O mito do bloco negro. 2 de outubro de 2025 no México

O MITO DO BLOCO NEGRO

Agora que se viu uma resposta violenta dos manifestantes na marcha de 2 de outubro [marcha anual em memória do massacre estudantil de 1968 em Tlatelolco], o mito do Bloco Negro ressurge, tanto para os jornalistas chayoteros [jornalistas que recebem um pagamento em troca de falar bem do governo.] quanto para os ideólogos do governo, interessados em criar um falso inimigo. Vamos por partes:

1. O Bloco Negro não é uma organização clandestina financiada por “interesses obscuros”. Essa ideia circula desde Díaz Ordaz contra os estudantes do CNH quando invadiram a UNAM e o IPN em 1968, encontrando uma feroz resistência, inclusive com armas curtas dentro dos campus da UNAM e do IPN.

2. Esta ideia de “um inimigo estranho” alimenta os discursos do governo, apontando “que não cairão em provocações”, como se o povo estivesse interessado em ser reprimido pelo governo.

3. O que o [partido] MORENA não quer entender é que, ao enganar 35 milhões 849 mil 484 pessoas que votaram neles, não conseguem enganar os outros 65 milhões 405 mil 911 eleitores, que somam um total de 101.255.395 pessoas registradas no cadastro eleitoral. A minoria de quase 36 milhões de pessoas torna possível a submissão de mais de 65 milhões. Mas isso não quer dizer que eles consigam enganar todas as pessoas. Descontando as pessoas que votaram no PRIAN, um total de 16.502.458 votos, que vivem enganadas pela extrema direita, e também cerca de 10 milhões que votaram em outras “opções”. Mas, desses, 39 milhões 633 mil 675 pessoas NÃO votaram. Não participaram da farsa eleitoral. Não há consenso social.

4. Dentro do mito do Bloco Negro, o Governo reconhece cerca de 350 ativistas que enfrentaram 1500 policiais. E localizam 3 homens… Ou a polícia política do governo é muito inepta, ou a Inteligência Militar não lhes passou os seus relatórios…

5. O “inimigo estranho” satanizado como o “Bloco Negro”, na verdade, tem vários componentes: primeiro, estão os anarquistas que reivindicam a ação direta e o confronto com o Estado, também chamados de insurrecionistas, embora aí haja várias correntes diferentes. Em segundo lugar, “a primeira linha”, onde estavam ativistas anarquistas e punks, que, sem serem “insus”, estiveram na luta corpo a corpo contra a polícia e “os granadeiros que já não existem”, mas que ainda batem e machucam manifestantes. Merecem respeito estes manifestantes que arriscam a vida e o corpo, enfrentando o braço repressor do Governo. Em terceiro lugar, há pessoas espontâneas que enfrentaram: um ciclista, um rapaz de skate sem capuz, uma moça com um estilingue de brinquedo, um senhor bêbado que enfrentou os policiais e vários estudantes que se separaram de seus contingentes, sem capuzes, sem vestir preto, que também são observados nos múltiplos vídeos. Simplesmente são pessoas que estão fartas, que têm raiva e que se lançam sem medir precauções, com o rosto descoberto e vestimenta singular…

6. E por último, há 3 tipos de pessoas sobre as quais não se fala, mas que também estão infiltradas: o crime organizado, o narcotráfico e a máfia da Cidade do México (lembrem-se que um soldado, Julio César López Patolzin, se infiltrou nos 43 de Ayotzinapa), e por último, a guerrilha urbana que forja seus quadros na luta de rua, protegidos por eles mesmos e treinados militarmente, por isso nenhum deles caiu.

7. É falso que o “Bloco Negro” seja financiado. Eles fazem isso de graça. Por livre escolha. Em vez disso, a extrema-direita TEM seus próprios corpos paramilitares financiados, sobre os quais não falam na mídia.

8. Também nos vídeos, viu-se um ladrão de joias vulgar sem capuz e sem vestir de preto. “Magicamente” os ladrões conseguiram romper as fileiras dos policiais e, na esquina onde estava repleto de policiais, conseguiram esvaziar lojas inteiras sem problemas. No dia seguinte, a dona de uma joalheria denunciou como vários policiais também roubaram joias, mas isso não foi investigado… (nem o farão)…

9. Surpreende o discurso do governo elogiando seu braço repressor como “heroico” e “polícia da paz”, assim como no romance de 1984, assim como Trump defendendo o ICE e a Migra. A criação discursiva de “um inimigo estranho”: o Bloco Negro, legitima seu pretexto de “cuidar” das pessoas: mais recursos e poder para Omar García Harfuch [Ministro da Segurança], mais dinheiro do orçamento para mais câmeras de vigilância, mais patrulhas para que os policiais comam e vejam seus celulares confortavelmente ali, enquanto o Narco e os extorsionistas saqueiam o país…

10. Também é incrível a imprensa vendida e indigna que chora pelos policiais feridos e não diz nada sobre Ayotzinapa, Acteal, Atenco, Chiapas, Oaxaca, Palestina, e menos ainda sobre o exército enfrentando o EZLN no sudeste. No país de “celebrando o primeiro ano de Sheinbaum [presidente do México]”, os presos políticos continuam, Oaxaca continua comprando armas de Israel, a marinha e o exército continuam traficando gasolina roubada e drogas, as greves mineiras apodrecendo, as granjas suínas envenenando o sudeste, o Narco desaparecendo, sequestrando e escravizando pessoas; enquanto o MORENA celebra seu 7º ano de exercício do poder neoliberalmente.

Braulio Alfaro.  Periódico MoTíN.

agência de notícias anarquistas-ana

Sem pátria, sem hino,
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o único altar.

Liberto Herrera

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