
Introdução: Por Que Eu Amo Viajar de Carona
Os povos nômades têm historicamente representado as maiores ameaças e sido os mais difamados pelos poderes estatais. Piratas, bárbaros, ciganos e beduínos, entre outros grupos transitórios, têm estado historicamente em conflito com as forças civilizadoras e os sistemas de poder devido à sua ilegibilidade e à dificuldade em controlar essas populações. Viajar de carona não é apenas divertido, mas também uma estratégia para escapar das restrições do poder estatal e da repressão que é um componente intrínseco da sedentarização forçada. Quando aprendi a pedir carona, um mundo de possibilidades se abriu para mim. Aprender e abraçar essa modalidade me ajudou a ver que nenhum dos caminhos traçados para nós, que ditam como devemos navegar pelo mundo, é inevitável. Eu poderia transformar a vida em uma história do tipo “escolha sua própria aventura” ou RPG, em vez de ficar profundamente deprimido por estar confinado às trajetórias normativas que me foram impostas. No mundo das viagens, se viajar em trens de carga é uma ciência, então pegar carona pode ser considerado uma arte. Viajar de trem requer muita precisão e cálculos cuidadosos, enquanto pegar carona é profundamente complexo, inter-relacional e imprevisível. Também não há uma maneira objetivamente boa ou ruim de fazer isso. Assim como na arte, pedir carona tem muito a ver com estilo e preferência pessoais.
As pessoas costumam temer pela minha vida quando me veem pedindo carona na estrada, pois acham que minha morfologia e aparência me colocam em grande risco. Eu escolho pedir carona mesmo assim, por me recusar a desempenhar o papel de vítima, por meu compromisso em me defender e por um sentimento de rebeldia contra a ideia de que devo deixar o medo ditar como me movo no mundo. Acontece que a grande maioria das pessoas dispostas a correr o risco de dar carona a um pedestre está entre as pessoas mais gentis que já conheci. São quase sempre pessoas dispostas a correr um risco pessoal por um estranho. São pessoas com quem eu nunca teria interagido de outra forma, e aprendo muito com as pessoas que decidem me dar carona. Viajar dessa forma me ensinou muito mais do que qualquer aula jamais poderia ensinar. Pedir carona também teve alguns efeitos positivos inesperados, mas profundos, na minha vida, como superar um desejo intenso e duradouro de restringir a alimentação e perder peso.
O mundo da recuperação de distúrbios alimentares frequentemente afirma que esses diagnósticos têm a ver com controle, e não com estética. Por muito tempo, achei que havia algo errado com essa narrativa de controle e tinha um grande problema com a forma como o tratamento parecia se concentrar em dessensibilizar as pessoas para a realidade de não terem nenhum controle sobre suas próprias vidas. A maioria desses programas parece tratar mais da obediência à autoridade do que do cultivo da libertação corporal ou da alegria. Não era controle que eu desejava, era autodeterminação. Nenhuma quantidade de positividade corporal, amor próprio ou terapia aliviava as obsessões que me consumiam. Em vez disso, a primeira vez na vida em que não senti uma sensação perpétua de estresse e hipervigilância em relação ao meu corpo foi quando comecei a viajar de carona. Viver de forma nômade e de uma maneira que se desvia radicalmente dos roteiros sociais prescritos me permitiu relaxar e me sentir verdadeiramente livre. Aprender a transcender as regras sociais e quebrar ativamente a quarta parede da civilização me ajudou a exercitar o músculo mental que me permitiria quebrar minhas próprias regras também. Pedir carona e viver com uma mochila abriu portas que levaram a possibilidades completamente transformadoras. Pedir carona evoca uma sensação de ruptura em relação aos modelos normativos da dinâmica interpessoal. Permite conexões fugazes que muitas vezes inspiram uma maior sensação de autenticidade e abertura, devido à percepção de que será uma interação passageira (mas, de alguma forma, inerentemente íntima). O texto a seguir é um breve guia para encontrar formas anárquicas de liberdade e conexão através das caronas.
Faça o download da zine completa aqui: https://warzonedistro.noblogs.org/files/2025/12/Anarchy-the-Art-of-Hitchhiking.pdf
Tradução > transanark / acervo digital trans-anarquista
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agência de notícias anarquistas-ana
Ainda que morrendo
o canto das cigarras
nada revela!
Matsuo Bashô
Anônimo, não só isso. Acredito que serve também para aqueles que usam os movimentos sociais no ES para capturar almas…
Esse texto é uma paulada nos ongueiros de plantão!
não...
Força aos compas da UAF! Com certeza vou apoiar. e convido aos demais compa tbm a fortalecer!
Não entendi uma coisa: hoje ele tá preso?