O triunfo de Vladimir Putin nas eleições russas estava tão cantado que até o questionado CIS (Centro de Investigação Sociológica) espanhol, que não costuma acertar com frequência suas previsões, poderia ter acertado.
Por Antonio Pérez Collado | 24/03/2024
Com este novo mandato o antigo oficial de inteligência exterior da KGB, onde conseguiu ascender à categoria de tenente coronel, pode chegar como líder máximo e inquestionável ao ano de 2030; bem, é certo que somando suas etapas como primeiro ministro, Putin está desde 1999 no mais alto cargo do poder, pelo que terá superado Stalin como o mais duradouro inquilino do Kremlin.
Mas apesar de ter se formado no seio do PCUS (Partido Comunista da Federação Russa) e de compartilhar ambos dirigentes os mesmos métodos para ficar sem rivais na luta pelo poder, o certo é que Putin está muito mais próximo do czarismo que da extinta ditadura do proletariado; ainda que haja um vetusto setor da esquerda ocidental que se nega a aceitá-lo.
Do que não há dúvidas é de que em 1989 se produziu a queda do Muro de Berlim e só dois anos depois se dissolvia a URSS, deixando os partidos comunistas ocidentais sem seu tradicional ponto de referência como alternativa ao capitalismo. Não obstante, o modelo que se apresentava como a sociedade sem classes havia muito tempo que tinha dado sinais de parecer-se demasiado ao sistema ao qual supostamente vinha substituir.
Na Rússia soviética e no resto de países do bloco do Leste os obreiros decidiam cada vez menos e eram os hierarcas do partido, muito especialmente os poderosos membros do Politburo do Comitê Central, os que marcavam não só o rumo do PCUS, mas do governo e da economia da imensa União Soviética, além de influir decisivamente na vida de todos os povos situados atrás da chamada Cortina de Ferro.
Para muitos intelectuais e ativistas políticos do mundo ocidental não foi necessário esperar para ver exemplos de ditadura e repressão na pátria do proletariado tais como a queda e assassinato de Trotsky, a prisão de destacados militantes comunistas acusados de desviacionismo em campos de concentração da Sibéria ou a entrada dos tanques russos em Budapeste e do Pacto de Varsóvia em Praga para reprimir as revoltas populares.
O escritor George Orwell se serviu de uma espécie de conto com animais, “Rebelião dos bichos”, para denunciar o stalinismo, pelo que foi acusado de traidor, reformista e inimigo da revolução. Algo parecido ocorreu depois ao escritor chileno Jorge Edwars por contar em seu livro “Persona non grata” o retrocesso do processo revolucionário cubano sob a férrea batuta de Fidel Castro.
No entanto, seria Ángel Pestaña, enviado em 1930 pela CNT à URSS com a incumbência de comunicar o acordo do congresso anarcossindicalista de adesão à III Internacional, que regressou desiludido com a forma como o povo russo foi novamente submetido e recomendou ao sindicato que se abstivesse de apoiar a internacional comunista.
Putin não só mudou a constituição russa para poder amarrar indefinidamente os mandatos de seis anos que antes estavam limitados a dois, mas que se desfez de seus críticos e competidores de forma expeditiva; acidentes, envenenamentos, atentados e outras imprevistas formas de morrer acabaram com jornalistas críticos, colaboradores caídos em desgraça, políticos da oposição e mercenários desobedientes. Tampouco foram muito respeitosos com os direitos humanos os métodos empregados pelas forças armadas russas na guerra da Chechênia ou no assalto ao teatro Dubrovka de Moscou onde guerrilheiros chechenos tinham 850 pessoas sequestradas.
Conhecendo como se conhece a este déspota é difícil entender a postura de certa militância marxista ocidental que justifica os ultrajes de Vladimir Putin contra as liberdades de seu próprio povo e seu apoio a dirigentes tão pouco apresentáveis como o aiatolá Khomeini do Irã, o presidente Bashar al-Assad da Síria ou o líder supremo da Coreia do Norte, Kim Jong-un, simplesmente porque esses ditadores se declaram inimigos dos Estados Unidos, o que no julgamento destes nostálgicos do estalinismo os converte automaticamente em aliados e defensores dos oprimidos.
Se analisamos desapaixonadamente a linha política e as propostas econômicas de Putin veremos que seu ideário está muito mais próximo de Trump ou Biden do que de Lênin ou Marx. No entanto, parece que há aqueles a quem esta evidência não entra na cabeça, assim é que entre o antigo comunismo que segue acreditando no bloco soviético e a nova social democracia trufada de capitalismo temos umas esquerdas que não conseguem inspirar a descomposta e desorientada classe trabalhadora.
Fonte: https://www.elsaltodiario.com/alkimia/camarada-putin
Tradução > Sol de Abril
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Leandro Feitosa Andrade
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!