Navegando por Gaza

Uma mensagem de um iatista punk americano desajustado da flotilha “Mil Madalenas por Gaza”

A fome se tornou uma das armas centrais com as quais o governo israelense busca exterminar a população de Gaza. Em 1º de outubro, o exército israelense atacou a flotilha Sumud, uma frota de navios que tentava romper o cerco a Gaza para entregar ajuda humanitária urgentemente necessária. Pessoas em todo o mundo protestaram em resposta. Notavelmente, na Itália, onde milhões de pessoas tomaram as ruas em quatro dias consecutivos de manifestações. Mas outra flotilha, Mil Madalenas por Gaza (Thousand Madleens to Gaza), vem logo atrás da Sumud. Aqui, apresentamos uma declaração de um dos participantes.

Estou escrevendo a vocês a 300 milhas das costas de Gaza. Sou um marinheiro a bordo do Soul of My Soul, um barco financiado e apoiado pela Mutual Aid Disaster Relief, uma organização anarquista de resposta a desastres da América do Norte. Somos parte da flotilha Mil Madalenas. Nossa missão é romper o cerco a Gaza, desafiar o estrangulamento imposto por Israel invadindo com alguns veleiros improvisados cheios de leite em pó e medicamentos.

Não sou um fanático. Sei o quão pequenas são nossas chances de atravessar o bloqueio imposto pelas Forças de Ocupação de Israel. Se formos atingidos por canhões d’água, abordados, presos e sequestrados, como nossos camaradas da Flotilha Global Sumud foram há alguns dias, então está claro que o poder não está conosco, mas com vocês. Quero que saibam sobre nós, sobre mim, e quero que ajam por conta própria.

Sou um marinheiro. Alguns escolhem vans, outros cabanas na floresta, mas veleiros sempre foram a minha praia. Nunca imaginei que meu gosto por navegar em velhos veleiros de plástico dos anos 1970 teria alguma relevância em uma luta política, muito menos em uma tão central. Vim parar aqui quando surgiu um chamado por camaradas com alguma experiência no mar. Agarrei a chance. Como estilo de vida, o iatismo faça-você-mesmo é algo tão marginal à luta política quanto se pode imaginar, mas aqui estou.

Não deixem ninguém lhes dizer que suas paixões são excêntricas demais para fazer parte da nossa luta maior pela liberdade. Não sou um ativista veterano nem um profissional do mar. Se eu acabei aqui, vocês também podem acabar.

Nosso barco mostra como anarquistas podem se engajar em campanhas políticas amplas e altamente visíveis sem abandonar suas convicções. Sei que muitos de nós evitamos esse tipo de ativismo: grandes organizações com escritórios e ações que buscam os holofotes da mídia. Nosso barco foi autogerido, financiado e adquirido por camaradas. Montamos nosso próprio equipamento, suporte jurídico e tripulação, e só então nos conectamos à organização maior, quando já estávamos prontos. Talvez nosso barco seja um pouco como um grupo de afinidade. Isso nos preservou certo grau de autonomia e poder de decisão, e ainda podemos navegar com nossos camaradas como uma frota.

Muitas vezes me perguntam qual é o objetivo do nosso movimento de flotilhas. É um ato meramente simbólico? Há alguma chance de conseguirmos chegar?

Meus sentimentos mudaram muitas vezes. Há precedentes históricos de barcos que conseguiram chegar. Alguns chegaram antes do ataque letal ao Mavi Marmara em 2010. Não é como se a ideologia política de Israel e seu ódio ao povo palestino fossem muito diferentes naquela época.

Mas tenho acompanhado as notícias aqui no mar, e vemos as enormes ondas de protesto contra o genocídio irrompendo pelo mundo em resposta ao ataque à flotilha Sumud. Isso me fez compreender nosso propósito aqui. Somos apenas um ponto de convergência. O mundo está cansado do bombardeio assassino e do cerco brutal de Gaza por Israel, e estamos oferecendo uma ocasião para que as ruas do mundo se encham novamente. Desta vez, para pôr fim a isso.

Se houver alguma chance de a flotilha Mil Madalenas chegar às costas de Gaza, será porque todos vocês a exigiram. Se vocês se levantarem em defesa da Palestina em todo o mundo, talvez as águas políticas se abram diante de nós. Talvez sejamos o primeiro filete de um corredor marítimo popular.

Por favor, ajam da maneira que puderem, da forma mais alta e decisiva possível. Vocês tomam as ruas, e nós tomaremos o mar.

Palestina livre.

Fonte: https://pt.crimethinc.com/2025/10/05/sailing-for-gaza-a-message-from-a-wayward-american-yachtpunk-in-the-thousand-madleens-to-gaza-flotilla

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

O Estado é mito
que o vento leva—ficam
nossas mãos nuas, sós.

Liberto

[Suíça] Tattoo Circus Bern

Venham, venham todos!

O Tattoo Circus Bern lhes dá as boas-vindas de 13 a 16 de novembro ao seu grande espetáculo na Reitschule!

Vamos nos animar com as apresentações sensacionais de nossos artistas mundialmente renomados! Veja como a Reitschule se transforma em um espetáculo colorido, no qual você terá a oportunidade de embelezar seu próprio corpo e se maravilhar com as diversas formas de modificação e decoração corporal. Deixe-nos alegrar sua vida com apresentações emocionantes, shows, festas, além de comidas e bebidas deliciosas.

Por que estamos fazendo isso?

