[França] 1979-2025: 46 anos de cultura libertária

O que resta da utopia anarquista? Dois séculos de anarquia e ainda vivemos sob bombas, em sociedades ricas onde os pobres chegam a bilhões, onde a cultura não cessa de navegar entre o compromisso solidário e os desígnios sombrios de quem prefere sonhar com povos subjugados.

Então, o que resta da utopia anarquista? Uma história rica em lutas, ações e propostas, como aquelas editoras que, como a nossa, mesmo que não mostrem o caminho da “Revolução”, nos acompanham àqueles da resistência, da cooperação, com os olhos e o coração bem abertos para o nosso planeta em chamas.

Obrigado por nos ajudar a manter viva esta utopia!

Ateliê de Criação Libertária (Atelier de Création Libertaire)

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Caquinho de Lua
Sorri pra mim lá no céu
retribuo daqui

Ada Gasparini

[Chile] Santiago: Barricadas em memória dos companheiros Lupi, Tortuga, Belén e Risue

Encapuzados levantaram barricadas, enquanto paralelamente se registravam manifestações pelo desaparecimento forçado de Julia Chuñil e seu cão Cholito. Fatos que não deveriam deixar ninguém indiferente e que nos demonstra – uma vez mais – que o Poder e seus cúmplices podem realizar este tipo de atos contra os que se transformem em um inconveniente, em uma ameaça para seus interesses.

No lugar foi deixado uma faixa em memória insurreta dos companheiros recentemente falecidos Lupi, Tortuga, Belén e Risue.

Fonte: https://es-contrainfo.espiv.net/2025/01/28/santiago-chile-barricadas-en-memoria-de-lxs-companerxs-lupi-tortuga-belen-y-risue/  

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Em câmera lenta
preguiça na imbaubeira
passa a outro galho.

Anibal Beça

[Espanha] A resistência invisível de Barcelona: a luta pelo Blokes Fantasma

Por Victor Serri | 27/01/2025

Após 31 anos de autogestão, um dos espaços mais icônicos da cidade enfrenta a ameaça de despejo. Entre o abandono, a gentrificação e a especulação, os habitantes estão se preparando para resistir a fim de defender um modelo alternativo de vida na cidade

Qualquer pessoa que tenha visitado Barcelona e o Parque Güell certamente notou uma inscrição em um prédio na parte alta da cidade: Okupa y Resiste. Mas essa não é uma casa comum. É o Blokes Fantasma, um edifício ocupado desde 1993, um exemplo emblemático de autogestão e resistência coletiva. Blokes Fantasma não é apenas um lugar físico, mas uma declaração de intenções, o legado vivo do Moviment Okupa que, há trinta anos, deu origem a uma onda de ativismo social na Catalunha e na Espanha. Hoje, no entanto, essa história está correndo o risco de chegar ao fim. Depois de mais de três décadas, o Blokes está ameaçado de despejo e, com ele, um pedaço da história da resistência urbana de Barcelona pode desaparecer.

Do luxo abandonado à autogestão

Tudo começou há quase 40 anos, quando o edifício foi concebido como um complexo residencial de luxo na parte alta da cidade. No entanto, na década de 1980, o projeto foi abandonado no meio do caminho. O local da construção permaneceu inacabado, deixando para trás apenas uma estrutura em ruínas e um guindaste suspenso no vazio, o símbolo de um desastre de planejamento urbano. O motivo do abandono foi simples: o proprietário parou de pagar os trabalhadores e as empresas de construção, forçando-os a parar o trabalho. Após sua morte, seus herdeiros decidiram ignorar a propriedade e as responsabilidades associadas a ela, deixando-a apodrecer por uma década.

Mas onde a especulação falhou, a comunidade agiu. Em 1993, um grupo de ativistas decidiu ocupar o edifício, transformando-o em uma casa autogestionada e um marco para o bairro. O Blokes Fantasma tornou-se um lugar para viver, criar e resistir, um baluarte contra a gentrificação e um refúgio para movimentos sociais e culturais de toda Barcelona.  Ao longo dos anos, milhares de atividades foram organizadas sem fins lucrativos, e quase trinta pessoas vivem lá atualmente.

A ameaça de despejo de uma casa fantasma

Após décadas de negligência e prescrição de dívidas, o proprietário legal da propriedade, Joan Escofet Martí, iniciou uma ação legal para recuperar o controle da mesma. Escofet Martí é o herdeiro de uma família de grandes incorporadores que iniciou o projeto na década de 1980. Agora, quase quarenta anos depois, ele está reivindicando uma propriedade que ignorou por décadas. E a decisão é simples: porque todos os termos de dívidas pendentes já prescreveram.

Os ocupantes do Blokes Fantasma não estão apenas defendendo seu espaço, eles propõem uma visão radical para o futuro da cidade. Eles imaginam uma Barcelona onde ninguém acumula riqueza às custas dos outros, onde os recursos são distribuídos de acordo com as necessidades e não de acordo com a lógica especulativa do mercado imobiliário. Um dos slogans mais poderosos da resistência é: “Com Blokes você não pode, somos todos fantasmas”. Palavras que já estão ressoando tanto no vídeo da campanha quanto em todas as paredes dos bairros de Gràcia, Vallcarca e La Salut, em Barcelona.

Repressão: quando a resistência se torna uma ameaça

A ameaça de despejo não é o primeiro ataque que o Blokes Fantasma enfrenta. Em 2014, durante a chamada Operación Pandora, o Blokes foi um dos principais alvos de uma ampla campanha repressiva contra o movimento anarquista catalão.

A Operación Pandora, orquestrada pela polícia catalã (Mossos d’Esquadra) com o apoio da Audiência Nacional da Espanha, teve como alvo vários espaços autogestionados e ativistas, acusando-os de terrorismo sem provas concretas. Entre os espaços visados estavam o Blokes Fantasma e o histórico Kasa de la Muntanya. As acusações contra os ativistas incluíam supostas ligações com os Grupos Anarquistas Coordenados (GAC), uma organização inventada pela polícia para justificar a operação. No entanto, depois que o caso foi apresentado pela própria Audiência Nacional, tornou-se público que as provas eram inexistentes e que se tratava de uma tentativa de criminalizar todo o movimento anarquista e autônomo da cidade.

