Tecendo Caminhos à Revolução Ecológica

Em Belém, trabalhadores são explorados e partes da Amazônia devastadas para receber a COP30, a cúpula anual do clima patrocinada pela ONU. Há 30 anos, líderes governamentais, cientistas, grandes ONGs e corporações de todo o mundo afirmam que vão resolver o problema, mas ele só piora. Não surpreende, porque as instituições que tentam monopolizar as soluções são as mesmas que causam o problema, destruindo nossos ecossistemas, nos explorando, cortando nossos serviços de saúde e colocando em risco nosso acesso a alimentos, moradia, ar puro e água.

Não temos o luxo de confiar neles nem mesmo por mais um dia.

Em novembro, enquanto os ricos e poderosos se encontram e fazem acordos, uma rede anticolonial com ramificações em todo o mundo se unirá ainda mais. Anarquistas lutando nas cidades por moradia, saúde e transporte gratuito e contra o autoritarismo que destruiu revoluções anteriores. Comunidades rurais que fugiram da pobreza extrema nas cidades, sobreviventes do colonialismo e da diáspora africana, retomando terras das garras do agronegócioe de outras indústrias extrativistas, curando-as, cultivando seus próprios alimentos e, então, compartilhando-as por meio de suas redes em expansão. Povos indígenas que chamam a Amazônia de lar, que a defendem, que cuidam da floresta e dos rios e nunca perderam as formas ecossistêmicas de organizar suas comunidades.

Queremos fortalecer nossos laços e aprender uns com os outros. Queremos mostrar ao mundo que toda nós podemos nos desconectar desta Máquina que destrói a vida. Queremos deixar claro que o Estado, capitalistas, especialistas, as grandes instituições de caridade não vão nos salvar desta enorme crise que eles causaram. E queremos disseminar exemplos de como é uma mudança real, para que pessoas em todos os lugares possam apoiar tais iniciativas em suas próprias regiões ou iniciar novos projetos e se juntar a esta rede crescente, uma rede que não é um Partido ou uma organização única. Não queremos que vocês abram mão de sua autonomia, de seu pensamento crítico, de sua história. Queremos conversar com você, para que possamos aprender umas com as outras e apoiar uns aos outros em um espírito de solidariedade e ajuda mútua.

Para isso, precisamos da sua ajuda: pagando o transporte enquanto cruzamos as fronteiras que nos separam. Pagando a alimentação básica enquanto alguns de nós pegamos a estrada para encontrar novos amigos e aprender sobre projetos e lutas de São Paulo a Belém, distâncias de milhares de quilômetros. Pagando equipamentos que nos ajudarão a dar entrevistas e a produzir documentários sobre o que estamos aprendendo. E trazendo recursos para projetos que possam inspirar resistência ao redor do mundo.

Doe o que puder. Compartilhe com amigos. E quando os artigos, entrevistas, podcasts e vídeos deste projeto começarem a sair nos próximos meses, por favor, ajude-nos a divulgá-los e traduzi-los!

>> Apoie aquihttps://www.firefund.net/pathstoecorevolution

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Escudo de papel:
as leis são frágeis diante
de um poema em brasa.

Liberto Herrera

[Grécia] Três dias de memória e luta pelo companheiro Kyriakos Xymitiris e pela causa de Ampelokipoi

Um ano após a explosão na rua Arcádia em 31/10/2024, que teve como trágica consequência a perda do combatente armado e nosso querido companheiro Kyriakos Xymitiris, mas também a prisão de nossos companheiros/as, honramos sua memória e lutamos pela libertação de todos/as que estão presos/as nas celas da democracia.

Na quinta-feira, 30/10, às 18h00, na Universidade Panteion, será realizado um evento com o tema Memória Revolucionária e a apresentação de um livro com casos de combatentes que caíram lutando de forma semelhante. No evento participarão companheiros/as do exterior com experiências parecidas.

Na sexta-feira, 31/10, às 18h30, convocamos uma marcha no centro de Atenas em memória do combatente armado Kyriakos Xymitiris e contra as perseguições e prisões preventivas de companheiros/as que ocorreram com motivo da explosão em Ampelokipoi.

No domingo, 02/11 (em horário a ser anunciado posteriormente), será co-organizado com a família e seus próximos, o memorial político do companheiro no cemitério de Maroussi.

KYRIAKOS XYMITIRIS UM DE NÓS – UM COMPANHEIRO PARA SEMPRE NAS RUAS DE FOGO

LIBERTAÇÃO IMEDIATA DAS COMPANHEIRAS MARIANNA MANOURA, DIMITRA ZARAFETA, DOS COMPANHEIROS DIMITRI E NIKO ROMANOS E DO A.K.

Os estados são os únicos terroristas. Solidariedade aos guerrilheiros armados.

Assembleia de Solidariedade às Companheiras e aos Companheiros Presos, Fugitivos e Perseguidos

Conteúdos relacionados:  

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/10/15/grecia-para-o-camarada-kyriakos-xymitiris/
 
https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/02/17/alemanha-manifestacao-selvagem-em-memoria-de-kyriakos-xymitiris/
 
https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2024/11/19/grecia-o-anarquista-nikos-romanos-foi-preso-no-contexto-da-perseguicao-policial-apos-a-morte-de-kyriakos-xymitiris/  

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O jantar chique: máscaras
de prata sobre a podridão
do lucro fácil.

Liberto Herrera

[Itália] Viva a FAI!

Já passou uma semana desde o Congresso de estudos organizado para celebrar os oitenta anos da constituição da Federação Anarquista Italiana (FAI). Um congresso em memória de Italino Rossi, companheiro federado que nos deixou há um ano. A organização deste evento fazia parte daquela promessa de levar adiante os valores que nos uniram no percurso de vida compartilhado.

Italino, com sua cultura e sua viva paixão pela história, certamente teria apreciado as várias intervenções que se sucederam no pequeno auditório do Teatro Animosi. Nas falas — políticas, históricas e culturais — houve emoção, lágrimas de alegria, mas também lágrimas de “militância”, daqueles que acreditaram e ainda acreditam em um percurso político que já completa oitenta anos.

É um belo número, mas a atualidade do pensamento anarquista e o renovado fervor das praças nos rejuvenescem e nos projetam em novas lutas com a maturidade e as características intrínsecas da Federação: internacionalismo, antiautoritarismo, solidariedade.

Muito empenho na organização, pois nos importava especialmente o sucesso desses dois dias para os companheiros e companheiras que vieram a Carrara e para toda a Federação. Sempre bonito e enriquecedor o confronto e o diálogo com as companheiras e os companheiros, ao compartilhar o Congresso e a convivência dos eventos que o rodearam.

Gratificante o agradecimento recebido dos trabalhadores do auditório do Teatro Animosi, dos técnicos de áudio e vídeo e dos restauradores de Carrara.

Concluo agradecendo aos palestrantes, moderadores, músicos e artistas gráficos, estendendo esse agradecimento a todos e todas os companheiros e companheiras que, com seu empenho, tornaram possível o sucesso deste fim de semana em tons vermelho e preto.

Manu’, pelo grupo Germinal

Fonte: https://umanitanova.org/evviva-la-fai/

Tradução > Liberto

Conteúdos relacionados:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/10/17/italia-anarquia-uma-ideia-sempre-nova-carrara-80-federacao-anarquista-italiana/

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/10/10/italia-vontade-de-anarquismo/

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Sol de primavera —
O despertar das flores
É quase um sussurro.

Paulo Ciriaco

[EUA] Mumia Abu-Jamal é uma vítima, mas não só isso – é um objetivo

Por Mike África Junior | 21-10-2025

O objetivo do departamento de polícia mais violento da história deste país. A única cidade que lançou uma bomba sobre pessoas inocentes e crianças inocentes. O mesmo sistema que celebrou sua brutalidade sob o punho de ferro de Frank Rizzo, um homem que levava o racismo como uma medalha de honra.

Mumia não teve nenhuma oportunidade em seu julgamento, porque nunca foi um julgamento. Foi um linchamento com um martelo. O juiz Albert Sabo nem sequer tentou ocultá-lo. Ele disse em voz alta: “Vou ajudá-los a fritar o negro“.

Isso não é justiça. É genocídio com papelada.

