Uma curta biografia de Alain Pecunia, militante anarquista francês.
Por Nick Heath | 18/05/2024
Quando eu morava e trabalhava em Paris no início dos anos 70, participei de reuniões da Aliança Sindicalista Revolucionária e Anarco-Sindicalista [Alliance Syndicaliste Revolutionnaire et Anarcho-syndicaliste] (ASRAS) na Rua Jean Robert, 21, no 18º distrito. Essas reuniões envolviam cerca de 30 militantes que desejavam orientar o movimento anarquista para a agitação no local de trabalho. Ao lado de exilados búlgaros e da neta do libertário espanhol Juan Peiro, vítima dos pelotões de fuzilamento do ditador General Franco, e de franceses tanto veteranos quanto novos no movimento, estava Alain Pecunia, na época confinado a uma cadeira de rodas.
Ele foi um cofundador da Alliance e um de seus pilares. Outro participante relembrou: “preferíamos instalações militantes de um único andar. Caso contrário, teríamos de carregar Alain e sua cadeira de rodas pelas escadas dos veneráveis prédios que frequentávamos nos anos 70… Os novos companheiros, inclusive eu, sabiam vagamente que Alain havia realizado ações na Espanha e que havia sofrido um “acidente” depois, mas o camarada Pecunia não contava muito. Os militantes libertários espanhóis no exílio sabiam mais do que nós, jovens pós-68 atraídos por ideias anarco-sindicalistas.”
Alain nasceu em Paris em 1945, filho de um oficial naval sênior que serviu na equipe de De Gaulle em Londres durante a Segunda Guerra Mundial.
Em 1958, com apenas treze anos de idade, Pecunia participou de algumas manifestações contra a guerra da Argélia organizadas em Paris pelo grupo de jovens do Partido Comunista. Dois anos depois, ele se aproximou do grupo Verité-Liberté, liderado por Pierre Vidal-Naquet, e do Grupo Louise Michel da Federation Anarchiste. No início de 1961, Pecunia, ainda um “republicano rebelde e romântico”, conheceu um exilado anarquista espanhol, Paco Abarca, com quem formaria um grupo de agitação contra a OAS, a organização terrorista de extrema direita criada após o referendo de autodeterminação da Argélia. Por meio de Abarca, Pecunia foi apresentado ao mundo dos anarquistas espanhóis exilados. Nos meses seguintes, ele conheceria Octavio Alberola e Luis Andrés Edo, faróis da resistência anarquista ao franquismo.
O grupo de Defesa Interior foi uma organização criada pelo movimento anarquista espanhol no exílio que reuniu notáveis veteranos, como Cipriano Mera e Juan Garcia Oliver, e militantes mais jovens, como Alberola e Edo. Eles começaram a se envolver em ações simbólicas contra interesses turísticos espanhóis, como bancos e companhias aéreas, para forçar a imprensa francesa e internacional a falar sobre o regime de Franco.
Em junho e julho de 1962, Pecunia participou, com outros dois franceses, de uma série de ações na Espanha. Em menos de dois meses ele cruzou a fronteira ao menos três vezes para levar material a um colega em Barcelona e observar os controles policiais de Franco.
Foi nesse período que Pecunia conheceu Jacinto Ángel Guerrero Lucas, na época um colaborador próximo de Alberola na Defesa Interior e provavelmente já um informante da polícia espanhola.
No final de março de 1963, contra o conselho de Alberola, Abarca pediu a Pecunia que participasse de outra operação. Preso em 6 de abril, este foi condenado a 24 anos de prisão por “atividades subversivas” e se tornou o mais jovem preso político da Espanha, aos dezessete anos de idade. Detido na prisão de Carabanchel Alto, em Madri, ao lado do anarquista escocês Stuart Christie, ele compartilhou o destino de cerca de 250 prisioneiros políticos no local.
“Era a nossa guerra contra o fascismo”, disse Pecunia. “Meu pai havia participado da resistência na França e meus bisavós italianos eram da Carbonari. Sabe, quando tínhamos vinte anos, não pensávamos na velhice.”
Libertado em 1965 graças a intervenções no mais alto nível, em parte devido à influência de seu pai nos círculos gaullistas, ele foi vítima, pouco depois de seu retorno à França, de um ataque que permaneceu inexplicável. Nas primeiras horas de 5 de agosto de 1966, um carro desconhecido o atropelou, deixando-o inconsciente e, mais tarde, paralisado em ambas as pernas. Ele e outras pessoas acreditavam que ele havia sido vítima de elementos da polícia francesa, em aliança com as autoridades franquistas. Depois de estudar sociologia na Universidade de Nanterre, ele trabalhou como revisor de publicações e impressos. Foi cofundador da ASRAS e presidente do comitê da Espanha Livre entre 1974 e 1977.
Desde 2002 ele se dedicou à escrita, incluindo duas séries de suspense noir, Petits Films Noirs e Chroniques Croisées, com mais de vinte livros, bem como um romance histórico em três volumes, Mathilde, e suas memórias da vida na prisão de Carabanchel, Les ombres ardentes: un Français de 17 ans dans les prisons franquistes, publicado em 2004. Outro romance, Le Dernier Maquisard, foi publicado em 2006. Mais recentemente, Alain Pecunia lançou um volume sobre a história anarquista espanhola, Les Anarchistes espagnols aux portes du pouvoir – I: Histoire de la guerre des classes en Espagne (1812-1939), publicado em 2023.
Ele manteve suas convicções anarquistas até o fim, tendo falecido no dia 6 de maio de 2024.
A foto acima foi tirada por Stuart Christie em outubro de 1998.
Fonte: https://libcom.org/article/alain-pecunia-1945-2024
Tradução > anarcademia
Conteúdo relacionado:
agência de notícias anarquistas-ana
Os grilos cantam
Apenas do meu lado esquerdo –
Estou ficando velho.
Paulo Franchetti
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!