Apesar das ameaças, dos despejos e da repressão, o Blokes Fantasma continua resistindo. Os habitantes e ativistas sabem que sua luta não é apenas por um prédio, mas por toda uma visão de cidade. O Blokes é muito mais do que quatro paredes ocupadas. É um símbolo do que uma comunidade pode construir quando opta por resistir, organizar-se e imaginar uma alternativa. É uma voz que diz: outro modelo de cidade é possível. E para isso, dizem os ativistas: ‘Não se pode eliminar os fantasmas. O Blokes vive, e com ele a resistência viverá”.

Fonte: https://www.dinamopress.it/news/la-resistenza-invisibile-di-barcellona-la-lotta-per-gli-blokes-fantasma/

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Na tarde chuvosa,
Sozinho, despreocupado,
Um pardal molhado

Edson Kenji Iura

[Espanha] Não vamos abaixar a cabeça. Manifestação em Madrid em apoio às 6 de La Suiza

Mais de 2.000 pessoas saíram às ruas de Madrid para levantar a voz em defesa de Las 6 de La Suiza. Convocada pela CNT e a Plataforma Madrid por Las 6 de La Suiza — uma frente ampla que agrupa sindicatos, coletivos sociais e políticos — a manifestação foi muito mais que um ato de solidariedade: foi uma resposta contundente contra a criminalização do sindicalismo e dos que lutam por um trabalho digno.

“Que não, que não, que não, que não aceitamos esta sentença, queremos a absolvição” cantavam os milhares de participantes. A criminalização do protesto laboral, neste caso, deixa clara uma realidade alarmante: a luta pela dignidade dos trabalhadores se converteu em um campo de batalha no qual os interesses do capital parecem sempre sair vitoriosos.

Mas a indignação não se limita só às condenadas e aos manifestantes. A própria classe trabalhadora, unida em uma maré de solidariedade, assinalou este 8 de fevereiro nas ruas de Madrid o que está em jogo. Não só a CNT levantou a voz; muitos outros sindicatos, se somaram ao protesto, conscientes das repercussões que esta sentença terá para qualquer trabalhador que desafie o status quo.

Os ecos da marcha ressoam com força em Madrid, mas também no resto do país. “Fazer sindicalismo não é delito”, “companheiras de Gijón, absolvição”, “se tocam em uma, nos tocam a todas”, cantam as ruas, unidas em um único lema de resistência. A força do protesto não está só no número de pessoas que se manifestaram, mas na convicção de que se se permite que uma injustiça deste calibre se imponha, todos os trabalhadores estarão expostos às mesmas ameaças. A solidariedade com “Las 6 de La Suiza” não é só um ato de apoio, mas uma clara mensagem: não estamos dispostos a retroceder.

É um momento decisivo, e a luta está longe de terminar. A condenação a “Las 6 de La Suiza” não é só um caso isolado, é um símbolo de um sistema que quer calar os que se rebelam, de um poder que vê na organização dos trabalhadores uma ameaça a sua perpetuação. Neste cenário, a solidariedade não é um gesto isolado, mas uma necessidade urgente. Os trabalhadores devem unir-se mais do que nunca, porque o que está em jogo não é só a liberdade de umas companheiras, mas a liberdade de todos aqueles que defendem o direito a uma vida e um trabalho digno.

Fonte: https://www.cnt.es/noticias/no-vamos-a-agachar-la-cabeza-manifestacion-en-madrid-en-apoyo-a-las-6-de-la-suiza/?

Tradução > Sol de Abril

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/02/05/espanha-8f-caminho-a-manifestacao-em-apoio-as-6-de-la-suiza/

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Por entre a neblina
Subindo a Serra Vernal
Bisbilhota a Lua.

Mary Leiko Fukai Terada

[Itália] A saudação da nova redação | Umanità Nova

Com o novo ano, chegou a nova redação, pronta para pegar o bastão de uma tarefa tão desafiadora quanto emocionante. Umanità Nova tem uma história formidável. Nasceu em 1920 para dar uma voz moderna, como um jornal diário, ao movimento anarquista em um momento em que a revolução social parecia estar ao virar da esquina. Impressa várias vezes de forma clandestina durante a longa ditadura fascista, Umanità Nova retomou as publicações regulares como um semanário a partir de 1945, sob a responsabilidade da recém-formada Federação Anarquista Italiana. Este jornal teve, ao longo das décadas, um papel crucial para o movimento anarquista e para os movimentos de luta, por isso ainda hoje é uma referência mesmo fora do âmbito militante.

Os tempos que vivemos são marcados por guerras, pelo fechamento dos espaços de liberdade, pela devastação do ecossistema, pela piora das condições de vida e de trabalho de proletários e oprimidos em todo o mundo. Por isso, mais do que olhar para a história, é urgente olhar para o futuro e construir o futuro que queremos. Nessa perspectiva, Umanità Nova é uma importante ferramenta de luta, de debate, um lugar material de encontro, para conhecer também no papel, em um local ou em uma manifestação, as ideias e práticas do movimento anarquista. Junto com outras formas de comunicação, mais ou menos novas, estas oito páginas são um recurso organizacional indispensável, para criar redes e colaborações em uma dinâmica coletiva de elaboração e luta.

No início de janeiro, no Congresso da FAI em Carrara, assumimos essa tarefa temporariamente, por alguns meses, com a perspectiva de entregar na primavera o jornal a um coletivo editorial de fato, que possa cuidar da redação nos próximos anos. Por isso, provavelmente não verão muitas novidades nestas páginas, muitas de nós estão aprendendo nestes dias o trabalho editorial, desde o planejamento até a diagramação, enquanto outras já faziam parte da redação anterior. De qualquer forma, trata-se de uma experimentação, também porque, depois de muitos anos, não há uma redação colegiada com membros espalhados por todo o país. Na verdade, é a Federação Anarquista de Livorno que assumiu, como grupo, junto com outro companheiro toscano, essa tarefa.

Agradecemos ao coletivo editorial anterior, que nos acompanhou nessa transição. Iniciar as atividades da redação tornou necessário prolongar em duas semanas a pausa de inverno de Umanità Nova, pedimos desculpas por isso. Preferimos dar pequenos passos antes de retomar as publicações e embarcar nessa nova aventura.

