Diversas instituições, grupos ecologistas, organizações sindicais, grupos estudantis, reunidos sob o nome de “Fridays for Future” [Sextas-feiras pelo Futuro], convocaram a chamada “Semana pelo clima” de 20 a 27 de setembro. Basicamente esta semana consiste em manifestações programadas e alienadas que solicitam do Estado e de outras instituições (ONU, G7…) que remediem ou tomem medidas diante do desastre que estão causando. Em seu discurso simplista, recuperador e direcionador em nenhum momento criticam a causa da devastação em curso: o capitalismo tecno-industrial e sua organização técnica do mundo. São os que criticam as mudanças climáticas sem criticar os que as produzem: têm um cadáver na boca, os que defendem o mito do progresso, do desenvolvimento sustentável e de uma vida “confortável” em troca da escravidão e comercialização de todos os aspectos de nossa vida, uma vida vendida à dominação tecnológica. São os que compraram no supermercado da rebelião o novo produto da moda: a mudança climática. Sextas-feiras pelo futuro? Hoje, mais que nunca, o futuro não existe, vivemos em um eterno presente e qualquer vestígio do passado foi apagado. As próteses tecnológicas que nos rodeiam e colonizam nos fazem viver em um sonambulismo contínuo, onde a catástrofe não está por vir como se empenham em nos advertir com sua venda nos olhos, a catástrofe é aqui e agora, a catástrofe é o capitalismo tecno-industrial, a catástrofe é essa vida alienante dirigida pelos algoritmos de nossos “assistentes virtuais”, a catástrofe é um mundo já devastado pela indústria.
A mudança climática é uma das milhares de consequências nocivas da revolução industrial (a única revolução que começou dois séculos atrás que chegou em todo o planeta, colonizou e comercializou tudo que está vivo) a mudança climática é indissociável do sistema tecno-industrial: desmatamento, acidificação dos oceanos, desertificação, extinção de milhares de espécies animais e vegetais, milhares de produtos químico-tóxicos que condenam nossa existência, poluição da terra, ar e água são apenas alguns dos efeitos nocivos de todas as consequências deste sistema. Acreditamos, então, que falar apenas de mudanças climáticas sem criticar o sistema tecno-industrial é cair em um reducionismo, não é ir à raiz do problema.
A mudança climática e todas as nocividades são as consequências do projeto da tecnocracia que gestiona e administra nossas vidas. Um projeto que consiste em colonizar, dominar e comercializar tudo que é vivo. Uma vez colonizada e dominada a natureza, o objetivo são os seres humanos, um projeto baseado na convergência das tecnologias conhecidas como NBIC (nanotecnologias, biotecnologias, tecnologias da informação, ciências cognitivas) às quais poderíamos acrescentar robótica e inteligência artificial, sua avareza e ganância não têm fim. Se tudo é comercializado até nossas atividades cotidianas, os benefícios não pararão de aumentar. Converter o mundo e tudo o que o habita em uma máquina programada onde nada escapa de seu controle: mundo-máquina, humano-máquina. O que nos leva a uma visão mecanicista do mundo, de nós mesmos e de tudo o que nos rodeia.
O sistema tecno-industrial precisa de grandes quantidades de energia para poder funcionar, centenas de programas de pesquisa com investimentos multimilionários são dedicados a encontrar novas fontes de energia. Esta necessidade de energia para que o mundo funcione em consequência à devastação do território e à aniquilação de milhões de animais humanos e não humanos. A energia industrial move o mundo, é necessária para a produção e distribuição de todos os objetos desnecessários que encontramos ao nosso redor, é a economia e é a guerra. O sistema entendeu e viu como um grande negócio que apenas as energias “renováveis” e “limpas” permitirá sua expansão e sobrevivência, o novo projeto da tecnocracia é “renovável” e “sustentável”, é ecológico. Esse novo projeto se estende por todo o território, desde os desertos industriais de painéis solares e campos eólicos (causados também pela mudança climática, devastação do território, doenças, etc.) até as eco-cidades (não-lugares onde tudo é controlado, otimizado e automatizado, produzindo também centenas de nocividades e uma vida alienante). Assim, defender a energia verde é defender o projeto que nos dirige em alta velocidade ao ritmo do progresso em direção ao abismo, é defender o projeto daqueles que estão criando um mundo totalitário, é defender o projeto daqueles que gerenciam e administram nossas robotizadas vidas.
É por isso que fazemos um chamado a uma semana de luta contra a mudança climática e toda nocividade de 20 a 27 de setembro de uma perspectiva anarquista, que excede os limites impostos pela social-democracia. Mais uma semana, na qual, através da ação direta em qualquer de suas formas, os diferentes indivíduos e grupos enfrentam o sistema tecno-industrial. A semana de 20 a 27 de setembro é apenas uma meta para o ecologismo liberal e estatista, mas para aqueles que aspiram à eliminação do Estado, do capitalismo, do patriarcado e do sistema tecno-industrial é uma oportunidade de transbordar as estreitas margens da domesticação e iniciar um caminho autônomo, anticapitalista e anarquista contra a nocividade tecno-industrial.
Nem o Estado nem a tecno-ciência nos salvarão.
A luta é o único caminho.
contratodanocividad.espivblogs.net
Tradução > keka
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!