[EUA] Campos de Batalha, Matadouros & a Oposição a Ambos

Por Noah Johnson

Uma resenha de Constructing Ecoterrorism: Capitalism, Speciesism & Animal Rights [Construindo o Ecoterrorismo: Capitalismo, Especismo & Direitos Animais] por John Sorensen. Fernwood Publishing, 2016.

O anarquista vegetariano Leo Tolstoi declara em seus textos, [em tradução livre,] “O que acredito” é que, “enquanto houverem matadouros, sempre haverão campos de batalha.”

A citação, embora com frequência tomada simplesmente como uma condenação da violência contra animais humanos e não-humanos, também coloca o Estado, o capitalismo e os direitos dos animais juntos, da forma que muitos ativistas dos direitos animais fazem hoje.

Em seus escritos, Tolstoi reconhece os dois sistemas interconectados do Estado e do capitalismo como as forças condutoras por trás de campos de batalha e matadouros, com campos de batalha produzidos pelo Estado para proteger interesses e matadouros causados por motivos envoltos em lucros capitalistas.

Em Constructing Ecoterrorism: Capitalism, Speciesism & Animal Rights, John Sorensen analisa as conexões entre esses sistemas considerando sua perspectiva e destruição subsequente do meio ambiente e dos animais pelos possíveis lucros. O capitalismo, buscando lucros a partir de produtos de origem animal, é protegido pelas leis e policiamento do Estado e justifica sua exploração de animais através da ideologia do especismo — a premissa da superioridade humana com direito moral sobre outras espécies.

O resultado é um triângulo tenaz de instituições interconectadas, cada uma fornecendo suporte às outras para manter o paradigma dominante do capitalismo. Referindo-se a isso como o complexo industrial animal, Sorensen argumenta que é esse complexo de instituições e sistemas que estigmatiza ativistas ambientalistas e dos direitos animais, os quais, na pior das hipóteses, cometem apenas atos infrequentes de destruição de propriedade, como terroristas violentos para se combater com a mesma ferocidade que grupos terroristas islâmicos após o 11 de setembro.

Contudo, direitos animais não são um tópico periférico e Sorensen afirma que a maior parte dos estadunidenses apoiam muitos dos objetivos dos ativistas, apesar de que, com frequência, vão contra os objetivos do capitalismo. Como resultado, aqueles que lutam contra a exploração animal e ambiental são decretados como antiprogresso, irracionais, emocionais em demasia e perigosos à segurança do público.

Embora o ativismo ambientalista não seja claramente o que a maioria das pessoas consideraria terrorismo, a pena foi propositalmente flexibilizada para se ajustar às necessidades do Estado e do capitalismo. Com o crescimento do vegetarianismo, do veganismo, da preocupação com o meio ambiente e da empatia com animais não-humanos, o construto do ecoterrorismo surge como um meio de defender o complexo industrial animal e demonizar a compaixão.

O argumento de Sorensen provém uma análise detalhada da etiqueta do terrorismo usada como uma desculpa para intimidar e reprimir ação antiautoritária e anticapitalista, bem como foi usada contra a esquerda e contra os anarquistas durante o Red Scare e, recentemente, contra os antifascistas durante os protestos do verão passado. Embora não seja explicitamente anarquista, o livro de Sorensen provém uma análise particularmente relevante aos círculos anarquistas.

Como inimigos do sistema dominante, anarquistas sempre foram considerados alvos como terroristas. Não são eles, contudo, mas o Estado, o capitalismo e outras hierarquias que cometem genocídio, ecocídio e outras atrocidades. Estruturas de poder buscam tornar terroristas pessoas que agem com compaixão por outros humanos, animais e pelo meio ambiente, enquanto são responsáveis pelo assassinato de 58 bilhões de animais para a alimentação anualmente como uma prática necessária e até moralmente aceita.

Talvez o aspecto mais forte do argumento de Sorensen seja esse reconhecimento da interconectividade dessas estruturas hierárquicas e seu apoio umas às outras. Sorensen afirma que é a confluência dessas estruturas que permite que ambientalistas predominantemente pacíficos sejam considerados terroristas e que ecocídio seja considerado progresso. O capitalismo demanda a exploração de animais e de ecossistemas pelo lucro, o Estado defende o capitalismo com militares, polícia e prisões, e ambos o capitalismo e o Estado empunham o especismo para justificar seu mantimento dos matadouros.

Sob o capitalismo, tudo o que possa ser usado por lucros é um recurso, e aqueles que ameaçam recursos são terroristas. Desde que os anarquistas se tornaram uma ameaça às hierarquias existentes pela primeira vez, foram julgados como terroristas. Para a maior parte das pessoas, anarquistas são vistos como jogadores de bombas sem cérebro, arsonistas esperando para tacar fogo no próximo alvo, ameaças à democracia, ou criminosos violentos individualistas. Anarquistas não são vistos como jardineiros, construtores de comunidades, organizadores de feiras de livro, pessoas que distribuem comida ou pacifistas — rótulos muito mais difíceis de categorizar como terroristas, mas que são descrições mais precisas do anarquismo.

Estruturas de poder fizeram um trabalho impressionante para a demonização do anarquismo. Contudo, anarquistas e outros que lutam contra a exploração ambiental e animal não são terroristas, mas pessoas que veem o que o capitalismo designa como recurso um amigo, um igual, um presente ou sublime.

>> Noah é estudante de Estudos Ambientais e Língua Alemã na Universidade do Nebraska. Em seu tempo livre, gosta de fotografia, fazer trilhas, jardinagem e estar entre as árvores.

Fonte: Fifth Estate # 410, Fall, 2021

Tradução > Sky

agência de notícias anarquistas-ana

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