Na imagem: A rotativa de Marinoni imprime o ‘Le Petit Journal’ na França, 1890.

Fonte: https://umanitanova.org/il-saluto-della-nuova-redazione-2/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

flor na lapela
noite de serenata
à janela

Carlos Seabra

[Grécia] Atenas: Reivindicação de responsabilidade pelo ataque aos escritórios da Hellenic Train

28 de fevereiro marca dois anos desde o crime mortal de Tempi. Dois anos depois, as causas da colisão entre um trem de passageiros da Hellenic Train e um trem comercial permanecem obscuras. Obscuras precisamente porque os principais perpetradores deste crime são as políticas capitalistas do Estado e seu capital.

57 pessoas morreram e quantas outras ficaram gravemente feridas, com o governo tentando encobrir as causas da tragédia, defendendo mais uma vez o capital privado da grande burguesia. Os últimos desenvolvimentos que vieram à tona não deixam espaço para má interpretação ou mal-entendido. Seja o contrabando de combustível ou o transporte de materiais inflamáveis, a Hellenic Train, a Nova Democracia e o capital estão encobrindo seu crime.

Um encobrimento que começou a se desenvolver desde os primeiros minutos do acidente, com a mobilização sem precedentes do Estado executivo da Nova Democracia, que correu para encobrir em termos mafiosos o permanente e complexo relacionamento do poder burguês com o capital parasitário e seus interesses.

A administração estatal, com zelo particular, cuidou de distorcer o local do acidente, movendo e remendando os materiais e o próprio local, numa tentativa de ocultar evidências-chave que poderiam provar o que o trem de carga estava realmente transportando, as reais circunstâncias do acidente e os verdadeiros responsáveis pelo desastre.

Ordens políticas dadas por “conhecidos-desconhecidos”, oficiais políticos e operacionais que estavam “ausentes”, vídeos que desapareceram ou foram adulterados, um sistema de poder político e um primeiro-ministro que “não sabia, não viu, não foi informado”. Um ministro que renunciou para imediatamente se candidatar novamente e uma campanha de comunicação baseada em erro humano, vestida com a audácia de atores políticos que usaram um falso 41% como álibi, zombando de toda a sociedade e das lutas dos familiares das vítimas que buscam justiça. Ao mesmo tempo, a Hellenic Train, que comprou a rede ferroviária por uma pechincha, mente sobre o conteúdo do trem, culpando seus trabalhadores.

No entanto, a essência do crime de Tempi foi e continua sendo uma.

Contra seus lucros estão nossas vidas. Mas contra a violência do capital está a violência de nossa classe. Isso foi mostrado então pelos enormes e históricos protestos da classe trabalhadora e do povo, e é mostrado agora pelo esmagador protesto do último domingo (26/01) na Syntagma. As praças de todas as cidades foram inundadas de manifestantes, enquanto as devastadoras últimas palavras dos passageiros, “Não tenho oxigênio”, tornaram-se o lema de centenas de milhares de pessoas.

A raiva social que domina a maioria da sociedade foi expressa de forma poderosa naquele domingo, desarmando os mecanismos estatais e capitalistas de uma vez por todas, lembrando-os de que nada será esquecido.

Tarefas que não são outras senão a continuação da luta contra o sistema capitalista e o lucro.

O ataque à sede da Hellenic Train na noite de sexta-feira, 31 de janeiro, faz parte de nossa luta geral. É um contra-ataque simbólico contra os autores do crime capitalista e um gesto de honra àqueles que perderam suas vidas. Um lembrete geral de que continuaremos a lutar por condições dignas de vida, por bens sociais públicos e gratuitos, por nossas próprias vidas.

Os desenvolvimentos do próximo período nos encontrarão no ponto onde o coração de nossa classe bate. Onde tudo é decidido, nas ruas de luta. Onde as forças sociais, populares e de classe se encontrarão para declarar e garantir que o crime estatal-capitalista em Tempi não será consumado.

28 DE FEVEREIRO, TODOS NAS RUAS

militantes proletários

Fonte: https://darknights.noblogs.org/post/2025/02/07/athens-greece-responsibility-claim-for-the-attack-on-the-hellenic-train-offices/

Tradução > Contrafatual

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/02/03/grecia-protestos-em-massa-exigem-justica-para-as-vitimas-do-acidente-de-trem/

agência de notícias anarquistas-ana

que flor é esta,
que perfuma assim
toda a floresta?

Carlos Seabra

[Uruguai] Contra o endurecimento do regime carcerário no $hile!

Façamos chegar estes pequenos gestos de propaganda solidária. A saudação se estende a todos os companheiros que hoje enfrentam o cárcere no território em conflito com o Estado chileno com digna rebeldia.

O regime carcerário no Chile se tornou um feudo administrado pela gendarmeria com absoluta arbitrariedade. Enquanto o atual governo ostenta uma máscara de civismo hipócrita, seus cárceres agudizam seu caráter de dispositivos de tortura.

Os gendarmes [polícia] decidem sobre as possibilidades de liberdade condicional, visitas, encomendas, inventando faltas e impondo castigos.

Tanto se falou das arbitrariedades cometidas durante as ditaduras. Onde está a indignação frente às arbitrariedades atuais do governo de Boric?

Contra o endurecimento do regime carcerário no $hile!

Vingança contra os carcereiros, solidariedade com os compas na prisão e agitação permanente por sua liberação.

Abaixo os muros das prisões!

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Leve brisa
aranha na bananeira
costura uma folha.

Rodrigo de Almeida Siqueira

[Japão] Namnam renasce: Um espaço queer e anarquista se instala em Koenji, Tóquio

por Aku Owaka-Haigh | 20/01/2025

O sussurro da poesia, os ritmos melódicos e o chiado da agulha de tatuagem – esses são alguns dos sons que você pode ouvir em qualquer dia no Namnam Space [Espaço Namnam] em Koenji, um centro comunitário de sala única que abriga eventos de arte, música ao vivo e oficinas educacionais.

O design aberto do Namnam é inerentemente confluente, facilitando a comunicação que promove naturalmente um senso de comunidade. Sofás baixos e bancos de madeira se alinham em suas paredes, enquanto o leve som de jazz ecoa de cima.