Infelizmente, a atmosfera alegre e colorida de uma tenda de circo não reflete a situação da totalidade de nosso mundo – onde os poucos que detêm o poder continuam explorando os seres humanos e o meio ambiente, como vêm fazendo há muito tempo. À medida que sentimos que a situação do mundo piora a cada dia que passa, é difícil manter a esperança.

Por essa razão, queremos nos unir e nos concentrar em um mal específico que assola o mundo atualmente: Prisões e repressão. Esses instrumentos dos sistemas dominantes prendem as pessoas de quem não gostam. As pessoas que não se encaixam em seu modelo restrito. Seja por conceitos arbitrários e construídos, como direito de residência e fronteiras, ou porque continuam lutando por um mundo diferente.

Com a ajuda de workshops, apresentações e conhecimento sobre casos atuais de repressão, pretendemos nos educar juntos. Usar essa informação para escrever cartas aos que estão privados de liberdade e angariar fundos e apoio para aqueles que se levantam contra o sistema.

O Tattoo Circus Bern dá continuidade a uma tradição que começou em 2007 em Roma e desde então tem ocorrido em várias cidades da Europa (como Barcelona, Londres, Tessalônica, Berlim, Atenas, Madri e outras).

Nesse espírito: Visite o maravilhoso mundo do Tattoo Circus Bern. Deixe-se encantar, compartilhe momentos de resistência e tenha discussões inspiradoras. E talvez você volte ao mundo com um pouco mais de coragem no coração e uma nova tatuagem na pele.

Até nos encontrarmos novamente! <3

Tradução > Lagarto Azul / acerto trans-anarquista

agência de notícias anarquistas-ana

Manhã já vai alta —
Os beija-flores em bando
revoam no jardim…

Guin Ga Eden

O Fogo do Conhecimento na Revolução Anarquista

A ignorância não é inocente: é o alicerce sobre o qual o capitalismo ergue seus templos de opressão. A alienação fabricada pelo sistema — que transforma história em mercadoria, ciência em ferramenta corporativa e pensamento crítico em ameaça — não é acidental. É projeto. Romper essa névoa exige estudo militante: ler Bakunin para entender as engrenagens da exploração, devorar Kropotkin para desenhar horizontes de mútua ajuda, decifrar Bookchin para fundir ecologia e libertação, etc. Conhecimento, aqui, não é adorno: é martelo para quebrar grilhões. Quem desconhece as estruturas da dominação reproduz, mesmo sem querer, a lógica do opressor.

Nesse contexto, a leitura anarquista é subversão ativa — um ataque à propriedade intelectual do saber. Enquanto universidades corporativas vendem diplomas como títulos de nobreza, nós erguemos bibliotecas livres nas ocupações, traduzimos panfletos em assembleias, debatemos Malatesta em greves. Cada texto anarquista lido coletivamente é um ato de desobediência epistêmica: nega-se o monopólio das elites sobre a razão. Estudar Emma Goldman não é exercício acadêmico; é aprender com quem incendiou teatros do patriarcado. A teoria, longe de ser abstração, é mapa de guerrilha contra o Estado e o Capital.

Refletir, porém, não é contemplação passiva. É autocrítica feroz e coletiva — a arma que impede a revolução de petrificar em nova tirania. Questionamos Proudhon diante de seu racismo, confrontamos as contradições de Stirner com o comunitarismo, reescrevemos o mutualismo à luz das lutas indígenas. Essa reflexão permanente desmonta dogmas e evita a criação de novos sacerdotes revolucionários. Nas palavras de Gustav Landauer: “O Estado é uma condição, um tipo de relação entre seres humanos” — desnaturalizá-lo exige pensar (e viver) relações antiautoritárias aqui e agora, nos espaços autogeridos.

Por fim, estudar é preparar o terreno do possível. Não há revolução duradoura sem transformação íntima: desaprender a competição, desenterrar a empatia soterrada pelo consumismo, forjar éticas baseadas na solidariedade. Quando comunidades estudam permacultura para criar zonas autônomas, quando coletivos mapeiam redes de apoio mútuo durante desastres climáticos, estão aplicando o conhecimento como alavanca material. A utopia não cai do céu: constrói-se com livros nas mãos, mas os pés nas ruas. Saber, nesse sentido, é o primeiro ato de rebelião — e o último refúgio que o capital jamais controlará.

Federação Anarquista Capixaba – FACA

E-mail: fedca@riseup.net

federacaocapixaba.noblogs.org

agência de notícias anarquistas-ana

Sob a árvore
sobre o carro
repousa o joão-de-barro

Tânia Diniz

[Espanha] Lançamento: “A bandeira no cume | Uma história política do montanhismo”, de Pablo Batalla Cueto

Sinopse

Sherpas em greve. Feministas que cravam a bandeira sufragista no topo de um pico. Alpinistas veganos, alpinistas cegos, alpinistas à força nas serras da resistência antifascista, alpinistas trans hasteando o estandarte rosa, branco e azul em cada uma das Sete Montanhas, montanhistas evangélicos em busca da Arca de Noé no cume do Ararate. Anarquistas que vão para a montanha praticar esperanto ou procurar esconderijos para as armas da ação direta. Montanhistas fascistas, pacifistas, peronistas, liberais, conservadores. Papas e santos alpinistas, judeus ortodoxos estudando a Torá nas encostas do Everest. As excursões de Tolkien, as de Lenin, as de Helmut Kohl, o mountaintop sonhado por Martin Luther King. Longas filas no Everest do século XXI para hastear duas dúzias de bandeiras das mais variadas. «Não há ‘não política’, tudo é política», dizem dois personagens de A Montanha Mágica, de Thomas Mann, em um sanatório nos Alpes suíços, e é com essa referência literária que começa este livro sobre as mil maneiras pelas quais se fez política a partir dos afiados púlpitos dos picos do mundo. Ao longo do texto, surgem tanto as grandezas quanto as misérias da história do alpinismo, espaço de liberdade e emancipação às vezes, e de opressão muitas outras.

