O pessoal por trás do espaço kosher, onde se paga o que se pode, que funcionou na Escócia por três anos, pretende reabrir em Crown Heights neste verão.
Por Jackie Hajdenberg | 05/02/2025
Pink Peacock, a cafeteria kosher iídiche anarquista e queer-aliada que funcionou em Glasgow, na Escócia, por três anos, está tentando reabrir no Brooklyn neste verão.
A cafeteria, inaugurada em 2020, gerou um grande burburinho por ser provavelmente a única cafeteria queer, iídiche, anarquista e vegana do mundo onde se paga o que se pode. Em 2023, fechou depois que seus proprietários sofreram de exaustão [burnout], relatando uma “quantidade surpreendente de violência antissemita” durante seus três anos de operação por parte de outros “autodenominados esquerdistas”.
Mas agora, de acordo com os cofundadores da Pink Peacock, Moishe Holleb e Miles Grant, ambos estadunidenses e que acabaram voltando para o país por conta própria, a cafeteria espera obter sucesso duradouro no bairro mais badalado de Nova York.
“Percebemos que não havia espaços anti-sionistas, queer, anarquistas e judaicos na cidade de Nova York e, havendo essa lacuna, nos demos conta de que é necessário que [a iniciativa] continue a existir”, disse Grant.
Quanto a como eles acabaram chegando a Crown Heights, Grant disse que “simplesmente aconteceu”, enquanto eles pesquisavam bairros judeus em Nova York. “Há uma boa interseção entre a comunidade judaica e também muitas outras comunidades que estão na mesma área”, disse ele. “E acho que isso é muito importante para nós, como se disséssemos: ‘estamos todos conectados e há muitas lutas que se sobrepõem’, e acho que foi isso que nos tocou muito.”
Pelo menos uma pessoa judia da região está animada com o empreendimento que está por vir. Para Abby Stein, rabina trans ex-hasídica e ativista, a perspectiva de um café queer, iídiche e antissionista não muito longe de sua casa em Park Slope “parece muito legal”.
“Digo, é iídiche e queer”, disse Stein. “São duas das minhas coisas favoritas!”
“O que mais gosto no judaísmo nova-iorquino é que ele é como um bufê, e você pode encontrar literalmente tudo o que procura”, acrescentou Stein. “Não precisamos de outro espaço genérico judaico em Nova York”.
Crown Heights é o lar de grandes populações caribenhas, afro-americanas e judaicas, embora elas tendam a habitar diferentes partes do bairro.
“Vemos as mesmas necessidades aqui: nossas comunidades estão ávidas por um espaço judaico antissionista que seja acessível aos judeus queer ortodoxos e, infelizmente, as pessoas também estão literalmente com fome”, disse Holleb. “Imaginamos um espaço comunitário centrado na satisfação dessas necessidades, mas aberto a todo mundo, com um espírito de solidariedade e formação de coalizão. Ainda estamos nos estágios iniciais, mas esperamos abrir no verão.”
O nome da cafeteria, que também atende pelo nome em iídiche “Di Rozeve Pave”, é inspirado em “di goldene pave”, ou o pavão dourado, um símbolo mítico da literatura iídiche – embora a cor tenha sido alterada para rosa em solidariedade à comunidade LGBTQ. O iídiche – um idioma que se tornou cada vez mais popular entre judeus antissionistas como alternativa ao hebraico – está presente no cardápio da cafeteria, que se refere a “tunah” para atum e “shmir” para shmear.
Assim como o original de Glasgow, a Pink Peacock do Brooklyn também será um espaço comunitário e de oração antissionista que abrigará atividades como exposições de arte, eventos inter-religiosos, ensaios de coral em iídiche e celebrações nos feriados, como uma feira de livros anarquista em Shavuot e uma apresentação de Purim com drags.
Durante seus três anos de funcionamento na cidade mais populosa da Escócia, Pink Peacock não era alheia a controvérsias, tendo uma vez vendido chaves universais para algemas antes de um grande protesto da conferência climática. A cafeteria, que fechou definitivamente alguns meses antes de 7 de outubro, tinha uma bandeira palestina em exibição, bem como um pôster com o slogan “Judeus e Queers por uma Palestina Livre”.
Durante vários meses em 2020-2021, uma sacola foi exibida na janela com os dizeres “f- the police” [f— a polícia], o que levou Holleb a ser acusado de cometer uma violação da paz – uma ofensa criminal na Escócia. Em um determinado momento, a cafeteria também exibiu um panfleto para um baile de Yom Kippur “na tradição anarquista judaica”, a ser realizado no dia do feriado.
Na cidade de Nova York, o antissionismo é “uma voz que falta”, disse Grant. “Os nova-iorquinos judeus definitivamente possuem opiniões muito mais amplas do que as representadas em muitas instituições judaicas de Nova York. Por isso, achamos importante sermos claros em nossos valores e também oferecermos um lar para pessoas que compartilham esses valores.”
“Faz sentido que essa voz judaica singular exista em um lugar onde também há outras vozes judaicas”, disse Grant, que também é ativista ambiental. “Não estamos apenas no meio do nada na Escócia. Na verdade, estamos mais ou menos entre outras comunidades judaicas daqui.”
A comunidade judaica de Glasgow é bem pequena, com cerca de 9.000 pessoas. A comunidade judaica da cidade de Nova York, por outro lado, chega a quase 1 milhão, e o bairro do Brooklyn é o lar da maioria dos judeus da região, com 462.000.
Muitos dos judeus do Brooklyn são ortodoxos ou hassídicos – especialmente em Crown Heights, que abriga a sede global do movimento hassídico Chabad-Lubavitch. O rabino Menachem Mendel Schneerson, o último rebe Lubavitcher, acreditava que qualquer concessão israelense de terras aos palestinos colocaria em risco o povo judeu, e a grande maioria dos adeptos do Chabad é pró-Israel.
No entanto, a Pink Peacock ainda não tem um contrato de aluguel assinado, e é possível que a cafeteria não fique localizada na parte do bairro voltada para o Chabad.
“Na minha opinião, há muitas pessoas, até mesmo da minha comunidade, que não moram na parte do Chabad”, disse Stein, referindo-se a grupos judeus independentes locais, como o Minyan Atara, que é uma comunidade de oração igualitária independente, e o Brooklyn Shabbat Kodesh, um minyan antissionista, bem como indivíduos associados ao Jews for Racial and Economic Justice [Judeus pela Justiça Racial e Econômica], que tem sua sede no bairro. “Acho que [a Pink Peacock] se encaixa perfeitamente nesse sentido.”
Tradução > acervo trans-anarquista
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