Pendurados em suas paredes estão os símbolos de suas bases políticas, e o calor de sua comunidade é sentido em sua voz coletiva, que saúda celebridades, amigos e estranhos. Tendo recebido personalidades como Noam Chomsky e Manu Chao em locais anteriores, o Namnam continua a oferecer camaradagem às comunidades queer e anárquicas de Tóquio, ao mesmo tempo em que assume a cadência do espírito contracultural de Koenji.

Visto da rua, é fácil não notar o Namnam Space, escondido nas ruelas secundárias do Koenji Junjo Shotengai, com apenas um folheto direcionando os visitantes até a porta do quarto andar. A porta em si – emoldurada em rosa e com um grande adesivo de uma bandeira palestina – não é tão fácil de passar despercebida. Adesivos políticos e pôsteres de eventos de lojas locais se estendem pelas paredes vizinhas, misturando-se a um fundo desbotado de propaganda de campanhas passadas.

Após três locais e uma longa batalha judicial, o Namnam se estabeleceu em sua nova forma e ambiente. Inaugurado no distrito de Noborito, em Kawasaki, em 2023, e transferido para Koenji em 2024, Namnam é várias coisas: ideologicamente anarquista, anticapitalista e queer; materialmente, um café, uma galeria e um centro comunitário sem fins lucrativos. O Namnam é fundado e operado pela comunidade e tem como objetivo moldar a vida e o sustento de quem o compõe.

Não é de se surpreender que Alberto Carrasco, nascido no México, professor de arte, história e filosofia nas universidades Rikkyo e Hosei, membro fundador do Namnam e possuidor de uma barba de formato impecável, me cumprimente não apresentando a cafeteria, mas mostrando sua vizinha, a Dig A Hole Zines [Zines Cave Um Buraco].

Esses comércios representam uma cadeia em uma rede de estabelecimentos com a mesma mentalidade em Koenji. De bares a lojas de reciclagem, de albergues a lojas de discos, não são os marcadores econômicos de sucesso que motivam seus proprietários, mas o desejo de contribuir para a cultura não-conformista e criar espaços que lhe deem vida.

“É a única loja de zines que funciona 24 horas por dia no mundo”, sorri Carrasco, 34 anos, carinhosamente conhecido como ‘Beto’. A Dig A Hole opera em um sistema de pagamento por confiança, baseado na afirmação otimista de que “quem lê não rouba, e quem rouba não lê”. Esse espírito se estende à The People’s Library [Biblioteca do Povo], uma estante de livros sem equipe do lado de fora das duas lojas, acessível 24/7 e abastecida com livros doados.

Cada integrante do Namnam tem uma história diferente sobre as origens do nome, mas, como explica Carrasco, “Foi apenas uma desculpa para brincar com alguma coisa. Talvez fazer algo com (as primeiras iniciais de nossos membros fundadores). Como estávamos em Noborito, dissemos: ‘Bora (com) Noborito Art Market’. Então (pessoa cofundadora) Nadina disse ‘New Art Manifesto’ [Novo Manifesto de Arte]”. O nome pegou, tornando-se um reflexo da fluidez e da falta de egoísmo das pessoas fundadoras.

Acordada por nossa conversa, Kinako, uma Shiba Inu, começa a patrulhar languidamente a loja. Carrasco brinca dizendo que “namnam” é o som que ela faz quando você brinca com ela.

Carinhosamente reconhecida como a fundadora espiritual do espaço, Kinako não é a única celebridade da comunidade de Namnam. Eles foram patrocinados por figuras políticas, incluindo Chomsky, que visitou o local em 2014 e deu uma palestra para uma plateia lotada, e Chao, um músico multilíngue nascido em Paris que, em várias ocasiões, deu palestras e apresentou sua mistura socialmente conscientizada de punk e reggae.

O local que Chomsky e Chao visitaram não foi o Namnam em sua forma atual, mas sim seu antecessor espiritual, o Cafe Lavanderia, onde uma única frase acima da porta encapsulava seu ethos: musica y anticapitalismo.

Inaugurado em 2009, o Cafe Lavanderia foi onde muitos membros do Namnam se conheceram. Localizado nas ruas intrinsecamente políticas de Shinjuku Ni-chome – o distrito gay de Tóquio – e ostentando uma bandeira antifascista, ele atraiu um público diversificado, internacional e com mentalidade política.

Enquanto muitos espaços queer em Ni-chome atendem exclusivamente à cultura da bebida e ao entretenimento noturno, o Lavanderia ficava aberto por mais horas, reunindo socialistas diurnos e socialites noturnos. Desempenhou um papel fundamental na promoção do espírito político de seus visitantes e criou uma reputação que se tornou mundialmente reconhecida. No entanto, para a consternação de seus proprietários e clientes, a Lavanderia foi despejada em 2023 e forçada a fechar suas portas.

Carrasco foi um dos poucos a herdar os equipamentos da Lavanderia e, com o apoio de Osmani e Nakamura, fundou Namnam naquele mesmo ano. Carrasco pergunta a Lucifer Veneris (que usa os pronomes elu/delu), de 23 anos, estudante da Faculdade de Música Senzoku Gakuen e membre do Namnam, quando visitaram a Lavanderia pela primeira vez. “O Tokyo Queer Collective [Coletivo Queer de Tokio] começou um ou dois meses depois que cheguei ao Japão”, diz, referindo-se à organização social que foi formada nos últimos dias da Lavanderia por seus membros. “Eu estava procurando eventos queer que não fossem de vida noturna.”

Namnam, assim como Lavanderia, adota a nomenclatura “queer”, um termo abrangente para denotar uma diferença do status quo. Esse termo é adotado tanto pelo impulso político por trás dele quanto para destacar uma questão negligenciada no distrito gay de Tóquio: a discriminação.

“(Ni-chome) tem um foco muito forte na identidade”, explica Veneris. “Por exemplo, este é um bar só para gays; aquele é o bar para drags, este é o bar só para lésbicas e mulheres, que (também) é muito transfóbico. É por isso que ter um espaço separado era importante, mesmo em Ni-chome.”

Em Koenji, esse espaço agora está repleto de diversidade, e a escala de seus eventos também está crescendo. Carrasco reflete sobre a realização do “Big Trans Weekend” [Grande Fim de Semana Trans], a maior exposição de arte trans de Tóquio, em 2023.