A bandeira no cume | Uma história política do montanhismo

Pablo Batalla Cueto

ISBN 979-13-990391-9-1

Preço: 22 €

Páginas: 304

capitanswing.com

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Breve serei pó
e, então, quando me pisares,
cobrirei teus pés.

Evandro Moreira

Um capítulo negro da História espanhola: 50 mil mulheres presas em centros da Igreja para serem “reeducadas”

Entre 1941 e 1985, pelo menos 50 mil mulheres espanholas foram vítimas dos centros de reeducação do franquismo. Estima-se que, nesta altura, 30 mil crianças tenham sido retiradas às mães à nascença.

Pouco se fala de um capítulo sombrio da História recente de Espanha, que marcou mais de 50 mil mulheres durante o franquismo. Foram rotuladas de rebeldes e fechadas em centros de reabilitação moral, onde sofreram abusos, trabalho forçado e tiveram acesso limitado à escola. Esses institutos, controlados por grupos religiosos, reúnem hoje mais de 400 mulheres numa confederação que agora promove uma cerimónia de perdão às vítimas. 

Na fotografia, Mariaje Lopez tinha oito anos e estava a dias de entrar para um centro católico de reabilitação moral, em Espanha.

Eram casas onde as mulheres até aos 25 anos de idade ficavam presas porque padres, vizinhos ou mesmo alguém da família considerava que elas eram “rebeldes” e estavam a desviar-se do padrão moral católico celebrado e defendido por Francisco Franco. O militar instaurou uma ditadura em Espanha, em 1939, que se estenderia até 1975, ano em que Franco morreria.

A suposta educação das moças – para aprenderem a cuidar do lar, do marido e dos filhos – era dada pela Igreja Católica espanhola em institutos de reabilitação que dependiam do Ministério da Justiça e eram supervisionados pelo “Conselho de Proteção da Mulher” – cuja presidente era a mulher de Franco.

Ser “rebelde” incluía ser mãe solteira e sozinha. Essas mulheres eram fechadas em centros como a maternidade de Peña Grande, nos arredores de Madrid.

Aos 76 anos, Paca Blanco lembra-se bem do que significava estar internada em Peña Grande: era mais de meio caminho para as mães ficarem sem os filhos e sem perceberem porquê. As associações que defendem as vítimas estimam que, durante o franquismo, cerca de 30 mil crianças foram retiradas às mães à nascença.

Há estudos que apontam para que, entre 1941 e 1985, pelo menos 50 mil mulheres espanholas tenham sido vítimas destes centros de reeducação.

Fonte: https://sicnoticias.pt/mundo/2025-06-08-video-um-capitulo-negro-da-historia-espanhola-50-mil-mulheres-presas-em-centros-da-igreja-para-serem-reeducadas-b8d56326

agência de notícias anarquistas-ana

entre miados
o gato enamorado
roçando o bigode.

Luciana Bortoletto

[México] À esquerda da esquerda

Por Juan José Cárdenas Tamayo

O avanço do autoritarismo é inegável. No terreno da democracia representativa, ele se reflete no crescimento das bancadas reacionárias, mas reduzir a política ao eleitoral é se limitar a uma visão estreita. A política também atravessa a vida cotidiana, em todas as nossas formas de relação, e a partir daí o panorama se torna mais sombrio: a ideologia autoritária penetrou os gestos mais simples, instalando-se em corpos e mentes sem necessidade de vigilância externa. Seu sucesso reside em se tornar invisível: quem concebe seus hábitos e pensamentos como meras “formas de ser”, sem questionar sua origem, se torna um portador inconsciente dela. Assim, o velho sonho fascista de produzir indivíduos que vigiem a si mesmos e aos outros não apenas se mantém vivo, como é cumprido silenciosamente.

Diante dessa realidade, a oposição ao autoritarismo buscou refúgio em uma estratégia deplorável: aceitar o mal menor. Perante a ameaça gigantesca da direita, qualquer alternativa de centro ou esquerda surge como um alívio. Na América Latina, essa dinâmica se tornou recorrente. Cada vitória de um governo que não pertence à direita é recebida como uma conquista própria, e nesse processo a crítica se relaxa. As falhas de gestão são justificadas com frases como “a oposição não os deixa governar” ou “pelo menos roubam menos que os outros”. O que deveria ser uma atitude de escrutínio constante se dissolve em indulgência, e a crítica, que antes era uma arma contra os poderosos, se transforma em silêncio cúmplice.

O problema é que essa lógica corrói toda a coerência. Se se condena com dureza um governo de direita, mas se relativizam as mesmas práticas quando provêm de um governo “progressista”, a crítica deixa de ser uma ferramenta transformadora para se tornar um exercício seletivo. Tanto para quem confia em alguma forma de democracia quanto para quem a rejeita, escapa ao entendimento que nenhum projeto político pode se legitimar na obediência, mas sim em suas ações concretas e em sua capacidade real de transformar a vida.

Como anarquistas, marcamos uma diferença decisiva. Ser antipolíticos não equivale a ser apolíticos. A apoliticidade, entendida como indiferença ou desinteresse, é sempre funcional ao poder porque deixa livre o terreno para quem deseja perpetuá-lo. Nossa postura antipolítica, por outro lado, consiste em desmascarar a política institucional como um mecanismo de dominação. Essa clareza implica que a crítica não pode ser dirigida apenas contra a direita: deve golpear com a mesma força a esquerda, porque ambas participam da mesma lógica de hierarquia e controle.

