Carta de Hiroshima será distribuída durante a COP30 com apelo contra agrotóxicos no Ceará

A Carta de Hiroshima, documento que denuncia e exige o fim da pulverização aérea de agrotóxicos no Ceará, será distribuída em cinco idiomas durante a COP30, em Belém (PA). Uma comissão de cearenses realizará a distribuição.⁠ O conteúdo do texto se dirige ao governador do Estado do Ceará, Elmano de Freitas (PT). O movimento Revoga Já e a Organização Popular (OPA) lideram a iniciativa, que defende a produção agroecológica como alternativa sustentável. O tema ganhou força após o governo autorizar o uso de drones para pulverização no Estado. Leia o documento a seguir.

Carta de Hiroshima

Das mães e crianças envenenadas pelos agrotóxicos no Ceará

Ao Governador do estado, senhor Elmano de Freitas

Senhor governador,

Aqui estamos nós, mães e crianças de vários lugares do Ceará. É com nosso sangue que lhe dirigimos a palavra. Sangue humano que corre em nossos corpos. Sangue que faz colorir a rosa da vida, essa dádiva preciosa e sem preço, que nem o dinheiro do mundo todo é capaz de pagar.

Estamos aqui, governador, para dizer que o mesmo sangue que se transforma em leite pelo milagre da biologia, e com o qual amamentamos nossas crianças, nessas mesmas veias, através de nossos peitos, circula também o veneno dos agrotóxicos.

É difícil aceitar que estamos adoecendo com a única finalidade de engordar as contas bancárias de quem lucra com a destruição da vida. Mas o que dói mais, governador, o que nos tortura profundamente a alma dia e noite, é saber que nós, que amamos nossos filhos, transferimos para esses seres indefesos a morte matada a cada vez que os amamentamos. Nosso leite anda carregado de veneno, fato comprovado por estudos científicos!

Em pleno Outubro Rosa, mês da conscientização sobre o câncer de mama, o câncer que mais atinge mulheres no mundo todo, é extremamente revoltante saber que o senhor é cúmplice de uma lei que autoriza a pulverização de agrotóxico por drones em nosso estado.

O senhor conhece as pesquisas que indicam que o câncer de mama se alastra com mais facilidade e é mais devastador onde há maior liberação de agrotóxicos? Saiba que os drones só pioram uma situação já bastante crítica.

O governador escuta, consegue escutar os gritos vindos das comunidades primeiramente atingidas pela lei que o senhor ajudou a criar? Clamores tão perfurantes como estes, só não ouvem os ouvidos que não querem ouvir.

O veneno que cai do céu é como uma bomba tóxica que estoura sobre nós. Ninguém consegue dormir, as dores de cabeça são constantes, o mau cheiro é insuportável. Há crianças que vomitam, idosos com crises respiratória, nossas plantações ressecam, morrem os passarinhos e as abelhas… Estão nos matando, senhor governador!

Nos perguntamos com frequência como seria se suas famílias morassem aqui, a sua e a dos 22 deputados que aprovaram essa lei cruel e desumana. Como seria se tivessem que beber da mesma água, respirar do mesmo ar, se alimentar da mesma comida?

Governador, no mês em que o Brasil celebra o Dia das Crianças, pedimos para que o senhor pense nos meninos e nas meninas mudas telepáticas de nosso estado. Pense nas crianças cegas inexatas, nas deformações em seus frágeis corpos em crescimento. Pense nas mulheres rotas alteradas. Pense nas famílias devastadas. Pense e volte atrás. Reconheça o grave erro praticado e revogue essa lei.

Não queremos ser envenenadas! Não queremos envenenar nossas crianças! Ninguém quer isso. Ninguém!!! É o que mostra o Plebiscito Popular realizado por várias organizações aqui no estado. Se duvida, suspenda imediatamente a lei e realize o senhor mesmo uma consulta oficial ao povo. Só teme a verdade quem faz da mentira cobertor.

A bomba de Hiroshima dependeu de um apertar de botão para explodir e marcar a história como um dos mais horríveis e covardes crimes já cometidos. A bomba dos drones da morte precisa de apenas uma canetada sua para ser desativada. Não titubei. Em nome de todas as crianças intoxicadas, de todas as mães, de todo ar e de todas as águas, de todos os passarinhos e abelhas, em nome de todo o povo envenenado do Ceará, faça isso agora!

Da nossa parte, não tenha dúvidas, daremos nosso sangue para mudar essa história.

Palácio da Abolição

Fortaleza, 16 de outubro de 2025

agência de notícias anarquistas-ana

lua nublada
no alto da montanha
a solitária árvore

Alonso Alvarez

A farsa verde da COP30: quem está patrocinado o colapso

Por Gi Stadnicki

A COP30, anunciada como o “grande encontro global pelo clima”, serve de palanque e sala de negócios para os maiores destruidores ambientais do planeta. Por trás dos “discursos emocionantes” sobre “transição energética” e “sustentabilidade”, estão os mesmos grupos econômicos responsáveis por desmatamento, envenenamento de solos e rios, e violação de direitos de povos originários…

Se fica difícil engolir, imagine então aplaudir…

Entre os patrocinadores e participantes de destaque estão gigantes como Vale, símbolo da mineração predatória e dos CRIMES de Brumadinho e Mariana; JBS, Marfrig e Minerva Foods, colossos da pecuária que lideram o desmatamento da Amazônia; Cargill e Bunge, do agronegócio exportador que devasta biomas para soja e gado; e a Suzano, que transforma florestas em monoculturas de eucalipto, sugando água e vida do Cerrado…

É mole? Então, tem mais…

No setor de “energia limpa” por exemplo, a hipocrisia é ainda mais gritante: Neoenergia, Raízen, Shell, TotalEnergies e Petrobras posam de defensoras do planeta enquanto seguem lucrando com petróleo, etanol e exploração de recursos fósseis…

O mesmo vale pro setor do Agro é Morte, onde a Bayer (Monsanto), pinta de verde o império dos agrotóxicos…

E pra completar tem até a Anglo American e o IBRAM, representantes da mineração pesada…

Eita, que farra boa, hein???

Só as queridinhas do greenwashing marcando presença e tendo o protagonismo total nos eventos e pavilhões “sustentáveis”.

COPs são vitrines imperdíveis pra essas empresas que destroem o planeta, nelas elas compram seus espaços e impõem seus discursos e influências políticas para continuar operando sob a máscara da “transição verde”. É a ecologia de mercado — um espetáculo para inglês ver, onde o lucro está acima da vida. E TODOS OS ENVOLVIDOS SABEM DISSO E ESTÃO LÁ PRA CONTINUAR E AMPLIAR O FIM DO MUND… Ooops, os negócios…

Tudo isso enquanto os povos indígenas, ribeirinhos e camponeses, ÚNICOS A TER DE FATO SOLUÇÕES PRA ENFRENTAR O CAOS À ALTURA, seguem excluídos e silenciados!!!

Lá dentro, onde eles deveriam ter lugares de honra, caso a coisa fosse séria, as multinacionais da destruição e seus vassalos políticos brindam seu sucesso, reinando absolutas.

A COP30 tem espaço pra muita coisa, só não pra intenções que de fato gerem soluções pra crise climática — ali só cabe quem é parte central do problema.

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/11/07/cop30-pra-quem-hein-meu-povo/

agência de notícias anarquistas-ana

um tufo de algodão
flutuando na água
uma nuvem

Rogério Martins

[República Tcheca] Existence 2/2025: 30 anos da Federação Anarquista

De Anarchistická federace | 16 de outubro de 2025

Este ano marca o 30º aniversário de fundação da nossa federação anarquista. Naturalmente, não hesitamos em fazer desse marco o tema central da edição de outono da revista anarquista Existence. O aniversário nos dá a valiosa oportunidade de não apenas refletir e fazer reminiscências, como também para tirar lições importantes.

No artigo de abertura dedicado ao tema principal, exploramos como a federação surgiu, como acabou adotando o nome de Federação Anarquista e como a sua base ideológica evoluiu para se alinhar com os princípios mais amplos do anarquismo social. Também descrevemos os princípios sobre os quais opera, a estrutura interna, o desenvolvimento da política anarquista e do conteúdo, a evolução da nossa mídia e da direção estratégica, dos tipos de atividades em que nossos membros se envolvem e dos mitos persistentes que cercam a nossa organização.

