Neste 12 de maio [Catalunha celebra eleições regionais], as urnas serão abertas para um novo ciclo político para o Parlamento da Catalunha e, com isso, os partidos começaram mais uma vez suas respectivas campanhas eleitorais. Postes de luz, marquises e outdoors estão enfeitados, e nossas caixas de correio estão cheias de envelopes com promessas que nos asseguram que a mudança, a verdadeira mudança, está finalmente chegando: tudo o que precisamos é do seu voto.
A farsa que é o circo eleitoral usado pela democracia representativa para manter o poder da elite política é cuidadosamente projetada para ser alienante e perpetuar um sentimento de impotência e, assim, promover a inação, a passividade e a dependência do Estado e de suas instituições, fazendo-nos esquecer nosso potencial emancipatório coletivo, nossa capacidade de nos auto-organizarmos e de decidirmos e agirmos em nossas próprias vidas.
Estratégias que geram culpa, desesperança e urgência, entre outras, são sistematicamente usadas pela esquerda para pedir o voto daqueles que, longe de se sentirem fielmente representados, sucumbirão à desmoralização de um panorama desmoralizante e de um discurso desmobilizador: enquanto a extrema direita avança e ameaça assumir a liderança com a intenção de reverter anos de conquistas obtidas graças ao poder popular, os partidos de esquerda buscam se estabelecer como a alternativa imperfeita, mas única possível.
Dessa forma, mais uma vez, instrumentalizam o sofrimento dos oprimidos, incentivando o voto útil, o voto no partido “menos perigoso”, jogando com nosso medo e usando os mais vulneráveis como moeda de troca, para depois esquecê-los quando alcançarem o poder, concentrado nas mãos de poucos políticos.
Eles exigem de nós, da maneira mais paternalista e hipócrita possível, uma coerência alinhada com nosso desejo de outra sociedade e nos manipulam por meio da culpa, acusando-nos de impedir a mudança social quando decidimos apontar a fraude que é o caminho eleitoral, cujas promessas são ótimas no palco, mas depois da campanha eleitoral se tornam letra morta, ciclo após ciclo.
Eles nos convidam a votar pelo menor dano possível, esperando que suas reformas, que não são apenas insignificantes e ridiculamente insuficientes, mas que podem ser feitas e desfeitas com o toque de uma caneta, sejam o fim do nosso sofrimento e do de nossos companheiros. O produto de uma decisão de um único dia, que nos próximos anos envolverá toda a capacidade de tomada de decisão de uma comunidade inteira, nos torna participantes democráticos de nossa própria opressão.
Uma decisão que ademais não é interseccional, nem acessível, nem solidária, nem tem memória histórica, pois como quantificar os danos da violência que não se torna visível, quando é a hegemonia que tem o controle sobre a decisão do que é ou não notícia, que domina a opinião pública, espalhando boatos e ocultando dados e informações, provocando em nós a incapacidade de imaginar mundos melhores? Como quantificar as formas de violência que não nos afetam em primeira mão, ou que ocorrem em territórios geograficamente mais distantes de nós, mas que, no entanto, serão afetados por nossas decisões sem que possamos participar delas, ou aquelas formas de violência sobre as quais nossa cultura colonizadora foi historicamente construída, cujo fruto é o privilégio de que desfrutamos hoje? Ou as violências atuais que a classe política tem o cuidado de varrer para debaixo do tapete para proteger sua posição no topo do privilégio cisheteropatriarcal, branco e europeu, para que continuemos a alimentar a máquina do capital: sua ganância sem limites?
Como podemos acreditar em eleições em que um dos partidos de livre escolha é o partido fascista Aliança Catalana, abertamente racista, sexista e neoliberal; eleições em que os partidos hegemônicos mantêm um silêncio cúmplice diante do genocídio que o Estado de Israel está perpetrando contra o povo palestino, em vez de tomar uma posição firme a favor do corte de relações com ele; ou onde esses mesmos partidos negociaram a implementação dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2030 – com as graves consequências que teriam sobre os Pirineus em nível ecológico -, o Hard Rock em Tarragona, transformando nossas terras em uma versão de Las Vegas, o Quart Cinturó, que destruiria as áreas agrícolas de nosso território; onde ninguém propõe medidas lógicas diante da seca cujas consequências são iminentes ou posições claras contra o turismo e a gentrificação que devasta nossas cidades e bairros, ou a implementação de qualquer outro tipo de necropolítica, desde que isso signifique um negócio que encha seus cofres?
Assim, o voto se torna unicamente na legitimação de sua dominação, a fim de continuar perpetuando um sistema autoritário historicamente construído sobre o poder colonial, a pilhagem e o extrativismo, e o controle, o disciplinamento e a exploração de corpos e mentes por razões de classe, raça, gênero, espécie etc., para colocá-los a serviço do capital, onde os ricos e poderosos ficam cada vez mais ricos à custa de nossa miséria e escravidão, enquanto nos levam diretamente ao colapso.
E o fato é que a prática de votar, nesse sistema autoritário para o qual democraticamente elegemos representantes para falar por nós, nada mais é do que escolher o amo que nos subjugará e as correntes que nos prenderão durante o próximo ciclo político.
É por isso que, às vésperas das eleições, desde Batzac os convidamos a repensar consciente e ativamente como querem que seja sua participação nas eleições para o Parlamento da Catalunha neste 12M, e que, esperamos, façam o que fizerem e decidam o que decidirem, não seja uma eleição sob a influência de mentiras e coerção, mas fruto de uma profunda reflexão política e ética.
Não se esqueça de que a verdadeira luta contra a dominação, a luta pela libertação de todas as formas de vida oprimidas, não é aquela que é travada a cada x anos dentro de uma urna eleitoral, mas aquela que lutamos e praticamos todos os dias nas ruas, lado a lado com nossos companheiros.
Não se esqueça de que somente usando nossas próprias ferramentas, como a autogestão, a auto-organização, o apoio mútuo e a ação direta sem intermediários, e não as ferramentas do amo, estaremos mais perto de construir o mundo que carregamos em nossos corações.
Batzac – Joventuts Llibertàries
Fonte: https://www.regeneracionlibertaria.org/2024/05/09/contra-el-circ-electoral-organitzem-nos/
agência de notícias anarquistas-ana
A rua apinhada
E nos passos apressados
As pessoas solitárias…
Débora Novaes de Castro
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!