[Reproduzimos a seguir a carta pública da mãe de um dos 19 detidos naquela noite de 28 de novembro em Madri.]
Sou a mãe de um dos garotos que, na madrugada ou na manhã de quinta-feira, dia 28, sofreu a detenção de seu filho. Eu não presenciei, pois a brigada de informação esperou que eu saísse. Meu marido entregou meu filho, depois de pedir a identificação dos agentes. O que ele havia feito? Foi levado algemado ao longo de toda a rua, observado por todos os vizinhos. Não deram nenhuma informação, pois se tratava de algo confidencial. Meu marido começou a duvidar sobre quem haveria levado seu filho de 21 anos.
Depois de horas de angustia e depois de uma concentração e vários coletivos frente à delegacia (dispersada por uma carga dos antidistúrbios), fomos para casa sem saber de nada.
Depois vimos na ABC um vídeo no qual os detidos desfilavam por um pátio, escoltados por vários agentes policiais. Meu filho nos contou que o fizeram desfilar até chegar a um muro sem saída.
Não entendo o objetivo deste “desfile” e sim, recorda tristemente Guantánamo. Ainda menos entendo sua divulgação na web da ABC e tampouco entendo as declarações no Twitter da Delegada do Governo (que está de licença), a propósito dos “delinquentes com antecedentes” que atacaram a [faculdade de] Direito.
Onde está a presunção de inocência do Estado de Direito?
O tratamento que têm dado todos os meios a este episódio tem sido bastante degradante. Ninguém tem respeitado a presunção de inocência dos detidos, nem averiguado que muitos dos deles não estiveram presentes na manifestação e, se estiveram, não entraram na [faculdade de] Direito ou, que se entraram, não passaram da entrada e não agrediram ninguém.
Alguns estavam no trabalho neste dia e o demonstram suas fichas e os testemunhos.
Sinto dor pelas detenções arbitrárias e desonrosas destes garotos. Eles protestam, sim, e o que os sobra? Aceitar o desemprego, emigrar, mendigar… estudar para nada. Para ao se manifestar, ser detidos, golpeados, humilhados, multados?
Por outro lado, os verdadeiros delinquentes, os de colarinho branco que tem roubado cifras milionárias do povo, são indultados, tratados com quase admiração e todos pagamos por sua má gestão, seu meter a mão na caixa a mãos cheias.
Golpear os de baixo é fácil, desonrá-los muito mais. Sem embargo, que tipo de jovens são os que aceitam este holocausto da juventude sem resistência?
Como se tem procedido a deter e acusar a estes garotos e garotas pertencentes a coletivos tão diversos? Qual foi o critério? Onde estão as provas de suas agressões a outros estudantes? Por que esta atuação tão aparatosa para deter a uns tantos garotos e garotas, cujo maior delito é sair à rua a protestar?
Quem vai poder sair agora à rua com a nova lei para protestar, manifestar seu inconformismo com o sistema? Como estar de acordo com este sistema que nos empobrece, nos humilha, nos abandona e nos amordaça?
Frente aos juizados da Plaza de Castilla se congregaram diversos coletivos, para esperar a liberação dos detidos no dia seguinte. O aparato policial era impressionante. Aí estavam os chamados “yayoflautas” [coletivos de aposentados], também os aposentados afetados pela preferenciais que vinham andando desde Gênova, onde haviam se manifestado. Gente muito diferente quanto a sua ideologia. Seu elo: não ficar quietos ante a injustiça.
Esperemos que as campanhas midiáticas não enturvem mais a honra daqueles que se opõem. Que os jornalistas exerçam seu trabalho contrastando adequadamente o que lhes dizem ou que o averiguem por si mesmos, como é seu dever. Que não se permitam vídeos de exibição de detidos, para conformar a quem?
Os detidos saíram com acusações contra os direitos fundamentais. Quanta ironia!
Estão nos amordaçando e estamos perdendo todos os escassos ganhos do último século que se conseguiram com sangue, dor e morte.
Gloria García Molina
Tradução > Caróu
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