O livro de anedotas nos lembra um dos eventos mais significativos: o gesto abnegado de Ramón Acín de doar o prêmio da loteria que havia ganho ao cineasta Luís Buñuel, que graças ao gesto do professor anarquista conseguiu rodar um de seus filmes mais famosos, “Tierra Sin Pan” (Terra Sem Pão). O gesto de Ramón Acín reflete o caráter, a ética e a moral dos anarquistas.
Hoje em dia, uma das histórias extraordinárias sobre a loteria de Natal recuperou a anedota protagonizada por Ramón Acín 100 anos atrás, mas há muito por trás desta situação que vale a pena destacar.
Ramón Acín foi professor, escultor, caricaturista, pintor e líder da CNT em Huesca. Uma pessoa militante e comprometida que sofreu prisão e perseguição. Seu envolvimento na Revolta de Jaca, em dezembro de 1930, o forçou a exilar-se em Paris. Mesmo após a proclamação da Segunda República, ele foi preso novamente por sua solidariedade com as greves dos trabalhadores. Sua vida terminou, junto com sua companheira, quando foi brutalmente e cruelmente assassinado em 1936. Junto com seu amigo, Juan Arnalda, ele foi obrigado a se esconder, em julho de 1936, em sua casa na Rua Cortes, em Huesca, em um buraco atrás de um armário. Cansado de ver como os falangistas batiam e injuriavam sua esposa, Concha Monrás, tentando obter informações sobre seu paradeiro, Acín se entregou. Ele foi assassinado nas paredes do cemitério de Huesca em 6 de agosto de 1936. No mesmo local, 17 dias depois, sua companheira foi assassinada, juntamente com 94 outras pessoas.
– Acín e Buñuel:
Não há certeza de quando os dois artistas se encontraram, alguns autores colocam o momento em 1926, quando Acín estava no exílio em Paris e pode ter coincidido em Paris, outros autores colocam o encontro em Madri. Seja como for, as visitas de Buñuel a Huesca foram regulares, a convite do professor anarquista. Um dia em agosto de 1922, em Zaragoza, no café “Ambos mundos” frequentado por libertários e artistas, Buñuel reclamou com seus amigos, Rafael Sánchez Ventura e Ramón Acín, sobre seus problemas de financiamento de seu novo projeto. O último lhe disse: “Olhe, se eu ganhar o prêmio principal de Natal, eu lhe pagarei por esse filme”.
Dito e feito; após ganhar o prêmio da loteria em 22 de dezembro de 1932 com o número 29757 adquirido em Huesca, não em Madri, Acín manteve sua promessa e doou uma grande parte do dinheiro ao cineasta para filmar um documentário sobre os Hurdes, “Tierra Sin Pan” (Terra Sem Pão). O filme foi altamente crítico da pobreza e negligência das áreas rurais e foi até censurado pelo governo. Acín não só doou o dinheiro, como também participou das filmagens. Ele havia visitado anteriormente a área de Hurdes e até participado do roteiro e, junto com Ramón Sánchez Ventura, estava encarregado das tarefas de produção. O documentário só pôde ser lançado no final de 1936, quando a guerra havia começado e sob rígido controle comunista, que chegou ao ponto de apagar o nome de Ramón Acín dos créditos, devido a sua afiliação e envolvimento anarquista. Buñuel levou trinta anos para dignificar a figura de seu amigo, devolvendo-o aos créditos e devolvendo o dinheiro a suas filhas, Katia e Sol. Em 1962, Buñuel escreveu a Katia e Sol para anunciar o retorno das 25.000 pesetas, aparentemente sem a atualização de quatro décadas.
Kike García Francés
Fonte: https://rojoynegro.info/articulo/ramon-acin-la-loteria-y-las-hurdes-de-luis-bunuel/
Tradução > Liberto
agência de notícias anarquistas-ana
Hermética música
há no silêncio da lágrima
que salga o mar.
Fred Matos
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!