A História do Movimento anarquista em Belém do Pará e na Amazônia

PANORAMA HISTÓRICO DO ANARQUISMO NA AMAZÔNIA

Acompanhem o surgimento e o desenvolvimento do anarquismo na nossa região ao longo da sua caminhada até os dias atuais. De onde vem o CCLA, como chegamos a construir esse espaço, quais foram as principais etapas desse percurso etc.? Eis algumas respostas a essas perguntas que mereciam que a nossa militância escrevesse algumas linhas.

A chegada da ideologia anarquista na Amazônia segue o mesmo percurso em todo o Brasil, via imigração. Por exemplo, o governo do Pará, a partir da segunda metade do século XIX, tinha uma preocupação em “aumentar” a população da então Província do Grão-Pará, incentivando a vinda de imigrantes europeus, principalmente, portugueses e espanhóis, mas também italianos, franceses, alemães, belgas e suíços. Também vieram norte-americanos, cubanos, argentinos. Assim, em junho de 1875 com a inauguração da colônia Benevides (hoje município da região metropolitana de Belém). Isso tudo motivado por uma crise de abastecimento alimentar na qual a região se encontrava. Boa parte da mão-de-obra disponível (especialmente ligada à agricultura e coleta na floresta) estava orientada para a produção do látex e da borracha (produto muito demandado no final do século XIX), causando uma falta de gêneros alimentícios básicos nas principais cidades. É nesse contexto que o Governo da Província incentivou a entrada de migrantes europeus, mas também muitos trabalhadores nordestinos, em especial cearenses. O objetivo era criar colônias agrícolas, interligadas pela ferrovia Belém – Bragança, que iriam suprir essas necessidades.

Pela cidade de Belém chegavam, passavam, mas também, ficavam uma quantidade expressiva de imigrantes. Registros historiográficos mostram atuação de anarquistas, mesmo que de forma individual, já neste período. Um episódio curioso, talvez poucas pessoas saibam, em maio de 1896, na ilha de Caratateua, em Outeiro, distrito de Belém, na hospedaria onde se abrigava imigrantes, menciona-se um pedido de repatriamento de um imigrante que fazia distribuição de avulsos de propaganda anarquista[1], muito provavelmente, alusivo ao dia da classe trabalhadora (1° de maio) e aos mártires de Chicago.

>> Para ler o texto na íntegra, clique aqui:

https://cclamazonia.noblogs.org/post/2025/03/10/a-historia-do-movimento-anarquista-em-belem-do-para-e-na-amazonia/

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2024/02/01/ccla-um-espaco-anarquista-no-coracao-da-amazonia-brasileira/

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O galo é um leão
furiosamente aberta
a sua juba de penas.

Kikaku

[França] O que resta da utopia anarquista? Chamada de trabalhos

O ideal anarquista, que se enraizou em meados do século XVIII, previa a criação de uma sociedade sem deuses ou mestres, igualitária, justa e harmoniosa. Em suma, o verdadeiro paraíso na terra. Para alcançá-lo, alguns pensaram que teria sido suficiente difundir essas ideias, organizar-se em grupos e associações onde a autogestão cotidiana teria facilitado a emancipação de todos.

Mas percebemos que as coisas não aconteciam assim. As forças agrupadas dos Estados, do capitalismo, dos partidários da dominação, obviamente, não deixaram o caminho aberto para esses rebeldes sem lei. É por isso que imaginamos que uma revolução violenta “infelizmente” seria necessária… sem falar na submissão voluntária que, de geração em geração, se renova em espaços institucionais e íntimos.

Quase dois séculos depois, o que resta desse projeto?

Notamos que esse ideal anarquista ainda está vivo, tanto nos interstícios de pensamento que circulam nos espaços da cultura institucional, no mundo da arte, em grupos, sindicatos, federações – por menores que sejam – reivindicando-o, quanto, de formas muito diversas e às vezes informais, em práticas sociais, políticas e econômicas presentes em diferentes países e continentes.

Gostaríamos de uma reflexão coletiva para lançar luz sobre este tema que nos é caro desde a criação de nossa editora, e já tratado em parte em várias conferências que organizamos no passado e através de todos os nossos títulos.

Para isso, pedimos a todos aqueles que gostariam de contribuir que nos enviem textos originais. De nossa parte, comprometemo-nos a ler atentamente suas propostas, com vistas a uma futura publicação.

