Acabo de saber pela publicação Núcleo de Sociabilidade Libertária (NU-SOL) [1] da morte de meu amigo Pietro, 7 dias depois da morte do compa Jacinto.
Abaixo (se alguém estiver interessado), compartilho estas breves linhas de sua breve estadia no México.
Conheci Ferrua fisicamente em 2010, durante uma visita que ele fez ao México [2].
Percebi que a luta diária pela sobrevivência, as diferentes circunstâncias que nos encontramos, etc., nos afastam de nossos companheiros e amigos que estão longe, como no caso de Pietro, do qual a última vez que recebi notícias, via e-mail, foi em 6 de fevereiro de 2018, onde ele nos informou (um grupo de amigos e conhecidos) que:
Depois de perder minha filha em dezembro de 2009 e meu filho em maio de 2016, minha saúde se deteriorou e tive que me aposentar… Quanto à minha esposa, ela tem mais mobilidade, mas não pode mais cuidar de mim devido à sua recente operação de câncer.
Na mensagem ele indicava que iria se mudar para outro lugar e que quando estivesse instalado em sua nova casa, ele nos informaria. Respondi, entre outras coisas, que uma vez que ele compartilhasse sua localização, eu lhe enviaria um exemplar do livro Surrealismo e Anarquismo “Proclamas Surrealistas” em Le Libertaire, compilado por Plínio Augusto Coelho, que publicamos sob a editora Banderas Negras, porque Plínio acrescentou a este livro, o ensaio de Pietro Ferrua sobre a relação estabelecida entre anarquistas e surrealistas, de 1951 a 1953, agradecendo a Ferrua por ter lhe proporcionado esta valiosa contribuição.
…o resultado de pesquisas pacientes ao longo dos anos e que foi apresentado na inauguração do Instituto Anarchos em 5 de junho de 1982 na Universidade de Montreal, Canadá. Foi publicado no mesmo ano, em Paris, pelo Le Monde Libertaire.
Infelizmente nunca mais tive notícias de Pietro, escrevi para ele, mas não obtive resposta e tentei me comunicar com ele e sua companheira Diana através de uma amiga veterana que também sofria das doenças da vida (do qual, por sinal, também não tenho notícias), por causa dessas doenças e enfermidades ela não pôde ir ver Pietro e Diana e me dar qualquer notícia.
Após este encontro com Pietro em 2010, fui contatado por dois amigos do Brasil, dos quais não tinha ouvido falar até hoje, mas sei que eles estão bem por causa de outros companheiros e a quem voltarei a contatar, assim que terminar estas linhas, estou falando da pesquisadora Claudia Tolentino e do companheiro Marcolino Jeremias.
Eu estava interessado em contatar Pietro porque ele tinha escrito alguns livros sobre o México: Anarquistas na Revolução Mexicana: Praxedis G. Guerrero, La Fiaccola, Ragusa, 1976 e Ricardo Flores Magón e a Revolução Mexicana, Anarquismo, Catania, 1983. O primeiro título foi publicado em espanhol até 2012, com o apoio do amado Jacinto Barrera; o segundo título, tanto quanto eu sei, não foi traduzido para o espanhol. Além disso, como Ferrua estava no México em 1984, onde então conheceu pessoalmente Omar e Chantal de Ediciones Antorcha, a visita de Ferrua foi a convite do cineasta Raúl Kamffer para a apresentação de palco da obra Morte acidental de um anarquista, de Dario Fo [3] (a propósito, o companheiro Delfino, anarquista dos anos 70, ouvinte(sic) do ENAH, me disse que este trabalho, em particular deste diretor, é o que ele viu que mais o comoveu, tanto que ele costumava deixar seus alunos da escola secundária e primária irem para vê-lo como tarefa de casa), diria Ferrua:
Naquela época Benjamín Cano Ruiz e outros membros da geração mais velha, que tive o prazer de conhecer, assim como Omar e Chantal, ainda estavam vivos. Tudo era excepcional, mas os anos se passaram.
Com o fragmento acima percebo que o mesmo acontece com Ferrua e os compas em geral, com o passar do tempo, o contato se perde, e também que, como agora, as pessoas idosas da época estão morrendo. Durante o evento que realizamos na CSL-RFM, convidamos Omar e Chantal, mas eles não puderam comparecer, eles me disseram em uma mensagem em 10 de junho de 2010:
Obrigado pela informação.
Como não podemos participar desses eventos, poderia transmitir nossos mais calorosos cumprimentos aos companheiros? Alguns deles não os vemos há muitos, muitos anos. Por exemplo, se nos lembramos corretamente, pensamos que foi no início dos anos 80 que vimos pela última vez Pietro Ferrua. Já se passaram trinta anos.
Realmente, por favor, transmita nossas saudações.
Agradecemos antecipadamente
Com sinceridade,
Chantal e Omar
Voltando a Kamffer, na primeira edição da revista Anarchist Film and Video, editada por Russell Campbell em 2009, há uma descrição de Pietro Ferrua na qual ele menciona Kamffer como: “um cineasta mexicano que tinha se esforçado para relatar a contribuição anarquista à Revolução Mexicana”, referindo-se ao filme Ora sí ¡Tenemos que ganar! inspirada nos contos de Ricardo Flores Magón.
Ferrua foi então contatado por meu amigo Walter Dominguez, naquela época seu filme Weaving the Past: Journey of Discovery (sobre a relação de Praxedis com Emilio Hernandez, avô de Walter durante seu ativismo anarquista e a vida posterior do avô após a morte de Prax), o filme ainda não estava pronto, e Ferrua teria gostado muito que no colóquio do INAH do qual ele participou, onde este documentário foi apresentado.
…pela simples razão de não ter aparecido em nenhum banco de dados, caso contrário teria recebido uma alta prioridade. A razão é muito simples: o mesmo Instituto (INAH) traduziu meu livro do italiano para o espanhol, que foi publicado em 1976 (e que está esgotado no idioma original) com o título: ANARCHICI NELLA RIVOLUZIONE MESSICANA: I PRAXEDIS G. GUERRERRERO. [4]
A apresentação do documentário no México não foi possível até vários anos depois.
Depois das jornadas terem passado, Jacinto me escreveu em 25 de junho declarando isso:
Caro Carlos: Ferrua me escreveu sobre a sessão de sábado: Ele estava muito feliz.
Os vídeos a seguir mostram a participação de Pietro no México:
https://www.youtube.com/watch?v=ETUOlKGWZTM
https://www.youtube.com/watch?v=MtCQBeLLrYE
No final, a morte nos alcança a todos!!!
31/08/2021
Carlos (anemias)
Notas
[1] https://www.nu-sol.org/blog/pietro-ferrua-um-anarquista-1930-2021/
[2] https://www.portaloaca.com/historia/biografias/15607-hasta-la-proxima-jacinto.html
[3] E-mail de 12 de maio de 2010.
[4] E-mail com data de 5 de novembro de 2010.
Tradução > Liberto
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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2021/09/01/pietro-ferrua-um-anarquista/
agência de notícias anarquistas-ana
uma folha cai
o chão cheio de folhas
o vento distrai
Marcio Luiz Miotto (Pitu)
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!