O anarquismo não é a esquerda da esquerda nem uma versão mais radical dela. Somos um horizonte que questiona qualquer forma de poder, independentemente da bandeira que o cubra. Mesmo quando os governos de esquerda levantam bandeiras de justiça social, suas práticas reproduzem o mesmo esquema de burocracias centralizadas, polícias que controlam o protesto e partidos que subordinam as lutas aos seus calendários eleitorais. O poder se disfarça, mas não desaparece.

Aceitar o mal menor equivale a capitular na crítica. É aceitar que a repressão seja tolerada porque é “menos brutal”, que a corrupção seja normalizada porque é “mais moderada”, que as promessas não cumpridas sejam desculpadas porque “a direita teria feito algo pior”. Esse conformismo é incompatível com uma ética libertária. Enquanto persistir esse duplo padrão, não existirá uma postura verdadeiramente antipolítica.

Nossa crítica deve se manter em todos os momentos, sem concessões nem exceções. Não se trata de exigir uma pureza inalcançável, mas de não justificar em um governo o que se condena em outro. Como anarquistas, não estamos aqui para lavar a roupa suja de nenhum projeto partidário. Nossa força está em apontar as fissuras do poder e em construir alternativas a partir de baixo, não em nos ajoelhar perante as promessas de quem busca administrar o existente.

Mas a crítica não basta. O anarquismo se fortalece também na prática: na auto-organização comunitária, na solidariedade concreta, na criação de espaços de vida que transbordam os limites do Estado. Onde os governos “progressistas” se contentam em gerenciar a miséria, nós propomos aboli-la. Onde os partidos negociam com as elites, apostamos na autonomia.

Por isso, diante do avanço do autoritarismo, não basta denunciar a brutalidade da direita nem tolerar a tibieza da esquerda. Ambas são expressões de uma mesma lógica de dominação. Como anarquistas, temos claro que nosso lugar não está à esquerda da esquerda, mas além dela. A meta não é escolher um amo menos cruel, mas construir um mundo sem amos nem servos, onde a liberdade seja uma prática cotidiana e não uma concessão.

Fonte: La grietA, Vozes Anarquistas #14, setembro de 2025

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Dia de primavera —
Pássaros de dobradura
Pra passar o tempo.

Teruko Oda

[Itália] Comunicado do Grupo Anárquico Mikhail Bakunin – FAI Roma & Lazio

Na última segunda-feira, 22 de setembro, mais de 80 praças da Itália explodiram numa série de manifestações oceânicas; em Roma, mais de 100.000 pessoas invadiram as ruas para dizer NÃO ao genocídio na Faixa de Gaza e SIM à solidariedade internacional. Nosso contingente se expressou com clareza: o estandarte “Nem Deus, nem Estado, nem Guerra – Livres todəs em terra livre” e as bandeiras negras e vermelho rubras marcaram um nítido distanciamento de todo nacionalismo e de todo ódio religioso.

Enquanto as praças se enchem de corpos e vozes que pedem ajuda para Gaza, as instituições italianas nomeiam sua “prudência” e buscam vias de mediação que servem apenas para despolitizar a indignação popular. O Presidente da República e Chefe das Forças Armadas, Sergio Mattarella, convidou a Global Sumud Flotilla a aceitar a oferta da Igreja para desviar a ajuda através de canais oficiais, em nome da segurança e da “garantia” da entrega.

Mas se a Igreja ou o Governo italiano podem “garantir” a entrega da ajuda, por que não a levaram até agora a uma população à beira do colapso?

Trata-se apenas da mais uma tentativa de não perturbar uma operação de limpeza étnica de um estado que não é apenas comprador das armas italianas usadas para exterminar os palestinos em Gaza, mas é também um dos principais fornecedores de armas para a Itália, especialmente no setor de espionagem e cibersegurança. E é em nome dessa colaboração que agentes do Mossad (o serviço secreto israelense) estavam presentes, junto com a polícia italiana, em Parma no último 21 de setembro, para controlar e reprimir possíveis protestos contra o ex-primeiro ministro israelense Olmert.

A Global Sumud Flotilla, por outro lado, escolheu a rota que rompe com a farsa dos Estados: dezenas de embarcações civis zarparam para romper o bloqueio e entregar ajuda a Gaza, denunciando o regime de cerco. A missão se encontrou numa “zona de alto risco”, sofreu ataques às embarcações e pressões diplomáticas, mas prossegue com a vontade de romper a lógica do controle estatal sobre a solidariedade.

Como grupo anárquico, apoiamos o espírito antiautoritário, internacional, partidário das populações e da solidariedade direta – aquele das praças, de quem embarca nos barcos, de quem constrói corredores de vida fora da lógica do Estado e do lucro. Ao mesmo tempo, contestamos e rejeitamos as posições reacionárias das Instituições que, embora declamem humanidade e segurança, não fazem senão preservar as rotas do comércio de armas, os acordos militares e a ordem mundial que produz genocídios.

Recusamos, sem hesitação, todas as Pátrias e todos os Estados – inclusive o Estado que alguns gostariam de erigir como “pátria palestina”, como se a resposta fosse substituir uma fronteira por outra. O absurdo do mantra “dois povos, dois Estados” está aos olhos de quem vê os Estados como aparelhos que reproduzem exploração, polícia, economia de guerra e alianças letais. No mundo, são precisamente os Estados que organizam saques, protegem os senhores das armas, transformam as religiões em instrumentos de submissão e controle. Gritamos em alto e bom som que não queremos trocar a liberação por uma nova bandeira.

