Tu ne tueras plus: Émile Derré, anarchiste, pacifiste, sculpteur
Thierry Guilabert
ISBN: 978-2-900886-19-9
82 páginas ilustradas em preto e branco – 12 €
editions-libertaires.org
agência de notícias anarquistas-ana
Almas gêmeas.
A minha geme e a
outra não se acalma.
Rogério Viana
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!