“Acho que pudemos receber mais de 50 ou mais artistas trans de todo o mundo”, diz ele. “O que é raro é um lugar que é construído pela comunidade, onde todo mundo se sente bem-vindo. Você não precisa ser queer para vir ao Namnam e se sentir em casa.”

Namnam entrou para um bairro com uma história de inconformismo radical que permeia a cena musical underground local, a moda boêmia e o espírito independente. “Acho que (Koenji) sempre foi o local dos sonhos”, diz Carrasco, “mas você precisa estabelecer conexões com a comunidade daqui”.

Os panfletos e adesivos nas paredes do Namnam refletem essa comunidade local. Uptown Records, uma loja de discos anarquista queer e espaço para eventos, e Sub Store, a casa autodenominada de “livros interessantes, cultura e café” são dois nomes recorrentes.

Bem posicionado entre os agitadores políticos de Koenji, Namnam é o lugar onde a paixão encontra o propósito. A Palestina é o foco central de sua ação coletiva. De protestos a petições, arrecadação de fundos e pés no chão, Namnam teve um efeito tangível na vida dos habitantes de Gaza, arrecadando fundos para ajudar diretamente as famílias que fogem do conflito. Como reconhecimento, em 2024, a Al Jazeera News entrevistou os membros de Namnam, um momento de orgulho para Carrasco e a equipe. Embora seus membros recebam com satisfação a notícia do acordo de cessar-fogo, eles veem essa resolução como o primeiro passo em um longo e incansável caminho rumo à libertação.

Por fim, sem abandonar as influências de sua fundação, o Namnam pode facilmente mudar de um espaço descontraído durante o dia para um local noturno repleto de energia e música ao vivo.

Como se fosse necessária uma prova de que o próximo capítulo da história do Namnam será tão apaixonadamente expressivo quanto o último, Carrasco conta uma história: “Em nossa primeira noite aqui (a polícia) veio, o que foi uma espécie de batismo, você sabe.”

Desde que se estabeleceram em Koenji, eles fizeram alguns ajustes para se adaptar ao bairro residencial. Atualmente aberto apenas nos fins de semana em virtude de seus voluntários, o Namnam espera funcionar de quinta a domingo e disponibilizar sua gama de noites de poesia com microfone aberto, eventos de arrecadação de fundos e exposições de arte internacional para uma comunidade cada vez maior em Tóquio.

Fonte: https://www.japantimes.co.jp/community/2025/01/20/issues/namnam-space-queer-koenji/

Tradução > acervo trans-anarquista

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agência de notícias anarquistas-ana

um pássaro canta
na corda de estender roupa —
posso esperar

Rosa Clement

Anarquismo: A Resposta Racional à Crise Capitalista e ao Fracasso do Socialismo Autoritário

A catástrofe capitalista que vivemos hoje é o resultado inevitável de um sistema baseado na exploração, na acumulação desenfreada e na alienação do indivíduo. O capitalismo, longe de ser um sistema natural ou racional, é uma máquina de destruição que transforma tudo em mercadoria: a natureza, o trabalho, até mesmo as relações humanas. Enquanto isso, o socialismo autoritário, especialmente o marxismo, falhou em sua promessa de libertação, pois replicou as estruturas de dominação que pretendia abolir, centralizando o poder e sufocando a autonomia individual. Diante desse duplo fracasso, o anarquismo surge como a única alternativa verdadeiramente racional e viável para uma existência humana mais justa e livre.

A racionalidade anarquista não se baseia em utopias distantes, mas na organização horizontal e na cooperação voluntária. Enquanto o capitalismo nos divide em classes e o socialismo autoritário nos submete a um Estado opressor, o anarquismo propõe a autogestão, onde as decisões são tomadas coletivamente, sem hierarquias impostas. Isso não é um sonho irrealizável, mas uma prática que já existe em comunidades, cooperativas e movimentos sociais ao redor do mundo. A razão anarquista nos mostra que é possível viver sem patrões, sem governos autoritários e sem a lógica destrutiva do lucro.

E para além disso, o anarquismo é a única ideologia que coloca a liberdade individual e a solidariedade coletiva no centro de sua proposta. Enquanto o capitalismo nos condena à competição e o socialismo autoritário à submissão, o anarquismo nos convida a construir uma sociedade baseada na ajuda mútua e no respeito às diferenças. A crise climática, as desigualdades sociais e a alienação generalizada exigem respostas urgentes, e o anarquismo oferece ferramentas concretas para enfrentar esses desafios: a descentralização do poder, a economia solidária e a educação libertária.

Portanto, o anarquismo não é apenas uma possibilidade real, mas uma necessidade imediata. Enquanto o capitalismo nos leva à ruína e o socialismo autoritário nos decepciona, o anarquismo nos aponta um caminho de liberdade e razão. Não há tempo a perder com sistemas falidos. A humanidade precisa abraçar as possibilidades que o anarquismo propõe para construir um futuro onde a dignidade, a autonomia e a cooperação sejam os pilares de uma existência verdadeiramente humana. A revolução não é uma questão de “se”, mas de “quando” e “como”. E o anarquismo já nos mostrou o caminho.

Federação Anarquista Capixaba – FACA

federacaocapixaba.noblogs.org

agência de notícias anarquistas-ana

Bolha de sabão.
Uma explosão colorida
sem nenhum estrondo.

Maria Reginato Labruciano

Gastos Militares-Mercado da Morte-Governo Lula | Novos blindados do Exército vão custar mais de R$ 20 bilhões

Com previsão de custar dezenas de bilhões de reais ao longo dos próximos anos, o Programa Estratégico do Exército Forças Blindadas pretende modernizar a frota de viaturas disponíveis para as tropas brasileiras. Só em 2025, quando é esperada a entrega de 122 blindados, deverão ser gastos R$ 622 milhões no projeto, segundo a proposta orçamentária do governo para o Ministério da Defesa enviada ao Congresso Nacional.

No total, as viaturas blindadas devem custar R$ 20 bilhões, segundo o jornal Estado de São Paulo. Um desses blindados é o Centauro II. No total, o governo federal comprou 98 unidades por um total de R$ 5 bilhões do consórcio de montadoras italianas Iveco-Oto Melara. Os veículos deverão ser entregues nos próximos anos.

