[Espanha] 98º aniversário do assassinato de Sacco e Vanzetti na cadeira elétrica

No dia 23 de agosto de 1927, foram executados na cadeira elétrica no “país da liberdade” – o mesmo país que lançou duas bombas atômicas, o mesmo que mantém um campo de concentração na ilha de Guantánamo, diante do silêncio de todos os países do mundo. É lógico: o Estado sempre defende o mais poderoso. Ou será que acreditamos que os exércitos e os serviços policiais existem para proteger a cidadania? Eu nunca vi um empresário levar uma bastonada por enganar trabalhadores, deixar de pagá-los ou enviar dinheiro fraudulento, como certos familiares da nobreza – que não sei por que são chamados de nobres –, ou por matar elefantes escondido. Mas já vi pedirem documentação de trabalhadores e cidadãos que protestam pacificamente ou simplesmente por se aproximarem de uma propriedade ocupada na Andaluzia.


A situação é muito similar à que dois imigrantes enfrentaram nos Estados Unidos há quase um século: Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, que não entendiam por que o mundo funcionava tão mal e por que havia pessoas tão cruéis governando os países. Foram objetores de consciência porque não acreditaram que a guerra servisse para algo que não fosse matar irmãos que não conheciam, simplesmente por problemas às vezes alheios à própria população, mas não às multinacionais que governam os países. No dia 23 de agosto, apagaram-se as luzes dos holofotes que iluminavam aqueles milhares de cidadãos – da prisão, operários, artesãos, emigrantes e naturalizados –, que pediram até o último segundo que fossem libertos, porque todo o julgamento havia sido uma farsa, como outros julgamentos feitos a anarquistas, que ocorreram em tantos outros países, como na Espanha, o caso Scala, ou perseguições contra anarquistas no caso Savota.

Nicola Sacco, sapateiro, italiano, militante anarquista e pai de família, foi injustamente acusado junto com Bartolomeo Vanzetti de um crime que nunca cometeram e pelo qual foram executados na cadeira elétrica em 1927. Desde então, seus nomes permanecem indissociavelmente unidos na memória coletiva como expressão de indignação perante a injustiça.

Milhares se manifestaram, marcharam, protestaram, não apenas em Nova York, Boston, Chicago, San Francisco, mas também em Londres, Paris, Buenos Aires ou África do Sul. Não foi suficiente. Na noite de sua execução, milhares se manifestaram em Charlestown, mas foram mantidos longe da prisão por uma multidão de policiais. Manifestantes foram presos. Havia metralhadoras nos telhados e grandes holofotes varrendo a cena. Uma grande multidão se reuniu na Union Square em 23 de agosto de 1927. Depois da meia-noite, as luzes da prisão se apagaram e os dois homens foram eletrocutados. Quiseram dar um escarmento para que os emigrantes, cidadãos, homens e mulheres que lutavam pela dignidade, humildade e liberdade calassem suas ideias para sempre.

O GOVERNO DOS ESTADOS UNIDOS SE DESCULPA

Cinquenta anos após a execução, o Estado da União pediu desculpas publicamente pelas graves falhas cometidas durante o processo de Sacco e Vanzetti, proclamou sua total e absoluta inocência e pediu desculpas históricas, salvando o bom nome e a honra dos mártires. Não era necessário: Sacco e Vanzetti habitam a memória dos povos como símbolo e bandeira de todo movimento de emancipação operária.

DISCURSO DE BARTOLOMEO VANZETTI NO TRIBUNAL ANTES DE SER EXECUTADO

Tenho falado muito de mim mesmo e nem sequer mencionei Sacco. Sacco também é um trabalhador, um trabalhador competente desde a infância, amante do trabalho, com um bom emprego e salário, uma conta no banco, uma esposa encantadora e boa, dois filhos lindos e uma casinha bem arrumada na beira da floresta, junto a um riacho.

Sacco é todo coração, toda fé, todo caráter, todo um homem; um homem amante da Natureza e da Humanidade; um homem que deu tudo, sacrificou tudo pela causa da liberdade e seu amor aos homens; dinheiro, tranquilidade, ambição mundana, sua esposa, seus filhos, sua pessoa e sua vida.

Sacco nunca pensou em roubar, nunca em matar ninguém. Ele e eu jamais levamos um pedaço de pão à boca, desde que somos crianças até agora, que não tenhamos ganho com o suor de nosso rosto. Nunca…

Ah, sim, posso ser mais esperto, como alguém disse; tenho mais lábia que ele, mas muitas, muitas vezes, ouvindo sua voz sincera na qual ressoa uma fé sublime, considerando seu sacrifício perpétuo, recordando seu heroísmo, eu me senti pequeno diante de sua grandeza e me vi obrigado a conter as lágrimas nos olhos e apertar o coração que se apertava, para não chorar diante dele: este homem a quem chamaram de ladrão e assassino e condenaram à morte.

