Por Batur Ozdinc | 05/03/2022
Um grupo de anarquistas ucranianos morando em Kiev declararam ter se unido à resistência popular contra a invasão russa e organizaram seu próprio grupo – levando a muitos debates entre círculos anarquistas. Uma vez que não conhecemos suas circunstâncias, pode-se pensar que são puramente pessoas a favor da OTAN, anarquistas nacionalistas confusos, ou ainda apoiadores do neonazismo. Na realidade, não o são! De acordo com suas declarações antes da e durante a guerra, sabem exatamente o que a OTAN, o capitalismo, o nacionalismo e o imperialismo são; e são contra todos eles. Para mim, são apenas um grupo de camaradas que se encontraram no meio de uma guerra e estão tentando encontrar uma maneira de defender suas próprias vidas e suas próprias ideias.
Pessoalmente (talvez como muitos e muitas anarquistas), acredito que o “Estado russo” (exceto por Donbass ou seja lá o que for) não tem “direito” algum de invadir a Ucrânia com a desculpa de se defender contra a OTAN. Nesse sentido, a resistência do povo local civil na Ucrânia (embora não a do exército ucraniano) pode ser visto como “correto”. Todavia, a guerra tem dois oponentes; ambos apoiam o capitalismo, embora um possa parecer mais opressor e imperialista. Além disso, o Estado e a máquina capitalista estão provocando civis uns contra os outros e impondo ideias nacionalistas – em alguns casos, levando a massacres ou genocídio, como ocorreu no último período otomano contra os armênios e na Alemanha nazista contra judeus e romenos. Assim, embora à primeira vista pareça “inocente”, a “resistência civil” pode levar a linchamentos, massacres contra outras nações e oponentes, ou acabar por estabelecer um novo Estado “nacionalista”.
Apoiar o “lado” ucraniano não é o mesmo que anarquistas fizeram no passado durante a revolução de 1936 na Catalunha (assim chamada guerra civil na Espanha), na qual instituições capitalistas, religiosas e estadistas foram questionadas, nem tem algo a ver com o que se passa em Rojava (Norte da Síria), que é largamente influenciado pelas ideias de Bookchin. A Ucrânia pode ser mais “democrática” e uma sociedade aberta em um sentido liberal (mais do que a Rússia), mas ainda é um Estado capitalista.
Por outro lado, a atmosfera anti-Rússia dirigida pela mídia ocidental está, de alguma forma, transformando-se em um tipo de racismo, uma hostilidade contra o povo e a cultura russa como um todo – não apenas Putin, o Estado russo ou o imperialismo. Acredito que isso seja algo que – como anarquistas – deveríamos ser contra, enfatizando que a OTAN é tão ruim quanto (talvez em alguns casos seja até pior do que) o imperialismo russo.
Anarquismo e “guerra” são dois conceitos diferentes que não discordam totalmente. Muitos de nós ainda usamos o termo “guerra de classes” em alguns casos, mas o que queremos dizer não é o mesmo que os apoiadores de Estado. Não defendemos a ideia de um grupo de “pessoas permanentemente armadas” organizadas para defender um país (um exército organizado), ou mesmo (como a maioria dos e das anarquistas) não apoiamos qualquer “exército”. Em geral, somos simpáticos às lutas libertárias das guerrilhas; que almeja uma revolução social ou autodefesa (ou ambos). Em alguns casos, embora nos encontremos em cooperação com diferentes forças (capitalistas, estadistas, ou até imperialistas), como diz Durruti: “nenhum governo no mundo luta até a morte contra o fascismo,” e devemos saber que essa cooperação é temporária e algo com o que não simpatizamos muito.
Para muitos de nós, é fácil dizer “Não a Guerra e Não a OTAN e o Imperialismo Russo“. Em turco, dizemos “Davulun sesi uzaktan hos gelir” (“O tambor soa legal quando distante” – “A grama parece mais verde do outro lado“). Por outro lado, li muitas coisas sobre a repressão contra os anarquistas bielorrussos que foram forçados a deixar o país (em sua maioria para a Ucrânia e a Polônia); também, posso apenas imaginar o quão difícil é viver e sobreviver em um país que é invadido por um Estado imperialista como camaradas ucranianes fazem. Então, posso apenas inferir como sofrem nas mãos de opressores na Bielorrússia e na Rússia, no sentido de que tento entender sua raiva contra o imperialismo russo.
Na análise final, embora (como anarquistas) nossas ações e expressões podem diferir dependendo do tempo e espaço, somos todos e todas contra o Estado, o capitalismo e o imperialismo. Nessas circunstâncias, enquanto como uma exceção possamos cooperar com forças não-anárquicas, não devemos nos esquecer do fato de que quem lutamos lado a lado agora pode ser nosso inimigo no futuro próximo. Nosso principal objetivo deve ser o desenvolvimento de solidariedade internacional entre camaradas e a classe trabalhadora; e continuar com a luta contra a guerra.
Tradução > Sky
agência de notícias anarquistas-ana
terreno baldio
lixo revirado
gato vadio
Carlos Seabra
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!