[EUA] “Cop City” não será construída!

Em abril de 2021 surge o movimento descentralizado “STOP COP CITY” em resposta à construção do maior centro de treinamento policial dos Estados Unidos e em defesa dos bosques da cidade de Atlanta, no estado da Georgia. A frente está formada principalmente por companheiros anarquistas que se organizaram em 2020 durante as revoltas contra a brutalidade policial pelo assassinato de George Floyd. Os companheiros relatam que neste contexto, se pode falar pela primeira vez da abolição da polícia como uma proposta viável para romper o ciclo de violência que a pobreza e a militarização impõem nos territórios, no entanto, todas as tentativas para diminuir recursos às forças repressivas através de meios institucionais foram infrutíferas.

“Cop City” tem por objetivo a privatização e militarização das forças repressivas. Calcula-se que o investimento estimado para a construção deste centro é superior a 90,000,000 de USD [dólares], e que estará a cargo de diversas corporações privadas incluída Hollywood. O projeto consiste na construção de uma cidade simulada onde se realizarão treinamentos para operações especiais como revoltas e incêndios florestais. Devido à gravidade dos impactos ambientais e políticos deste centro, ambientalistas, ativistas, defensores de direitos humanos e membros do setor artístico e cultural se somaram às mobilizações.

Desde o início do movimento se realizaram diversas ações. Entre elas mais de 30 manifestações, ações diretas que implicaram tanto o confronto com as autoridades como a sabotagem à maquinaria de construção, a ocupação temporária de diversas zonas do bosque onde se realizaram festivais culturais e a criação de hortas comunitárias. Também se efetuaram investigações para localizar as moradias dos promotores e acionistas da “Cop City” e realizar manifestações fora de suas casas e escritórios operativos. (Cabe mencionar que este tipo de ação provocou a deserção de alguns deles).

O bosque de Atlanta se converteu em um ponto culminante de resistência. Depois de dois anos de conflito latente, a situação se intensificou. A partir do ano passado, a polícia começou a atribuir delitos por “terrorismo doméstico” contra quase todos os ativistas presos. Os advogados aderidos ao movimento também realizaram uma série de ações legais para frear o avanço deste projeto de morte, incluído um referendum eleitoral, muitos deles foram vítimas de perseguições por parte das autoridades, invasão a seus lares, detenções e acusações por fraude.

Uma das estratégias do movimento para a difusão de suas demandas e deter o avanço da repressão, foi aproximar-se dos meios massivos de comunicação ou os meios burgueses como eles os chamam. Isto foi um fator determinante pois, através das entrevistas que conseguiram nos meios suas reivindicações foram escutadas por todo o país e a nível internacional, isto também abriu a possibilidade de que a voz dos nativos americanos e dos anarquistas radicais tenhamos eco fora de nossas comunidades.

Em 18 de janeiro de 2023 agentes da polícia estatal da Georgia assassinaram Manuel Paez Terán conhecido como “Tortuguita”, companheiro eco-anarquista de origem venezuelana que fazia parte da comunidade em resistência assentada nos acampamentos do bosque em Atlanta. Este é o primeiro caso de um defensor ambiental assassinado na história recente dos Estados Unidos.

É provável que a implementação deste centro de operações seja um divisor de águas para sua replicação em países da América Latina e em outras partes do mundo e que muitos dos elementos policiais treinados aí prestem seus serviços em situações como “intervenções” efetuadas pelo governo dos Estados Unidos ou que brindem assessoramento às corporações policiais em outros territórios. Um exemplo disto, é a escola das Américas fundada em 1944 que funcionou como centro de treinamento especializado em doutrinas de contrainsurgência militar latinoamericana.

A importância deste movimento não só radica na defesa do bosque de Atlanta e toda a vida que o habita. Deter a construção de uma cidade polícia é deter o avanço da brutalidade policial contra as comunidades negras, latinas e das minorias que durante décadas foram vítimas da discriminação e da violência. Isto representa também a luta contínua pela defesa da vida e o direito dos povos do mundo a uma vida sem policiais nem militares nas ruas nem nos bairros nem nas comunidades nem em nenhum lugar da face da terra.

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

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Alexandre Brito