A Leonardo [empresa italiana de defesa] e outros mercadores da morte engordam com a carnificina: as cadeias produtivas e financeiras que fornecem armas e tecnologias militares são parte integrante da responsabilidade coletiva. Denunciamos a cumplicidade econômica e política que torna possível o massacre: não basta condenar, é preciso romper os fluxos que alimentam a guerra.

Nossa posição é clara e não negociável: solidariedade internacional concreta (incluindo a plena e ativa proximidade com a Global Sumud Flotilla), recusa limpa de todo nacionalismo e de toda religião autoritária como justificativa para a violência, sabotagem das redes que permitem as guerras e construção de práticas de autogestão e libertação comum.

Nossa batalha é contra os Estados, contra as Religiões e contra o Capital que utilizam a guerra para acumular capital e disciplinar os corpos.

Por isso estaremos novamente na praça no sábado, 4 de outubro de 2025, às 14h00, com partida da Piazzale Ostiense, com nosso estandarte. Quem se reconhece no internacionalismo e no antiautoritarismo é convocadə a se unir ao nosso contingente. Não deixemos a solidariedade nas mãos dos poderosos; construamo-la nós, a partir de baixo, sem patrões nem mediadores.

Nem Deus, nem Estado, nem Guerra. Livres todəs em terra livre.

Grupo Anárquico Mikhail Bakunin – FAI Roma & Lazio

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Sopra o vento
Pássaros correndo
Atrás de sementes

Rodrigo de Almeida Siqueira

[Itália] Anarquistas pelos Palestinos

Alguns artigos publicados nestes dias, carregados de apreensão, relatam a expectativa de milhares de anarquistas para a greve geral nas principais praças da Itália, após a abordagem por Israel dos barcos da Flotilha Global Sumud.

Os anarquistas, é verdade, estavam e estão presentes – entre as numerosas cidades em mobilização – também em Turim, Livorno, Roma, Milão, Nápoles, Trieste, Florença e Ancona.

Estivemos presentes nas assembleias, nos piquetes, nas greves e nos cortejos em andamento e que se realizarão, com posições claras e a rosto descoberto. Nós, anarquistas, não precisamos esconder nossas intenções ou organizar perigosos atentados, porque somos estudantes, desempregados, trabalhadores, exatamente como todos os outros manifestantes, unidos numa resposta popular de rejeição a um futuro de guerras e a um presente de dor e incertezas.

Nos chamam de extremistas talvez porque não queremos apenas um mundo sem guerras, mas também sem aqueles muros que as geram, sem a exploração das pessoas e do meio ambiente que as alimentam, porque queremos um futuro melhor para todos.

Por isso, por tudo, os anarquistas das Marcas aderem também à greve geral de 3 de outubro, e ao cortejo que se realizará em Ancona a partir das 16h. Vocês não devem se preocupar conosco, mas com o futuro de todos.

FAI – Federação Anarquista Italiana / Seção “M. Bakunin” – Jesi / Seção “F. Ferrer” – Chiaravalle / Grupo Anárquico “Kronstadt” – Ancona / Coordenação Salamandras – Fano/Pesaro / USI/CIT – Marcas Norte / Anarquistas do Valcesano

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

nas ondas cintila o luar.
longas algas,
verde cabelo do mar

Alaor Chaves

Novo vídeo: Construtoras Financiam Ataques ao Quilombo Kédi

O Quilombo Kédi, em Porto Alegre (RS), vem há anos sofrendo assédio e violências por parte da construtora CFL e da Country Empreendimentos, da Família Zaffari, que querem empreender no seu território.

Violência financeira, coagindo famílias de baixa renda a deixarem suas casas. E violência psicológica, com a presença de capangas armados circulando dentro do quilombo e demolições ilegais deteriorando as condições de vida.

Na terça-feira, 30 de setembro de 2025, um homem agrediu fisicamente Onir Araújo,advogado da Frente Quilombola do Rio grande do Sul, que representa o Quilombo Kédi.

>> Veja o vídeo aquihttps://antimidia.org/construtoras-financiam-ataques-ao-quilombo-kedi/

agência de notícias anarquistas-ana

Acordo molhado de suor –
O sonho do banho
No tanque do quintal!

Paulo Franchetti

[Indonésia] Companheiro anarquista Eat sequestrado pela polícia e mantido incomunicável

Após a revolta de agosto de 2025, o Estado indonésio está enfraquecido e em busca de bodes expiatórios. Em 23 de setembro, os canalhas encontraram outro e sequestraram o companheiro Eat. Eat é um anarquista conhecido que já esteve preso diversas vezes, inclusive por assalto à mão armada e incêndio criminoso em um banco. Sua ex-namorada, Anzi Matta, o delatou, e é por isso que ele foi preso, segundo a polícia. Os policiais confiscaram seu laptop e celular, para que contribuísse com o caso.

A polícia bastarda o mantém incomunicável, assim como os outros anarquistas. Ele está atualmente detido na Delegacia Regional de Java Ocidental, em Bandung. Muitos companheiros estão detidos lá. Não sabemos quais acusações formais serão feitas contra ele. Sabemos que ele foi acusado abertamente de ser o líder da “rede do caos” na Indonésia, em conexão com os tumultos de agosto passado. Nunca ouvimos falar de um líder anarquista, muito menos de um niilista. Nem ouvimos falar de nenhuma rede oficial do caos até agora. As evidências que a polícia tem são simplesmente a posse de bandeiras ou objetos, revistas impressas, músicas, perfis em redes sociais, participação ou não nos tumultos; em muitos casos, eles parecem estar tentando legitimar o uso de leis antiterrorismo. À primeira vista, parece mais uma invenção ridícula e fantástica da unidade antiterrorismo, como a mentira de que US$ 500.000 em financiamento internacional criaram o levante. Isso faz parte da tentativa do Estado indonésio de mudar a narrativa. Na região mais ampla, nossas correntes e tendências estão se fortalecendo. O futuro deles acabou, o anarquismo é a narrativa.