Além disso, um dos membros de longa data compartilha as principais lições aprendidas ao longo da história da federação. A sua contribuição aborda temas como objetivos, motivação, ideologia, ativismo, estruturas formais, individualidade, apoio mútuo, burnout e outros aspectos da vida da federação. Todo o ano de 2025 foi declarado como oportunidade para celebrações e diversos eventos marcando o aniversário da FA. Relembramos o encontro de março de membros atuais e antigos, as celebrações dos anos anteriores e uma oficina centrada em partilhar experiências. A edição inclui uma pesquisa com respostas de onze membros da FA sobre por que a organização é importante. Na seção comemorativa, revisitamos a organização de eventos anarquistas do Primeiro de Maio, o envolvimento da federação na Internacional das Federações Anarquistas (IFA) e uma campanha dos anos 1990 para salvar as linhas ferroviárias regionais.

Na seção de teoria, apresentamos, entre outros artigos, traduções de “A Abolição da Propriedade” de M. L. Berneri, “David Graeber e o Anarquismo” de O. Alberola, e “O Capitalismo não dá chance a todos: mas o anarcocomunismo pode” do site The Slow Burning Fuse. Infelizmente, esta edição também inclui vários obituários. Prestamos homenagem a J. Couzin, A. Failla, C. Durruti, H. Gómez, C. Jerwood, J. Tesař, G. Garbis, O. Alberola e a combatentes caídos que resistiram à invasão russa da Ucrânia: S. Apukhtin, D. Chichkan e Misjac. Como sempre, documentamos eventos e desenvolvimentos dentro do movimento antiautoritário tcheco. Esta edição apresenta reportagens sobre ações pelos direitos das mulheres e queer, em solidariedade com a resistência contra o fascismo putinista, em apoio aos refuseniks israelenses e contra o genocídio em Gaza, contra a gentrificação, em apoio aos antifascistas okupas e perseguidos, pela justiça climática e muito mais. Extensos relatórios também cobrem a manifestação do Primeiro de Maio de Praga e a Feira do Livro Anarquista local. A FA também apresenta as atividades recentes em seção dedicada.

A edição continua com resumos de textos recentes de jornais murais em A3 dos últimos 6 meses, cobrindo tópicos como a ascensão de tendências fascistas, direitos das mulheres, visões de um mundo melhor, ocupações, a comunidade Bedřiška e o genocídio do povo de Gaza.

A revista conclui com revisões sobre o anarquismo tcheco na virada do século (Czech Anarchism at the Turn of the Century) de V. Štěpán, e O fim de tudo (The Dawn of Everything) de D. Graeber e D. Wengrow.

Baixar em: https://www.afed.cz/download/Existence_2_2025.pdf

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

gota no vidro
um rosto na janela
olhar perdido

Carlos Seabra

[EUA] Sem Deuses, Sem Prefeitos

Colocar “rostos socialistas em lugares de poder” não acaba o ciclo de violência e injustiça

Yavor Tarinski ~

Para a cidade de Nova Iorque e para as pessoas que moram nos EUA, a vitória de Zohran Mamdani na eleição para prefeito é certamente um resultado muito melhor do que qualquer outro. Entretanto, precisamos evitar cair nos mesmos erros de complacência, individualismo, e otimismo excessivo, que levaram à ascensão de Trump e da extrema-direita global.

Os movimentos sociais precisam finalmente aprender que a velha estratégia de “rostos socialistas em lugares de poder” não acaba o ciclo de violência e injustiça. Candidatos progressistas bem-intencionados e honestos são envolvidos com posições de poder e pressionados por todos os lados por elites e burocratas. Isso dá pouco espaço para que eles façam qualquer coisa significativa com suas promessas pré-eleitorais. Mais cedo ou mais tarde, os apoiadores de Mamdani ficarão decepcionados quando ele acabar não entregando suas promessas (moderadamente) socialistas.

Não devemos nos esquecer da administração Obama, ou das experiências da esquerda parlamentar na Europa da última década, quando a euforia em torno do SYRIZA na Grécia e do Podemos na Espanha rapidamente se transformou em cinismo e passividade generalizados. No mesmo período, plataformas municipalistas de esquerda conseguiram chegar a governos locais em diferentes cidades, mais notavelmente Barcelona. Mas nesses casos também, pouquíssima significância foi atingida e essas plataformas perderam o poder, em boa parte devido às suas próprias ações e inações.

Nos EUA, muitas cidades presenciaram tendências parecidas ao longo das décadas – incluindo Atlanta, Detroit, Nova Orleans, e Washington D.C. -, onde líderes políticos locais e regionais surgiram das fileiras dos direitos civis, direitos trabalhistas, e de movimentos pelo Poder Negro, para num piscar de olhos trair suas comunidades. Esses prefeitos acabaram fazendo justamente o que seus antecessores fizeram: despejando famílias pobres, encobrindo assassinatos feitos por policiais, diminuindo impostos para empresas e aumentando-os para os pobres e a classe trabalhadora, e especialmente reprimindo novos movimentos populares que lutavam por auto-governo autônomo.

Seria imprudente ignorar essa tendência histórica persistente que se espalha entre países e continentes. Depois de tantas decepções, certamente deve ser evidente que isso não é uma questão de honestidade, e sim de uma barreira estrutural que impede candidatos progressistas de cumprir suas promessas pré-eleitorais. Devemos parar de esperar que as pessoas em posições de autoridade entreguem justiça social e igualdade, independente de quem sejam. Ao invés disso, nosso foco deve ser a forma como o poder é estruturado, e não quem está no topo dele. Alguém espera que um político de esquerda como Mamdani defenda uma governança radicalmente democrática?

Ao invés de depositar expectativas em candidatos progressistas, os movimentos locais e as instituições participativas de base poderiam se confederar e lutar por reconhecimento – no final das contas, como os órgãos mais elevados de tomada de decisão em suas localidades. O que precisamos mais urgentemente, entretanto, é uma transformação profunda das nossas cidades e de suas economias, infraestrutura, serviços, espaço público, ecologia, e vida social. Para isso, nenhuma ajuda virá do gabinete do prefeito.

Estamos enfrentando várias crises, e o único jeito de sair dessa bagunça é que uma população organizada comande um verdadeiro poder comunitário. Não tem atalho.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/11/06/no-gods-no-mayors/

Tradução > Caio Forne

agência de notícias anarquistas-ana

velho sapato
lembra das caminhadas
solto no mato

Carlos Seabra

[França] Jornadas contra as guerras e o militarismo para os dias 10 e 11 de novembro de 2025!

Mobilização para este 11 de novembro em La Roche-sur-Yon!

Em La Roche-sur-Yon, estão sendo organizadas duas jornadas contra a guerra nos dias 10 e 11 de novembro, com conferências e manifestações para reafirmar uma oposição clara ao rearmamento e à virada autoritária e militarista em curso. Para reivindicar o direito à objeção de consciência para todas as pessoas no âmbito do trabalho, nos espaços públicos. Reafirmamos nossa insubmissão ao exército, à sociedade autoritária!

A Vendée [um departamento da França localizado na região do País do Loire], de fato, não é poupada pela militarização da sociedade. Foi o prefeito de extrema direita de Talmont-Saint-Hilaire, Maxence de Rugy, quem instituiu o passaporte da cidadania, impondo um discurso belicista, uma visão nacionalista e revisionista das guerras mundiais e coloniais a crianças de cerca de dez anos. Passaporte que também mistura o aprendizado de símbolos patrióticos com a entrada de policiais ou militares armados nas próprias salas de aula; ou mesmo que mistura, durante um espetáculo em homenagem ao passaporte, uma história fantasiada pela extrema direita com agentes do GIGN trazendo uma bandeira de helicóptero ao ministro do interior. É esse mesmo prefeito que causou furor ao querer impor às escolas públicas de seu município o uso de uniforme para os alunos.

Encontro em 11/11 às 13h30 na praça Simone Veil em La Roche-sur-Yon para uma manifestação!

Depois da manifestação, encontro na Bolsa do Trabalho de La Roche, com o seguinte programa: palestra, mesa de imprensa antimilitarista e um momento de convívio!

Por uma sociedade livre para sempre do espectro da guerra, semeemos a paz e a justiça social!

agência de notícias anarquistas-ana

Não é meia-noite
e as mariposas cansadas
já dormem nas praças.

