Na hora do almoço, enquanto almoçava, estava assistindo ao boletim de notícias de um canal de televisão ao fundo e, em relação às próximas eleições gerais na Argentina, ouvi de passagem que estavam falando de um candidato libertário. Quase me engasguei: como era para um libertário, um anarquista, concorrer à presidência de um governo? Imediatamente, lembrei-me da piada que Daniel Cohn-Bendit nos pregou quando, alguns anos depois de 1968, ele anunciou que iria concorrer às eleições presidenciais francesas (não me lembro em que ano).
Rapidamente terminei meu almoço e comecei a procurar informações sobre esse personagem enigmático que foi anunciado como candidato “libertário” para as próximas eleições presidenciais argentinas. E sim, havia, há, um certo Javier Milei, presidente do “Partido Libertário”, nada menos que isso. Inevitavelmente, também me lembrei do “Partido Libertário” nos Estados Unidos, um partido neoliberal no qual se fala de anarquismo, anarcocapitalismo, minarquismo e sabe-se lá que outras formas de anarquismo que, em sua supina ignorância, são ignoradas.
E, de fato, o “Partido Libertário” argentino, presidido por um certo Javier Milei, também se identifica com o anarquismo, o anarcocapitalismo e até mesmo o minarquismo. Indo um pouco mais a fundo, descobri que, nos círculos internacionais, esse personagem é considerado de ultradireita e ultraconservador. Parece que ele é um seguidor de Jair Bolsonaro, Donald Trump e outros homens ilustres. Suponho que se Hitler e Videla ainda estivessem vivos, ele os seguiria também…
Basta uma pequena pesquisa no ciberespaço e você verá algumas das principais linhas de pensamento do indivíduo em questão: oposição total ao aborto, porte livre de armas, rejeição da educação sexual abrangente, negação do aquecimento global e muito mais.
De tudo isso, o que mais me faz estremecer é o uso alegre e impune dos termos “libertário” e “anarquismo” por algumas dessas pessoas inescrupulosas que tentam camuflar suas ideologias desprezíveis de ultradireita sob esses apelidos que tivemos tanta dificuldade em superar. No passado, tivemos que explicar até não querer mais que a anarquia não é caos ou desordem, mas sim o oposto, assim como a anarquia não é violência, mas também o oposto. Agora, temos de explicar que esses lobos (peço desculpas pelo símile…) disfarçados de cordeiros não têm nada a ver conosco. Parece que essa é uma história sem fim, e teremos que enfrentá-los, mesmo que seja dialeticamente.
Víctor Pérez Pérez
Fonte: https://www.portaloaca.com/articulos/politica/partidos-libertarios/
Tradução > Liberto
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