Mas o nome de Sacco viverá nos corações do povo e em sua gratidão quando os ossos de Katzmann e os de todos vocês tiverem sido dispersos pelo tempo; quando seu nome, o dele, suas leis, instituições e seus falsos deuses não forem mais que uma lembrança difusa de um passado amaldiçoado em que o homem era lobo do homem…

Se não fosse por isso, eu poderia ter vivido minha vida conversando nas esquinas e zombando das pessoas.

Teria morrido esquecido, desconhecido, fracassado. Esta tem sido nossa carreira e nosso triunfo. Nunca em toda nossa vida teríamos podido fazer tanto pela tolerância, pela justiça, para que o homem entendesse o homem, como agora estamos fazendo por acidente.

Nossas palavras, nossas vidas, nossas dores – nada!

A perda de nossas vidas – a vida de um sapateiro e de um pobre vendedor de peixe – tudo! Esse momento final é nosso, a agonia de nosso triunfo.

Uma sociedade fundada sobre o privilégio econômico que reporta a propriedade privada capitalista dos meios de produção e sobre o poder político centralizado que implica uma ordem distinta de privilégios, conta com um conjunto de normas e organizações destinadas a preservá-la. Um aparato ideológico, com seus poderosos meios de comunicação de massa, envolve e sustenta toda essa estrutura de dominação. O Estado, através de seus mecanismos legislativos, consagra um corpo jurídico que referenda o sistema.

Contrariamente ao que nos informa a ideologia liberal, o Poder Judiciário não é independente do poder político, mas um mecanismo privilegiado de preservação do sistema de dominação. E eis o que os anarquistas veem no Poder Judiciário e sua relação com o Estado.

BREVE ANÁLISE DO CASO

Sacco e Vanzetti foram dois homens italianos que foram julgados e condenados em 1921 por um duplo assassinato ocorrido em 1920. Posteriormente, as evidências sugeriram que os homens foram na realidade falsamente acusados, e o caso atraiu grande atenção na década de 1920. Infelizmente, os dois homens foram executados antes de poderem ser exonerados, apesar dos amplos protestos públicos. O caso de Sacco e Vanzetti foi historicamente importante nos Estados Unidos por uma série de razões e continua a ser amplamente discutido e citado hoje em dia.

Ferdinando Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti eram dois operários envolvidos na comunidade anarquista da década de 1920. Críticos do caso sugeriram que os homens provavelmente foram incriminados devido à sua associação com proeminentes anarquistas italianos da época. Na década de 1920, muitos estadunidenses estavam preocupados, influenciados pela teoria do medo e do inimigo único propiciada pelo Estado, em relação aos anarquistas italianos, e esse medo foi usado com grande vantagem pela acusação no julgamento de Sacco e Vanzetti. O júri deliberou por apenas três horas, apesar de as evidências estarem longe de serem perfeitas.

O crime do qual os dois homens foram acusados foi um assalto à mão armada. Em 15 de abril de 1920, dois funcionários da Slater-Morrill Shoe Company transportavam cerca de 17.000 dólares estadunidenses em South Braintree, Massachusetts. Os dois homens foram surpreendidos por ladrões armados em seu caminho; os ladrões atiraram neles, roubaram o dinheiro e fugiram com outros três homens em um carro que se acredita ter sido roubado. As duas vítimas do ataque morreram posteriormente, e testemunhas indicaram que os ladrões eram italianos. Sacco e Vanzetti tiveram o infortúnio de cair em uma batida policial que os implicou no crime.

Os dois homens foram julgados pelo assassinato em 1921, depois que Vanzetti foi julgado e condenado por um roubo em 1920. Ao longo do processo, muitos estadunidenses proeminentes falaram sobre o que viram como uma armação, e quando o júri emitiu um veredito de culpabilidade, distúrbios e manifestações a favor da causa foram realizados em todo o mundo. Depois de uma série de recursos malsucedidos, os homens foram executados por eletrocussão em 1927; grandes protestos públicos também acompanharam sua execução.

Historiadores jurídicos acreditam amplamente que o sistema de justiça falhou com Sacco e Vanzetti e que o caso ilustra os preconceitos contra membros da comunidade anarquista. Para os historiadores anarquistas, Sacco e Vanzetti são muito importantes historicamente porque muitos estadunidenses reagiram com incredulidade ao caso e seus resultados, sugerindo que a causa anarquista pode ter tido simpatia em lugares surpreendentes durante a década de 1920. O caso continua a ser explorado e recuperado em filmes e livros, muitos deles de proeminentes historiadores, escritores e cineastas, o que levou o governo americano a reconhecer as irregularidades cometidas na realização do julgamento, que levou dois lutadores inocentes à cadeira elétrica.

Fonte: https://pacosalud.blogspot.com/2025/08/98-aniversario-del-asesinato-en-la.html#more

Tradução > Liberto

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tal nuvem no céu
em tarde de vento forte:
lembranças se vão!

Tânia Diniz

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