Humberto del Maestro

COP30: Não há justiça climática sem a libertação da Palestina

Há quase dois anos, Israel vem realizando um genocídio transmitido ao vivo contra os palestinos indígenas em Gaza e em toda a Palestina histórica, devastando vidas, terras e ecossistemas. Especialistas da ONU descreveram os crimes de Israel como incluindo domicídio, urbicídio, escolasticídio, medicídio, genocídio cultural e ecocídio. Em setembro de 2025, a Comissão de Inquérito da ONU confirmou que Israel está cometendo um genocídio em Gaza.

Este genocídio é inseparável da destruição ambiental:

  • Mais de 100.000 toneladas de bombas lançadas, com uma pegada de carbono maior do que as emissões anuais de muitos países.
  • Contaminação generalizada do solo e da água com urânio empobrecido, fósforo branco e metais pesados.
  • 80% das terras agrícolas de Gaza foram destruídas, causando fome e colapso ecológico de longo prazo.

Este genocídio é construído em 77 anos de colonialismo, limpeza étnica, apartheid e ocupação ilegal, que Israel tem sido autorizado a perpetrar contra nosso povo através da cumplicidade de Estados e corporações. Acabar com a cumplicidade é o primeiro dever da solidariedade.

As empresas de energia, água e agronegócio são cúmplices — fornecendo combustível, carvão e tecnologias que possibilitam a máquina de guerra, os assentamentos e o sistema de apartheid de Israel, que por sua vez, são centrais nessa cadeia de cumplicidade.

Nossas demandas para a COP30 e além

Nós, organizações palestinas de base, ambientais e de direitos humanos, convocamos os movimentos de justiça climática, direitos humanos, sindicatos e solidariedade a agir:

Embargo energético global para a Palestina

  • Pressionar o Brasil, como anfitrião da COP30, a encerrar todas as exportações de petróleo, carvão e combustível para Israel.
  • Mobilizar globalmente — especialmente no Brasil, Colômbia, África do Sul, Nigéria, Grécia, Chipre, Turquia, Azerbaijão, Cazaquistão e Gabão — para interromper o envio de energia para Israel.
  • Visar empresas de energia, incluindo Glencore, Drummond, BP, Chevron, ENI e SOCAR, que estão alimentando o genocídio, o apartheid e a ocupação militar ilegal.
  • Oponha-se aos acordos de gás entre a UE e Israel que, segundo especialistas jurídicos, correm o risco de violar o direito internacional ao consolidar a ocupação ilegal e o regime de apartheid de Israel.

Acabar com o apartheid da água

  • Rescindir todos os acordos com a Mekorot, a empresa estatal israelense de água que corta o abastecimento de água a Gaza e sustenta os assentamentos ilegais.
  • Interromper novos projetos e denunciar as empresas de água que fazem greenwashing do apartheid.

Acabar com a cumplicidade do agronegócio

  • Boicote e desinvista da Netafim, Adama, ICL Group e outras empresas do agronegócio que lucram com o colonialismo, pesticidas e roubo de terras.
  • Conecte as lutas pela soberania alimentar em todo o mundo à luta da Palestina pela terra e pela vida.

Banir Israel da COP30

  • Israel, considerado culpado de apartheid e genocídio (incluindo ecocídio), não deve ser legitimado como participante de uma conferência climática da ONU. Sua presença prejudica a credibilidade restante da COP30 e da agenda global de justiça climática.
  • A sociedade civil deve exigir que o Brasil e a UNFCCC excluam Israel até que ele cumpra integralmente o direito internacional e respeite os direitos dos palestinos, incluindo o direito dos refugiados de retornar e receber reparações.

A justiça climática e a libertação palestina são inseparáveis. As empresas e os Estados que lucram com combustíveis fósseis, militarismo e destruição ecológica são, na maioria das vezes, os mesmos que possibilitam o genocídio.

Exortamos todos os movimentos reunidos em Belém para a COP30 a:

  • Incluir essas demandas em suas ações de incidência e comunicações.
  • Fortalecer o movimento global BDS como a forma mais eficaz de solidariedade, visando a cumplicidade e defendendo uma responsabilização significativa.
  • Construir campanhas conjuntas que vinculem a justiça climática às lutas anticolonialistas e antiapartheid.

Não há justiça climática sem a libertação palestina.

bdsmovement.net

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depois de horas
nenhum instante
como agora

Alexandre Brito

COP30, Itaú Unibanco, “capitalismo verde”, lucro recorde…

>> E dá-lhe greenwashing, “maquiagem verde”, “capitalismo verde” || Pois é, o Itaú Unibanco, o banco que mais financia a exploração de combustíveis fósseis na Amazónia, também marca presença na COP30 com a Casa Cubo, um espaço “voltado ao fomento de soluções inovadoras e tropicalizadas para os grandes desafios da transição climática, com uma programação com painéis, workshops e mesas-redondas que conectam tecnologia, sustentabilidade e desenvolvimento socioambiental”, segundo comunicado de imprensa do banco.

>> Com Lula 3, Itaú Unibanco tem lucro recorde || O Itaú Unibanco encerrou o terceiro trimestre de 2025 com lucro recorrente de R$ 11,9 bilhões, alta de 11,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Trata-se do maior lucro trimestral já registrado por um banco no Brasil, superando o recorde anterior que já era do Itaú, que no 2º trimestre de 2025 registrou lucro líquido contábil de R$ 11,28 bilhões. No acumulado no ano, lucro líquido do banco soma R$ 33,7 bilhões, alta de 8,7% ante os 9 primeiros meses do ano passado.

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/10/24/em-tempos-de-oportunismos-cinismos-hipocrisias-greenwashins-marina-silva-neca-setubal-itau-industria-do-petroleo/

agência de notícias anarquistas-ana

Vidraça quebrada –
o reflexo do opressor
se esvai em estilhaços.

Liberto Herrera

COP30 pra quem, hein meu povo?

Vamos conversar aqui sobre essa grande farsa, as contradições do governo Lula, o protagonismo do agronegócio, os superfaturamentos e principalmente a exclusão dos povos originários.

Por Gi Stadnicki | 05/11/2025

COP30: a farsa verde do capital e do governo Lula

A Conferência virou vitrine pra lucros, mas não pro povo, ok?

A COP30, anunciada como o “grande marco verde do Brasil”, chega com uma promessa de protagonismo internacional pro Brasil… Mas por trás dos slogans e das imagens aéreas de Belém, o que se monta é um teatro político e corporativo: Temos um megaevento que vende sustentabilidade e entrega lucro, fala em salvar o planeta e reforça os mesmos modelos que o destroem…

Patrocinadores do desastre

Empresas gigantes do agronegócio, mineração, petróleo e energia — responsáveis diretas por desmatamento, contaminação de rios e expulsão de comunidades — são estas que financiam, expõem suas marcas e ocupam os espaços centrais da COP. Essas corporações, que lucram com a destruição ambiental, agora se vendem como “parte da solução”!!

É o greenwashing¹ em escala global: quem mata a floresta aparece como guardião da natureza! A COP30 se tornou um palco de marketing para multinacionais que trocam vida por logotipos.

O agronegócio no comando

O “agro” chega à COP com estande próprio, discursos prontos e cifras bilionárias!! Apresenta-se como moderno, “sustentável”, tecnológico.

Traduzindo: Continua sendo o maior vetor de desmatamento da Amazônia; Mantém trabalho escravo em fazendas; Avança sobre territórios indígenas e quilombolas; Consome a maior parte da água do país.

O agronegócio não foi convidado à COP — ele a capturou, obviamente com todo aval do Governo Federal, como sempre. Transformou o evento em feira de negócios, em vitrine internacional de “soluções verdes” que só disfarçam a continuidade do lucro sobre a destruição.

O governo Lula e suas contradições

O governo se apresenta ao mundo como “líder climático”, mas os números e as decisões mostram outra coisa: Apoio a megaprojetos extrativistas (como petróleo na Margem Equatorial); Ministérios divididos entre ambientalistas e ruralistas; Ibama enfraquecido por cortes e interferências políticas; Licenças ambientais flexibilizadas em nome do “progresso” e da “inclusão produtiva”.

Tudo isso enquanto o governo vende a imagem de “novo guardião da Amazônia”, mantendo a lógica desenvolvimentista que trata a floresta como estoque de riqueza a ser explorado. É a velha política com nova embalagem verde.

Belém sitiada: o colapso da hospedagem

A cidade que deveria acolher o mundo se transformou num mercado de exploração.

