Emili Cortavitarte, presidente da Fundação Salvador Seguí, apresentou em Oviedo/Uviéu uma antologia de textos do anarquista catalão.
Por Diego Díaz Alonso | 30/01/2024
Emili Cortavitarte é historiador, autor de uma extensa obra sobre anarcossindicalismo e pedagogia libertária. Professor aposentado do ensino médio, foi secretário-geral da CGT da Catalunha de 1989 a 1998, bem como secretário de seu sindicato de educação em Barcelona. Presidente da Fundação Salvador Seguí desde 2013, esteve nesta segunda-feira em Oviedo/Uviéu a convite do sindicato para apresentar uma antologia de textos do histórico líder anarco-sindicalista, cofundador da CNT e animador do dinâmico movimento cultural associado à Confederação e ao universo libertário.
Nascido em Lleida em 1887 e morto pelas balas dos patrões em 1923 nas ruas de Barcelona, a CGT agora dedica uma exposição a Seguí, que pode ser vista esta semana no La Lila, em Oviedo/Uviéu, e na próxima semana no Ateneo de La Calzada, em Xixón.
Quem foi El Noi del Sucre?
Ele era o pseudônimo de Salvador Seguí i Rubinat, provavelmente o anarquista e anarcossindicalista mais importante das duas primeiras décadas do século XX e cuja figura transcende as esferas catalã e espanhola.
Quais foram as principais contribuições de Seguí para o movimento operário de sua época?
Embora, como ele disse, o sindicalismo seja um trabalho comum e coletivo, podemos destacar: os sindicatos únicos, que agruparam os sindicatos e as sociedades de trabalhadores por setores de produção e deram ao sindicalismo uma maior capacidade de confronto social e uma organização melhor e mais moderna; a necessidade de unidade da ação sindical; o fortalecimento do treinamento e da educação dos cenetistas para preparar a revolução social; o caráter sociopolítico da CNT, ou seja, que a Confederação deveria intervir em todos os aspectos que afetam as classes trabalhadoras – moradia, preços de subsistência, saúde, educação – e não apenas em questões trabalhistas; e sua ligação do anarquismo com o sindicalismo, um anarquismo ligado às classes trabalhadoras.
O nacionalismo reivindicou uma certa tradição libertária catalã baseada em El Noi. O que é verdade nisso?
El Noi era um federalista ou, melhor dizendo, um confederalista. Suas intervenções e escritos podem nos permitir situá-lo em um amplo campo do catalanismo popular de influência libertária e, ao mesmo tempo, de internacionalismo de classe.
O que sabemos sobre seus assassinos?
Aqueles que o mataram receberam 15.000 pesetas, mas aqueles que pagaram, aqueles que ordenaram a morte de Seguí, eram famílias que seguem sendo importantes na Catalunha. Elas ainda não foram mencionadas nas homenagens institucionais prestadas em seu centenário.
Se tivesse sobrevivido, teria evoluído para a participação política do sindicalismo?
Não creio que seja correto especular sobre isso. Mas se por participação política queremos dizer participação institucional, Seguí deixou claro em várias entrevistas que nunca seria membro do parlamento. Na resolução da Conferência de Zaragoza (1922), ele escreve que a consideração dada à palavra política como “a arte de governar os povos” é errônea e que quando o anarcossindicalismo se refere à política, está se referindo às “ações de todos os tipos de indivíduos e coletividades”.
Quem eram os herdeiros de Noi dentro da CNT?
Evidentemente, todos aqueles com quem ele colaborou estreitamente até seu assassinato em 1923: Joan Peiró, Ángel Pestaña, Josep Viadiu, Simó Piera…
Por que a CNT se enraizou mais na Catalunha do que em outras partes da Espanha?
Acho que há diferentes fatores: desde a participação de delegados catalães na Primeira Internacional e o subsequente desenvolvimento de organizações anarquistas e do sindicalismo; até a maior industrialização da Catalunha e, consequentemente, maiores possibilidades de desenvolver organizações sindicais; e, sem dúvida, a capacidade das pessoas da CNT de defender os interesses da classe trabalhadora e de contribuir com iniciativas (ateneus, cooperativas, apoio mútuo) que formaram uma construção social alternativa e libertária em oposição ao capitalismo e sua exploração, que foi o germe da nova sociedade.
O que resta da tradição anarquista na Catalunha?
Há uma tradição anarquista que vem da memória coletiva: da Semana Trágica, do Congresso de Sants, da Greve da Canadense e da conquista da jornada de trabalho de 8 horas, do 19 de julho de 1936 e da revolução social, das coletivizações industriais e agrárias, das Mujeres Libres, etc. Mas nem tudo é tradição. Na minha opinião, há um presente do anarcossindicalismo e do anarquismo na CGT, na CNT, na Solidaridad Obrera, na Embat… e várias experiências e práticas que se baseiam nessa tradição, mas que se encontram instaladas na realidade atual.
Quem você destacaria no anarcossindicalismo asturiano?
Eleuterio Quintanilla, tanto em seu aspecto pedagógico quanto sindicalista, contemporâneo de Seguí e com quem dividiu cargos no Congresso da Comédia da CNT (1919); Higinio Carrocera por suas ações na Revolução de 1934 e na Guerra Civil; Segundo Blanco, presidente do comitê de guerra de Gijón e quinto ministro republicano da CNT; Avelino González Mallada, professor e prefeito de Gijón entre 1936 e 1937; Ramonín Álvarez, padeiro, representante da FAI no Conselho Soberano de Astúrias e León, secretário-geral da CNT no exílio (1945-1947) e com quem tive reuniões nas décadas de 1980 e 1990 na CGT. E, embora asturiana por adoção nos últimos anos de sua vida, Lola Iturbe, autora de “La mujer en la lucha social y en la Guerra Civil en España” (A mulher na luta social e na Guerra Civil na Espanha).
Tradução > Liberto
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