Seus textos devem ser enviados para contact@atelierdecreationlibertaire.com

Atelier de Création Libertaire – ACL

agência de notícias anarquistas-ana

A noite caminha.
No negrume, o vaga-lume
acende a bundinha.

Flora Figueiredo

[Rússia] A anarquista Lyubov Lizunova, de 18 anos, foi transferida para uma colônia prisional em Tomsk

Em 14 de fevereiro, Lyubov Lizunova, uma ré no Caso dos Anarquistas de Chita, foi retirada do Centro de Detenção Provisória nº 1 em Chita, no Extremo Oriente russo. A rota de transferência de três semanas passou por Irkutsk e Mariinsk, na região de Kemerovo, na Sibéria. Em 2 de março, Lyubov informou a seus pais que havia chegado à colônia prisional juvenil em Tomsk.

A TVK-2 é atualmente a única colônia prisional para meninas menores de idade. Por lei, as detentas podem ser mantidas lá até a idade de 19 anos.

Durante a transferência, Lyuba leu muito, interagiu com outras companheiras de viagem e recitou seus poemas de memória, que muitas delas gostaram. De acordo com seus pais, um dos guardas teve longas conversas com ela, leu sobre ela na Internet, pediu que ela lesse seus poemas e até chorou quando ela o fez.

De Chita a Mariinsk, Lizunova foi transportada em um vagão de trem “Stolypin”, e de Mariinsk a Tomsk em uma van da prisão. As condições não eram as melhores, mas Lyuba permaneceu positiva, encontrando o lado bom mesmo em uma viagem como essa. Ela ficava feliz em ver a beleza do Lago Baikal, das florestas e dos campos, mesmo que apenas pela janela do vagão do trem.

Atualmente, Lyubov está de quarentena. Com algum tempo livre, ela desenha muito e lê Jane Austen e Charlotte Brontë. Apesar do ambiente em que se encontra, ela tenta se manter forte e não perder a esperança.

Em abril de 2024, Lyubov Lizunova, então com 17 anos, e Alexander Snezhkov, com 20 anos, foram condenados a cumprir penas de prisão por grafitarem a frase “Morte ao Regime” e por administrarem canais anarquistas do Telegram. Lizunova foi condenada a 3,5 anos de prisão, e Snezhkov a 6 anos (sua sentença foi posteriormente reduzida em 2 meses).

Apoie a anarquista em seu novo centro de detenção – escreva uma carta para ela!

Endereço:

Lizunova Lyubov Vitalievna, nascida em 13.07.2006

Koltsevoi pr.-d 20, TVK-2

634027 Tomsk – Rússia

Lembre-se de que todas as cartas devem ser escritas em russo – você pode usar ferramentas de tradução automática on-line.

Fonte: https://avtonom.org/en/news/18-year-old-anarchist-lyubov-lizunova-transferred-prison-colony-tomsk

Tradução > acervo trans-anarquista

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2024/05/13/russia-penas-de-prisao-por-pichacoes-terroristas/

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Nuvem escura;
Um dragão de algodão
Cuspindo chuva.

João Anatalino

[Reino Unido] Teslas em chamas enquanto Musk se prepara para colonizar Marte

Incompetência insana do homem mais rico do mundo alimenta reação contra a oligarquia

Rob Latchford

Uma pessoa vestida de preto atirou contra vários veículos da Tesla antes de incendiar dois deles em uma oficina de reparos em Las Vegas, na madrugada de terça-feira (18 de março). Ninguém se feriu, e a palavra “Resista” foi pichada no prédio. A força-tarefa conjunta de terrorismo do FBI está envolvida na investigação desse último episódio de uma série de ataques que visam causar prejuízo econômico ao homem mais rico do mundo. Na França, uma concessionária da Tesla perto de Toulouse foi atacada no início do mês, com um coletivo anarquista reivindicando a ação.

Em Berlim, quatro veículos da Tesla foram incendiados na madrugada de sexta-feira (14 de março), e a polícia não descarta uma “motivação política” ligada à parceria de Elon Musk com Donald Trump e seu apoio ao partido fascista AfD na Alemanha.

No Colorado, Lucy Nelson foi presa na semana passada por ataques a uma concessionária da Tesla, onde foi pichado “Carros nazistas” no prédio e coquetéis molotov foram lançados contra quatro carros. Incêndios de Teslas também foram registrados em Berlim no dia seguinte ao Ano Novo e, no mês seguinte, em Dresden, totalizando quatro veículos. No início de março, a vitrine de uma loja da Tesla foi atingida por tinta no centro de Berlim.

