[Espanha] Buñuel, notas sobre o anarquismo

Mi último suspiro. Luis Buñuel.
ISBN: 9788430619870. Editorial Taurus

“Mi último suspiro”, as memórias de Luis Buñuel contadas ao roteirista Jean Claude Carriérre, fruto de dezoito anos de trabalho e amizade entre ambos. Juntos fizeram seis obras mestras do cinema: Diario de una camareraBelle de jourLa Vía LácteaEl discreto encanto de la burguesía, El fantasma de la libertad e Ese oscuro objeto del deseo.

O livro nasceu espontaneamente de suas entrevistas na Espanha e México durante os intervalos das sessões de trabalho; um evocando suas recordações e o outro reunindo as palavras do amigo e anotando-as.

“Mi Último suspiro” junta a voz e as próprias palavras de Luis Buñuel, e nos dá uma particular visão do genial cineasta e de seu mundo mais pessoal. Nele conta alguns detalhes sobre sua relação com o anarquismo, para o qual teve uma posição mais ambivalente:

1) “Sacco e Vanzetti acabavam de ser assassinados nos Estados Unidos. Comoção em todo o mundo. Durante toda a noite, os manifestantes se fizeram donos de Paris. Eu fui à l´Etoile com um dos eletricistas do filme (L´Age d´Or) e ali vi uns homens apagar a chama do soldado desconhecido mijando nela. Quebravam-se as vitrines, tudo parecia estar em efervescência. A atriz inglesa que interpretava o filme me disse que haviam atirado no vestíbulo de seu hotel. O Boulevard Sebastopol foi especialmente castigado. Dez dias depois, ainda se detinham suspeitos de saque” (p. 91).

2). “Eu falo do grupo de Bonnot, a que adorava, de Ascaso e de Durruti que escolhiam suas vítimas cuidadosamente, dos anarquistas franceses de finais do século XIX, de todos os que quiseram dinamitar um mundo que lhes parecia indigno de subsistir, lançando-o aos ares. A esses os compreendo e, muitas vezes os admiro. Mas ocorre que entre minha imaginação e minha realidade há no meio um profundo fosso, como ocorre à maioria das pessoas. Eu não sou nem nunca fui um homem de ação, dos que põem bombas e, ainda que às vezes me sentia identificado com esses homens, nunca fui capaz de imitá-los” (p. 123).

3). “Durante a guerra civil, quando as tropas republicanas, com a ajuda da coluna anarquista de Durruti, entraram no povoado de Quinto, meu amigo Mantecón, governador de Aragão, encontrou uma ficha com meu nome nos arquivos da guerra civil. Nela me descreviam como um depravado, um viciado em morfina abjeto e, sobretudo, como autor de Las Hurdes, filme abominável, verdadeiro crime de lesa pátria. Se me encontrassem, deveria ser entregue imediatamente às autoridades falangistas e minha sorte estaria dada.” (p. 138).

4). “Gostei de El tesoro de Sierra Madre, de John Huston (baseada na obra homônima de B. Traven), que foi rodado muito perto de San José de Purúa. Huston é um grande diretor e um personagem muito exuberante. Se Nazarín foi apresentado em Cannes, se deveu em grande parte a ele. Tendo visto o filme no México, passou toda a manhã telefonando à Europa. Não o esqueci” (p. 219).

5). Também conta que em 1933 esteve ocupado no projeto de rodar na Rússia uma adaptação de “Las cuevas del Vaticano“, projeto pelo qual se entrevistou com seu autor, André Gide, mas que este lhe disse que estava muito lisonjeado pela atenção do governo soviético mas que ele não sabia nada de cinema, e que em pouco tempo se fechou de um dia para outro (p. 136).

Pepe Gutiérrez-Álvarez

Fonte: http://acracia.org/bunuel-notas-sobre-el-anarquismo/

Tradução > Sol de Abril

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Rogério Martins