[EUA] Anarquistas cubanos sobre o contexto e a importância da recente onda de protestos

 

Neste episódio do podcast It’s going down, conversamos com um anarquista de Cuba e um anarquista cubano-americano, que vive em Miami, sobre a recente onda de protestos que tem sacudido a ilha nas últimas semanas. As manifestações pegaram a todos de surpresa e nossos convidados defendem que elas são históricas e que representam um terremoto de ódio da classe trabalhadora que se manifestou através de protestos, confrontos com a polícia e saques – atividade que não ocorria na ilha há décadas.

Um anarquista cubano escreveu em uma entrevista recente com a CrimethInc:

As manifestações foram uma explosão social, sem dúvida nenhuma. A crise e as tensões geradas pela precariedade e pelo colapso do sistema de saúde resultaram nisso. Mas, não foi uma explosão generalizada por todas as camadas sociais. Além das áreas onde porções significativas das cidades estavam envolvidas, os setores mais pobres da população carregaram a maior parte dos protestos. O viés classista com que o estado e seus defensores abordaram o problema é evidente na crítica dos manifestantes e da sua violência. A desigualdade social tem crescido em Cuba por décadas e o estado jogou com essa dinâmica para fazer alianças e assegurar lealdades. Neste caso, houve um confronto entre os setores de maior desvantagem e os mais privilegiados.

Os protestos começaram fora de Havana, em áreas afetadas pela escassez de bens, quarentenas excessivas e apagões de até 12 horas de duração. Soma-se a isto um descontentamento social acumulado da crise produzida pela intensificação do embargo pelos Estados Unidos e a ineficácia do governo, cujo auge foi a implementação de uma série de medidas no começo do ano que levaram a uma elevada inflação e ao crescimento do mercado negro. Isso fez com que em um município como San Antonio, centenas de pessoas se lançassem às ruas para expressar sua indignação. Depois do impacto que as manifestações causaram nas redes sociais, outros protestos ocorreram em áreas que sofrem com problemas similares. Por volta das quatro da manhã, as manifestações se espalharam nacionalmente.

Foi depois do comunicado de Díaz-Canel, no qual ele chamou pelos “revolucionários” para confrontar os manifestantes, que uma repressão dura começou contra marchas pacíficas, junto com fortes confrontos com a polícia.

Todas as marchas foram espontâneas e terminaram desorientadas e facilmente dispersas. O corte de internet também reduziu sua visibilidade, enquanto uma avalanche imediata de desinformação do estado proclamou que os protestos tinham terminado em diversos lugares. A comunicação sofreu um grande dano durante todo esse processo, já que as únicas coisas que estavam passando eram as notícias tendenciosas da mídia oficial e muitas fake news se espalharam pelos aplicativos de mensagem. Isso contribuiu significativamente para a redução das tensões, mas o retorno da internet e das publicações de testemunhas sobre a repressão não permitiram um retorno absoluto à normalidade. Nestes dias, a maioria dos espaços de organização está focado na luta para libertar os que foram presos – mais de 500 pessoas, de acordo com algumas listas.

Ao longo da nossa discussão, nós conversamos, no contexto da revolta: tanto em termos do embargo dos Estados Unidos, da crise econômica, dos desligamentos de energia, da pandemia de COVID-19, da maquiagem de classe e raça das manifestações, do impacto do ódio crescente acerca da brutalidade policial e da autoridade do estado, da divisão histórica entre o campo e as áreas urbanas, do papel, tamanho e escopo dos reacionários, das correntes pró-US e pró-intervenção dentro dos protestos, repressão dos manifestantes, incluindo anarquistas e outros anticapitalistas e da discussão sobre como a esquerda respondeu aos protestos aqui e nos Estados Unidos.

Nós encerramos falando sobre o pequeno, porém crescente, movimento anarquista em Cuba e como as pessoas podem apoiar projetos autônomos e de ajuda mútua por lá. Também falamos sobre a importância de recordar a história anarquista de Cuba.

Mais informação: Apoie programas de ajuda mútua aqui (instagram.com/cubanospalante/?hl=en); Apoie anarquistas cubanos aqui (facebook.com/TallerLibertarioAlfredoLopez); Entrevista da CrimethInc com anarquistas cubanos aqui (crimethinc.com/2021/07/22/cuban-anarchists-on-the-protests-of-july-11).

>> Escute o podcast aqui:

https://itsgoingdown.org/?powerpress_pinw=207369-podcast

Fonte: https://itsgoingdown.org/cuban-anarchists-on-context-and-importance-of-the-recent-wave-of-protests/

Tradução > Calinhs

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agência de notícias anarquistas-ana

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