Os preços de hospedagem explodiram de forma escandalosa: Diárias saltaram de R$ 200 para mais de R$ 10 mil; Hotéis e casas populares estão sendo reservadas por meses e revendidas a preços absurdos; Comunidades locais estão sendo expulsas temporariamente para abrir espaço a turistas e diplomatas.

Enquanto o discurso é de “participação global”, na prática, a COP virou um evento para ricos, ONGs milionárias e corporações. A população de Belém, que deveria ser protagonista, foi transformada em mão de obra, plateia ou obstáculo…

Os povos originários ficaram de fora!!

Nenhuma política climática é legítima sem os povos que preservam a floresta há milênios. Mas na COP30, eles não estão no centro — estão nas margens.

As denúncias se acumulam: Falta de passagens, hospedagem e alimentação para delegações indígenas; Credenciamentos negados ou limitados; Espaços segregados, como a chamada “Aldeia COP”, longe das salas de decisão;

E o mais grave: ausência de voz real nas mesas onde se define o futuro de seus territórios. Enquanto executivos e ministros discursam em palcos climatizados, líderes indígenas enfrentam barreiras financeiras e políticas para sequer chegar à conferência. A floresta — tema central da COP — fala, mas ninguém ouve.

A farsa política do discurso verde

O que se chama de “governança climática” virou mercado de compensações. Empresas poluidoras pagam para continuar poluindo e governos lucram politicamente vendendo a ideia de “neutralidade de carbono”…

Na prática, a COP30 serve para: Legitimar negócios de crédito de carbono, altamente lucrativos e pouco eficazes; Absolver grandes poluidores, que compram sua própria imagem limpa; E blindar governos que dizem combater o desmatamento, mas mantêm o extrativismo e o agronegócio intocados.

Belém como símbolo do modelo colonial

É simbólico que a COP aconteça na Amazônia — o território mais explorado e saqueado da história brasileira. Mas o que se vê é a repetição da lógica colonial: Elites políticas e empresariais chegam de fora, montam suas estruturas, exploram a imagem da floresta, e saem deixando pouco ou nada de legado real para o povo local… O que deveria ser um encontro de reconstrução planetária virou um evento de espetáculo. A Amazônia vira cenário, e o povo amazônida, nem mesmo figurante!! Concluindo: o planeta como palco, o capital como protagonista!!

Enquanto o espetáculo se desenrola…

As florestas queimam,

Os rios morrem,

Os povos são ignorados,

E o mundo aplaude os (ir)responsáveis — dentro de seus belos salões com ar-condicionado…

E mais: Helder Barbalho, governador do Pará, não é um ambientalista, é um político do agronegócio e da mineração!!

Apesar do discurso “verde”, o governo do Pará é sustentado por grandes mineradoras, madeireiras e empreiteiras — justamente os setores que mais destroem o território amazônico. O Pará é campeão de desmatamento e queimadas há anos consecutivos. O governo estadual concede licenças ambientais irregulares para megaprojetos extrativistas e não fiscaliza a grilagem e o garimpo ilegal. Helder posa de “protetor da Amazônia”, mas é parceiro de Vale, Alcoa e grandes grupos estrangeiros que devastam a região.

ACORDA MEU POVO!!!!!

Denunciar é resistir!

A verdadeira luta climática não está na COP, está fora dela!! É nas aldeias, nas comunidades ribeirinhas, nas periferias urbanas, nas mulheres que defendem suas águas e seus corpos!

Enquanto o capital sequestra a pauta ambiental, cabe à sociedade denunciar a farsa, romper o silêncio, exercer de fato a função de cuidar da nossa casa comum.

[1] O que é Greenwashing?

Greenwashing é uma estratégia de marketing enganosa usada por empresas para parecerem mais sustentáveis e ambientalmente responsáveis do que realmente são. A prática envolve a promoção de produtos, serviços ou a própria empresa como “verdes” através de publicidade falsa ou exagerada, sem que as ações concretas de sustentabilidade sejam significativas ou inexistentes. 

Como funciona:

▪️ Marketing falso: Empresas criam campanhas que focam em apelos emocionais de sustentabilidade para atrair consumidores preocupados com o meio ambiente.

▪️ Informações enganosas: Usam rótulos falsos, afirmações vagas em relatórios de sustentabilidade ou exageram a veracidade de uma pequena ação verde para criar uma imagem positiva.

▪️ Oculta a verdade: O objetivo é criar uma imagem de responsabilidade ambiental sem mudar significativamente seus processos de produção ou ter um impacto positivo real no meio ambiente.

agência de notícias anarquistas-ana

Se equilibra
nas variações do vento
o bem-te-vi

Harley Meirelles

“Nós, surrealistas, não esperamos nada da Cúpula da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30) em Belém, na região amazônica do Brasil.”

Nós, surrealistas, não esperamos nada da Cúpula da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30, novembro de 2025) em Belém, na região amazônica do Brasil. Nossas esperanças dependem da resistência contra a destruição ecológica capitalista e as mudanças climáticas catastróficas, pelas forças da própria natureza selvagem e pelas comunidades que ousam lutar contra o poder monstruoso da civilização ocidental moderna.

Os movimentos indígenas e camponeses brasileiros, bem como outras forças críticas, estarão presentes em Belém do Pará, levantando a bandeira da insubmissão. A maravilhosa pintura de Max Ernst, Jardim devorador de aviões (Jardin gobe-avions), de 1935, é um verdadeiro manifesto surrealista ecológico à frente de seu tempo.

Fascinado pela floresta selvagem, Ernst pintou um grande número delas durante as décadas de 1930 e 1940, povoadas por espíritos e divindades pagãs. Mas em Jardim devorador de aviões, a natureza não se limita a manifestar seu poder exuberante e enigmático; ela devora “selvagemente” as máquinas da civilização. Existem três versões: em todas elas, vemos uma vegetação exuberante e multicolorida atacando avidamente pedaços espalhados de metal pálido, que, em uma das versões, assumem a forma explícita de peças de avião. Não se pode deixar de ficar impressionado com a premonição do artista: o avião revelaria, nos anos seguintes, de Guernica (1937) até os dias atuais, seu formidável poder como arma de destruição em massa. É certo que também é um meio de transporte. Mas, no século XXI, os ambientalistas são rápidos em apontar seu papel prejudicial: reservado a uma minoria privilegiada, é um grande emissor de gases de efeito estufa, contribuindo assim para as mudanças climáticas. Daí as batalhas ecológicas contra a construção de novos aeroportos, como em Notre-Dame-des-Landes, onde o Jardim dos Zadistas conseguiu engolir todos os aviões destinados ao local…

Em 1937, Benjamin Péret publicou um artigo surpreendente na revista Minotaure (nº 10) intitulado “A natureza devora o progresso e o supera”, talvez inspirado por um episódio que viveu durante sua estadia no Brasil no início dos anos 1930. Aqui está um trecho desse texto, que descreve a luta vitoriosa — erótica! — da floresta virgem contra a máquina que simboliza o progresso industrial promovido pelo capital, a locomotiva.

“A floresta recuou diante do machado e da dinamite, mas entre duas passagens do trem, ela se lançou sobre os trilhos, fazendo gestos provocantes ao maquinista (…). A máquina vai parar para um abraço que ela vai querer que seja fugaz, mas que se prolongará até o infinito, de acordo com o desejo perpetuamente renovado da sedutora. (…) A partir daí, começa a lenta absorção: biela por biela, alavanca por alavanca, a locomotiva entra no leito da floresta e, de prazer em prazer, banha-se, treme, geme como uma leoa no cio. Ela fuma orquídeas, sua caldeira abriga as brincadeiras de crocodilos nascidos no dia anterior, enquanto no apito vivem legiões de beija-flores que lhe dão uma vida quimérica e temporária, porque logo a chama da floresta, depois de ter lambido sua presa por muito tempo, a engolirá como uma ostra. “Na batalha entre a floresta e a máquina, Max Ernst e Benjamin Péret escolheram claramente o seu lado…

Em L’Amour Fou, Breton presta homenagem ao “amor pela natureza e pelo homem primitivo que permeia a obra de Rousseau”. Este duplo amor, herdado do romantismo revolucionário rousseauista, caracterizará o espírito surrealista ao longo de sua história, muito além da França ou da Europa: basta pensar na poesia de Aimé Césaire, nos ensaios de Suzanne Césaire ou na pintura de Wifredo Lam e Ody Saban. Ideias semelhantes foram desenvolvidas pelo surrealista de Chicago Franklin Rosemont em seu brilhante ensaio sobre “Marx e os Iroqueses” (Arsenal, n° 1, 1989). Esse compromisso surrealista assume uma nova relevância hoje, quando as comunidades indígenas se encontram na linha de frente da luta contra a destruição da natureza pela “civilização”. Leonora Carrington, em “O que é uma mulher, 1970”, escreveu: “Se as mulheres permanecerem passivas, acho que há muito pouca esperança para a vida nesta Terra”. Felizmente, as mulheres são muito ativas em todas as lutas ecológicas, às vezes sacrificando suas vidas, como Berta Cáceres, a mulher indígena hondurenha assassinada por bandidos militares em 2016.