Sabemos que, segundo notícias na Indonésia, após a prisão de 42 pessoas acusadas de pertencer a células stirnerianas/rebeldes, a polícia perseguiu Eat por suspeita de financiar, agir em solidariedade com prisioneiros e ter conexões com anarquistas internacionais, ou seja, manter relações amistosas além-fronteiras. A polícia está tentando enfraquecer a determinação dos anarquistas culpando denunciantes e criando anarcofantasmas, mas sabemos que eles estão mentindo e praticando tortura. Tudo o que sabemos é que a polícia está espalhando a notícia de que a ex-namorada de Eat, Anzi Matta, os ajudou com informações que levaram à prisão de Eat em Makassar, e que ele foi transferido para a Delegacia Regional de Polícia de Java Ocidental, em Bandung, em 23 de setembro, onde permanece.

Ação direta contra embaixadas indonésias, interesses corporativos e similares.

Liberdade para os prisioneiros – Morte ao Estado.

Fonte: https://darknights.noblogs.org/post/2025/10/02/anarchist-comrade-eat-kidnapped-by-the-police-and-held-incommunicado-indonesia/

agência de notícias anarquistas-ana

Sobre o telhado
flores de castanheiro
ignoradas.

Matsuo Bashô

USI em solidariedade com a flotilha de Gaza: greve geral na Itália!

Nossos companheiros e nossas companheiras da Itália, na USI, juntaram-se recentemente à convocação da greve geral massiva que sacudiu o país italiano no final de setembro, em solidariedade com a flotilha de Gaza e o povo palestino. As mobilizações de 22 de setembro deram origem a grandes manifestações em muitas cidades e à exigência unitária de que o governo italiano deixasse de vender armas a Israel.

Agora, em vista dos recentes acontecimentos no mar e das últimas ações militares do governo israelense (que impediu os navios da flotilha de entregar sua ajuda necessária e abrir um corredor humanitário para Gaza), foi convocada uma greve geral conjunta para amanhã (3 de outubro). A seguir, você pode encontrar um link para o manifesto da USI e para a convocação de greve (em italiano) PROSEGUE A MOBILIZAÇÃO – USI-CIT (https://usi-cit.org/prosegue_la_mobilitazione/).

Como eles mesmos dizem: “A USI-CIT participará de todas as ações de base em solidariedade com o povo palestino e de todas as iniciativas populares que visem pôr fim ao genocídio.” Portanto, nossos companheiros e nossas companheiras juntam-se ao apelo para interromper toda cooperação econômica entre o Governo italiano e o Estado de Israel, e para que a classe trabalhadora boicote esses laços e impeça o envio de armas e ajuda militar, por meio de piquetes nos portos e outras infraestruturas.

Isto é apenas o começo de um estado de mobilização geral! Muita sorte na consecução deste importante objetivo humanitário!

www.iclcit.org

agência de notícias anarquistas-ana

Sulco fundo de arado.
A terra aberta ferida
Eis a vida.

Eunice Arruda

[EUA] Feira Anarquista de Zines de Portland, 5 de outubro

ENQUANTO A MISÉRIA EXISTIR, ESCOLHEMOS A REBELIÃO

Feira Anarquista de Zines de Portland 2025

5 de outubro, das 11h às 19h

Festa pós-evento às 21h (atrações a anunciar)

portlandanarchyfair@anche.no

Todo mundo que já viveu aqui sabe que existem duas Portland: a Portland da elite rica e de seus lacaios yuppies, e a Portland dos pobres, da ralé. Os arquitetos dessa miséria estão tentando aliviar a tensão que se acumula na linha de falha entre essas duas cidades por meio de jogos políticos, de uma marca “contracultural”, de lavagem arco-íris e de “serviços” assistenciais que não passam de migalhas colocadas em uma ratoeira.

A visão deles para a cidade e para a região mais ampla é cristalina: pretendem transformar o vale do rio Columbia em um novo Vale do Silício, usando as florestas e rios para alimentar suas fábricas, e Portland como playground para o afluxo de trabalhadores da tecnologia que já está bem em andamento. Portland encontra-se em uma encruzilhada crítica, não apenas nesses planos para a região, mas também nos desígnios maiores de dominação em suas guerras em curso contra a própria vida. O atual “cluster de semicondutores” de Oregon produz microchips que são o núcleo sem coração da máquina que espalha guerra pelo mundo, que deporta e aprisiona segundo uma lógica de lucro e controle, que explora impiedosamente aqueles que conseguem escapar da captura direta. E eles estão sendo fabricados aqui mesmo.

A posição central de Portland nesses projetos de morte significa, por um lado, que a cidade enfrenta esforços cada vez mais intensos de “limpeza social”, para eliminar todos e tudo o que seja hostil ou desagradável para os ricos e sua tecno-distopia. Quando dizem que querem “limpar” Portland, é isso que querem dizer: para tornar a cidade lucrativa, precisam varrer todos os indesejáveis e criar a imagem de uma página em branco. É para isso que servem os incontáveis canteiros de obras de condomínios de luxo espalhados pela cidade, vazios, enquanto pessoas nas ruas são empurradas para a cadeia, recolhidas, pisoteadas e escondidas como lixo. O milionésimo café ou restaurante yuppie, refúgios seguros para certos tipos de pessoas, enquanto outras ficam de fora, implorando por restos. Todo mundo sabe para quem é toda essa porcaria e quem precisa ser “limpo” para abrir caminho para ela.

