Declaração do defensor das terras indígenas Victor, que foi preso no início deste ano em um festival de música em apoio à floresta Weelaunee na chamada Atlanta. Victor está atualmente detido em uma instalação do ICE na chamada Geórgia. Para obter mais informações sobre seu caso e como apoiá-lo, acesse Free Victor (freevictor.org).
Depois de ter sido oficialmente indiciado criminalmente pelo estado da Geórgia e de ter passado sete meses preso, gostaria de falar novamente.
Hoje, no Dia dos Povos Indígenas, quero erguer minha voz para lembrar a todos que este dia marca 531 anos de resistência indígena aqui na Ilha das Tartarugas. Como povos indígenas, devemos ir além da mera representação e das comemorações. A polícia, as prisões, as reservas, os centros de detenção e as fronteiras operam por meio de uma lógica compartilhada de imobilização, contendo nossas comunidades oprimidas em seu sistema racial.
Neste momento, estou em um lugar que não deveria conter pessoas, um lugar que não deveria existir. Um lugar que causou muitos casos de abusos e violações de direitos humanos, um lugar onde muitas pessoas perderam suas vidas. Um lugar onde as pessoas não têm abrigo e assistência médica adequados. As pessoas aqui são refugiadas. O complexo industrial penitenciário existe para dar lucro; o objetivo da CoreCivic é maximizar os lucros, não seguir uma bússola moral tratando as pessoas com dignidade. Quando você coloca empresas no comando de seres humanos, verá violações flagrantes dos direitos humanos, a ponto de as pessoas estarem morrendo. Todos lá fora devem levantar a voz e exigir que isso acabe.
Em tempos de xenofobia e racismo crescentes, vemos imagens de milhares de migrantes e refugiados tentando atravessar a fronteira colonial do sul e ouvimos a retórica da crise na fronteira. Na realidade, não há crise de fronteira, mas uma crise de deslocamento. A guerra contra os migrantes e refugiados não existe separada da violência anti-indígena e anti-negra. O imperialismo das fronteiras está estruturalmente ligado ao genocídio. Os Crees e os Anishinaabe do Canadá e os Yaquis do México atravessaram para os EUA no final do século XIX e início do século XX e se envolveram em lutas políticas por reconhecimento para desafiar a subjugação do Estado que os considerava “índios estrangeiros” e “imigrantes ilegais”.
Muitos imigrantes/refugiados do sul também são povos indígenas e parentes negros. As fronteiras e as leis xenófobas de imigração estão enraizadas na desapropriação indígena e na violência contra os negros. Nesses 531 anos de resistência indígena, eu me solidarizo com os parentes e as nações e comunidades indígenas, relembrando seus antigos ensinamentos, histórias, canções e lembrando que todos nós ainda somos guerreiros. Solidarizo-me com os parentes de migrantes e refugiados na fronteira colonial do sul, em todo o mundo e atrás das grades nesses centros de detenção/campos de concentração. Solidariedade com os defensores da terra que lutam contra a Cobra Negra da Mountain Valley Pipeline e protegem a vida. Solidariedade com Gaza – todos nós temos direito à dignidade, à personalidade e ao respeito.
Como migrante indígena, já fui chamado de muitas coisas pelo Estado. Agora, mais do que nunca, continuo resistindo a essa narrativa ridícula e a essas novas acusações de RICO. Sou um sundancer, um defensor da terra, um frontliner, que vive em terras e territórios indígenas ocupados com obrigações e responsabilidades devido à minha presença aqui – sou um guerreiro, não pela definição de outra pessoa que não seja a minha e a do meu povo. Essas são as identidades que me são caras. Como algumas dessas identidades foram usadas como arma para me oprimir, eu as uso como arma para minha própria libertação. Eu as protejo, nutro e amo de maneira profunda.
Já fui alvejado por balas de borracha muitas vezes; já levei gás lacrimogêneo e spray de pimenta mais vezes do que consigo me lembrar; já fui mordido e atacado por cães, já tive armas apontadas para o meu rosto por supremacistas brancos, já fui pulverizado por canhões de água em temperaturas congelantes, já levei choque elétrico algumas vezes e já me machuquei muitas outras. E sempre tive orgulho de manter minhas responsabilidades e tomar uma posição para defender as pessoas e a terra, mesmo que enfrentar o poder repressivo do Estado tenha tido um custo – o mais recente, essa acusação, esses sete meses de encarceramento e a ameaça tão real agora de deportação e remoção desta terra, esta terra preciosa. A terra dos meus parentes, a terra onde minha família vive, a terra onde meu pai está enterrado.
É assim que eu sou. Nessa detenção contínua, estou farto da degradação e das condições, mas quero que todos saibam que continuo resistindo e me levantando contra as condições diárias, contra a desumanização e contra esse sistema fodido que nos separa. Vivo uma vida da qual não me arrependo.
Parceiros e camaradas, a todos vocês que eu amo: Resistam com uma profundidade irreconhecível. Agora e para sempre, continuem amando profundamente, nutrindo a liberdade, valorizando a vida, protegendo o sagrado, levantando o inferno. Somos imparáveis, somos uma extensão da Terra, somos espírito, somos poder, e não pode haver fronteiras, restrições ou prisões para isso. Até que nossos caminhos se cruzem e você me veja novamente ao lado do cachorrinho da lua.
Solidariedade com as pessoas que se levantam contra o estado policial e com a resistência à violência estatal racializada contra os negros. Liberdade para ficar, liberdade para se mover e o direito de retornar. Do Stewart Detention Center, Unidade 6B – fechem os campos, libertem todos nós!
Escreva para Victor em:
Victor Puertas
095610252
6B 215B
P.O. Box 248
Lumpkin, GA 31815 – EUA
Tradução > Contrafatual
agência de notícias anarquistas-ana
o sol inclinado
leva até minha parede
o gato do telhado
José Santos
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!