A Filadélfia construiu seu poder destroçando os corpos das pessoas negras e silenciando os que falavam demasiado alto. E a voz de Mumia – aguda, intrépida, revolucionária – ameaçava em trazer à luz todas as suas camadas podres.

Não podiam igualar seu intelecto, assim que o fecharam em uma jaula.

Liberdade a Mumia!

Fonte: https://desdedentro.noblogs.org/post/2025/10/23/ee-uu-mumia-abu-jamal-es-una-victima-pero-no-solo-eso-es-un-objetivo/

Tradução > Sol de Abril

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Lua de primavera
Revela-me teus segredos
Há anos te conto os meus

Pésce Roizenblit

Gaza é o Rio de Janeiro. Gaza é o mundo inteiro.

Por Raúl Zibechi | 29/10/2025 | Uruguai

Não há palavras suficientes para descrever o horror que nos causa o massacre de mais de 130 jovens negros pobres assassinados pela polícia do Rio de Janeiro, com a desculpa de atacar o narcotráfico.

Foi uma operação de guerra urbana em que o governo do estado mobilizou 2.500 policiais militares armados para a guerra, além do envio de blindados e helicópteros para atacar os complexos de favelas da Penha e do Alemão, na zona norte da cidade, uma área com forte concentração de população pobre. São dois conjuntos de favelas com mais de 150 mil habitantes, com uma enorme densidade populacional.

O governo do Rio disse que houve 60 mortos, mas a população das favelas levou às praças mais de 50 corpos que não constavam na contagem oficial, deixando dúvidas sobre quantos foram assassinados. Até agora, o número ultrapassa 120.

As reações não se fizeram esperar, desde organizações de direitos humanos até as Nações Unidas, que se dizem “horrorizadas” com o massacre. Além dos dados, há fatos relevantes.

O genocídio palestino em Gaza é o espelho onde devemos nos olhar, nós, povos e pessoas oprimidas do mundo. Para os que estão no topo, abre-se um período de caça indiscriminada à população “excedente”, porque têm garantida a impunidade. Agora, mais do que nunca, Gaza somos todos e todas. Pode ser Quito, San Salvador, Rosário ou Tegucigalpa; o Cauca colombiano ou Wall Mapu; talvez a montanha de Guerrero ou as comunidades de Chiapas. Agora, todos e todas estamos na mira de um capitalismo que mata para acumular mais rapidamente.

Dizem narcotraficantes com a mesma insensibilidade com que matam palestinos, mapuches ou maias. São apenas desculpas. Argumentos para as classes médias urbanas. Mas a história recente nos diz que eles estão criando laboratórios para o genocídio.

No tranquilo Equador, quando os povos os derrotaram na revolta de 2019, eles reagiram libertando criminosos das prisões transformadas em espaços de extermínio, onde a mídia mostrava presos jogando futebol com a cabeça de um decapitado.

No Cauca, a mineração a céu aberto e o cultivo de drogas exacerbaram a violência paramilitar contra as comunidades nasa e misak que resistem e não se rendem, tornando a região a mais violenta de um país violento.

No território mapuche, tanto no Chile quanto na Argentina, os poderes decidiram que aqueles que não se submetem devem ser chamados de “terroristas”, com o resultado de que hoje há mais presos mapuches do que durante as ditaduras de Pinochet e Videla.

No México, tudo está claro, tão claro que a mídia e os governos não querem que vejamos, mascarando a violência com discursos que apenas mencionam sua cumplicidade. A violência sistemática em Guerrero e em Chiapas deveria ser motivo de escândalo.

No Rio de Janeiro, um sociólogo costuma dizer que o narcotráfico não é um Estado paralelo, mas o Estado realmente existente. Incluindo todos os governadores das últimas décadas, com sua comitiva de empresários mafiosos, de deputados e vereadores que formam um poder herdado dos esquadrões da morte da ditadura militar.

Gaza nos coloca em outro lugar, diante de outros desafios. O primeiro é compreender que a morte é a razão de ser do sistema capitalista. O segundo é entender que esse sistema é integrado pelas direitas e pelas esquerdas, pelos conservadores e pelos progressistas. O terceiro é que devemos nos organizar para nos proteger, porque ninguém vai fazer isso por nós.

O mundo que conhecíamos está desmoronando. Choremos por esses jovens assassinados no Rio, por esses corpos estendidos no asfalto.

Transformemos nossas lágrimas em rios de indignação e torrentes de rebeldia.

Fonte: https://desinformemonos.org/gaza-es-rio-de-janeiro-gaza-es-el-mundo-entero/

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A fúria é semente.
Da rachadura no asfalto,
nasce o novo trigo.

Liberto Herrera

Um livro sobre anarquismo em Abya Yala


Por Alf Bojórquez

Olá. Escrevo do México. Sou uma escritora trans e não binária. Há alguns meses está circulando meu segundo livro — um ensaio pessoal que explora o tema do anarquismo latino-americano — intitulado Não existe dique capaz de conter o oceano furioso. Potência, alegria e anarquismo. Está disponível na rede de distribuição da Traficantes de Sueños, Virus e Cambalache.

Meu nome é Alf Bojórquez, sou romancista e ensaísta de uma pequena cidade próxima a Cuba. Iniciei o caminho que desemboca neste livro editando e traduzindo para a editora Tumbalacasa. Coordenei a tradução, em parceria com Traficantes de Sueños, AK Press e Tumbalacasa, de Militancia alegre. Tejer resistencias, florecer en tiempos tóxicos de Nick Montgomery e Carla Bergman. Tenho ministrado oficinas na América Latina, Europa, Estados Unidos, Filipinas e Marrocos. Tenho também um podcast intitulado Un sueño largo, ancho y hondo, disponível em todas as plataformas, onde trato há anos das problemáticas da narrativa, da arte e da teoria crítica.

Não existe dique capaz de conter o oceano furioso é um livro que defende a alegria: uma capacidade que surge sem aviso prévio, sem antecipação nem planejamento. Desde que trabalhei em Militancia alegre, tenho me concentrado nesse tema porque acredito que é uma forma de definir o anarquismo de modo afirmativo e não apenas negativo (contra o Estado, o capital, o patriarcado etc.). O anarquismo, para mim, é a favor da alegria e da improvisação (é expansivo em termos spinozianos, isto é, de ação), portanto, não teme tanto o erro.

Desde o stalinismo, o anticapitalismo em geral tende a ser cinza, áspero, mecânico, melancólico, trágico, sombrio, gótico — por isso venho há anos criticando a vertente capacitista e adultocêntrica que, junto com tudo isso, nos diminui. Não existe dique capaz de conter o oceano furioso é um livro que busca libertar o anarquismo de si mesmo — de suas bandeiras rígidas, de suas personagens engessadas e previsíveis — para expandi-lo a novos horizontes coletivos onde caibam mais mundos e formas de vida. Além disso, aborda como as ideias e práticas anárquicas viajaram para a América e se somaram às lutas anticoloniais, às revoltas de indígenas e de pessoas escravizadas.

Não existe dique capaz de conter o oceano furioso é um ensaio pessoal sobre a extrema esquerda, com um estilo agradável e ágil, que fala das lutas atuais. É o resultado de minhas colaborações com a Asamblea de Defensores del Territorio Maya Múuch XíimbalaOrganización Popular Francisco Villa de Izquierda Independiente e a Preparatoria Comunitaria José Martí. É uma autobiografia desde e em direção ao político, que atravessa muitas outras questões que podem interessar a vários tipos de leitores. É um ensaio sobre adolescência, proletariado, necessidade de pertencimento, os povos, o zapatismo, as subculturas urbanas nos países colonizados. Por isso é narrado com um tom poético e pessoal.

O PDF do livro está disponível para download gratuito em: https://archive.org/details/no-existe-dique-digital

Com esta pesquisa poética busco dar visibilidade ao anarquismo mexicano. No livro, defendo que, embora seja uma invenção europeia, na América Latina ressignificamos o anarquismo ao integrá-lo às lutas anti-imperialistas e anticoloniais em diferentes momentos da história. Por trás do progressismo de Boric, Petro, Lula, Kirchner e Sheinbaum há um proletariado enfurecido — uma linha de frente que saiu para defender o pouco que nos resta antes que o protesto social fosse reciclado pela socialdemocracia latino-americana. O ciclo insurrecionalista das últimas duas décadas chegou ao fim com o agravamento do genocídio na Palestina e a ascensão de Trump e Milei. A conjuntura deste momento histórico nos convida a retomar o antifascismo e repensar a revolução.

