O Centro de Cultura Libertária da Amazônia – CCLA é fruto de um longo processo de maturação e de desdobramentos do anarquismo organizado em terras cabanas, no coração da Amazônia brasileira. No entanto, sua história no coração do centro da capital paraense, a dois passos da Praça da República, é bastante recente.
Fundado, enquanto tal, ano passado no dia da comemoração do levante revolucionário da Cabanagem (7 de janeiro de 1835), ele é filho de uma história que remonta aos anos 80-90 quando se chamava CCL (cf. https://cclamazonia.noblogs.org/historia-e-memorias-do-movimento-libertario-paraense/) e era o local de encontro da cena anarquista belenense atuando na CBB (Comissão dos Bairros de Belém). Depois, começou a atuar sob outra forma muito perto do atual CCLA, na década de 2010-2020, enquanto Biblioteca Libertária Maxwell Ferreira – BLMF.
O tempo passou, militantes foram, outros se juntaram, muitos permaneceram e assim o anarquismo organizado ficou enraizado fortemente em solo amazônico. Mesmo quando a pandemia aconteceu e que o movimento teve grandes dificuldades em se levantar de novo para retomar suas atividades, ele nunca perdeu de vista seu papel no âmbito das lutas populares e sua função de transmissão de uma tradição libertária correspondente ao modelo do ateneu anarquista clássico.
Alguns anos depois, assim que o movimento pôde olhar mais para frente e planejar seu futuro imediato, um local central na cidade das mangueiras foi escolhido para poder, a partir daí, irradiar a metrópole inteira e um nome que trouxesse seu passado à tona lhe foi dado: CCLA.
Hoje, o CCLA, apesar de sua tenra idade, já está se tornando um ponto de referência de uma cena libertária amazônica que mostra, dia após dia, sua vitalidade: cine-debates, eventos culturais musicais, teatrais, poéticos, ações solidárias com as pessoas em situação de rua, festas com shows em apoio à comunidade LGBTQIA+, refeições veganas, banquinhas nos domingos na principal praça da cidade (venda de nosso material de propaganda anarquista), traduções de obras anarquistas atuais, atividades de educação popular, sessões de formação aos grandes temas do anarquismo contemporâneo (em parceria com a organização específica anarquista FACa), debates de conjuntura sobre as situações de outros países da América latina (também com a FACa), participação da rede internacional FICEDL (Federação Internacional dos Centros de Estudos e Documentação Libertários) ao lado de entidades internacionais famosas como o CIRA de Lausanne, o CSL Giuseppe Pinelli de Milão, mas também a Biblioteca Terra Livre, o CELIP, etc.
Nós do CCLA já atuamos juntos com os povos indígenas da região, levando nosso apoio aos warao caçados da Venezuela, aos ka’apor do Maranhão, e temos também com objetivo descentralizar nossas atividades em diversos bairros mais periféricos de Belém do Pará para chamar as populações invisibilizadas e precarizadas a desempenhar um papel de relevância na resistência às opressões e explorações de todo tipo: queremos, dessa forma, retomar também o trabalho de disseminação do pensamento e das práticas libertárias não apenas no centro da capital paraense, mas sobretudo em bairros onde as lutas são ainda mais profundas e necessárias.
No entanto, se já fazemos muita coisa, ainda temos muito para realizar. Entre outros projetos, almejamos fundar nossa própria editora para dar visibilidade a nossas produções e àquelas de todos os libertários do Norte do país: brochuras, livros, etc.
Também, enquanto militantes comprometidos com o futuro, queremos ressaltar o fato de que daqui a menos de dois anos, Belém do Pará será palco do que é uma das maiores palhaçadas entre as cimeiras internacionais que decidem do futuro de nosso planeta: a COP. A 30ª edição do que deveria ser um encontro grave e comprometido para resolver as urgências ambientais e climáticas que ameaçam diretamente as populações mundiais (entre as quais nossos povos amazônicos são uns dos mais atingidos pelas mudanças) acontecerá em nossa cidade.
E se as COPs se tornaram simples megashows de empresas “verdes” vendendo suas quimeras nocivas a governos incapazes de tomar medidas à altura dos desafios, o CCLA quer demonstrar que o anarquismo organizado leva a sério as problemáticas deste mundo.
Nessa ocasião, nós do CCLA, queremos convidar o movimento libertário do país (e, claro, além) para organizar eventos e atividades com o objetivo de denunciar essa farsa ambientalista, que visa o lucro econômico e o poder político contra os interesses da vida humana, vegetal e animal. Informações sobre a organização dessas atividades serão difundidas ao longo dos meses que nos separam do início dessa grande reunião dos hipócritas.
Claro, contamos com a participação ativa e concreta do movimento libertário para transformar o banquete dos poderosos num momento inesquecível em que o povo em luta mostrará que suas demandas, definitivamente não cabem nas urnas, ainda menos nas cimeiras… e se vocês quiserem começar a nos ajudar nesse objetivo, podem nos escrever (https://cclamazonia.noblogs.org/contato/) ou participar de nossa vaquinha (PIX: 4167302@vakinha.com.br).
Assim, está clara a vontade do CCLA de ser um agente importante nas lutas populares em prol de uma autonomia concreta para com à política partidária e para construir um anarquismo organizado atuando ombro a ombro com um povo forte. E não serão ataques como aquele que sofremos dia 14/01/2024 que irão nos intimidar em nossa caminhada: não está morto quem peleia!
agência de notícias anarquistas-ana
Dia grisalho
brotos brotam brutos
na ponta do galho
Danita Cotrim
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!