Com autonomia de 800 quilômetros, velocidade máxima de 105km/h, um canhão de 120mm, tração 8×8 e blindagem V (nível máximo), o Centauro II-BRA, versão 2015, deixa bem para trás nos quesitos técnicos o modelo Cascavel, versão 1974, que hoje ainda integra as Forças Armadas do Brasil e de boa parte da América do Sul (Bolívia, Colômbia, Paraguai e Uruguai).

O Cascavel conta com um canhão de 90mm, tração 6×6 e um nível III de blindagem, bastante inferior, que não é resistente a munições perfurantes, como a .30, além de granadas e ataques aéreos de mísseis Stinger e Tomahawk.

Em julho, o Exército brasileiro confirmou que selou a compra de até 420 viaturas blindadas Guaicurus da fabricante italiana Iveco, por cerca de R$ 1,4 bilhão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal.

As viaturas são equipadas com um sistema de armas controladas remotamente e têm capacidade de detectar alvos a longas distâncias e em condições de baixa visibilidade. As viaturas blindadas multitarefa – leve sobre rodas (VBMT-LSR) 4X4 LMV-BR, da IDV —, foram incorporadas há pouco tempo ao Exército e receberam o nome de “Guaicuru” em homenagem a uma tribo indígena guerreira, que habitava os sertões do Centro-Oeste brasileiro e que era famosa por utilizar cavalos para caçar e atacar seus inimigos.

De acordo com o Escritório de Projetos do Exército, o Guaicuru “possui elevado nível de blindagem”, motor a diesel, transmissão automática de seis marchas e capacidade de carga próxima de uma tonelada. O motor do veículo tem cerca de 220 cavalos de potência e velocidade máxima de 90 km/h.

O Guaicuru também pode ser equipado com metralhadors no teto e tem capacidade para munição de 2 mil cartuchos 7,62 mm, mil cartuchos .50 e 200 granadas calibre 40. Além disso, estão na lista de capacidades militares um lançador de granadas e fumaça.

A blindagem na carroceria torna o veículo capaz de resistir a tiros de calibre 7,62. O LMV-BR também conta com proteção contra explosões na parte inferior, incluindo o tanque de combustível, revestido de espuma especial.

O Guarani, por sua vez, é outro blindado nos planos do Exército. O veículo é capaz de transportar até 11 militares ao mesmo tempo, sendo até três operadores e outros oito combatentes. Em dezembro, o Centro Tecnológico do Exército (CTEx) e a Iveco assinaram um acordo para o desenvolvimento de versões do Guarani para servirem como ambulâncias e posto de comando. Protótipos devem ser entregues até o fim de 2026.

Outros modelos de Guarani previstos são os de reconhecimento, socorro e porta morteiro. Com função anfíbia, o veículo pode chegar até 110km/h. Unidades do blindado foram usados em 2024 durante ações relativas às enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul. O blindado entrou em operação oficialmente pelo Exército Brasileiro em março de 2013, com a proposta de modernizar as tropas brasileiras ao substituir as viaturas Urutu e Cascavel.

Segundo o Estado de São Paulo, o contrato atual prevê a entrega de 1.350 unidades até 2037.

Também no Programa Forças Blindadas consta a modernização do Cascavel. O Exército informou que os modelos atualizados apresentam uma série de inovações “com a adoção de um motor e caixa automática mais potentes e com a implementação de sistemas de última geração para aumentar a eficácia operacional”. A nova versão do veículo tem sistemas de controle de torre modernos e ajuste de pressão dos pneus para todos os tipos de terreno. Canhões 90mm podem ser acionados por meio de joysticks, e um lançador de mísseis anticarro foi acrescentado.

Fonte: agências de notícias

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agência de notícias anarquistas-ana

espuma do mar
adensa o voo das
gaivotas no ar

Carlos Seabra

[Grécia] Manifestação anti-guerra em massa em Alexandrópolis

Neste domingo (02/02), uma grande manifestação anti-guerra ocorreu em Alexandrópolis após um apelo de associações, organizações políticas e coletivos da região.

A principal reivindicação da manifestação foi a oposição ao Steadfast Dart 2025, o maior exercício da OTAN na Europa Oriental que passa por Alexandrópolis. Como parte deste exercício, um grande volume de equipamento militar chegou a Alexandrópolis nos últimos dias, vindo do porto e por trem do resto da Grécia, e de lá eles são transportados pela rede ferroviária para a Romênia e a Bulgária.

A marcha que começou no Parque da Academia passou pelas principais ruas da cidade e chegou do lado de fora do porto, onde o exército e a OTAN transportam equipamentos, enviando uma mensagem clara em todas as direções de que a OTAN e suas bases são indesejadas.

agência de notícias anarquistas-ana

ontem à noite
sonhei de corpo inteiro
— acordei com teu cheiro

Alonso Alvarez

[EUA] Mural de Elon Musk vandalizado em Brownsville com símbolos e frases anarquistas

Um mural de Elon Musk em Brownsville, Texas, foi vandalizado com a frase “Deny, Defend, Depose” (Negar, defender, depor) e um símbolo anarquista sobre seu rosto.

O mural, localizado fora de Los Elizondos, chamou a atenção devido à recente nomeação de Musk como “funcionário especial do governo” no governo Trump.

Os críticos argumentam que sua crescente influência no governo levanta preocupações sobre o poder corporativo na governança pública.

O Departamento de Polícia de Brownsville ainda não registrou um boletim de ocorrência ou fez qualquer prisão relacionada ao vandalismo.

O papel de Musk no desmantelamento da USAID e seu novo cargo no governo provocaram reações e protestos.

O incidente destaca o debate em andamento sobre o impacto de Musk nas políticas federais e na transparência.

Fonte: https://www.msn.com/en-us/news/technology/elon-musk-mural-vandalized-in-brownsville-with-anarchist-symbols-and-phrases/ar-AA1ysCBe

Tradução > Contrafatual

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o sapo, num salto,
cresce ao lume do crepúsculo
buscando a manhã

Zemaria Pinto

[Austrália] A Colônia Deve Cair

Nas primeiras horas da manhã (26/01), na véspera do Dia da Invasão de 2025, um monumento dedicado aos soldados da Primeira Guerra Mundial foi vandalizado. Tinta vermelha foi jogada por toda a estátua, com as palavras “a colônia deve cair” e “devolvam a terra”, além de um triângulo vermelho virado para baixo pintado sobre ela. A contínua comemoração dos ANZACs e da chamada participação “australiana” em guerras imperialistas é usada para reforçar a supremacia branca, a identidade colonial-settler e o militarismo. Acabem com a máquina de guerra imperialista. Morte à “Austrália”. Devolvam a terra, devolvam a lei já!