Enquanto isso, Musk declarou que seu foguete Starship, da SpaceX, seguirá para Marte até o final do ano que vem, enquanto a empresa investiga várias explosões recentes nos testes de voo. Musk afirmou esperar pousos humanos por volta de 2030. Ainda não está claro se ele pretende deixar a Terra para trás com algo ainda vivo sobre ela.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/03/19/teslas-on-fire-as-musk-prepares-to-colonise-mars/

Tradução > Contrafatual

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/03/05/franca-uma-saudacao-incendiaria-a-tesla/

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Ah, lua de outono –
Caminhei a noite inteira
Em torno do lago.

Bashô

[EUA] Peter Kropotkin, o Príncipe da Ajuda Mútua

Vamos dar uma olhada mais de perto no aristocrata russo que virou anarquista e que (literalmente) definiu o conceito de ajuda mútua.

Por Matthew Wills | 04/02/2025

A ajuda mútua é um sistema voluntário de cooperação, troca e colaboração para o benefício comum. A frase tem sido ouvida cada vez mais neste século, à medida que os estados se revelam menos resilientes diante de desastres naturais e não naturais. A fonte deste artigo, um conjunto de grupos de ajuda mútua na cidade de Nova York, por exemplo, mostra a gama de compartilhamento de recursos/habilidades que está acontecendo.

A ideia de ajuda mútua é muito mais antiga do que seu ressurgimento atual. Afinal, a cooperação tem sido fundamental para a história humana. E o mutualismo, como a cooperação simbiótica é chamada na biologia, é vital para a própria vida. Como o príncipe russo que virou anarquista Peter Kropotkin argumentou há mais de um século com o subtítulo de seu Mutual Aid (1902), é “um fator-chave da evolução”.

No entanto, a ajuda mútua/mutualismo nunca está tão em voga quanto o conflito/competição. Desde Darwin, as elites têm justificado sua existência com a noção da evolução como uma questão de vencedores e perdedores, fundindo a biologia com a economia de mercado e promovendo o que Herbert Spencer chamou de “sobrevivência do mais apto”. Spencer alinhou sua leitura de Darwin com suas próprias teorias econômicas: o “darwinismo social” resultante deveria na verdade ser chamado de “Spencerismo”. A descida do spencerismo à eugenia fundamentou as auto definições da elite — bem como os reinados assassinos do racismo e do nacionalismo — por décadas. Seu reaparecimento na cena americana no século XXI deve ser tomado como um presságio.

A ajuda mútua ainda recebe pouca atenção. Simplesmente não é tão sexy nem atrai multidões quanto a ideia de “natureza, vermelha em dentes e garras” — uma frase presenteada ao mundo pelo poeta Alfred Tennyson. Considere os entretenimentos de documentários sobre a natureza: haverá mais cenas supostamente emocionantes de antílopes sendo caçados por predadores do que de insetos polinizando plantas.

Pyotr Alexeyevich Kropotkin, geralmente chamado de Peter Kropotkin em obras de língua inglesa, nasceu príncipe em 1842. Ele renunciou seu título. Antes disso, ele foi escolhido aos oito anos pelo próprio czar para frequentar a escola de elite militar Corpo de Pajens em São Petersburgo. Em 1861, ele se tornou assessor do czar. Esse foi o ano da emancipação dos servos da Rússia; o pai de Kropotkin possuía servos em três províncias. Naquela época, Peter já estava em processo de radicalização. Ele acabaria sendo preso na Rússia e na França por sua política. Ele passou quatro décadas de sua vida no exílio na Suíça, França e Inglaterra.

Inspirado pela situação dos servos e sua experiência entre os nômades siberianos e os relojoeiros de Jura, Suíça, entre outras influências, Kropotkin se tornou um erudito do comunismo anarquista. Esta versão esquerdista do anarquismo postulou o fim da propriedade privada e da propriedade social e distribuição de recursos.

A teórica política Ruth Kinna coloca Kropotkin em um contexto histórico específico, explicando que:

A teoria de ajuda mútua de Kropotkin pode ser vista como uma tentativa de motivar a ação diante do declínio do anarquismo revolucionário. […] A compreensão particular de Kropotkin da ciência e da teoria darwiniana o levou a acreditar que a ciência poderia ser usada como um instrumento político para deter esse declínio.

