Javier Milei, “um político que se vende anarquista?”

Enviado para o “Painel do Leitor” da Folha de S. Paulo

“Um político que se vende anarquista…”, “anarquista argentino…” (Opinião, 16/08). Mais uma vez o anarquismo é deturpado, caluniado. O tal Javier Milei não tem nada de anarquista. Ele é um lixo reacionário, um mercantilista, um demente. A autora do artigo, Mariliz Pereira Jorge, precisa urgentemente estudar um pouco o anarquismo, sua história. Pode começar estudando as ideias de Mikhail Bakunin, ou Emma Goldman. Ah, antes que eu me esqueça: “anarcocapitalismo” é farsa!

Moésio Rebouças

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Vendem-se rins e rebentos

Javier Milei ganhou os holofotes no cenário latino-americano. Um tanto pela façanha de ter surpreendido nas prévias da eleição argentina, outro tanto por seu perfil histriônico, meticulosamente emoldurado num cabelo despenteado. Mas qual é a novidade de um político que se vende anarquista, mas odeia as mulheres? A novidade é que ele se vende como o liberal que abraça todos os direitos individuais. Quase todos.

“Minha primeira propriedade é meu corpo. Por que não posso me livrar do meu corpo?”, questionou Milei ao defender o comércio de órgãos humanos. O mesmo raciocínio foi usado no começo da campanha sobre a venda dos filhos. Sim, dos filhos. Por seu entendimento, crianças são propriedades dos pais, que teriam o direito de fazer uma grana com os rebentos. Foi uma gritaria, o assunto morreu.

O anarquista argentino seria um clichê ambulante para quem já viveu a era Bolsonaro: quer Estado mínimo, é a favor da liberação de armas, é contra programas sociais, não acredita em mudança climática. Ao menos em público não defende a ditadura sanguinária em seu país.

Milei se diferencia de Bolsonaros e Trumps em alguns assuntos, mas seus argumentos passam longe da racionalidade ou da empatia. Ele defende a legalização das drogas (“se quer se suicidar, não vejo problema”) com a mesma premissa que usa ao não se opor a relações homossexuais ou a questões ligadas à identidade de gênero: “Você acha que é uma onça-parda? Faça isso, não importa. Desde que não me faça pagar a conta”.

O mesmo Milei que defende o corpo como “propriedade privada” é contra o aborto. Nenhuma novidade, não é? O “liberal” disse que, eleito, pretende realizar um referendo para tentar reverter a legalização da prática, aprovada em 2020. Comprar armas, usar drogas, vender o rim ou uma criança parida, OK. A mulher decidir se quer levar uma gravidez de até 12 semanas adiante, aí já é demais.

Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marilizpereirajorge/2023/08/vendem-se-rins-e-rebentos.shtml 

agência de notícias anarquistas-ana

bambu quase quieto,
voltado para o poente,
filtra a luz da tarde

Alaor Chaves