A indústria editorial, assim como é o caso da indústria da música, está em constante fluxo, no qual editoras menores acabam sendo frequentemente desfavorecidas. Livreiros independentes estão sendo esmagados pelas grandes empresas que, por sua vez, são soterradas pela Amazon.
Formada em 2007, a editora independente e radical, PM Press, viu mudanças imensas no ramo ocorrerem. Os cofundadores Ramsey Kanaan e Craig O’Hara, junto com um pequeno grupo de agitadores, se afastaram das merdas impostas pela indústria editorial, mantendo intocada sua visão.
“A PM começou com o conceito antiquado de que ideias realmente importam”, diz Kanaan. “Ela nasceu do desejo de disseminar estas ideias e encontrar quantas maneiras criativas e efetivas fossem possíveis para fazê-lo. Desde então, eu não acho que esta visão tenha mudado.”
A editora publica livros sobre diversos tópicos, incluindo anarquismo, raça, economia e gênero. Ela dedica-se a apoiar as vozes de autores radicais, artistas e ativistas. E, sim! A PM tem um histórico de publicação de livros sobre punk, incluindo títulos sobre o Black Flag, Crass e anarco-punk britânico. Algumas obras estão por vir, como a história da banda Victoria, BC punk weirdos e Nomeansno.
“A maioria das pessoas na PM veio do punk, então estamos seguindo nossos interesses”, diz Kanaan, que foi vocalista da banda escocesa de anarco-punk Political Asylum nos anos 80. “Como um propagandista, um comunicador ou um organizador político, você começa por aquilo que você sabe e onde está confortável.”
Kanaan tem vendido muitos títulos por mais de quarenta anos. Ele começou a AK Press em 1987 e lançou livros e CDs de spoken word criados por escritores ativistas como Noam Chomsky e Howard Zinn. A AK também se alinhou com bandas progressivas de punk político como Propagandi. Esta conexão se manteve intacta com a PM.
“Todos nós podemos ligar para o Jello Biafra e dizer ‘Hey, podemos colocar um stand no seu show?’ e ele dirá ‘Sim, por favor!’. Ou NOFX, ou quem quer que seja, porque são amigos nossos”, diz Kanaan. “Eles são nossos contemporâneos e pessoas que sabem sobre nós; portanto, não somos algum esquisitão de fora tentando crescer e se impor.”
Além dos shows de punk e festivais como Punk Rock Bowling e Pouzza, a PM vende livros em feiras literárias, infoshops, conferências e manifestações políticas. Ela esteve em mais de 500 eventos somente em 2019. Segundo Kanaan, nos últimos cinco anos que precederam a quarentena, a editora vendeu mais livros diretamente do que em outras lojas.
A abordagem é necessária já que a indústria editorial mainstream engole as vozes de diversidade e muitas vezes marginaliza estes escritores. Neste processo, livrarias independentes são forçadas a fecharem as portas todos os dias. Pequenas editoras como a PM têm que se virar para encontrar maneiras alternativas de disseminar informação.
“Não é somente a destruição de livrarias e lojas de discos independentes, mas a destruição de lojas especializadas”, afirma Kanaan. “No mercado de livros, isso significou uma consequência dos anos 60 e 70 e os novos movimentos sociais como libertação gay, das mulheres e negros. Havia livrarias gays, negras e feministas. No final dos anos 80 e começo dos anos 90, elas foram destruídas pelas grandes empresas. A Amazon surgiu no final dos anos 90 e desde então, vem destruindo todas as outras franquias. Visto de qualquer ângulo, os modos antigos de se fazer isto estão sendo… fodidos.”
Com 11 funcionários vivendo da esperança de conseguir se manter decentemente e sem nenhuma fonte de financiamento além das vendas de livros, a PM publica obras que, com sorte, pagarão suas contas sem se desviar do olhar inicial.
“Existem muitos livros que nós escolhemos fazer por amor ou por acreditarmos neles, apesar de perdermos dinheiro com muitos destes títulos. No entanto, tudo que é feito por nós tem que ter este componente financeiro”, relata Kanaan. “Fundamentalmente, a razão pela qual a PM existe é o fato de sermos revolucionários. Nós queremos destruir o capitalismo, o estado e viver em um mundo melhor.”
Kanaan diz que os livros de punk mais vendidos do catálogo são Spray Paint the Walls: The story of Black Flag,The Day the Country Died: A History of Anarcho Punk 1980-1984, e The Story of Crass. Tanto o livro do Black Flag quanto do Crass chegaram a ser reimpressos pela terceira vez. Outro título popular, este no campo da ficção, é The Primal Screamer do Nick Blinko, cantor principal da banda britânica de anarco-punk Rudimentary Peni. Suas músicas espinhosas e afiadas foram inspiradas por bandas de grandes sucessos como Killing Joke, Amebix e Neurosis. Blinko vive com uma disfunção squizoafetiva e o livro conta com a mesma visão satírica e distópica das letras das músicas da Rudimentary Peni.
Livros sobre bandas de punk há muito esquecidas e anarquistas não estarão nas listas de best sellers tão cedo. Mas isso nunca foi o ponto ou o objetivo da PM Press.