Não existe dique capaz de conter o oceano furioso é um livro autopublicado. Fiz sozinha minha própria distribuição, indo aos correios enviar um exemplar após o outro para as pessoas que ouvem meus podcasts. Por isso mesmo disponibilizei gratuitamente o PDF — para divulgar minhas (auto)críticas ao anarquismo.

Se tiverem interesse no meu trabalho, nas mesmas distribuidoras encontra-se meu primeiro livro, um romance sobre um amor adolescente em uma cidade devastada pelo colonialismo, intitulado Pepitas de calabaza.

Fonte: https://redeslibertarias.com/2025/10/29/un-libro-sobre-anarquismo-en-abya-yala/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Uma frente à outra,
floridas sibipirunas
trocam amarelos.

Reneu do A. Berni

Brasil Negro Insurgente | Anarquistas e socialistas libertários pretos e pardos da Primeira República

“Brasil negro insurgente” traz à tona vidas e lutas soterradas pela historiografia oficial. A partir de um extenso trabalho de pesquisa, o livro reúne dezenas de militantes pretos, pardos e indígenas que atuaram no campo da esquerda libertária e socialista durante a Primeira República.

O projeto

“Brasil negro insurgente” traz à tona vidas e lutas soterradas pela historiografia oficial. A partir de um extenso trabalho de pesquisa, o livro reúne dezenas de militantes pretos, pardos e indígenas que atuaram no campo da esquerda libertária e socialista durante a Primeira República.

Mais do que exceções em um movimento dominado por figuras brancas e imigrantes europeus, esses sujeitos constroem uma genealogia afro-brasileira da insurgência, uma história viva e radical que desestabiliza as narrativas oficiais sobre o operariado, o anarquismo e o socialismo no país.

Ao responder à pergunta incômoda “onde estão os libertários negros na historiografia brasileira?”, o autor desmonta explicações racistas que insistiram, por décadas, na suposta ausência das populações negras das ideias revolucionárias. O resultado é um mapa político de resistência, pedagogia e luta.

Entre os nomes reunidos estão homens e mulheres, operários, intelectuais, militantes de base, sindicalistas, educadores e agitadores culturais que atuaram nas ruas, nas greves, nos jornais e nas associações populares. Suas histórias revelam como a luta por emancipação racial e social sempre estiveram entrelaçadas no Brasil.

“Brasil negro insurgente” é uma obra urgente para tempos de apagamento. Ao devolver rostos negros e mestiços aos anarquismos e socialismos brasileiros, o livro propõe um novo ponto de partida: o reconhecimento da insurgência negra como parte constitutiva e não marginal da utopia libertária.

Com seu apoio, conseguiremos imprimir e distribuir esta obra de forma independente, sem concessões a grandes grupos editoriais ou interesses de mercado. A Editora Monstro dos Mares acredita que fazer livros é também fazer insurgência. Cada contribuição ajuda a sustentar um projeto editorial comprometido com a pluralidade, a justiça social e a memória das resistências.

>> Mais infos, apoiar o lançamento do livro, clique aquihttps://www.catarse.me/brasilnegroinsurgente

agência de notícias anarquistas-ana

O decreto impresso
amarela no sol—a rua
escreve com giz novo.

Liberto Herrera

[Reino Unido] O som dando base à fúria

Revisão de Anarcho-Punk por David Insurrection

~ Phil ~

Ter um lugar, um espaço, um centro local ou social, onde você se sinta em casa e rodeados por pessoas com interesses similares é algo muito poderoso. Um lugar onde se possa trabalhar, inspirar, criar ou relaxar, conversar ou meditar, um lugar para realizar eventos e campanhas de arrecadação de fundos… uma base sólida, um alicerce ou porto seguro pode ser vital para manter uma comunidade. Não é algo fácil de se conseguir em um período da história no qual muitas pessoas só existem online ou estão geograficamente distantes dos centros de atividade social.

Portanto, é extremamente útil saber o que pode ser feito e é bom saber como as pessoas conseguiram, tentaram e até falharam em criar comunidades no passado. Nos anos 1970 e 1980, na Grã-Bretanha, surgiu uma nova forma de ativismo que se ramificou da cultura musical, ou seja, do punk, que buscava uma autenticidade além da postura punk.

Junto com isso, surgiu um interesse pelo anarquismo e por novas formas sociais de conviver entre nós e com o ambiente. Essa é uma parte importante e muitas vezes obscurecida da nossa história social.

Não há dúvida de que, se não registrarmos a nossa própria história, perderemos muito. Perderemos a cultura e a capacidade de salientar o que foi feito, o que pode ser feito e continuar a ser feito. É fundamental fazer esse registro a partir das experiências de pessoas que se envolveram na criatividade cultural e na resistência.

Ter esse conhecimento pode nos dar inspiração, energia e resiliência. Ele nos dá a estabilidade da experiência e permite evitar repetir os mesmos erros.

Assim, chegamos a essa magnífica obra. Nessa história de mais de 200 páginas, David volta a atenção para a subcultura punk e a traz à vida com histórias e fotos. Olhando para trás, para locais significativos e eventos importantes do final dos anos 1970 e 80, o livro registra e documenta, nas suas palavras: “a história de uma cena muitas vezes esquecida” que “inspirou uma geração de ativistas, artistas e músicos a lutar por um mundo melhor”. Fala das pessoas, das bandas, dos locais e edifícios icônicos – dando voz às experiências daqueles que os usaram e mantiveram.

Após um prefácio de Tony Dayton, do fanzine Ripped & Torn (e também Kill Your Puppy), proclamando que o Crass era o que faltava na cena punk squat (e explicando como os punks, incluindo Adam Ant, se transformaram depois de ver Crass tocar), certamente ajuda a definir o cenário para o resto do livro.

Gostei da forma como o livro começa, estabelecendo imediatamente uma conexão entre o punk e o anarquismo da época. O ativismo antifascista também é um tema constante ao longo do livro.

“Bandas, zines, gravadoras e espaços autônomos autogeridos tornaram-se a frequência dessa nova cena”, explica ele, dizendo que sua “esperança é dar às pessoas um gostinho da época e das pessoas”, com a pesquisa servindo tanto como documento histórico quanto como guia.

Há muita história que eu não tinha lido antes sobre locais como o Wapping Autonomy Center e o Centro Ibérico, além de histórias sobre o Black Flag e os anarquistas espanhóis em Londres. Todas informações fascinantes que não se encontra facilmente.

Há muitas histórias interessantes e anedóticas sobre diferentes locais e bandas. Há uma discussão sobre o Monday Group e uma entrevista com Martin Wright, o que torna a leitura muito interessante.

O fato de que as histórias não sejam memórias nostálgicas e idealizadas também é um toque legal. Nem tudo era perfeito, nem todos se davam bem, nem todos se entendiam. Isso para não falar da violência fascista real que acontecia nos shows. Além da Hackney Hell Crew, é claro.

Há histórias de problemas pessoais e uma anedota interessante sobre alguém que deixou um squat, mas voltou e encontrou todos os colegas vestindo as suas roupas.

Pessoalmente, gosto muito da música daquela época e o livro traça um quadro interessante da vida e das experiências das bandas que compunham a cena anarcopunk. A primeira banda mencionada é Crass, claro, mas também temos Poison Girls, Icons of Filth, Omega Tribe, Conflict, Chumbawamba e muitas outras. Para seu crédito, várias bandas daquela época ainda podem ser encontradas tocando ocasionalmente hoje em dia.

Muitos dos locais mencionados no livro já não existem, muitos dos edifícios foram demolidos.

No entanto, as memórias permanecem vivas e, embora locais como o 121 em Brixton tenham sido tomados à força pelo Estado, outros sobreviveram. Há uma secção interessante que fala sobre a história da [livraria] Freedom, por exemplo, que continua forte. Todos compartilhamos dessa história e devemos assumi-la como nossa.

Temos uma tradição de espaços sociais, música, coletivos, publicações e uma cultura que continuamos a construir e a aprender, que continuamos a manter. Devemos aprender a celebrar isso, porque é a cultura e a história que nós mesmos criamos. É porque nos lembramos do nosso povo e do nosso poder, que nossa cultura não é vazia.