Em contraste com a exploração ecocida capitalista da natureza, encontra-se entre as comunidades “selvagens” — um termo carregado de desafio que os surrealistas preferem a “primitivo” — de todos os continentes uma percepção da natureza como uma “floresta encantada”. Essa relação de respeito pelo mundo sagrado dos espíritos naturais e de harmonia com a natureza é uma das razões pelas quais os surrealistas, desde o início do movimento na década de 1920, demonstraram sua simpatia, admiração e apoio aos “selvagens” em sua luta contra a opressão assassina do colonialismo e sua pretensão de impor, à ferro e fogo, a “civilização” e o “progresso” aos colonizados.

Num maravilhoso texto de 1963 intitulado “Main première”, Breton presta homenagem aos aborígenes australianos e à sua “terra dos sonhos” (Alcheringa), cuja “arte crua”, descrita nas obras de Karel Kupka, “delineia uma certa reconciliação do homem com a natureza e consigo mesmo”.

Não é esta a utopia surrealista definitiva, a reconciliação dos seres humanos com a natureza? Uma utopia mais relevante do que nunca, numa época em que o progresso trava uma guerra implacável para saquear e esmagar, com suas máquinas, com “o machado e a dinamite” (Péret), o jardim encantado que nos rodeia.

Em suas teses Sobre o Conceito de História — um documento criticado por Jürgen Habermas, aquele apologista incondicional da “Modernidade”, porque se inspirava “na consciência do tempo concebida pelos surrealistas, que se aproxima do anarquismo” —, o marxista Walter Benjamin discretamente se distanciou das ilusões progressistas de Marx: “Marx disse que as revoluções são a locomotiva da história mundial. Talvez as coisas sejam diferentes. Pode ser que as revoluções sejam o ato pelo qual a humanidade, viajando no trem, aciona os freios de emergência.”

Nós, surrealistas, acreditamos que a imagem de Benjamin é muito relevante hoje. Somos todos passageiros de um trem, conduzido por uma locomotiva suicida chamada “Civilização Capitalista Industrial Moderna”, que corre cada vez mais rápido em direção a um abismo: o desastre ecológico. É preciso pará-la com urgência e permitir que a natureza se reafirme, devorando silenciosamente as locomotivas do progresso.

Gale Ahrens, Jay Blackwood, Miguel de Carvalho, Laura Corsiglia, Vicente Gutierrez Escudero, Beth Garon, Yoan Armand Gil, Robert Green, Patrick Lepetit, Gina Litherland, Michael Löwy, Muriel Martin, Isidro Martins, David Roediger, Hal Rammel, John Richardson, Jesús García Rodríguez, Penelope Rosemont, Ody Saban, Tamara Smith, Abigail Susik, Debra Taub, Joel Williams, Craig Wilson. 

Fonte: https://aideiablog.wordpress.com/2025/10/31/a-natureza-devora-o-progresso-e-supera-o-surrealismo-e-natureza-por-michael-lowy-cop-30/

agência de notícias anarquistas-ana

Abrindo a janela
Um zum-zum de abelhas —
Roseiral florido.

Clície Pontes

[Bielorrússia] Sobre o silenciamento das vozes da Europa do Leste nos eventos anarquistas da UE

Nos últimos anos, apareceram no âmbito anarquista muitas organizações e grupos que excluem ativamente dos eventos públicos os ativistas do Solidarity CollectivesABC-Belarus e outras organizações anarquistas e antiautoritárias, bloqueando sua participação e redigindo diversos tipos de “declarações” nas quais condenam seu trabalho em apoio à resistência ucraniana à invasão russa. A base deste comportamento costuma ser a posição distorcida dos ativistas da Europa do Leste sobre a guerra. Acusam-se os anarquistas de converterem-se em militaristas, de apoiar a guerra e de não serem suficientemente críticos com o Estado ucraniano.

Em nossa opinião, este comportamento não é digno do movimento anarquista: cremos na necessidade do diálogo sobre questões controversas. As tentativas de obrigar os anarquistas a dizer o “correto” para que os companheiros ocidentais estejam dispostos a escutá-los e doar-lhes dinheiro parece coação. Não consideramos que o trabalho dos Coletivos Solidários e ABC-Bielorrússia seja de modo algum pró-guerra ou de apoio ao militarismo estatal. Condenamos categoricamente qualquer tentativa de isolar os coletivos anarquistas da Europa do Leste na questão da expansão militar do regime russo.

Fazemos um chamado a outros coletivos anarquistas para que mostrem sua solidariedade com os anarquistas que lutam aqui e agora contra os regimes de Putin e Lukashenko com armas ou pedras em suas mãos. A resistência ao Estado não é possível sem solidariedade, pensamento crítico e diálogo sobre questões políticas complexas.

Lista de signatários desta declaração (se deseja ser adicionado a esta lista, ponha-se em contato com uma das organizações da lista): https://abc-belarus.org/en/2025/11/06/on-silencing-voices-from-eastern-europe-at-anarchist-events-in-eu/

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Foi ver seu filho
contando ipês floridos
pela estrada.

Marcos Reigota

Ataques e memoriais para Kyriakos Xymitiris

Incêndio em Berlin; e passeatas e repressão na Grécia marcam 1 ano desde a explosão fatal em Atenas

Kit Dimou ~

Semana passada, houve uma série de ações e memoriais anarquistas em toda a Europa, marcando 1 ano desde a morte do anarquista grego Kyriakos Xymitiris, morto em 31 de outubro de 2024 na explosão de uma bomba em Atenas.

Recentemente, terça-feira, dia 4 de novembro, um grupo anônimo autodenominado “os três quatro castores engraçados” reivindicou a responsabilidade por incendiar uma estação transformada em canteiro de obras do centro de dados Virtus em Berlim, dedicando a ação a Xymitiris. Em um comunicado rimado intitulado “Fogo e chama aos data centers!”, o grupo denunciou a destruição ambiental da indústria de IA e seu papel no militarismo, incluindo o uso de inteligência artificial no bombardeio de Gaza por Israel. Disse que gasolina e pneus foram usados para iniciar o incêndio, embora a polícia tenha dado à grande mídia um relato contraditório.

Os eventos de comemoração de Xymitiris começaram em 30 de outubro com uma reunião pública na Universidade Panteion de Atenas, discutindo a memória revolucionária e apresentando um livro sobre luta armada. Na noite seguinte, centenas marcharam no centro de Atenas sob faixas lembrando o anarquista caído e exigindo liberdade aos presos pela explosão de Ampelokipi em 2024: Marianna Manoura, Dimitra Zarafeta, Nikos Romanos e mais dois. A passeata foi violentamente atacada pela polícia de choque ao entrar em Exarchia, com granadas de efeito moral e sprays químicos usados contra pessoas sentadas nos cafés próximos. Testemunhas relataram dezenas de detidos durante a dispersão.

Em Creta, na mesma manhã, houve ataques [da polícia] a estruturas anarquistas em grande escala em Heraklion, incluindo a okupa Evangelismos. Várias pessoas foram presas após um recente confronto público com o ex-ministro de extrema-direita Makis Voridis, cuja longa história com a junta militar da Grécia e redes neonazistas mais uma vez atraiu escrutínio. Os ataques coincidiram com o aniversário da morte de Xymitiris e pareciam ter o objetivo de interromper as assembleias memoriais planejadas.

