“Uma aliança concluída entre dois partidos distintos volta-se sempre em proveito do partido mais retrógrado; esta aliança enfraquece necessariamente o partido mais avançado, diminuindo, deformando seu programa, destruindo sua força moral, sua confiança em si mesmo.” – Mikhail Bakunin
O Brasil conheceu no último domingo, 30 de outubro, o novo presidente da República, o qual iniciará seu mandato a partir de janeiro de 2023. Com uma vitória apertada da frente ampla representada pela chapa Lula-Alckmin, o resultado acirrou os ânimos dos apoiadores de cada um dos lados.
Inaugura-se uma nova fase e, por isso, é importante revisitar o que nos levou até aqui para entendermos nossas tarefas como anarquistas neste próximo período.
Primeiro, diferentemente do que dizem a mídia burguesa e partidos da ordem, entendemos que a agitação bolsonarista cresce na medida em que não há mobilização de classe nas ruas e locais de trabalho que faça frente a ela. A grande maioria dos partidos da esquerda, sob o guarda-chuva do PT, se coloca como defensora da ordem burguesa e atua como freio das lutas, o que canaliza para as vias institucionais toda a insatisfação das classes oprimidas com o desastroso governo Bolsonaro. Desde a vitória eleitoral da extrema direita, em 2018, ficou clara a escolha de grande parte da esquerda brasileira em apostar no desgaste contínuo do então presidente, visando às urnas do ano de 2022; desgaste que não foi gerado através da pressão nas ruas e pela construção de uma combatividade popular. Essa escolha estratégica levou à tática da costura de uma “frente amplíssima”, trazendo setores que se diziam defensores do Estado Democrático de Direito. Essa Frente cresceu e culminou na escolha de Geraldo Alckmin como vice-presidente, contando com apoio de amplos setores das classes dominantes, como Fiesp e Febraban.
Obviamente que essa escolha trouxe limites a qualquer mobilização e, sobretudo, em relação à construção de um programa que tivesse a defesa de qualquer pauta histórica da esquerda. Com essa escolha, o debate político foi jogado para a direita.
Um exemplo dessa escolha se deu na crise gerada pela pandemia da Covid-19. O negacionismo criminoso do governo de Bolsonaro e Militares, apoiado por diversos setores das classes dominantes, levou a uma insatisfação popular enorme que enfraqueceu bastante Bolsonaro. Havia ali uma força social importante, com grande potencial de crescimento para derrubar o governo nas ruas. Qual foi a escolha da esquerda hegemônica naquele contexto? Foi desmobilizar os atos e apostar na atuação da CPI da Covid, de modo que o espetáculo midiático criado desgastasse a imagem do presidente, para abrir caminho a uma vitória eleitoral em 2022.
Hoje, é possível avaliar o equívoco dessa escolha. O governo Bolsonaro foi se refazendo do desgaste, e fatos incontestáveis passaram a ser tratados como mera disputa de informação nas redes sociais e na mídia burguesa. Em nossa atuação, buscamos a construção de greves sanitárias em defesa das condições de vida das e dos trabalhadores, na tentativa de desenvolver a organização de crescentes manifestações chamando a queda de Bolsonaro e Mourão. Fazia-se necessário derrubar do poder Bolsonaro e seus militares e assim como enfraquecer a extrema direita com mobilização nas ruas – tomando as ruas de volta para os movimentos populares que buscam realmente a transformação do nosso povo. Mas, a opção pelas urnas levou a uma vitória eleitoral de Lula-Alckmin por uma margem muito estreita; com a extrema direita ainda viva e forte, logo iniciaram fechamentos de BRs por vários estados – como também o registro de mortes e outras violências durante as comemorações da vitória da frente ampla.
O que se aponta para o próximo período? Um governo Lula-Alckmin enfrentando uma crise internacional, a economia brasileira destruída, um Congresso tomado pelo Centrão e um bolsonarismo forte focado em fazer oposição e mobilizar suas bases. As contrarreformas não só não serão revogadas, como também podem avançar outras de grande interesse para o setor defensor das pautas neoliberais e de conservação dos privilégios de uma determinada classe social. E qualquer tentativa de mobilização das classes populares poderá enfrentar oposição das cúpulas dos grandes movimentos sindicais e sociais, com o argumento de que as lutas poderão fortalecer o bolsonarismo.
Por isso, acreditamos ser necessária a construção de uma alternativa revolucionária que se coloque com independência de classe, contra a conciliação e que priorize a ação direta em detrimento da disputa institucional. Trabalharemos para que o anarquismo seja uma força importante na construção desse setor e para que seja capaz de influenciá-lo com suas pautas. Seguiremos atuando nos locais de trabalho, sindicatos, moradia e estudo. É urgente a construção de uma Frente de Classes Oprimidas, para esmagar a extrema direita nas ruas, desmascarar os liberais e superar o imobilismo incentivado por grande parte da esquerda!
“O fascismo não se discute, se destrói!” – Buenaventura Durruti
Organização Anarquista Socialismo Libertário – OASL
anarquismosp.org
agência de notícias anarquistas-ana
Sob o alpendre
o espelho copia
somente a lua.
Jorge Luis Borges
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!