E agora estamos espalhadas por todo o território.
Desde o rural, desde os projetos autogestionados que vão mais além da lógica capitalista e Estatista, várias pessoas próximas ao projeto de Fraguas que em seu momento habitamos o povoado e construímos comunidade, quisemos transmitir com nossas palavras o que significou para nós a demolição.
Assim é, não havia forma fácil de escrevê-lo, mas pensamos que é importante que se saiba. Faz aproximadamente cinco meses, no mês de dezembro de 2023, se executou definitivamente a sentença firmada desde 2017. Entraram com suas máquinas e arrasaram o povoado em uma tentativa de apagar uma vez mais a história de Fraguas.
As casas reconstruídas estão como as encontraram as primeiras ocupantes em 2013, todos os restos de vida humana pós-prévia expropriação e desmantelamento em 1968 retirada. Mas não se pode apagar a história, e a amoreira centenária segue erguida, testemunhando todas as vidas que passaram por ali, nossas vidas.
Gostaríamos de destacar que se passaram seis anos desde que foi assinada a sentença que condenava as pessoas a pagar uma multa de 14.000€, mais a demolição e seus custos, finalmente taxada em 2021 em 110.000€, por repovoar, voltar a levantar as casas, trabalhar e cuidar da terra e tratar de viver de forma coletiva e autossuficiente. Passaram seis anos desde a sentença, mas uma década desde sua okupação, desde que Fraguas retomou sua vida ressurgindo dos escombros. O território e o povoado se defendem, e assim o fez Fraguas. Não podemos parar de agradecer a cada uma das pessoas que passaram por ali. Foram milhares as que passearam por suas ladeiras, as que participaram da organização e da vida de uma comunidade viva. E não foi até que depois de quase um ano do último comunicado transmitido pelas pessoas que ainda habitavam o povoado em fevereiro de 2023, que se cumpriu a sentença.
A história de Fraguas desde 2013 foi uma história de digna resistência que nos últimos anos teve de centrar seus maiores esforços em evitar o cárcere às 6 pessoas condenadas, objetivo conquistado graças ao apoio e solidariedade de todos vocês.
Não queremos romantizar e dizer que Fraguas era perfeita. Como dizia um sábio companheiro, “se não nos cuidamos vamos acabar desalojando a nós mesmos”. Fraguas, como tantos outros projetos foi atravessado pelo heteropatriarcado, a xenofobia, o capacitismo, o especismo e tantos outros ismos que temos interiorizados e que nos esforçamos dia a dia para destruir e desaprender. E isto se dificulta ainda mais sob a perseguição constante, repressão e ameaças do Estado ao qual se viu submetido Fraguas desde o início do projeto. Não obviamos, no entanto que estas violências fizeram ao longo dos anos com que muitas das pessoas que passamos por ali saíssemos com feridas abertas que tivemos que curar, normalmente solitários, mas nunca sós.
Isto não é um final, nem uma derrota. A maioria das pessoas que demos vida ao projeto de Fraguas está em projetos de autogestão, seguimos acreditando no mundo novo que levamos em nossos corações, lutando pela defesa da terra e do território, da autodeterminação e da solidariedade e do apoio mútuo como pilares de nosso cotidiano. Tratando de observar com atenção todos os eixos de opressão que nos atravessam e desde os quais desde nosso privilégio exercemos violência também. E nesse caminho estamos, e seguiremos.
Agradecemos a todas as pessoas que lutam dia a dia e que constroem rebeldia.
Fraguas vive e viverá sempre.
Força e determinação.
Tradução > Sol de Abril
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Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!