>> Mais fotos aqui: https://backlashblogs.wordpress.com/2025/02/02/the-colony-must-fall/

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

Nuvem de flores –
Este sino será de Ueno?
Será de Asakusa?

Bashô

[EUA] ‘Ele vai pra casa’: novo filme documenta a luta para libertar Leonard Peltier

Free Leonard Peltier (do inglês “Liberte Leonard Peltier”) de Sundance descreve os esforços de décadas para libertar o ativista indígena da prisão – até a comutação de sua sentença uma semana antes da estreia

Por Adrian Horton em Park City, Utah | 30/02/2025

De todos os documentários no festival de cinema de Sundance este ano, talvez nenhum seja tão oportuno quanto o filme Free Leonard Peltier, de Jesse Short Bull e David France, sobre o ativista indígena preso por quase meio século.

Peltier, agora com 80 anos, está cumprindo penas de prisão perpétua consecutivas pelo assassinato de dois agentes do FBI durante um tiroteio na Reserva Pine Ridge, em Dakota do Sul, em 1975, embora tenha mantido sua declaração de inocência. Ativistas, celebridades e defensores da libertação, como Nelson Mandela, pedem sua libertação há décadas, citando a justiça forçada e evidências de má conduta do Ministério Público; o FBI e a polícia, por sua vez, fizeram uma campanha feroz contra qualquer comutação de sua sentença.

Short Bull (diretor de Nação Lakota vs Estados Unidos) e a France começaram a trabalhar no documentário depois que Peltier já havia cumprido 45 anos de sentença, enquanto uma nova geração de ativistas trabalhava para libertar o prisioneiro político mais antigo dos EUA. “Se você é nativo americano nos Estados Unidos, conhece a história de Leonard Peltier”, diz a ativista Holly Cook Macarro (Nação do Lago Vermelho) no início do filme.

O documentário de 110 minutos ressalta o status de Peltier como um ícone da independência e resistência dos nativos americanos, ligado a mais de meio século de ativismo indígena nos EUA, desde a organização dos direitos civis do Movimento Indígena Americano (American Indian Movement – AIM) na década de 1960, pelos protestos em Standing Rock em 2016, até o recente lobby para libertá-lo. Peltier “lutou por muitas dessas coisas das quais somos beneficiários diretos – ressurgimento cultural, Lei de Liberdade Religiosa dos Nativos Americanos, Lei de Autodeterminação Indígena”, diz Nick Tilsen (Oglala Lakota), fundador do grupo de direitos civis liderado por indígenas NDN Collective no filme. “Tem sido apenas uma parte do léxico de estar no movimento.”

Parecia que o arco do filme não terminaria em mudança – Free Leonard Peltier captura parte de uma audiência de julho de 2024 na qual Peltier teve sua liberdade condicional negada novamente; a versão final original do projeto terminou com um clipe de uma entrevista de 40 anos com Peltier, que não tem permissão para falar publicamente desde a década de 1990, na esperança de que um dia ele fosse libertado.

Mas em 20 de janeiro, com 14 minutos restantes em seu mandato presidencial, Joe Biden comutou sua sentença, permitindo que Peltier cumprisse o restante de seu tempo em prisão domiciliar – e enviando a equipe de documentários para a sala de edição com uma semana até a estreia. O filme então terminou com uma nota altamente emocional de triunfo, enquanto ativistas se abraçavam e soluçavam do lado de fora do complexo correcional federal em Coleman, Flórida.

Peculiarmente, a comutação não admite irregularidades em nome do Estado. Ela permitirá que Peltier, que sofre de inúmeras doenças, “passe seus dias restantes em prisão domiciliar, mas não o perdoará por seus crimes subjacentes”, de acordo com um comunicado da Casa Branca. O filme descreve o porquê, tecendo uma narrativa de ativismo geracional e justiça falha que retratou o tiroteio em Pine Ridge não como uma escalada de olho por olho, como foi retratado pela grande mídia na época, mas como uma incursão do governo em terras indígenas.

Vários anciãos da AIM, fundada em Minneapolis em 1968 por Dennis Banks e Clyde Bellecourt, aparecem no documentário, atestando a injustiça do encarceramento de Peltier, bem como as intenções do movimento. Forjada pelos protestos pelos direitos civis da década de 1960, a AIM combateu o Bureau of Indian Affairs (BIA) por sua destruição da cultura e da identidade por meio da opressão e da assimilação forçada. “Tentar ser indígena é uma luta diária em si”, disse Peltier na entrevista de 40 anos extraída do filme. “A AIM estava revidando, em todo o país. Estávamos todos vivendo sob o mesmo tipo de opressão.”

Peltier ajudou a organizar uma ocupação de uma semana do escritório da BIA em 1972, como parte de um esforço para abordar a “Trilha de Tratados Quebrados”, pedindo a restauração do processo de elaboração de tratados, o reconhecimento legal dos tratados existentes e a devolução de 110 milhões de acres de terra, entre outras demandas. Em Pine Ridge, Peltier estava defendendo muitos nativos americanos contra o que estes viam como mais um roubo de suas terras; o filme sugere que o FBI estava espionando os moradores e sabia que a AIM estava mudando seu foco para as práticas de mineração na área. No dia do tiroteio, Dick Wilson, o controverso presidente tribal com uma força policial privada e laços com o governo federal, assinou um oitavo das terras da reserva.

O tiroteio matou os agentes do FBI Jack Coler e Ronald Williams, bem como um nativo americano, Joe Stuntz. Nenhuma ação foi tomada sobre a morte de Stuntz. Três ativistas indígenas – Peltier, Robert Robideau e Dino Butler – foram processados pelas mortes dos agentes. Robideau e Butler foram absolvidos com base em legítima defesa. Mas Peltier foi condenado, com base em táticas de acusação que “mancharam as autoridades com vergonha”, diz James Reynolds, um ex-procurador dos EUA que lidou com a acusação e desde então pede a libertação de Peltier, no filme.