Como anarquista, Kropotkin se opôs tanto à social-democracia/marxismo, que ele via como inevitavelmente autoritário, quanto ao liberalismo/individualismo/libertarianismo laissez-faire, que, é claro, negava a ajuda mútua. Em seus argumentos sobre a importância da cooperação no processo evolutivo, ele sugeriu que havia dois sentidos de ajuda mútua, biológico e ético. Como Kinna parafraseia, “Biologicamente, a ajuda mútua era um sentido instintivo de cooperação. A ajuda mútua ética, por outro lado, foi criada pelos hábitos que resultam da prática biológica. Ao cooperar, as espécies formulam códigos de comportamento, línguas e senso de interesse comum.”

Kropotkin retornou à Rússia após a Revolução de Outubro de 1917, mas o estado bolchevique resultante acabou sendo exatamente o que ele sempre argumentou contra. Seu funeral em 1921 seria a última reunião anarquista permitida na União Soviética — depois disso, o anarquismo russo seria implacavelmente suprimido.

A ajuda mútua, no entanto, continua viva — precisamente porque faz parte da vida.

Fonte: https://daily.jstor.org/peter-kropotkin-the-prince-of-mutual-aid/

Tradução > Bianca Buch

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agência de notícias anarquistas-ana

Um grande silêncio —
Nuvens escuras se acumulam
Sobre a terra seca.

Paulo Franchetti

5ª Conferência Internacional de Geógrafxs e Geografias Anarquistas

Departamento de Geografia, FFLCH, Universidade de São Paulo (USP),
9-12 Dezembro 2025

Depois das quatro Conferências Internacionais de Geógrafxs e Geografias Anarquistas organizadas em Reggio Emilia (Itália, 2017 https://rgl.hypotheses.org/361), Rabastens (França, 2019 https://rgl.hypotheses.org/822), Oaxaca (México, 2021 http://www.h-mexico.unam.mx/node/26262) e Córdoba (Argentina, 2023 https://ffyh.unc.edu.ar/ciffyh/4-conferencias-internacionales-de-geografes-y-geografias-anarquistas/), a quinta acontecerá na cidade de São Paulo (Brasil) entre os dias 9 e 12 de dezembro de 2025.

São Paulo tem sediado uma série de conferências internacionais sobre figuras históricas da geografia anarquistas. Pode-se destacar os Colóquios Internacionais sobre Élisée Reclus (2011) https://reclusmundusnovus.wordpress.com/ e sobre o Centenário do falecimento de Piotr Kropotkin (2021) https://kropotkin2021.wordpress.com/), que foram organizados pela Biblioteca Terra Livre com o apoio do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo.

Para esta quinta edição, convidamos a enviar propostas de resumos principalmente (mas não exclusivamente) sobre os seguintes eixos temáticos:

1) Práticas de lutas libertárias e espacialidades emancipatórias
2) Pedagogias anarquistas e outras práticas libertárias de educação
3) Povos originários, movimentos negros, indígena e desafios da decolonialidade
4) Colapso ambiental e outras relações entre sociedades e naturezas
5) Corpo-território: Gênero, espaço e sexualidade
6) Contra-cartografias
7) Geografias da abolição: Prisões, fronteiras, Estados
8) Outras histórias da geografia e do anarquismo
9) Espaços das lutas de classes
10) Perspectivas transnacionais e internacionalistas das geografias anarquistas

Datas importantes

Prazo para submissão dos resumos:
31 de março de 2025, para cigga.icagg@gmail.com

Prazo para resposta:
15 de abril de 2025

Apresentações:
A Conferência aceita tanto apresentação trabalhos acadêmicos quanto apresentações artísticas: teatro, performances ou vídeos.

Orientações para envio dos resumos:
Incluir título | autoria | referência ativismo e/ou militância, afiliação acadêmica | email | resumo (entre 200 e 400 palavras) | referências bibliográficas.

Referências bibliográficas:

Para evitar dispersão em temáticas demasiado genéricas, se pede de incluir referência a pelo menos dois autorxs do campo anarquista/libertários.

Orientação para envio de apresentações artísticas:
Envio de sinopse ou resumo da apresentação, deve conter entre 200 e 400 palavras.

Idiomas:
Português | Espanhol | Inglês | Francês

Tradução:
Durante o evento a tradução será solidária.