Em Hamburgo, os camaradas se reuniram para pendurar uma faixa com dizeres “Corações revolucionários queimam para sempre – Kyriakos X.” e para compartilhar discussões e lembranças. Outras declarações de solidariedade vieram de Portugal, da Palestina e da cena habitacional autônoma da Alemanha. Um coletivo do prédio okupado Rigaer94, em Berlim, publicou longo texto relembrando a presença de Xymitiris na cidade e ligando sua memória às lutas contra o despejo, o militarismo e o controle digital.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/11/06/attacks-and-memorials-for-kyriakos-xymitiris/

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

saltitando
desconfiado sabiá
sabe onde pisa

Yara Shimada

Atualização sobre a situação interna do Sudão

(Grupo Anarquista no Sudão, 3 de novembro de 2025)

Queridos companheiros revolucionários de todo o mundo, vocês acompanharam os acontecimentos de El Fasher e sua evolução nas plataformas dos grupos envolvidos na Revolução Sudanesa. No entanto, gostaríamos de passar as seguintes informações:

Em primeiro lugar, depois de prestar homenagem aos nossos camaradas que lutaram em El Fasher e Cartum e carregaram a tocha do grupo, afirmamos que, embora rejeitemos categoricamente o princípio do porte de armas, porque sabemos que armar um dos campos em conflito só serve ao imperialismo e seus interesses nesta guerra, os camaradas caídos não tiveram escolha a não ser pegar em armas para defender a si mesmos e às suas famílias. Não pertenciam a nenhuma facção militar antes da guerra e, quando o cerco de El Fasher e o ataque Janjaweed começaram, não tiveram escolha a não ser se defender. Lutaram ao lado das Forças de Autodefesa do Povo, que continuaram os combates na cidade mesmo após a retirada do comando da 6ª Divisão das Forças Armadas Sudanesas (Forças Armadas Sudanesas, SAF; القوات المسلحة السودانية).

Não temos notícias dos companheiros desde 9 de setembro de 2025, mas soubemos, pelas famílias, depois, que fugiram para campos de refugiados de longo prazo, e que foram martirizados os defendendo. Eles se defendem, exercendo o seu direito fundamental à vida, à liberdade e à dignidade. O mínimo que podemos fazer por esses companheiros é cuidar das suas famílias, com quem o grupo ainda está em contato. Essas famílias até dormem no chão, expostas à luz solar de chumbo durante o dia e ao frio congelante à noite. Também sofrem de desnutrição grave e falta de acesso a cuidados. Fazemos tudo o que podemos para ajudar as famílias a honrar a sua memória.

O camarada Kahraba disse que odiava Kalachnikov, mas odiava ainda mais a perda da liberdade e a obtenção da dignidade. Também queremos afirmar que, depois de perder contato com os companheiros, eles foram martirizados em datas diferentes, mas não pudemos confirmar isso devido ao assento sufocante e ao apagão nas comunicações. Tememos que os Janjaweed retaliem contra as famílias que permaneceram nas áreas que controlam. Manter os seus nomes para sempre gravados em nossos corações e na história do movimento de libertação será suficiente para nos lembrarmos deles.

Queremos tranquilizá-los: enquanto muitos de nossos companheiros do grupo estão em áreas distantes dos confrontos armados, no entanto, ainda há camaradas no Sudão que não deixaram o país e continuam a fazer ouvir a voz do grupo na arena internacional. Não há refúgio seguro no Sudão, um país à beira de uma guerra civil semelhante à de Ruanda. O estado e as milícias Janjaweed começaram a mobilizar milhares de soldados antes do confronto iminente. Se a guerra não for interrompida, será uma catástrofe humanitária e milhões de pessoas inocentes correm o risco de perecer.

Companheiros no caminho da libertação, revolucionários de todo o mundo, a luta direta contra a autoridade tem um preço exorbitante: as nossas vidas e as nossas liberdades. Os seus camaradas do Sudão escolheram não ficar em silêncio, e essa é a essência dos revolucionários. Enquanto ansiamos pela paz, pedimos paz e rejeitamos a guerra, os exemplos mais horríveis de autoridade racista, hegemonia imperialista e conflito internacional estão ocorrendo no Sudão. Um dos camaradas disse: “A arma é a ideia, e a ideia é a arma”. Ou você vira a sua ideia contra o opressor, ou morre trazendo-a contra si mesmo. É assim que viveremos livres ou morreremos como revolucionários.

É por isso que pedimos as campanhas de apoio em todo o mundo sejam expandidas, porque os nossos semelhantes têm direito. A sua defesa de El Fasher é a defesa de todos os revolucionários. Após a queda de El Fasher, o Sudão será dividido em duas ditaduras militares ou, então, será mergulhado em uma guerra civil e rios de sangue.

Doe para apoiar os seus camaradas no Sudão.

Glória e eternidade aos revolucionários livres!

Secretário Geral do Grupo,

Fawaz Murtada

>> Link para doações ao grupohttps://opencollective.com/support-sudanese-comrades

Tradução > CF Puig

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/11/06/declaracao-do-grupo-anarquista-no-sudao/ 

agência de notícias anarquistas-ana

nas ondas cintila o luar.
longas algas,
verde cabelo do mar

Alaor Chaves

[Chile] Após mais de 3 meses finaliza julgamento contra os irmãos Lucas e Aldo Hernandez

Por La Zarzamora

Esta segunda-feira, 3 de novembro, culminou o julgamento contra Aldo e Lucas Hernandez, sendo condenados a 21 e 12 anos de prisão respectivamente, isto após mais de 3 meses de audiências, nas quais o poder tentou com todo seu aparato conseguir um castigo exemplar para ambos os irmãos.

Em 21 de julho deste ano, entre comícios e múltiplas ações solidárias, começou o extenso julgamento contra Aldo e Lucas Hernandez, o qual se desenvolveu no Centro de (In) Justiça de Santiago. A parte querelante, formada pelo Ministério Público, Ministério da Segurança Pública e Gendarmeria do Chile, exigia no princípio penas intoleravelmente excessivas, que iam dos 20 anos de prisão para Lucas até os 90 anos de prisão para Aldo Hernandez.

Posteriormente já após a leitura do veredito realizada em 3 de outubro, os querelantes solicitavam a pena de 32 anos e 1100 dias para Aldo e uma pena de 18 anos e 800 dias para Lucas, por sua parte as defesas de Aldo solicitavam uma pena de 26 anos e a de Lucas uma de 12 anos. Finalmente este 3 de novembro se obtêm as condenações de 21 anos para Aldo e 12 anos para Lucas.

As sentenças plasmadas em um documento de mais de 400 páginas, se referiram a 3 fatos: 1- O ataque à Direção Geral da Gendarmeria em dezembro do ano de 2021, 2- A invasão a um domicílio do Loncura e 3- A invasão a um domicílio em La Victoria.

Aldo Hernandez foi declarado culpado do atentado à Direção da Gendarmeria, mas absolvido dos delitos de lesões menos graves a carcereiros e do delito de receptação, também o declararam culpado em relação aos elementos encontrados na invasão de Loncura (fato 2), mas o absolveram de todos os delitos que lhe imputavam relacionados à invasão no domicílio de La Victoria (fato 3). Lucas, por sua parte, foi condenado pela maioria dos delitos relacionados ao domicílio do povoado de La Victoria, mas foi absolvido dos delitos de fabricação de armas e fabricação de artefatos explosivos.

Desde a parte da defesa de Aldo, o advogado Washington Lizana, em comunicação com La Zarzamora expressou:

“Nossa avaliação em geral é positiva, embora não se conseguiram claramente todos os objetivos da defesa, se o analisamos em relação à acusação, as pretensões do ministério público, voltamos a uma situação mais razoável, eu creio que essa é a palavra, há que partir da base de que a acusação contra Aldo e Lucas partia de uma petição de condenação, de mais de 100 anos no caso de Aldo e de 26 anos no caso de Lucas… Tratava-se de vários delitos que imputava o promotor, 16 delitos agrupados em 3 fatos diferentes, um fato de 27 de dezembro de 2021: colocação, detonação da Direção Nacional da Gendarmeria, por parte de duas pessoas que se deslocavam em uma motocicleta e vários delitos que estavam conexos a esse fato principal mais dois fatos ocorridos no dia 22 de dezembro do ano de 2022, no marco de diversas entradas e registros, a diversos imóveis relacionados com a investigação do fato número 1. O fato número 2, se vinculava a elementos encontrados em um domicílio da comuna de Quinteros e o fato número 3 elementos encontrados em um domicílio de Pedro Aguirre Cerda. 16 delitos em relação a Aldo Hernandez, dos quais o tribunal absolveu de 10 delitos, e condenou em relação a 6, dois do fato 1 e quatro do fato número 2, absolveu de todos os delitos do fato número 3 em relação a Aldo, nesse sentido uma sentença na qual se acolhe parcialmente a pretensão do Ministério Público e é 20 por cento do total da pena solicitada”.

