Antonio Orihuela
Todos sabem que, do jeito que as coisas estão indo, só podem explodir e, a essa altura, parece haver pouco a fazer além de tomar posições para o grande estrondo final que, no momento, está sendo negado em todos os lugares.
Os capitalistas falam sobre trabalho para os jovens que nunca trabalharam, enquanto estão estendendo a idade de aposentadoria de seus pais. Falam de competitividade para os trabalhadores que estão se tornando mais precários a cada dia, de crise para aqueles que estiveram em crise a vida toda, de produtividade para aqueles que foram expulsos do trabalho e, ao mesmo tempo, aproveitam a oportunidade para liquidar os direitos sociais e reduzir os salários dos demais enquanto administram seu medo. Devemos mostrar solidariedade, eles nos dizem. É o socialismo em ação após a morte do socialismo, mesmo que seja o socialismo ao contrário: privatizando os lucros, socializando as perdas e continuando a espalhar a desconfiança entre os menos favorecidos, procurando terroristas que são ainda mais assustadores do que o próprio capitalismo, embora isso seja cada vez mais difícil.
Os explorados ainda estão onde estavam, ainda mais saqueados, pilhados, explorados, desolados e enojados do que antes, mas não se identificam mais com nenhuma das siglas políticas oferecidas no mercado, nem com os sindicatos. Eles foram despojadas de seus referentes, de sua linguagem, de sua mitografia, enfim, carecem de uma linguagem, assim como carecem de uma experiência comum que poderia gerá-la. Submetidos por muito tempo a doses abundantes de egocentrismo e individualismo feroz, eles apodreceram qualquer senso de social neles.
De um extremo a outro, de times de futebol a antidepressivos, eles atuam como um dique precário de contenção. A televisão fala por todos e as redes sociais na Internet geram a única experiência coletiva acessível, a da solidão cibernética. Na parte superior, eles lutam para fraudar as autoridades fiscais e comprar uma segunda casa na praia; na parte inferior, eles se esgueiram para fazer compras no Lidl e sonham em passar o verão em um acampamento. No meio disso, os mais jovens não sabem se Sánchez é o socialista ou Feijóo, e muito menos se realmente importa se é um ou outro que governa e para quê; mas, no momento, ninguém está se revelando, a revolta grega triunfou nas ruas e se perdeu em Bruxelas. Diante da opção de viver a anarquia, de ampliar os vínculos, a criatividade, a bricolagem de novas situações ou continuar morrendo de tédio, mais uma vez prevaleceu a velha ordem, o mundo do controle e da hierarquia, e seu fluxo pesado e triste sob o olhar atento da polícia. No dia em que, antes de sairmos às ruas, tivermos derrotado o inimigo que vive dentro de nossas cabeças, a realidade nunca mais será como antes. Conquistada pelo aqui e agora, nossa vida será uma experiência pura de imediatismo. Mas, para vencermos a nós mesmos, não podemos nos enganar com uma palavra tão desgastada e reacionária como esperança. Temos que nos convencer de nossa situação desesperadora e, junto com outras pessoas desesperadas, junto com outros desertores, nos unir e nos organizar para perder o medo do colapso do capital e sobreviver ao seu grande estrondo final. O presente não tem futuro. Essa é a insurreição que está chegando.
Nunca tivemos nada, não temos nada a perder. Nossa história é a história da colonização da mente e da exploração dos corpos, das migrações, das guerras de baixa intensidade, do exílio do trabalho, da estranheza diante de um mundo estranho. Vamos romper com isso, vamos acabar com o trabalho alienado, outras formas de fazer as coisas estão esperando por nós, basta de produzir mercadorias, basta de nos mobilizarmos para sermos outra pessoa, para nos vendermos melhor, para nos tornarmos nossos próprios patrões. Vamos encarnar a vida, a única que temos, para sobreviver à hora da morte.
O trabalho alienado não precisa de nós, pois os trabalhadores se tornaram supérfluos, a mecanização, a automação e a digitalização da produção nos deixam como meras sobras disponíveis em qualquer lugar em um mundo deslocalizado. Trabalho intercambiável, temporário e indiferenciado, que pode ser usado como estoquista em um dia e como guarda juramentado no dia seguinte. Trabalhadores sem uma profissão e, portanto, sem a possibilidade de se organizarem em torno dela. Hoje, o trabalho não é mais uma necessidade econômica para produzir mercadorias, mas uma necessidade política para produzir consumidores a fim de salvar o capitalismo.
De fato, é o fluxo constante de mercadorias que precisa de nossa mobilização para que nada pare, portanto, vamos parar com isso. Chega de enganar e de enganar a nós mesmos. O capitalismo não nos tornará ricos, portanto, vamos parar, vamos deter, vamos decrescer. Produzir menos e consumir menos é uma maneira de impedir o apocalipse. Temos que crescer em direção à frugalidade e à simplicidade. A economia não pode mais ser separada de nossa existência. Não deixemos essa tarefa nas mãos de novos gurus, cultos da nova era ou novos paradigmas espirituais, porque eles são apenas mais uma das muitas mutações do capitalismo. Não estamos aqui para reconstruir para o capital o que o capital destruiu para nossos pais. Estamos aqui para construir um tempo pelo qual estaremos definitivamente apaixonados. É hora de começar, de suspender a normalidade. Vamos colocar em prática nossos experimentos, nossas intuições, nossos vínculos e cumplicidades, e vamos fazer isso sem causa aparente para o inimigo, sem líderes, sem exigências, a partir do mais absoluto anonimato e sob siglas absurdas que, na melhor das hipóteses, provocam hilaridade.
Fonte: https://www.ulises.online/articulo/la-insurreccion-que-llega/
Tradução > Liberto
agência de notícias anarquistas-ana
Juntos,
um homem e a brisa
viram uma página
Betty Drevniok
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!