Natureza do evento:
Presencial.

Transmissão ao vivo:
A depender da disponibilidade do Departamento de Geografia.

Estudo do meio:
Possibilidade de estudo do meio no 13 de dezembro.

Organizador:
Biblioteca Terra Livre.

Apoio:
Departamento de Geografia – Universidade de São Paulo

Biblioteca Terra Livre
bibliotecaterralivre.noblogs.org

agência de notícias anarquistas-ana

de manhã: mia, mia, mia
só depois de comer,
mia um bom dia

Alonso Alvarez

‘Usei ácido por dois meses seguidos. Foi a melhor época da minha vida’: A anarco-punk americana Sunny War fala sobre bebida, drogas e a KKK

Por Alex Pedritix | 07/03/2025

Ela é a cantora de blues que dedilha e cuja vida foi transformada pela banda punk Crass – e que se tornou viral por fazer shows enquanto era sem-teto. Ela fala sobre fantasmas, sua infância “fedorenta” e a luta contra a extrema direita.

Sunny War está ligando por vídeo de sua casa em Chattanooga, Tennessee. A casa pertencia à sua avó e depois ao seu pai, que morreu durante a produção de seu último álbum. Depois que War e seu irmão se mudaram para lá, ela se convenceu de que a casa era mal-assombrada. Ela via pessoas e ouvia ruídos à noite. “Parecia que alguém estava andando por ali, a ponto de eu sair pulando com um facão na mão, achando que alguém tinha invadido a casa”, diz ela. “Isso acontecia o tempo todo. Eu achava que estava ficando louca aqui dentro.” Era confuso, “porque eu já fui louca antes. E também estava bebendo muito e, às vezes, isso me faz ter alucinações.”

Mas as aparições não eram fantasmas, nem resultavam de uma crise de saúde mental, nem mesmo de uma bebedeira: “Eu não tinha dinheiro, então não podia inspecionar a casa nem nada”, diz War, com 35 anos. “Eu estava meio que ocupando um espaço por um tempo. Então, só descobri depois de um ano que havia um vazamento de gás muito ruim no sistema dos aquecedores – era essa a causa do problema. As pessoas que inspecionaram a casa disseram: ‘Há quanto tempo você está aqui? Isso é realmente perigoso'”.

Os vazamentos de gás foram consertados, as alucinações pararam e War escreveu uma música a partir disso: Ghosts, uma exploração da morte de seu pai e do que se seguiu, aparece em seu novo álbum, Armageddon in a Summer Dress. É um disco fantástico, mais uma prova de um talento de compositora que atraiu a atenção de Willie Nelson (que fez um cover de sua música If It Wasn’t Broken em seu último álbum) e Mitski, que convidou War para tocar em seus shows mais recentes em Nova York. Trata-se de uma música americana profundamente enraizada no blues – War é uma devota de Elizabeth Cotten, cuja música Freight Train se tornou um clássico da era skiffle, e toca guitarra com um estilo característico de dedilhado “crab claw”, mais comumente usado em banjo – mas ela também mostra seu amor de longa data pelo anarco-punk.

Baforando um cigarro enquanto fala, ela é uma entrevistada desarmantemente franca e aparentemente sem filtro. “Todo mundo que eu amo é punk”, ela dá de ombros. “Quando era criança, essas eram as únicas pessoas que faziam amizade comigo, porque talvez eu fosse um pouco fedorenta e tivesse problemas com a bebida.”

Ex-integrante de uma dupla punk com o nome espetacular de Anus Kings [Reis dos Cus], War tem pôsteres antigos de Discharge e Multi-Death Corporations na parede de sua casa; ela é vista com frequência usando camisetas de Rudimentary Peni e Conflict. As letras de Armageddon in a Summer Dress versam sobre tudo, desde romance até o desejo de se desligar do incessante fluxo de notícias. Há momentos em que elas soam notavelmente como o conteúdo de um single punk de 7 polegadas: “Sucking dick for a dollar’s not the only way to ho / We sell labour, we sell hours, sell our power, sell our souls.” (“Chupar paus por alguns dólares não é a única maneira de se prostituir / Nós vendemos trabalho, vendemos horas, vendemos poder, vendemos nossas almas”) Até mesmo seu nome artístico faz com que ela soe como membro de uma banda punk – seu nome verdadeiro é Sydney Ward – ao passo que Armageddon talvez seja o primeiro álbum da história a contar com a participação de Steve Ignorant, ex-vocalista do Crass, que você poderia imaginar sendo tocado na BBC Radio 2 ou rendendo ao seu autor uma vaga no Later… With Jools Holland (De Noite… com Jools Holland).