Por outro lado, porém, isso significa que os que estão no poder cometeram um erro terrível; estão contando com que baixemos a cabeça e cooperemos em silêncio. Mas eles não são os únicos com planos. Sua visão para Portland deu um passo gigantesco para trás depois de 2020, quando a rebelião lançou tudo no caos. Agora, as tentativas dos patrões de recuperar terreno em Portland dependem de uma massa pacificada e abatida, que será expulsa como as pragas que eles acreditam que somos. Mas nós podemos ser ratos roendo os fios dessa máquina, uma praga além dos seus piores pesadelos, sabotando os responsáveis por essa miséria onde quer que tentem rastejar para dentro de nossas vidas. Sim, podemos agir, recusando-nos a dar ouvidos aos vários gerentes que tentarão devolver as coisas à normalidade: partidos políticos, líderes, ONGs, organizações comunitárias e todos os outros que só querem peões para seu jogo doentio.

Essas são as perspectivas e práticas que queremos explorar na Feira Anarquista de Zines de Portland, por meio de publicações e discussões – onde nos situamos na luta contra o poder em todas as suas muitas máscaras e que escolhas enfrentamos no caminho à frente? Os patrões querem aliviar a tensão e suavizar a linha de falha que atravessa Portland. Vamos fazê-la explodir.

Fonte: https://rosecitycounterinfo.noblogs.org/2025/09/portland-anarchist-zine-fair/

Tradução > Contrafatual

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Ao brilho suave
da lua de primavera
um vulto se aproxima.

Benedita Azevedo

A Julia Chuñil, queimaram-na!!

1º de outubro – 7 de outubro

Chamado internacional à ação e propaganda em busca da verdade e justiça

Os anarquistas e movimentos de esquerda radical nos unimos em um chamado solidário aos múltiplos protestos surgidos ao longo do território chileno pelas novas declarações emitidas pela família de Julia Chuñil, nas quais se comunica como o empresariado, o governo e a justiça chilena se ataram para ocultar a verdade: Julia foi queimada!

Entendemos que este é mais uma das centenas de casos que ocorreram em território usurpado pelos Estados da Argentina e do Chile, e que mostra como a repressão e as violações dos direitos básicos são um luxo para os setores marginalizados por sua racialidade, sexualidade, nacionalidade, classe e muitas outras categorias que posicionam uma ínfima parte no topo do poder.

Aos companheiros mapuches, nossa solidariedade, vocês são o exemplo vivo de como o Estado não muda, mas que se transforma, e de como a falsa ilusão da “concertação” trouxe consigo os piores vestígios e ferramentas que foram utilizados na Ditadura, para serem agora empregados contra o povo-nação que busca autonomia.

Por isso, fazemos um chamado, não só em território nacional, mas expandindo nossas redes para outras línguas e territórios, a uma semana de agitação, ação e propaganda em busca não só da verdade sobre Julia Chuñil, mas sobre a verdade de centenas e milhares de casos replicados em todos os asquerosos Estados deste planeta que perpetuam a violência e o silêncio contra nossos companheiros que defendem seus territórios das mãos do extrativismo capitalista.

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Mas tão rápido
o beija-flor sumiu
Um risco brilhante

Teruo Hamada

Do Debate à Ação: Forjando a Liberdade em Lajinha (MG)!

Companheiras, companheiros, povo consciente de Lajinha e de todo território dominado pelo Estado brasileiro!

Enquanto os de cima festejam em seus salões e apostam na nossa desunião, nós, da União Anarquista Federalista (UAF), fazemos o que eles mais temem: nos reunimos, debatemos e forjamos nossa própria liberdade. No fim da tarde de 30 de setembro, a revolução não gritou nas ruas, mas sussurrou e raciocinou em uma poderosa roda de conversa. O povo se reuniu não para ouvir um líder, mas para construir, coletivamente, o caminho da sua própria emancipação.

Os temas não foram acadêmicos. Foram ferramentas. Autogestão – a prova prática de que não precisamos de patrões para organizar nosso trabalho e nossas vidas. Apoio Mútuo – a arma letal contra a lógica individualista e competitiva que o Capital nos impõe. Solidariedade de Classe – a compreensão de que a luta do operário da fábrica é a mesma do camponês do campo, do favelado, do estudante endividado e da mãe solo que luta para sobreviver.

Este não foi um debate de ideias abstratas. Foi uma trincheira de formação revolucionária. Foi a demonstração de que o povo, quando se organiza horizontalmente, é perfeitamente capaz de pensar, de aprender e de ensinar. Enquanto o Estado nos trata como incapazes e o Capital nos reduz a meros números, nós, anarquistas, reafirmamos: o conhecimento é poder, e esse poder deve ser de todos!

A roda de conversa é a antítese do parlamento burguês. Enquanto eles falam sobre nós, sem nós, nós falamos por nós, entre nós. É a ação direta aplicada à educação. É a semente da nova sociedade sendo plantada no terreno fértil da consciência popular. É a prova de que a revolução não se faz apenas com confronto, mas também com a paciência revolucionária de educar, organizar e construir poder popular.