David Insurrection. 2024. Anarcho-Punk: Music and Resistance in London 1977-1988. Earth Island Books. ISBN 9781916864443.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/09/28/sound-providing-a-base-for-fury/

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

Desejo é revolta
contra a moral que acorrenta
o pulsar da vida.

Liberto Herrera

[Alemanha] Os Dias A de 2025: foi bom e muito obrigado!

7 dias – 33 eventos com mais de 2000 visitantes, muitos amigos, camaradas, novas experiências, impressões e deliciosas Küfas. Além disso, foram arrecadados mais de mil euros para os nossos camaradas na Ucrânia: agradecemos muito por essa maravilhosa semana de eventos.

O que realmente nos torna seguros?

Essa questão nos tem ocupado, visto termos um contexto político e social aqui em Dresden, desde que o ‘Escritório para a Proteção da Constituição’ nos classificou como “definitivamente extremistas de esquerda” já há mais de um ano. Durante os Dias Anarquistas, pudemos olhar para essa questão e discuti-la em diversos contextos.

A semana de eventos começou com uma oficina introdutória sobre anarquismo e uma comovente noite de cinema com ‘Aurora’s Sunrise’, filme sobre a história assustadora e impressionante da sobrevivente do genocídio armênio Aurora Mardiganian. Além disso, durante a semana houve a oportunidade de aprender mais sobre a história do anarquismo na Alemanha, ouvir uma leitura imaginativa e excêntrica, comer um delicioso Küfa e reencontrar velhos conhecidos.

O colapso é iminente: como podemos nos preparar para isso, além do Estado e das instituições estatais? Como evitar o colapso na prisão? Abordamos essas questões em um workshop com palestra no meio da semana do evento. Conversamos sobre preparação solidária e solidariedade dentro e fora da prisão.

Além disso, na série de eventos deste ano, tratamos de questões, por exemplo: Como podemos cuidar de nós mesmos como comunidade? Existe alternativa ao sistema psiquiátrico discriminatório? O que pode significar ajuda mútua em um estado emocional de emergência? Na oficina ‘Isso é loucura!’ os afetados trocaram ideias com pessoas não afetadas sobre essas mesmas questões.

Estamos particularmente orgulhosos de ter tido vários palestrantes de diferentes partes do mundo nos A-Days em Dresden novamente este ano. Pudemos aprender sobre a história da autodefesa da comunidade armada nos EUA, ouvimos uma atualização dos camaradas da Bielorrússia, 5 anos após o início dos levantes de 2020.

Praticamos a autodefesa com spray de pimenta e em oficina guiada de autoafirmação.

Este ano também foi importante para chamar a atenção às crises e guerras em curso neste mundo: palestrantes de Israel e da Palestina relataram a militarização da sociedade que vem ocorrendo há anos, a erosão do sistema legal e o papel das prisões no genocídio em curso da população civil palestina.

Infelizmente, a luta e o sofrimento do povo da Ucrânia continuam no outono de 2025. Decidimos usar as doações coletadas este ano como parte dos Dias Anarquistas para apoiar nossos camaradas na Ucrânia na luta contra o sistema fascista russo.

Tudo o que nos resta dizer é agradecer pelas contribuições para a discussão, pelas críticas, doações e por tornar os Dias Anarquistas 2025 tão maravilhosos – até a próxima <3

Fonte: https://a-dresden.org/2025/10/24/a-tage-2025-schon-wars-vielen-dank/

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

As marcas do tempo
apenas em meu rosto —
Lua de primavera!

Teruko Oda

[México] Novo fundo verde na COP30: armadilha para povos e bosques do sul global

Por Aldo Santiago | 27/10/2025

A duas semanas do início da Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP30), a realizar-se na cidade brasileira de Belém, na região amazônica, um grupo de governos de países industrializados e ONGs com perfil corporativo promovem um novo fundo de investimento internacional que busca mobilizar centenas de milhares de milhões de dólares para “recompensar” a conservação dos bosques tropicais.

Fundo Bosques Tropicais para Sempre (TFFF, por sua sigla em inglês), se apresenta como um “avanço histórico” em favor da conservação da natureza mundial. Seus principais promotores são uma dezena de governos de países industrializados – incluídos membros do G20, os mais poderosos do planeta – em aliança com governos de países amazônicos como Colômbia, Equador e Brasil, assim como de ONGs como a Sociedade para a Conservação da Vida Silvestre (WCS), Conservação Internacional (CI), The Nature Conservancy (TNC) e o Fundo Mundial para a Natureza (WWF).

Sua proposta, que planejam lançar oficialmente na COP30, aspira a arrecadar mil milhões de dólares através de um fundo de investimento internacional que busca mobilizar capital público, filantrópico e institucional para recompensar a conservação de bosques tropicais mediante pagamentos anuais por hectare “em pé”.

O TFFF estima incorporar um fundo financeiro de entre 100 e 125 mil milhões de dólares mediante o qual se pagarão quatro dólares por hectare conservado. Inclusive, assevera que planejam destinar ao menos 20% destes recursos a povos indígenas e comunidades locais. Não obstante, organizações ambientalistas como o Movimento Mundial pelos Bosques Tropicais (WRM) adverte que o mecanismo pode converter-se em uma nova armadilha de mercado que reforce o controle financeiro sobre os territórios do Sul Global.

Através do estudo, “O Fundo Bosques Tropicais para Sempre: Uma nova armadilha para os povos e bosques do Sul global”, o WRM alerta que, apesar de que o Brasil é o rosto político da iniciativa financeira – pois também anunciou que contribuirá com 1,000 milhões de dólares -, sua origem remonta ao ano de 2009, quando foi criada por um ex-funcionário do Banco Mundial vinculado a grandes bancos estadunidenses.

Para a organização, estas dinâmicas revelam a verdadeira expressão do fundo de investimento como “colonialismo financeiro imposto desde uma lógica vertical”, a qual asseguram tem uma relação estreita com outros mecanismos como REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação) que “foram concebidos por atores que operam a grande distância das realidades do Sul global, ainda que afirmem saber como salvar os bosques tropicais (…) o que se propõe não é mais que outro plano desenhado pelas elites do Norte, para ser gestionado pelas elites do Norte e, consequentemente, em beneficio das elites do Norte”.

Converter os bosques em ativos financeiros

O estudo do WRM, difundido este mês de outubro, destaca que a iniciativa do TFFF esconde uma estrutura enganosa, devido a que, na realidade, a gerência do fundo estará a cargo do Fundo de Investimento em Bosques Tropicais (TFIF, por sua sigla em inglês), que funcionará sob o suporte do Banco Mundial.

O documento detalha que as decisões estratégicas recaem no conselho diretivo do TFIF, fundo composto exclusivamente pelos governos dos países industrializados. Em contraste, os governos dos países com bosques tropicais não participarão na tomada de decisões, apesar de que o TFFF se promove como uma “proposta originada no Sul global”.

O WRM e organizações aliadas advertem que o TFFF, além de reproduzir lógicas de mercado e financeirização da natureza com participação desigual para os povos, os pagamentos dependem da rentabilidade financeira do fundo e que a conservação coexista com a expansão de indústrias extrativistas. Ainda mais, preocupa que os pagamentos que o TFFF promete realizar às comunidades poderiam fragmentar a solidariedade entre os movimentos de resistência ou entre as comunidades em resistência.

Em termos simples, o TFIF planeja utilizar o capital emprestado por investidores ricos, filantropos, bancos e governos do Norte global para adquirir “bonos” emitidos por aqueles governos que necessitam financiamento, o que implica tirar proveito da já avultada dívida pública dos países do Sul global, ou por grandes empresas que os utilizam para financiar projetos industriais em grande escala que destroem os bosques em ditos países. “Entre estes projetos se incluem atividades como mineração, monocultivos, infraestrutura e energia ‘limpa'”, alerta o estudo do WRM.

Derivado desta dinâmica, a organização questiona como a maior parte dos lucros que o TFIF espera gerar não se destinará à conservação, mas ao pagamento de interesses e lucros para quem empresta os fundos. “Estes atores investem no TFIF como uma forma de ganhar mais dinheiro. Só depois de cobrir as comissões de gestão e distribuir os lucros entre os prestamistas, desde o TFIF se contempla a possibilidade de transferir uma porção dos fundos aos governos que prometeram proteger os bosques tropicais”, sustenta o movimento.