Sobre o resultado deste julgamento e em relação ao aumento de anos nas condenações emitidas nos últimos julgamentos de companheiros agregou:

“É um avanço, não era o ótimo, não era o objetivo desta defesa, mas põe a situação, o marco de perseguição penal, em um cenário mais razoável, nesse sentido há que considerar, que este julgamento se dá em um marco social caracterizado por uma febre punitivista, uma exacerbação dos meios de comunicação dos diversos órgãos do estado, de criminalização das organizações políticas sociais que se colocam em confronto com o estado, em confronto mais direto, de uma manipulação da opinião pública, nesta política de acentuação da criminalização. Era um cenário difícil e havíamos visto que nos últimos anos, nas útlimas causas vinculadas com estes delitos, as penas haviam chegado a topos irracionais, por exemplo no caso de Camilo Gajardo, que foi em 2017-2018, houve um julgamento oral em relação a esse jovem e a promotoria neste mesmo tribunal obteve uma pena de 43 anos. Neste mesmo tribunal, também um par de anos atrás surgiu a condenação em relação a Francisco Solar, de 86 anos. Então, claro, a promotoria baseava-se nessas sanções penais acentuou suas pretensões de pena, suas pretensões punitivas, sua estratégia de perseguição penal e quis repetir o mesmo quadro aqui no mesmo tribunal com penas também muito, muito incrementadas, com uma imputação de multiplicidade de delitos e eu creio que com esta sentença o tribunal põe as coisas em seu lugar”.

Cabe recordar que ambos os irmãos foram detidos em 22 de dezembro de 2022, no domicílio do povoado La Victoria, após serem investigados pela Promotoria Metropolitana Sul, no contexto do ataque à Direção da Gendarmeria (2021), investigação encarregada ao OS9, Gope e Labocar, para conseguir incriminar os irmãos, considerados então sujeitos de interesse. Assim mesmo é necessário mencionar que estas invasões foram presenciadas e vividas também por crianças, que se viram expostas à violência das forças repressivas, podendo isto ter sido evitado.

Após esta leitura de sentença não se descartam novas ações legais, após o estudo e análise desta.

Fonte: https://lazarzamora.cl/tras-casi-3-meses-finaliza-juicio-contra-los-hermanos-lucas-y-aldo-hernandez/

Tradução > Sol de Abril

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/03/14/chile-atualizacao-sobre-os-companheiros-aldo-e-lucas-hernandez/ 

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2023/12/27/chile-solidariedade-anarquista-com-aldo-e-lucas-hernandez/ 

agência de notícias anarquistas-ana

A serra em chuva
Sob o sol poente –
Como não agradecer?

Paulo Franchetti

[Espanha] Os acontecimentos em Bera em novembro de 1924

De 6 a 7 de novembro de 1924, em plena ditadura de Primo de Rivera, um grupo anarquista penetrou por Bera (Navarra) com a intenção de criar um foco guerrilheiro do qual se contagiassem para a insurreição em outros lugares e, assim, derrubar o tirano. Os anarquistas mataram em Bera dois guardas civis. Foram perseguidos pela fronteira, e nas escaramuças subsequentes houve outras duas mortes e 19 detidos. Três foram condenados à morte; dois foram garroteados — Julián Santillán e Enrique Gil Galar — e o terceiro, Pablo Martín Sánchez, foi jogado no pátio da prisão de uma janela.


No sumário pelo crime de rebelião contra a Ditadura, o juiz acusou Miguel Unamuno, Vicente Blasco Ibáñez e Rodrigo Soriano de dirigir a insurreição. A incredulidade de que esses três escritores fossem capazes de dirigir algo era geral. As autoridades se defenderam dizendo que esses três nomes haviam sido oferecidos pelos detidos. Essa versão foi tratada como fantasiosa, mas não pôde ser comprovada porque os detidos haviam sido executados.

(Extrato do livro de Iñaki Egaña “Mil notícias insólitas”)

>> Foto em destaque: Julián Santillán

agência de notícias anarquistas-ana

gato no galho,
bem-te-vis na janela,
e eu no telhado

Rosa Clement

A COP30 é uma farsa, a transição ecológica é uma mentira e o desenvolvimento sustentável não existe

Um breve resumo sobre o Brasil, que acolhe a Cúpula do Clima e que, sob uma gestão progre, busca impor sua própria versão da utopia de reformar o capitalismo.

Por Raphael Sanz | 05/11/2025

Está a ponto de começar a COP30 em Belém, capital do estado do Pará e principal cidade da Amazônia brasileira, um território que equivale a uns dois Méxicos e que só não arde como em 2024 porque este é um ano de La Niña e, portanto, as chuvas são um pouco mais abundantes em 2025. Será a trigésima vez que lobistas e representantes de governos e corporações de todo o planeta se reúnem para debater ficções e ajustes irrealizáveis, reformas verdes para o capitalismo e objetivos de descarbonização inócuos e geralmente descumpridos por eles mesmos, enquanto as temperaturas sobem nos oceanos, nos bosques e nos territórios ocupados pelos seres humanos. E nesse 2025, os diversos representantes climáticos mundiais chegam a um Brasil bastante complicado.

A primeira cena deste Brasil é o recente massacre da Penha-Alemão, no Rio de Janeiro, onde ao menos 128 corpos foram executados pelo Estado à céu aberto e enfileirados em uma praça pública. Apenas esfriavam, e os meios de comunicação já repetiam os coros procedentes do próprio governo estatal (responsável pela “operação”) de que todos os mortos eram membros da facção criminosa Comando Vermelho. Não se sabe se o eram ou não. O que sim se sabe é que os principais objetivos da polícia, os chefes do tráfico, não foram vítimas nem presos, a cidade paralisou durante dias e as comunidades afetadas foram castigadas coletivamente pela presença de grupos criminosos ali, os legais (128 cadáveres) ou ilegais.

Mas esta forma de abordar a segurança é uma constante em todo o país. No Rio se tentou de tudo, desde modelos de polícia comunitária (Unidades de Polícia Pacificadora, UPP) que resultaram ser tão violadoras e violentas como a polícia comum, até as infames GLOs (Operações de Garantia da Lei e da Ordem), nas quais o governo federal autoriza o uso das Forças Armadas para ajudar a polícia estatal com a segurança pública. Em 2017, por exemplo, o general Walter Braga Netto dirigiu a GLO que promoveu uma ocupação militar em algumas favelas do Rio, entre elas o Complexo do Alemão. Candidato à vice-presidência de Bolsonaro em 2022, hoje está condenado por tentar um golpe de Estado.

E é aqui que o modelo chegou à Amazônia pela mão da COP30. Na segunda-feira passada, 3, o presidente Lula assinou uma GLO para a capital do Pará a pedido do governador Helder Barbalho. Na terça-feira, 4, pela manhã, os militares começaram a chegar em massa com seus veículos terrestres, aquáticos e aéreos.

Os movimentos sociais temem a repressão que tal segurança pode gerar. Sobretudo em uma COP30 na qual o Brasil tenta fazer um greenwashing de suas recentes decisões ambientais.

E por “recentes” não nos referimos à tragédia que vivemos sob o governo de Bolsonaro, anterior ao atual terceiro mandato de Lula, no qual nossos biomas arderam como nunca antes devido à promoção federal deliberada da expansão das fronteiras da agroindústria e da mineração. A mudança de gestão trouxe consigo, dado o desastre anterior, a ideia errônea de que o Estado brasileiro seria um aliado do resto da humanidade na luta contra o colapso socioambiental que presenciamos diariamente. Não é.

Ao longo da presente administração, em contradição com as promessas de campanha que prometiam delimitar os territórios indígenas e quilombolas e fechar o cerco contra os setores extrativistas (agroindústria, mineração, hidroelétricas, estradas), vimos o contrário. As demoras e os obstáculos burocráticos entorpeceram a proteção das terras indígenas já demarcadas e a demarcação de novos territórios. Os avanços da agroindústria sobre áreas naturais que culminaram no Dia do Fogo em 2024, por não falar da fúria por construir estradas, ferrovias e hidrelétricas que servirão basicamente para que a agroindústria depredadora distribua sua produção e para a chegada em massa dos centros de dados estrangeiros, com seu alto consumo energético e empregos de má qualidade para a classe trabalhadora.