Mas, companheiras e companheiros, de que adianta o debate se ele não se transformar em prática? A autogestão discutida deve virar uma cooperativa de trabalhadores, uma horta comunitária. O apoio mútuo deve se materializar em uma caixa de solidariedade para greves, no apoio a um morador despejado. A solidariedade de classe deve ecoar nos piquetes de luta e nas assembleias populares.

A UAF não veio a Lajinha para doutrinar. Veio para semear e, ao mesmo tempo, aprender. Convocamos a todos que participaram e a todos que sentem o chamado da liberdade:

Aos que entenderam que a verdadeira educação é libertária,

Aos que veem na autogestão o futuro da sociedade

Aos que praticam o apoio mútuo no seu dia a dia e querem transformá-lo em força política,

ASSOCIEM-SEM À UAF E VAMOS OMBREAR POR UM MUNDO MELHOR!

Que a roda de Lajinha não seja um evento isolado. Que seja o primeiro de muitos círculos de estudo, de muitos grupos de afinidade, de muitos núcleos de poder popular. Que de cada conversa surja uma comissão de bairro, que de cada debate nasça um novo sindicato combativo.

A noite em Lajinha foi iluminada não apenas pela luz do fim de tarde, mas pela chama da inteligência coletiva e da vontade de lutar. Que essa chama se alastre, queimando as correntes da ignorância e da opressão.

Pela educação libertária! Pela construção da organização popular antiestatal e anticapitalista!

A luta continua, na teoria e na prática!

Viva a Anarquia! Viva a UAF!

União Anarquista Federalista (UAF)

uafbr.noblogs.org

agência de notícias anarquistas-ana

zínias frescas,
brancas, amarelas,
cadê as borboletas?

Rosa Clement

[Espanha] 1ª Feira do Livro Anarquista e Social de Vigo

A 1ª Feira do Livro Anarquista e Social de Vigo abrirá suas portas nos dias 10, 11 e 12 de outubro, nas Galerias da Rua Príncipe, nº 22, com o propósito de criar um espaço de encontro, reflexão e difusão de ideias transformadoras.

Este evento surge com a intenção de dar visibilidade à riqueza do pensamento crítico, da memória histórica e das práticas coletivas que, a partir de perspectivas libertárias, têm acompanhado historicamente as lutas operárias e sociais de Vigo.

No momento atual, em que os totalitarismos ressurgem sob múltiplas formas e os discursos autoritários se normalizam na vida política e midiática, a cultura libertária adquire uma importância renovada. Diante da imposição, da obediência cega e da concentração do poder, o pensamento libertário defende a autogestão, a solidariedade e a liberdade como bases de uma sociedade verdadeiramente justa.

A feira não é apenas uma vitrine de livros, mas um espaço vivo de resistência cultural e política, onde o passado libertário de nossa cidade se conecta com as lutas do presente. É um convite para questionar o estabelecido, para construir alternativas coletivas e para manter acesa a chama da emancipação em tempos de incerteza e repressão.

Esperamos por você nos dias 10, 11 e 12 de outubro.

Saúde e Revolução

F.L.A.S. VIGO

cntvigo.org

Tradução > Liberto

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Fileira de ipês
ornamenta o quarteirão —
Radiante manhã.

Alberto Murata

[Espanha] Julio Prades Perfagés

Em 22 de agosto de 1967, morreu em Saint-Marc (Angoulême, Poitou-Charentes, França) o anarcossindicalista Víctor Cenón Julio Prades Perfagés. Ele havia nascido em 12 de abril de 1879 – algumas fontes citam erroneamente 1878 – em Massalió (Matarraña, Franja de Ponent). Era filho de Ramón Prades Llonga e de Lucía Perfagés Armengol.

Lavrador de profissão, era casado com María Rosa Ribera Costó, com quem teve sete filhos (Ramón Jacinto, Alfredo, Lourdes, Pilar, Rafaela, Aniceto e Tomás). Nos anos vinte, foi um dos criadores do Centro Operário e um dos fundadores da Confederação Nacional do Trabalho (CNT) em Massalió. Em decorrência do levante revolucionário aragonês de dezembro de 1933, foi detido em 15 de dezembro daquele ano em sua casa pela Guarda Civil e encerrado, com outros companheiros, no depósito municipal de Vall-de-roures (Matarraña, Franja de Ponent); em janeiro de 1934, foi liberado por não ter sua participação nos fatos sido comprovada.

Durante a Revolução e a guerra, participou das duas coletividades agrícolas em Massalió. Durante a ofensiva contrarrevolucionária comunista no verão de 1937 contra o Aragão libertário, seu filho, Ramón Jacinto Prades Ribera, foi preso pelos estalinistas. A partir de 7 de abril de 1938, teve que refugiar-se com sua família em Sant Vicenç dels Horts (Baix Llobregat, Catalunha). Em 1939, com o triunfo franquista, cruzou os Pireneus com sua família e foi internado no campo de concentração de Bram. Em 10 de janeiro de 1941, foi condenado in absentia pelas autoridades franquistas a cinco anos de inabilitação absoluta e a 500 pesetas de multa.

Após a Segunda Guerra Mundial, estabeleceu-se em Angoulême, onde continuou trabalhando como operário agrícola e militante na Federação Local da CNT desta localidade. Julio Prades Perfagés morreu em 22 de agosto de 1967 na residência de sua filha Rafaela em Saint-Marc (Angoulême, Poitou-Charentes, França) e foi enterrado dois dias depois.

Fonte: https://pacosalud.blogspot.com/2025/08/julio-prades-perfages.html

Tradução > Liberto

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A tarde é bem quente.
Cansada, boneca ao lado,
menina dormindo.

Humberto del Maestro