Ninguém contesta que Peltier estava atirando naquele dia. O FBI insistiu que o tiroteio representou um ataque descarado a seus agentes, e que Peltier atirou nos agentes para matar. O diretor do FBI, Christopher Wray, advogou pessoalmente contra a liberdade condicional de Peltier em julho de 2024, chamando-o de “assassino sem remorso que executou brutalmente dois dos nossos”. Peltier diz que não estava nem perto dos agentes e que foi transformado em bode expiatório. Ele manteve sua declaração de inocência e se recusou a confessar mesmo que isso tivesse ajudado os seus esforços com a liberdade condicional. “As pessoas me conhecem. Não sou um assassino a sangue frio “, diz ele no filme.

A prisão de Peltier, percebida como injustiça nas mãos de um governo indiferente dos EUA, continua a servir como uma metáfora para muitos nativos americanos. “Tudo o que aconteceu com ele é realmente um espelho de tudo o que aconteceu com o povo indígena ao longo da história”, diz Tilsen no filme.

Peltier ainda não saiu da prisão; ele será libertado 30 dias após a comutação, em 18 de fevereiro, quando retornará a um novo lar na reserva indígena Turtle Mountain, em Dakota do Norte. Sua vida continua em perigo, de acordo com os defensores. Mas o filme termina com uma nota de esperança duramente conquistada – “conseguimos!” diz Cook Macarro entre lágrimas. “Ele vai pra casa.”

Free Leonard Peltier está sendo exibido no festival de cinema de Sundance e está buscando distribuição

Fonte: https://www.theguardian.com/film/2025/jan/30/free-leonard-peltier-documentary

Tradução > Bianca Buch

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agência de notícias anarquistas-ana

Dia grisalho
brotos brotam brutos
na ponta do galho

Danita Cotrim

[Espanha] Lançamento: “Anarquía para jóvenes (y para quienes no lo son tanto)”, de Carlos Taibo

O anarquismo explicado com simplicidade para entendê-lo desde a prática e não desde as teorias.

Este livro oferece uma introdução rápida e pedagógica, para jovens e para quem não o são tanto, às ideias anarquistas e libertárias. Sublinha, conforme a essas ideias, que as sociedades podem e devem organizar-se desde baixo, desde a autogestão e do apoio mútuo, à margem de fórmulas autoritárias. Com um foco pessoal, oferece uma visão ligada aos problemas do momento e explora temas chave como o papel da mulher, a situação dos países do Sul e a crise ecológica global, centrando-se mais nas práticas reais que nos conceitos teóricos. Inclui também um capítulo sobre a juventude de nossos dias, misturando experiências próprias, conhecimentos socialmente estabelecidos e leituras especializadas. As conclusões prestam atenção a matérias como os livros, os idosos, a realidade, nada florescente, do capitalismo e os tempos obscuros nos quais nos adentramos.

Carlos Taibo foi durante três décadas professor de Ciência Política na Universidade Autônoma de Madrid. Entre seus livros se contam ¿Tomar el poder o construir la sociedad desde abajo? (2015), Anarquismo y revolución en Rusia, 1917-1921 (2017), Libertari@s (2017), Los olvidados de los olvidados. Siglo y medio de anarquismo en España (2018), Anarquistas de ultramar (2018) y Anarquismos. Ayer, hoy y mañana (2022).

Anarquía para jóvenes

(y para quienes no lo son tanto)

Escritor Carlos Taibo

ISBN 978-84-1067-183-6

Páginas 128

14,50 €

catarata.org

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

No jardim —
Dando passeio
Vai a borboletinha.

Paulo Ciriaco

Pierre-Joseph Proudhon: ontem e hoje

Pierre-Joseph Proudhon nasceu em 15 de janeiro de 1809 (sim, já se passaram 216 anos!), em Besançon, França. Essa data marca o início da trajetória de um dos pensadores mais influentes do anarquismo e da teoria social moderna. Filho de uma família humilde, Proudhon viveu em um contexto de transformações profundas na Europa pós-Revolução Francesa, o que influenciou sua visão crítica sobre o poder, a propriedade e as desigualdades estruturais. Seu trabalho seminal, “O Que é a Propriedade?”, publicado em 1840, trouxe a célebre frase “A propriedade é um roubo”, desafiando os fundamentos do sistema capitalista e propondo reflexões que ressoam até hoje.

Considerado por muitos como o pai do anarquismo moderno, Proudhon foi pioneiro ao articular uma filosofia política que rejeitava tanto a tirania do Estado quanto as explorações do capitalismo. Sua abordagem buscava um equilíbrio entre a liberdade individual e a solidariedade coletiva, defendendo a autogestão, o federalismo e a criação de associações livres de trabalhadores como alternativa ao modelo estatal. Essas ideias foram fundamentais para os movimentos anarquistas do século XIX e continuam a inspirar debates sobre formas mais justas e horizontais de organização social no século XXI.

No contexto atual, marcado por crises econômicas, desigualdades crescentes e desconfiança nas instituições tradicionais, o pensamento de Proudhon ganha nova relevância, valendo a pena nos dias atuais a leitura de suas obras. Suas críticas à concentração de poder e riqueza oferecem uma lente para analisar os desafios contemporâneos, como a precarização do trabalho, a crise ambiental e as tensões entre globalização e soberania local. Além disso, suas propostas de descentralização e autogestão encontram ecos nas práticas modernas de cooperativismo, economia solidária e movimentos sociais que buscam autonomia e justiça social.

Portanto, Proudhon não é apenas uma figura histórica, mas uma referência viva para aqueles que procuram compreender e transformar o mundo. Sua capacidade de combinar teoria e prática, somada à sua visão crítica e inovadora, faz dele um pensador ainda essencial para os debates do século XXI. Celebrar sua contribuição é não apenas reconhecer seu papel na história do anarquismo, mas também explorar suas ideias como ferramentas para construir sociedades mais livres, igualitárias e sustentáveis.

Liberto Herrera.

agência de notícias anarquistas-ana

Varrendo folhas secas
lembrei-me do mar distante:
chuá de ondas chegando.

Anibal Beça