O WRM e a Global Forest Coalition alertam que o TFFF poderia agravar a exclusão de comunidades e povos, que mais cuidam dos bosques e selvas, ao reduzir aos ecossistemas unicamente como ativos financeiros que, em consequência, violará seus direitos e criminalizará práticas tradicionais como o cultivo itinerante, atividades que podem interpretar como desmatamento.

Mais falsas soluções

Este modelo, adverte o informe do WRM, replica as deficiências do programa REDD+, onde múltiplos projetos de conservação geraram conflitos territoriais e restrições ao uso tradicional dos bosques. “Assim como o REDD, é provável que se converta em outro rotundo fracasso no cumprimento dessas promessas. Em essência, o TFFF não se trata de abordar as causas do desmatamento. Pelo contrário, seu “coração financeiro”, o TFIF, se alimenta de um mercado financeiro que fomenta o desmatamento”, sustenta o movimento.

Segundo adverte a Coalizão Mundial pelos Bosques (GFC, por sua sigla em inglês) em sua análise do TFFF, “resulta profundamente enganoso crer que a atribuição de um pagamento por hectare”, e mais ainda, um tão exíguo, poderia “resolver os problemas estruturais do capitalismo que são promovidos ativamente por capitais privados, grandes corporações e Estados”. Como resultado, alertam ambas as organizações, o TFFF aprofundará ainda mais as incertezas e ameaças para as comunidades que dependem dos bosques e porá em risco o futuro dos bosques tropicais.

Ademais, resgatam que mecanismos similares como a implementação de REDD+ durante duas décadas, propiciaram aprendizagens contundentes, pois evidenciam que, para os negócios que lucram com o desmatamento em grande escala, “os lucros derivados da venda de créditos de carbono não resultam tão significativos frente aos lucros que se obtêm com a destruição dos bosques”.

O estudo conclui que o novo fundo depende da destruição de territórios, devido a que seu modelo de geração de lucros é baseado em investimentos dentro dos mercados financeiros. Os mesmos que prosperam mediante a expansão da economia capitalista.

“Esse é o propósito original dos bonos: financiar megaprojetos energéticos, mineradores, de agronegócios, assim como a produção de papel e celulose”. Na atualidade, muitas destas atividades – que incluem as represas hidroelétricas ou a mineração de níquel para baterias, entre outras – são catalogadas como “limpas” ou “verdes”, apesar de que, por definição, implicam destruição territorial em grande escala. Sem canalizar o dinheiro para este ciclo de exploração, o TFIF não pode gerar os lucros que logo aspira destinar ao TFFF como pagamentos por “conservação de bosques”, sustenta o movimento.

De acordo com a análise do WRM, o TFFF aprofundará ainda mais as incertezas e ameaças para as comunidades que dependem dos bosques e porá em risco o futuro dos bosques tropicais a nível global.

Fonte: https://avispa.org/nuevo-fondo-verde-en-la-cop30-trampa-para-pueblos-y-bosques-del-sur-global/

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Dia grisalho
brotos brotam brutos
na ponta do galho

Danita Cotrim

Solidariedade com o Arquipélago do Fogo! Manifestação na Embaixada da Indonésia na Cidade do México

Relatório da ação de solidariedade na Cidade do México em prol dos anarquistas perseguidos na Indonésia:

Em 17 de outubro de 2025, grupos anarquistas como o CATL e a Cruz Negra, juntamente com a Rádio Zapote e outros, reuniram-se perto da embaixada da Indonésia, em um bairro nobre da Cidade do México, para bradar solidariedade aos anarquistas perseguidos e presos pelo Estado. Cercados pela polícia, que nos filmava e intimidava, compartilhamos comida com a comunidade enquanto divulgávamos informações sobre a repressão contra ativistas anarquistas na Indonésia.

Realizamos esta ação para expressar nossa solidariedade com os levantes que começaram depois que o parlamento indonésio concedeu a si mesmo um subsídio de moradia equivalente a dez salários mínimos e aprovou uma lei que permite que militares se candidatem a cargos políticos, renovando os temores de uma nova ditadura militar. Esses protestos explodiram depois que a polícia assassinou Affan Kurniawan, um entregador de 21 anos, atropelando-o com seu veículo blindado.

Por muitos meses, membros da Geração Z da Indonésia foram às ruas, participando do que foi chamado de “revoltas do sul global”, uma onda de resistência que varreu países como Bangladesh, Marrocos, Nepal, Madagascar, Equador e Peru, na qual os cidadãos desses países se levantaram contra a miséria imposta a eles por capitalistas gananciosos e elites políticas corruptas.

Durante nosso evento de solidariedade anarquista na Cidade do México, também conversamos sobre nosso camarada “Eat”, que, junto com outros anarquistas, está detido incomunicável há algum tempo. A polícia estava procurando por Eat porque ele estava arrecadando fundos e prestando apoio a 42 indonésios acusados ​​de serem membros do movimento anarquista insurrecional.

Parece que estamos diante de uma série de revoltas que se espalham por diversas geografias, e suas ideias não buscam um modelo político, mas sim uma luta épica contra as injustiças que se busca instalar em esfera global, especialmente no Sul.

Por todo o sul global e por todos os cantos do globo, uma resistência está se espalhando contra a miséria e a injustiça impostas pelas elites globais, uma batalha anarquista que luta contra políticos venais e capitalistas predadores.

Morte ao estado! Viva a anarquia!

A n a r q u i s t a s

Fonte: Coordinadora Anarquista Tejiendo Libertad – CATL

agência de notícias anarquistas-ana

Imposto é o ladrão
que rouba até o sabor
do pão compartilhado.

Liberto Herrera

[Espanha] Crônica da jornada de greve de 15 de outubro

Na quarta-feira passada, 15 de outubro, nos unimos à greve geral em solidariedade com o povo palestino, para denunciar o genocídio que está sofrendo e a cumplicidade dos estados ocidentais no mesmo.

Fomos a nossos centros de trabalho, mas não para trabalhar, mas para informar aos trabalhadores do motivo e da importância da greve e seus direitos nela.

Às 7h00 da manhã começamos com o primeiro piquete, frente a um dos centros de menores gestionados pela Fundação Diagrama, que tentou obstruir o direito à greve dos trabalhadores com uns serviços mínimos abusivos nos quais havia mais pessoal que em muitos turnos em dias normais.

Depois estivemos na estação de Príncipe Pío falando com os transeuntes, que manifestaram em mais de uma ocasião não ter conhecimento da jornada de greve convocada, o que demonstra que a mesma não foi convocada nem preparada com a antecedência suficiente, erro que já advertimos na anterior convocatória em 2024.

Seguimos a jornada de luta com um piquete nos escritórios de Revoolt, subcontratada da Glovo que explora ainda mais que esta a seus empregados.

A reunião seguinte foi em frente ao centro ocupacional Barajas, onde também impuseram uns serviços mínimos que gostaríamos que tivessem quando não há greve.

O último dos piquetes informativos o realizamos ante o centro juvenil El Sitio de Mi Recreo, gestionado pela empresa Tandem, que recentemente despediu um de nossos companheiros por sua luta sindical.

Por último, nos concentramos frente à junta municipal de Vallecas, onde seguimos informando sobre o genocídio do povo palestino e chamando ao boicote à Israel antes de irmos juntos à manifestação de Atocha a Callao.

Na CNT-AIT Madrid sempre estaremos do lado dos oprimidos e apoiaremos as causas justas, mas isso não nos impede sermos críticos com a maneira na qual esta greve foi convocada. Toda greve requer um extenso trabalho prévio se queremos que esta tenha êxito. Não vale convocar depressa e correndo para sair na foto, como fizeram alguns. Porque então as pessoas não se inteiram de que há greve ou não entendem as razões da mesma e não aderem. E isso, além de levar ao fracasso da mesma, desvirtua o próprio conceito de greve. Das paralisações parciais dos sindicatos amarelos nem falamos, porque é uma clara tentativa de boicote que não surpreende ninguém.

Gostaríamos de finalizar esta crônica fazendo um chamado à reflexão para evitar cometer no futuro os mesmos erros. Para que na próxima greve paremos todas e obriguemos o estado e o capital a ceder ante nossas reivindicações. Porque sobram razões para uma greve geral, porque estamos fartos de cortes para aumentar o gasto militar. Estamos fartos de que com o suor de nosso rosto se financiem bombas que matam ao povo palestino. Estamos fartos de que os donos do mundo joguem com nossas vidas.

madrid.cntait.org

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Nesta fria noite
Dorme no fundo do poço
A Lua encurvada.