Às vésperas da COP30, o modelo de transição energética que vamos apresentar ao mundo se baseia na premissa de tratar as hidrelétricas como “energia limpa”, em contraposição às termoelétricas e nucleares do exterior. Mas não incluem o desmatamento na equação, que é a principal causa de emissões de carbono por aqui. Belo Monte, hidrelétrica construída em Altamira (município do Pará afetado pela recente GLO), acabou com o exuberante rio Xingu, convertendo-o em um lago, mas não só isso. Também facilitou a chegada de um modelo de desenvolvimento que não prevê manter a selva em pé. Toda a região sofreu desde então o desmatamento e sucessivos incêndios.

O modelo no qual se inscrevem as centrais hidrelétricas exige a construção de estradas e ferrovias que atravessam o bosque. Estas estradas são necessárias para transportar todos os cereais, a madeira, o mineral e a eletricidade produzidos nos rincões mais recônditos do Brasil. E tudo isso também constituirá infraestrutura para as pequenas cidades que começam a crescer devido a este modelo e a exigir mais do meio ambiente local, antes preservado. Temos dois exemplos que estão na ordem do dia em matéria de transporte para ilustrar este modelo: Ferrogrão e a reconstrução da BR-319.

Ferrogrão é uma ferrovia que se prevê que tenha uma extensão de 933 km, saindo de Sinop (estado de Mato Grosso e zona central para a produção de soja e milho na região centro-oeste do Brasil) e chegando ao porto de Miritituba, desde onde a produção transportada desceria pelo rio Amazonas até o mar do Caribe para navegar em direção à Califórnia e China. A obra multimilionária não aporta nenhum benefício social nem ecológico ao Brasil, além de satisfazer os interesses imediatos da agroindústria. Pelo contrário, atravessará áreas de conservação como o Parque Nacional de Jamanxim e afetará a centenas de comunidades indígenas e camponesas. Mas há dois agravantes: o primeiro é que a mera menção por parte do governo federal de que vai construir a ferrovia já aqueceu o mercado de terras da região, que orbita em uma zona cinza entre o legal e o ilegal, entre a especulação e a expulsão; o segundo agravante é que o transporte da produção agroindústria até a China e Califórnia se realizaria através do Canal do Panamá, cuja capacidade de uso já está comprometida devido à crise climática.

E cada vez que se abre uma via férrea ou uma estrada em uma zona natural antes intacta ou pouco afetada, se produz o que se conhece como “efeito espinha de peixe”, precisamente uma consequência do aquecimento do mercado cinza das terras. Observe uma zona de bosque desde cima, como se fosse um satélite ou um drone. Se abre a estrada principal, a espinha dorsal do “peixe”. Pouco a pouco, com o mercado de terras a toda marcha (literalmente queimando tudo), se vão abrindo caminhos secundários para dar acesso às novas áreas ocupadas. E assim vemos como a paisagem se transforma em algo parecido a uma espinha de peixe.

Esta é a principal preocupação dos ambientalistas sérios e dos povos que vivem na região onde se reconstruirá a BR-319, uma estrada que conectaria Manaus (capital do Amazonas) e Porto Velho (capital de Rondônia). O problema é que esta zona, sob o efeito espinha de peixe, levaria o arco do desmatamento até Manaus e abriria o caminho a zonas ainda preservadas do oeste e do norte da Amazônia brasileira. Isto provocaria o colapso dos sistemas amazônicos mais resilientes do Brasil. Os primeiros a senti-lo seriam os brasileiros, com seu sistema de chuvas totalmente destruído. Mas o mundo também veria aumentar alguns graus por isso, agravando o colapso climático à nível global.

Outro problema com a farsa da transição ecológica é que não põe na agenda a criação de quilombos, terras indígenas e áreas de conservação, em troca de parcelar os bosques e prometer sua preservação mediante a privatização e a manutenção da mesma lógica de propriedade privada com a qual chegamos ao momento histórico atual. Recordemos que antes do capitalismo as sociedades humanas nunca haviam sido um perigo para a vida no planeta, só para si mesmas.

A ilusão em torno da utopia de reformar o capitalismo se completa com a cereja deste bolo de cinzas e fogo: semanas antes do início da COP30, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, organismo federal) autorizou a Petrobrás (empresa petroleira estatal) a investigar a viabilidade da exploração petroleira na foz do rio Amazonas. Trata-se simplesmente de uma zona oceânica muito turbulenta, onde um simples derrame pode afetar a vários países vizinhos. Uma autorização para investigar que sem dúvida se converterá em autorização para explorar, dado o rumo do debate político. Mas querem vender-nos a ideia de que vamos perfurar uma zona muito complicada desde o ponto de vista dos impactos ambientais, extrair rios de petróleo e queimá-los para quem sabe, algum dia, abandonar finalmente os combustíveis fósseis. Talvez quando todos estejamos mortos.

E enquanto vemos ano após ano os “representantes climáticos” celebrando suas festas e discutindo suas ficções, as temperaturas seguem subindo, os bosques seguem caindo e as pessoas seguem vivendo e morrendo cada vez pior. Não é possível debater a questão climática sem incluir o capital e o Estado na equação, como problema em lugar de solução.

Fonte: https://desinformemonos.org/la-cop30-es-una-farsa-la-transicion-ecologica-es-una-mentira-y-el-desarrollo-sostenible-no-existe/

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Deserto verde –
Cactos armados só contra
A sede do poder.

Liberto Herrera

Uma mensagem do coração da Amazônia

Olá,

Meu nome é Lucas Manchineri. Estou escrevendo para vocês, apoiadores da Survival, para enviar uma mensagem simples, mas importante: os povos indígenas isolados ao redor do mundo estão correndo risco – e todos nós precisamos apoiar a luta deles, porque é ali, onde a floresta respira em silêncio, que o planeta ainda encontra esperança.

No coração da Amazônia brasileira, entre rios de águas escuras e o sussurro constante das folhas, existe um território onde o tempo não se mede por relógios, mas pelo ritmo das chuvas, do vento e dos passos silenciosos de povos que escolheram viver à margem do resto do mundo.

Há muitos anos venho trabalhando para defender o território, os direitos e a integridade dos nossos parentes desconfiados, conhecidos como o povo indígena isolado Mashco Piro, que vive na fronteira entre o Brasil e o Peru. Nosso objetivo é defendê-los e garantir que não tenham contato com pessoas de fora – sejam elas não indígenas ou mesmo outros povos indígenas.

Meu povo, os Manxineru, dedica-se a esse trabalho porque nós também já fomos isolados. Quando os invasores entraram em nosso território sem permissão, fomos massacrados, violentados e escravizados por seringueiros e outros invasores. Por isso, nossa contribuição nas ações voltadas à proteção dos povos indígenas isolados e na defesa dos povos em isolamento voluntário tem sido essencial para fortalecer as estratégias de cuidado com o território e garantir os direitos desses povos.

Pare com o contato forçado agora

Não queremos que isso aconteça com os Mashco Piro, nem com outros povos indígenas isolados. Mas a história está se repetindo. Madeireiros, mineradores e pescadores ilegais estão entrando no território dos Mashco Piro, trazendo doenças e violência, e ameaçando sua organização social tradicional. Eles podem ser infectados por doenças como a gripe, doença contra a qual eles não têm imunidade.

As terras dos povos isolados estão cada vez mais em risco devido às invasões e destruição da floresta. Os invasores tomam conta das florestas e rios sem qualquer controle, expulsando os povos isolados de seus territórios ancestrais.

Ajude a parar as invasões agora

Por favor, peço que ouça minha mensagem do coração da Amazônia e apoie a luta dos povos indígenas isolados. Agir agora é proteger a vida de seres humanos que cuidam da floresta e ajudam a controlar as mudanças climáticas. É respeitar seus territórios e seu direito à autodeterminação – e reconhecer que eles são povos com cultura, espiritualidade e o direito de viver em paz. E também entender que eles são seres humanos que precisam prosperar, praticar a cultura de seus ancestrais e viver com harmonia.

Aja agora

Obrigado,

Lucas Manchineri

povosindigenasisolados.org

survivalinternational.org

agência de notícias anarquistas-ana

De que árvore florida
chega? Não sei.
Mas é o seu perfume…

Bashô