Elites secundárias

O capitalismo sustentável, com suas idas e vindas, realiza a grande prática de governo das condutas produzida pela racionalidade neoliberal: a dos direitos de minorias.

As minorias são compreendidas compostas por ativistas, protagonistas, cotistas, vulneráveis, empoderados. As minorias configuram as elites secundárias e definem as suas presenças como portadoras de direitos inacabados.

Trata-se de uma elite secundária porque seus integrantes estão sujeitados e assujeitados às elites principais, às minorias numéricas que governam e exercitam a soberania no Estado moderno e nas organizações internacionais.

Nos tempos atuais, são governo e são governadas por meio da gestão compartilhada.

Em política, gestão compartilhada se traduz em convocação à participação moderada dos grupos subalternos organizados.

Em economia é sinônimo de gestão compartilhada entre capital e capital humano pela cooperação na produtividade.

Em ambos, e nas demais relações culturais, sociais e ambientais são intérpretes ou forças tidas como democráticas, pluralistas, tolerantes…

São partidários e/ou apartidários, segundo a ocasião. Não formam um bloco homogêneo. Em seu interior estão as mais variadas conformações políticas partidárias ou não, que vão de socialistas a fascistas. Todos e todas se autodeclaram democráticos/democráticas. São vetores do politicamente correto financiados por fundações empresariais, institutos público-privados, nichos de mercado, publicidade engajada.

São a cara e a expressão da sociedade civil organizada em sintonia com o Estado e seus poderes, o que por vezes é chamados também de nova política, à direita e à esquerda. Portanto, não têm cumplicidade explícita com governos do Estado, nem vínculo imediato. As elites secundárias são capazes de metamorfoses e de oscilação dicotômica entre as forças que mandam.

É recomendado que todos(as) se esforcem pela pacificação, pela cultura de paz.

Todos devem crer no Estado e na punição.

Todos passam a crer em medidas sustentáveis para melhorar a situação das futuras gerações. Eles e elas imaginam-se condutores, parceiros das elites, que governam a si e aos demais súditos como pastores de variadas paróquias.

As elites secundárias funcionam para a restauração, a renovação, a revalidação do capitalismo sustentável como realidade e utopia.

As elites secundárias pretendem funcionar como hegemônicas no controle ambiental, de monitoramentos, de cares, e sobre os imbróglios a respeito de procedimentos democráticos, científicos, verdadeiros e fakes. A sua grande meta é o empreendedorismo como modo de vida.

As elites secundárias disputam, pela somatória de várias minorias numéricas, a melhor maneira de governar como maioria, tomando a representação pelo significado compensatório de direitos inacabados. Esta é a sua senha: não dar nada como concluído. Esta foi a chave e é a senha dos burocratas.

As elites secundárias pedem mais políticas públicas compensatórias, mais paulatinos reconhecimentos de cada minoria (pelo Estado e pelo Mercado), mais aceitação, e se comunicam estabelecendo um quadro geral de funcionamento jurídico e punitivista.

As elites secundárias prestam um limpo serviço à elite principal exercendo a racionalidade neoliberal, definindo as condutas criminalizáveis em função de punir mais e melhor.

Chegam ao ponto de imaginar a substituição da polícia pela ampliação das atividades de denúncia do cidadão-polícia /cidadã-polícia, a pleno vapor com os monitoramentos eletrônicos ou não. É o novo pastorado!

As elites secundárias foram formadas pelas minorias potentes que foram absorvidas como minorias numéricas por capitalistas, políticos, burocratas, ativistas e intelectuais desde o acontecimento 68.

Elas são as responsáveis por confundir, propositalmente, resistências com resiliência.

As elites secundárias apresentam as condições para a conduta moderada no âmbito e no ambiente de uma suposta sustentabilidade descolonizada.

As elites secundárias atualizam o governo dos súditos pelos súditos. Sua presença a serviço da elite principal repercute nas artes plásticas, na literatura, nas humanidades. Todos e todas necessitam participar para se sentirem mais que mortos-vivos.

Pronto: haverá capitalismo sob qualquer regime político e suas forças sempre contarão com os assujeitados. Em cada época ele mostra isso e depois escancara seu ardil.

Fonte: https://www.nu-sol.org/blog/hypomnemata-251/?fbclid=IwAR0myRQ05fDb9WZtasZj6H-kDcoQrdqGxtw8fQ8XZNPmsb-7cpEpfESw_KQ

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Pedro Mutti