Mary Leiko Fukai Terada

Não há espaço para mais petróleo na Amazônia

Autorização para perfurar poço exploratório na foz do Amazonas representa a ganância financeira, não soberania. É também um ato de desrespeito aos povos indígenas e ribeirinhos que vivem e dependem das águas e da biodiversidade. Luene Karipuna escreve sobre os impactos do projeto no seu povo.

Por Luene Karipuna | 24/10/2025

Há lugares no mundo que não deveriam ser tocados pela ganância. Lugares que guardam a chama da vida, a memória da Terra e o futuro de todos nós. O meu território, no centro da Amazônia, é um deles. Ainda assim, em nome de um suposto progresso que serve a poucos, o governo brasileiro abre caminho para perfurar o coração do maior bioma tropical do planeta — e chama isso de desenvolvimento.

A liberação da licença para perfuração de um poço de pesquisa exploratória no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas, não é apenas um erro técnico ou ambiental. É uma contradição perigosa, um passo em direção a um abismo que será irreversível e desastroso para o clima e a biodiversidade. É a velha lógica de tratar a Amazônia como zona de sacrifício: um território de onde tudo se extrai e no qual nada se constrói.

A impressão que tenho é que voltamos a 1500, quando invadiram a nossa casa e usaram manobras para nos destruir. Passaram-se séculos, e, ainda assim, seguimos servindo apenas para estampar fotos quando convém.

Meu pai me ensinou a ser uma mulher de palavra — e hoje vejo que muitos nem essa virtude têm. De nada adianta ir à COP30 fazer discursos bonitos se as ações concretas contradizem suas palavras. Como pode o Brasil, prestes a sediar a COP30 e buscando liderar o debate climático, defender a perfuração de poços que nos empurram mais fundo para a crise climática? Ao invés de propor novas fronteiras de exploração, o governo precisa apresentar um verdadeiro plano de transição energética.

Se houvesse uma barreira que separasse a poluição de nossas florestas, talvez eu dormisse em paz. Aqueles que defendem a exploração de petróleo na Amazônia poderiam beber o próprio petróleo, viver do seu “desenvolvimento econômico” e celebrar essa tal “soberania nacional” sozinhos.

A nossa soberania é outra: é a vida — a vida da floresta, dos rios, dos Karuãnas. Os gananciosos perderam essa conexão há muito tempo e, com isso, perderam o privilégio de sentir o território como parte de si.

A Amazônia não é um vazio a ser explorado. É casa, é cultura, é território sagrado. A crise climática só pode ser enfrentada com soluções que respeitem os direitos dos povos indígenas e das comunidades tradicionais. É hora de estabelecer zonas de exclusão de combustíveis fósseis — e a Amazônia deve ser a primeira delas.

Ninguém pode decidir o futuro de um território que não lhe pertence. Se o Amapá ainda guarda suas árvores e sua biodiversidade, é porque os povos indígenas, os ribeirinhos, os quilombolas e as comunidades tradicionais as protegem com seu conhecimento e com suas próprias vidas. A floresta não está de pé por benevolência de governos ou empresas — está viva porque nós a defendemos todos os dias. E ainda assim, esses guardiões não foram escutados nem consultados.

Àqueles que defendem explorar petróleo na Amazônia, espero nunca saibam o que é perder tudo — aquilo que sustenta a alma: as lembranças de infância, o banho de rio, a paz dentro de casa. Espero que nunca sintam o desespero de não ter para onde correr, de ver o perigo se aproximar e não poder proteger a própria família. Espero, sinceramente, que nunca conheçam o medo que nós sentimos hoje.

Cada gota de petróleo retirada da foz do Amazonas é uma gota de futuro perdida. O que está em jogo não é apenas uma licença, mas o destino de um país e de um planeta.

Apesar de urgente, a escolha é simples: Amazônia ou petróleo.

Fonte: https://amazoniareal.com.br/nao-ha-espaco-para-mais-petroleo-na-amazonia/

agência de notícias anarquistas-ana

Se equilibra
nas variações do vento
o bem-te-vi

Harley Meirelles

[Indonésia] Atualização e endereço postal dos 43+1 camaradas presos da rede “Chaos Star” em Bandung

Os réus no caso da rede “Chaos Star” (“Estrela do Caos”) podem pegar até 20 anos de prisão

Após as revoltas em massa de agosto de 2025, quando grande parte da população se levantou e atacou a corrupção e a desigualdade básicas do Estado, hoje, 44 camaradas anarquistas estão presos no complexo da polícia paramilitar de Java Ocidental em Bandung. Não há acesso para ninguém além das famílias, e mesmo isso é mínimo. Os detidos foram isolados e estão sendo usados na campanha de manipulação da mídia pelo Estado indonésio. Muitos dos camaradas presos são muito jovens. Todos são acusados de fazer parte da rede individualista-niilista “Chaos Star”, que é uma invenção criada pela polícia com o propósito de fazer a acusação. A polícia afirma que os camaradas presos foram radicalizados por “líderes” e financiados por organizações anarquistas estrangeiras. Os policiais apontam para a existência de faixas, bandeiras, livros, panfletos e música, em posse dos detidos, como itens comumente mantidos que denotam pertencimento a essa organização, a “Chaos Star”.

Alguns dos camaradas são acusados de ações diretas graves, como ataques com molotov, incêndios criminosos, tumultos, destruição de propriedade etc. Por fim, alguns dos camaradas são acusados de instigação, seja online, por seus blogs ou mídias sociais ou por seu papel “proeminente”. Eles estão isolados no complexo paramilitar, e o Instituto de Assistência Jurídica (LBH) em Bandung foi impedido de representá-los. Uma opção é contratar um advogado particular, mas isso custaria dezenas de milhões (de rupias). Pedimos maior atenção a esta situação perigosa. Tortura e abuso estão sendo amplamente usados contra os detidos, o que é confirmado pelas famílias. Os jovens companheiros foram feridos e feridos até darem falsas confissões de que estavam até mesmo nas manifestações ou que faziam parte de organizações específicas, pois foram submetidos à brutalidade da polícia paramilitar. Este é um fato conhecido e uma realidade que precisamos enfrentar. Na esteira da insurreição em toda a Indonésia contra o ex-militar de direita Prabowo Subianto, os jovens e o movimento anarquista foram severamente reprimidos pelo regime. Muitos jovens foram apanhados nas agressões policiais e, independente da suposta “culpa” ou “não culpa”, estendemos nossa solidariedade a eles e a todos aqueles que lutam contra a opressão social, as prisões, a polícia e o Estado.

Publicamos, aqui, os nomes dos nossos camaradas presos e o endereço da prisão do complexo da polícia paramilitar de Java Ocidental, onde os nossos amigos estão detidos. Não deixemos esses camaradas sozinhos e enviemos cartas de solidariedade, cartões postais e nossa mensagem de fogo. Mesmo que o correio de solidariedade seja roubado e bloqueado pelos administradores do abuso, eles saberão que os responsabilizaremos pelo que está acontecendo em Bandung. Vamos lançar luz sobre o que os odiados torturadores policiais e o regime de Prabowo Subianto estão fazendo com nossos jovens camaradas, e onde está ocorrendo e por quem, e vamos lutar contra a polícia e todas as prisões em todos os lugares.

