Mães pretas e conservadoras: entendendo o conservadorismo na periferia.

A primeira coisa que precisamos elucidar nesse tema é que a palavra conservadorismo pode ter duas conotações: uma pode ser o movimento organizado de direita que propõe reagir às insurgências revolucionárias da esquerda e mudanças progressistas na sociedade. Por isso os chamamos de reacionários.

A segunda é mais literal, e é disso que falamos na maioria das vezes quando nos referimos aos conservadores, principalmente àqueles não ligados a movimentos. E dentro disso estão as nossas mães, vizinhas, tias e mulheres fortes que formaram nosso caráter na periferia, com base nesse conservadorismo (que está muito mais ligado a conservar nossas vidas que de fato conservar a Fé). Tendo isso em vista precisamos entender que o sistema não vai mudar de uma hora para outra e conservadores sempre existirão, talvez eles sejam ainda mais ativos quando algumas mudanças na estrutura social são empurradas goela abaixo por alguma agenda capitalista de mercado e de massas, como vemos hoje na propaganda progressista de inclusão superficial e a qualquer custo.

Sabemos que essas mulheres, em sua maioria cristãs e/ou da umbanda (ou alguma outra religião de matriz africana ou espírita), foram responsáveis por construir a base moral e ideológica de toda a periferia brasileira, e muitas vezes sozinhas, sem a figura paterna para o apoio financeiro e nem emocional, encontrando na solidão a força para reger as nossas quebradas. Elas que, sem percebermos, nos alertaram sobre os perigos de uma sociedade racista, de uma polícia que odeia nossa cor e um mercado de trabalho que nos despreza. Tudo isso embasadas em suas fés e suas éticas de construção da sociedade.

As mulheres pretas são as maiores agentes de qualquer revolução que se possa sonhar no Brasil, Carolina de Jesus é um exemplo profundo e histórico desta verdade, que mesmo em meio à fome, foi sem medo de errar, uma das maiores artistas do século XX, destrinchando a alma do terceiro mundo neste e naquele século. Elas são o grande seio e base de qualquer ideal, a fonte de toda esperança da classe trabalhadora brasileira, e o fato de serem religiosas nos dá a dimensão do quanto precisamos ouvir o diferente e entender que cada passo que dermos na luta política, o olhar crítico e revolucionário dessas mulheres, deve ser nosso norte. Caso contrário estaremos fadados a falar para o vento sobre coisas superficiais de uma utopia inalcançável.

Frente Anarquista da Periferia – FAP

agência de notícias anarquistas-ana

A pedra da rua.
Humilham-te sem cessar.
Ah! os pés humanos…

Fanny Dupré