“Domesticados, conformados e conformistas”

lembranças infinitas

Escritores da contracultura (lembram-se dela?, sabem o que foi?) diziam que entre ser jovem ou de esquerda, preferiam ser jovens. Isso repercutiu no punk, no final dos anos 1970: não há futuro!. Vinha da nova emergência anarquista desde 68, supostamente enterrada pela esquerda, direita e democratas desde a tentativa de extermínio na Revolução Espanhola. Ser jovem era colocar em risco as formas de governo (não só de Estado, mas da família, da propriedade, das regiões, de si próprixs). Ser jovem estava para além de direitos e das transgressões consentidas. Entornaram os vasilhames, assustaram a família enclausurada e morta-viva e suas seguranças; transbordaram em sexo livre e solto, gozo com a natureza. Sabiam que eram gente constitutiva desta natureza com suas animalidades e razões para fazer presente sua experimentação libertária, uma heterotopia com revolta permanente. Naquela época vivia-se a ameaça contínua de soviéticos ou estadunidenses atirarem bombas sobre nós. Segunda parte da II Guerra Mundial (finalizada com bombas atômicas), conhecida como Guerra Fria. Se tudo estava por um fio, então era o momento de acontecerem reviravoltas.

para ultrapassar…

Hoje, domesticados, conformados e conformistas, não faltam jovens que sonham ser bilionários e não o serão. Vivem para restaurar a mesmice no presente; desprezam práticas e pensamentos livres; satisfazem-se como democratas de shopping e redes sociais digitais ou como autocratas de shopping e redes sociais digitais. Tomam anestésicos, estimulantes, antidepressivos, vestem grifes e identidades, choram por qualquer coisa (são emotivos, ecumênicos e sufocam a gula com dietas e direitos). Não estão entre os que morrem de fome, mas também estão entre os que morrem de fome (viram polícia, corpo de traficantes, estão prontos para matar e morrer, ser delator(a), infiltrado(a), tudo por uma grana, sicário(a), milícia). Estão nos condomínios e nos regulamentos. Têm adoração por proibir, punir, condenar, negociar, empreender; veneram celebridades, influencers, pastores. Não escolheram a política (são carne ralada para os/as políticos), nem ser jovem. É o exército da chamada transparência com fones nos ouvidos, dedos e olhos nas telas, inflacionando opiniões.

>> Para ler o Flecheira Libertária na íntegra, clique aqui:

https://www.nu-sol.org/wp-content/uploads/2022/06/flecheira675.pdf

Fonte: Flecheira Libertária, n. 675, 14 de junho de 2022. Ano XVI.

agência de notícias anarquistas-ana

Bem que me agasalho.
Galhos sem folhas lá fora
parecem ter frio.

Anibal Beça