ABC/Palang Hitam [Cruz Negra Anarquista]

Endereço do complexo da polícia paramilitar de Java Ocidental:

(NOME DO DETENTO)

Jl. Soekarno Hatta No.748,

Cimenerang, Kec. Gedebage,

Kota Bandung,

Jawa Barat 40292,

Indonésia

LISTA UM

A. Nomes dos camaradas suspeitos de crimes em geral:

Nome: Aditya Dwi Laksana (A.d) / Nome: Mochamad Naufal (M.n) / Nome: Gregorius Hugo (G.h) / Nome: Rizki Mahardika (R.m) / Nome: Herdi Supriyadi (H.s) / Nome: Rizalussolihin Alias Jalus .(R.s) / Nome: Rhexcy Fauzi Kunaidi (R.f.k) / Nome: Tubagus Andika Pradita (T.a.p) / Nome: Muhamad Jihar Fawak (M.j.f) / Nome: Angga Wijaya (A.w) / Nome: Muhamad Subhan (M.s) / Nome: Eli Yana (E.y) / Nome: Muhamad Vansa Alfarisi (M.v.a) / Nome: Muhamad Sulaeman (M.s) / Nome: Muhamad Rifa Aditya (M.r.a). / Nome: Veri Kurniawan Kusuma (V.k.k) / Nome: Joy Erlando Pandiangan (J.e.p) / Nome: Muhamad Jalaludin Mukhlis (M.j.m). / Nome: Jatnika Alang Ramdani Septiawan (J.a.r.s). / Nome: Ariel Octa Dwiyan (A.o.d). / Nome: Angga Friansyah (A.f). / Nome: Putra Riswan Anas (P.r.a). / Nome: Zanief Albani Yusuf (Z.a.y). / Nome: Wanda Abdurrahman (W.a). / Nome: Wawan Hermawan (W.h). / Nome: Reyhan Fauzan Akbar (R.f.a)

LISTA DOIS

B. Suspeitos de crime cibernético:

Nome: Arfa Febrianto Bin Dodo Sujana (A.f) / Nome: Rifal Zhafran Bin Rohman Maulanarifal Zhafran Bin Rohman Maulana (R.z) / Nome: Muhibuddin Bin Maemun (M.d) / Nome: Muhammad Zaki Bin Bambang Priono (M.z) / Nome: Arya Yudha. (A.y). / Nome: Azriel Agung Maulana Als Gama Bin Jabidin. (A.a) / Nome: Rifa Rahnabila Bin M Suparman ( R.r) / Nome: Marshall Andy Kaswara Bin Nandang Koeswara (M.a.k) / Nome: Yusuf Miraj Bin Tata Rohmana (Y.m) / Nome: Moch Sidik Als Acil (M.s) / Nome: Deni Ruhiat Als Deni Sumargo Bin Rudik (D.r) / Nome: Cheiza Bin Tatang Hernayadi (C.z / Anak) / Nome: Rizky Fauzi Als Arab Bin Hasan (R.f)

Nome: Muhammad Ainun Komarullah (M.a.k)

Muhammad é acusado de ser o Admin do Instagram @Blackbloczone e do site Https://blackbloczone.noblogs.org/.

Nome: Andi Muh. Ashabulfirdaus (A.f)

Andi é acusado de ser Admin do Instagram @Blackbloczone.

Nome: Dana Ditya Pratama (D.d)

Dana é acusada de ser Admin do Instagram @Blackbloczone e proprietária da conta de e-wallet.

LISTA TRÊS

C. Suspeitos de ter papel de liderança:

Nome: Reyhard Rumbayan

Eat foi preso em Makassar em 23 de setembro de 2025. Eat havia estado na prisão antes, por um ataque da FAI-IRF contra um banco em solidariedade com o camarada anarquista Luciano Tortuga, no Chile, em 2011. Eat foi acusado de ter papel de liderança na rede “Chaos Star” e de ser líder dos agitadores anarquistas. Eat está em isolamento solitário e não tem permissão de receber visitas. Eat teve audiência pré-julgamento em 16 de outubro e o período de investigação do caso de Eat vai até 20 de novembro de. Eat tem questões de saúde graves e um braço paralisado após acidente de moto, anos atrás, quando um camarada morreu. Eat precisa de cuidados médicos contínuos.

Nome: Bima Satria Putra

Bima é um anarquista preso por 10 quilos de maconha, conhecido pelo projeto de sindicato de prisioneiros, traduções e escritos desde que foi preso em 2021. Bima foi transferido do centro de detenção da cidade de Palembang para Bandung, onde os 43 réus da rede “Chaos Star” estão detidos. Não está claro quais acusações foram feitas contra ele devido à falta geral de informações. Muito provavelmente, instigação e atribuição de um papel de liderança devido aos seus escritos públicos. No entanto, Bima não faz parte de nenhuma rede anarquista individualista nem niilista ou de qualquer célula egoísta.

As acusações contra todos os suspeitos incluem violações dos artigos 187 e/ou 170 e/ou 406, e/ou do artigo 1º (1) da Lei de Emergência nº 12 de 1951, com pena máxima de prisão de até 20 anos.

Além disso, podem ser enquadrados nos termos do artigo 45.º-A, n.º 2, em conjugação com o artigo 28.º, n.º 2, da Lei n.º 1 de 2024, que altera a Lei n.º 11 de 2008 sobre Informações e Transações Eletrônicas (ITE), e/ou o artigo 170.º do Código Penal, e/ou o artigo 406.º do Código Penal, e/ou o artigo 66.º da Lei n.º 24 de 2009 sobre a Bandeira Nacional, Idioma, emblemas e hino nacional. A punição pode ser de até 6 anos de prisão.

Por provocação, também podem ser acusados nos termos do artigo 45a (2) em conjunto com o artigo 28 (2) da Lei nº 1 de 2024, que altera a Lei nº 11 de 2008 sobre ITE, com pena máxima de 6 anos e/ou multa de até IDR 1.000.000.000 (um bilhão de rúpias).

Fonte: https://darknights.noblogs.org/post/2025/10/25/urgent-update-and-postal-address-for-the-431-chaos-star-imprisoned-comrades-in-bandung-indonesia/

Tradução > CF Puig

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/09/18/perseguicao-e-repressao-contra-anarquistas-na-indonesia/

agência de notícias anarquistas-ana

A lei é um caco
e vidro—nós pisamos
descalços, e sangramos.

Liberto Herrera

[Portugal] Jornal MAPA 47 nas ruas

A edição 47 do Jornal MAPA destaca na sua capa (ilustrada por Inês Pucarinho) a resposta popular e auto-organizada perante os incêndios do verão passado, assim como a urgência de uma nova paisagem florestal. Nesse âmbito, damos conta da história política e ambiental dos incêndios em Portugal e do que era outrora o papel do uso do fogo nas nossas serras. Mas outras matérias se destacam na última edição trimestral do MAPA: o anticiganismo patente de Norte a Sul no acesso à habitação, uma questão que faz ponte com a memória da periferia de Lisboa contada nas visitas guiadas de Noz Storia. Depois, duas entrevistas que são incríveis testemunhos de vida: José Paulo Viana recorda a sua participação nas Brigadas Revolucionárias e na luta contra a ditadura; Luís Mendão revela-nos o seu percurso pessoal e como surgiu o Grupo de Ativistas em Tratamento nas lutas por uma saúde comunitária.

E outro tanto há para ler neste MAPA: da atualidade da revolta na Sérvia à memória de Mário Castelhano ou ao refletir sobre a urgência de se passar da Internet para a rua, passando pelas propostas de um anarquismo social na vizinha Galiza. Para lá de diversas recensões a livros vários, terminamos esta edição celebrando a continuidade do espaço da Disgraça em Lisboa!

E desta vez não são apenas as habituais 40 páginas. Acompanha-as um novo suplemento em papel das Outras Economias, uma publicação digital sobre economia e alternativas económicas editada pelo Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral – CIDAC.

Já o vosso apoio continua a ser crucial. Precisamos de mais assinantes! Um gesto solidário e simples que pode ser feito no formulário em jornalmapa.pt.

agência de notícias anarquistas-ana

Burocracia: teia
de aranha morta—o povo
varre com a risada.

Liberto Herrera

[Croácia] Condenados a multas de até 3000 euros quatro ativistas por protestarem durante desfile militar em Zagreb 

Na semana passada, ocorreu em Zagreb o julgamento dos quatro manifestantes que protestaram durante o desfile militar conhecido como Mimohod na mesma cidade no final de julho. A intenção do protesto era mostrar, através da ação direta pacífica, a rejeição à crescente militarização da sociedade e sua glorificação com fins propagandísticos. Os ativistas, acusados de crimes de perturbação da ordem pública, foram condenados a multas que, na maioria dos casos, atingem 3.000 euros. Está previsto que a sentença seja recorrida no Tribunal Supremo da Croácia.