“Tudo que fazemos é sem nenhuma fonte extra de financiamento”, explica Kanaan. “Nós não temos um sugar daddy, apesar de que amaríamos se fosse o caso. Nós não temos financiamentos, corporações ou qualquer coisa do tipo nos apoiando. Eu não acho que nossa visão tenha se modificado. O modo como aplicamos essa visão talvez tenha mudado, só porque temos lidar com a realidade em que vivemos.”
Kanaan vê muitos paralelos entre as indústrias de livro e música: o constante declínio das vendas, a propriedade corporativa das editoras e gravadoras e a repaginada dos formatos visando um aumento de lucro. (alguém se lembra quanto os CDs custavam quando eles começaram a aparecer?)
“Pelos últimos quarenta e tantos anos, a maneira tradicional de disseminar ideias através da palavra impressa tem passado por um declínio cataclísmico por diferentes razões”, diz Kanaan. “A destruição do chamado ‘mercado de livro’ espelha a desintegração da chamada ‘indústria musical'”.
Kanaan aponta os mecanismos de entrega de livros e música como motivos pelos quais as corporações estão nadando em dinheiro. Com o passar dos anos, a indústria livreira teve audio-books, e-readers e e-books. No caso da música, ela tem tido seus próprios meios de lucrar e não é através do som em si, segundo Kanaan.
“A Apple, pioneira dos downloads, não se importa em dar música por aí de graça” ele diz. “Se eles estão vendendo downloads a 99 cents, ninguém está ganhando nenhum dinheiro com isso. Nem mesmo a Apple, Sony ou Spotify. Eles não se importam. Eles conseguem fazer dinheiro com mecanismos de entrega. A Apple, ao inventar e vender Ipods ou a Sony ao vender Walkmans. Foi isso que fez com que eles ganhassem dinheiro e não a música em si.”
As semelhanças entre as duas indústrias não se encerram aqui. Além do tortuoso sistema de entregas, outro fator que faz com que pequenas editoras e gravadoras tenham que penar para sobreviver são os provedores de conteúdo que estão cada vez maiores e mais poderosos.
“Do mesmo jeito que 40, 60, 80 anos atrás havia uma abundância de selos de gravadoras. Eles se consolidaram e basicamente se tornaram donos de tudo. É parecido com o que aconteceu com a indústria dos livros”, afirma Kanaan.
Enquanto provedores de conteúdo mainstream continuam se consolidando, são os artistas na base da pirâmide que sofrem, sendo eles autores ou músicos.
“Eles começaram a afastar, por assim dizer, todos os autores. Do mesmo jeito que os selos de gravadoras começam a afastar os artistas quando há uma consolidação na indústria musical”, diz Kanaan. “Eles cancelam contratos, se recusam a optar pelo próximo disco ou qualquer coisa do tipo. É a mesma coisa que acontece no mercado editorial.”
Kanaan diz que a PM vendeu mais de um milhão de livros por fora da indústria mainstream. Ainda que seu distribuidor venda para as Amazons, Barnes e Nobles da vida, a editora tem provado que isso não significa que cachorros velhos necessariamente têm que aprender truques novos.
“Parte dos nossos esforços se concentra em como podemos ajudar os nossos livros a fazer o seu melhor com o que restou da maneira antiga de fazer isso (no varejo)”, diz Kanaan. “Outra questão é: ‘como criamos novos canais?’ Eu não diria que isso nunca foi feito. Nós não fomos as primeiras pessoas no mundo a ir num show de punk vender livros, mas nós ajudamos a fazer disso um lugar mais comum.”
Como complemento das vendas que ocorrem pessoalmente, a PM tem um serviço de assinatura através do qual leitores podem pagar uma quantia mensal e receber todos os livros publicados. Ainda assim, botar os livros na mesa é o jeito mais eficaz de colocar o catálogo da PM sob os olhos de quem possa se interessar”, diz Kanaan.
“Expor os livros não é somente uma grande parte das nossas vendas, mas é também nossa principal forma de publicidade”, diz ele. “Porque, literalmente, nós estamos em todos os lugares. As pessoas nos vêem em todos os lugares. Aonde quer que eles vão, há uma estante da PM Press. ‘Caralho, de novo uma estante da PM!.’ Este também é nosso jeito de interagir com o mundo exterior, é assim que conhecemos pessoas. É assim que conhecemos autores.”
Enquanto continuarmos sob às botas do capitalismo, onde a literatura e a música são estapeadas com uma etiqueta e monetizadas, a PM Press estará disposta a trabalhar mesmo dentro do sistema para colocar seus títulos nas mãos das pessoas. Mas isso não significa que ela esteja feliz com a situação.
“Em um mundo ideal, conhecimento deveria ser livre e todos deveriam ter acesso a qualquer coisa que necessitassem”, diz Kanaan. “Nós não chegamos lá ainda, infelizmente.”
Fonte: https://newnoisemagazine.com/interview-pm-press-ramsey-kanaan-on-the-power-of-independence/
Tradução > Calinhs
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Rogério Martins
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!
Um puta exemplo! E que se foda o Estado espanhol e do mundo todo!
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Edmir, amente de Lula, acredita que por criticar o molusco automaticamente se apoia bolsonaro. Triste limitação...