Durante o percurso ao longo da Vukovarska ulica — naquela que foi a maior cerimônia militar desde a existência do Estado croata — os manifestantes pularam a cerca que separava o percurso do desfile do público, interpuseram-se entre os tanques e, a modo de performance, deixaram-se cair simulando sua morte. Eles usavam camisetas tingidas de vermelho simbolizando sangue, como forma de protesto. Rapidamente foram removidos pelas forças de segurança para um lado da estrada, detidos e algemados, apesar de não oferecerem resistência nem mostrarem atitude violenta em momento algum. Mais tarde, foram levados para delegacias de polícia, onde permaneceram até serem apresentados à justiça na manhã seguinte.

A data do julgamento, inicialmente marcada para 1º de setembro, foi adiada para 13 de outubro devido a erros processuais. Soube-se de atitudes hostis por parte do judiciário, onde foi considerada a possibilidade real de os acusados serem enviados à prisão preventiva por 15 ou até 30 dias. Também se tentou marcar a data do julgamento com a máxima antecedência possível, comprometendo a capacidade dos acusados de dispor de tempo suficiente para preparar a defesa. Anteriormente, durante a detenção e no período até sua liberdade, eles sofreram vexações e maus-tratos policiais, sendo detidos por períodos prolongados, algemados por mais tempo do que o necessário e colocados em uma cela em condições anti-higiênicas e com restos de excrementos.

É evidente que este tipo de prática é executado com o objetivo de criminalizar o direito legítimo de protesto. No contexto croata atual, ativistas envolvidos em mobilizações pela causa palestina, pelos direitos do coletivo LGTBIQ+, pela defesa do meio ambiente ou contra a tomada do espaço público por fundamentalistas católicos, entre outras instâncias, têm sido submetidos a detenções arbitrárias, violência policial e exaustivos processos judiciais. Em alguns casos, pelo simples motivo de segurar uma faixa. Esta estratégia de assédio e demolição contra quem protesta, longe de ser uma exceção, nos remete a uma realidade onde a criminalização do manifestante se consolida como um modus operandi cotidiano.

O desfile comemorava o 30º aniversário da Operação Tempestade, consistindo em uma ofensiva militar em agosto de 1995 por parte das forças croatas para retomar a região da Krajina, ocupada por separatistas sérvios durante a guerra dos Bálcãs. A ofensiva resultou em numerosas violações de direitos humanos, crimes de guerra, mortes e um êxodo massivo de população sérvia contabilizado em mais de 200.000 pessoas. Dentro da narrativa ultranacionalista promovida pelo Estado croata, o episódio é celebrado como um momento representativo do processo de liberação nacional, diante do qual qualquer tentativa de crítica é vista como um insulto ao orgulho pátrio. Aproveitando, o desfile servia também para mostrar em todo o seu “esplendor” o processo de modernização militar promovido pelo atual executivo, com o aparecimento de novos tanques, drones de combate e veículos de infantaria recentemente adquiridos. A espetacularização do militar como ferramenta para propagar o ódio e obter lucro político constitui a base desta narrativa do “nós contra eles”, promulgada sem disfarces a nível estatal pelo governo do HDZ (União Democrata Croata).

Este tipo de relato, funcional aos discursos reacionários que por sua vez promove a ultradireita, contribui para a polarização social, construindo o sentido de identidade nacional croata com base em uma fantasia bélica que romantiza formas extremas de violência e exclusão. A isso soma-se também a proximidade ideológica com movimentos de tendência filo-nazista, mais encorajados em tempos recentes diante da despreocupação com a qual podem operar. Destaca-se nesses últimos o olhar nostálgico para uma época em que a Croácia esteve sob controle da Ustasha, organização terrorista nacionalista e fantoche da Alemanha nazista. Promotor do fanatismo religioso, do racismo e da normalização da tortura e do assassinato como fórmula para a formação de um Estado croata independente, hoje o regime goza de plena saúde e legitimidade histórica no imaginário coletivo de uma parte da população. Cantos, pichações, bandeiras e demais parafernálias, visíveis nas ruas de Zagreb, atestam o ressurgimento de um estado de espírito que fetichiza o abominável e reivindica o terror como elemento unificador do modelo de país ao qual aspiram: uma Croácia fascista.

Nesse sentido, e sem deixar de ser tremendamente doloroso, não deve nos surpreender tanto a plena internalização por parte dos cidadãos presentes no desfile deste fanatismo patriótico e sua materialização violenta. Pessoas agredindo ativistas já detidos, vexações, vaias, ameaças, gritos de “que a estuprem!” ou “joguem-nos no rio Sava!”, entre outras gentilezas, nos dão uma medida de quão rápido pode disparar o mercúrio do termômetro nacionalista.

Assim sendo, e aproveitando também o impulso do militarismo mundial dos últimos tempos, o atual governo croata vem consolidando um aumento progressivo dos gastos públicos dedicados à defesa e segurança. Após aumentos recentes, trabalha para que esta rubrica orçamentária alcance 3% do PIB em 2030. Entre os duvidosos “feitos” do executivo, destacam-se a venda de armas para Israel no valor de 1,5 milhão de euros em 2024, a assinatura de um acordo de coordenação em segurança regional com a Albânia e o Kosovo — o qual, como era de se esperar, antagonizou a Sérvia, que por sua vez respondeu tecendo alianças com a Hungria de Orbán –, a aquisição de 8 sistemas de mísseis HIMARS e 12 caças Rafale, investimento no desenvolvimento de inteligência artificial dedicada à defesa… Como coroamento, está previsto que em 2026 entre em vigor na Croácia a reintrodução do serviço militar obrigatório para jovens entre 18 e 27 anos aprovada este ano, sob o pretexto de “melhorar a segurança nacional”.

Dentro desta estratégia, preocupa também o crescimento da securitização como elemento chave, particularmente no que diz respeito aos processos migratórios, afetados pela crescente militarização das fronteiras. Isto se traduz em um aumento significativo da presença policial e militar em zonas de travessia, a estreita colaboração com a Frontex, o uso de tecnologia militar para tarefas de rastreamento e vigilância, controles arbitrários e múltiplas violações de direitos humanos — as provas e testemunhos de torturas sofridas por migrantes na fronteira entre Croácia e Bósnia são de uma cotidianidade chocante — para citar algumas. Dizer que a política de fronteiras na Croácia só pode ser descrita como selvagem e atroz é praticamente ficar aquém.

Assistimos, pois, a um processo de normalização da violência, edificado sobre narrativas belicistas que apelam a um rançoso sentimento nacional para se autojustificar, e motivado por razões de natureza política e financeira. Fundamental a este respeito, a progressiva insensibilização social a nível cidadão permite, por sua vez, legitimar os interesses empresariais do complexo industrial-militar, que antecipa receitas sempre em alta com o apoio a esta economia da morte. Impõe-se a paisagem desoladora de uma sociedade insensibilizada frente ao mais básico sentido de empatia e humanidade, e cuja conivência garante a estabilidade de um regime empresarial e estatal cruel: a guerra como negócio.

Diante da situação, torna-se imprescindível denunciar o julgamento da semana passada pelo que sem dúvida é: uma manobra de perseguição política destinada a dificultar o direito legítimo de protesto e a desencorajar futuros atos similares. Resumindo, uma farsa. A sentença, parcial e subjetiva, revela uma clara intencionalidade dissuasória através de uma leitura dos fatos que pretende impor a força da ideologia acima de qualquer princípio de racionalidade e proporcionalidade. O recurso a um princípio problemático — se não diretamente falacioso — para determinar o que constitui uma perturbação da ordem; amparar-se em uma suposta falta de clareza sobre se a performance constituía uma forma legítima de protesto ou se sua encenação a tornava compreensível como tal; multas desproporcionadas; alusões fraudulentas ao suposto caráter irrecorrível da sentença; em definitivo, evidências claras de que a pretensão de inserir este julgamento dentro daquilo que alguns chamam de justiça é pura fantasia.

Parece cada dia mais claro que permanecer indiferentes quando o sequestro de direitos básicos e a intimidação por parte do Estado são realizados com total impunidade implica ser cúmplice da barbárie. Há quem pense que outra sociedade, onde a dor alheia nos comove e nos mobiliza, ainda está ao alcance. Para isso, urge parar de uma vez por todas de virar a cara.

Fonte: https://ellokal.org/condenados-a-multas-de-hasta-3000e-cuatro-activistas-por-protestar-durante-el-desfile-militar-en-zagreb/  

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

As palmas do campo
Orquestradas pelo vento
Acenam…e acenam…

Mary Leiko Fukai Terada