A participação de Ignorant, segundo ela, foi a realização de um sonho: ela ouviu o Crass quando tinha “provavelmente 13 anos” e eles mudaram sua vida. “Fui criada como cristã batista – minha avó fez uma lavagem cerebral em mim para que eu tivesse medo do inferno – e o Crass me fez perceber: sofri abuso. Foi abusivo fazer com que uma criança tivesse tanto medo de algo sem escolha. Eu estava tendo muita dificuldade na escola, não era boa em aprender da maneira que eles tentavam nos ensinar, estava sendo reprovada em tudo. O Crass me mostrou: Não tenho que fazer isso; tudo o que estou fazendo é contra a minha vontade. Comecei a pensar de forma diferente”. Ela faltou à escola para sair com punks “que bebiam na praia o dia todo e comiam lixo – fatias de pizza que as pessoas tinham jogado fora. O Crass foi como a porta de entrada para eu descobrir o que queria fazer”.

Ela fugiu de casa para Venice Beach, na Califórnia, pegando trens, “dormindo na floresta”, fazendo bicos para ganhar dinheiro. “Foi a melhor época da minha vida”, diz ela. “Eu só tinha uma mochila, um saco de dormir e meu violão. Eu dormia no Golden Gate Park [em São Francisco], ia para o Oregon. Fui ao [festival de contracultura] Rainbow Gathering com os esquisitões do Grateful Dead que conheci, tomei ácido por dois meses seguidos e me diverti muito. Foi incrível”. Longe de ser um ambiente inseguro para uma adolescente, ela diz: “As pessoas cuidavam de mim, certificavam-se de que eu não fosse presa, diziam-me com quem não deveria andar, alertavam sobre quem era um abusador”. Foi ótimo, até que não foi mais. “Eu me envolvi com várias drogas e fiquei muito dependente.”

War começou a atrair atenção por sua música quando um professor de uma faculdade comunitária que estava fazendo um documentário sobre comunidades sem-teto a filmou tocando “um blues de Nashville que eu escrevi” e publicou no YouTube com o título Amazing Venice Beach Homeless Girl on Guitar. O vídeo teve milhões de visualizações, mas War tinha desenvolvido um problema com heroína e metanfetamina. Ela começou a ter convulsões e passou um tempo na cadeia e em hospitais psiquiátricos. Ela gravou seu primeiro EP enquanto residia em um asilo, produzindo CDs para vender nas ruas. Certa vez, ela calculou que “quase 40 pessoas que conheci quando era criança de rua” estavam mortas, seja por insuficiência hepática ou overdose. “Mas tenho alguns amigos que ainda pegam trens e dormem na rua. Eles são honestos e muito saudáveis”, ela dá de ombros. “Eles são tipo veganos e tal.”

Depois de ficar limpa, ela começou a lançar álbuns por conta própria, assinou contrato com uma gravadora local e, em seguida, com a instituição americana de longa data New West – lar de Steve Earle, Drive-By Truckers e Elvis Costello e T Bone Burnett’s the Coward Brothers. Sua estreia veio com Anarchist Gospel, de 2023, que contou com a participação da realeza do country alternativo David Rawlings. Os anos de shows na rua a prepararam para a vida de turnê. “Não tenho o medo que outros artistas têm, porque todas as coisas mais malucas que poderiam acontecer enquanto você está tocando já aconteceram comigo”, diz ela. “Já tive gangues de adolescentes que me provocaram. Um viciado em crack roubou todas as minhas gorjetas do estojo da guitarra e fugiu. E presto muita atenção em como as pessoas reagem às músicas, porque, como músico de rua, você está sempre tentando descobrir: ah, as pessoas dão gorjetas muito boas se você tocar isso.”

Ela diz que ainda se identifica como anarquista, embora admita estar se sentindo um pouco “derrotada” e “exausta” atualmente. “No trabalho ativista do qual participei, a polícia se opôs a coisas que eram obviamente positivas.” Ela cita a South Central Farm, uma horta comunitária em Los Angeles que funcionou por cerca de duas décadas, mas foi desmantelada em meados dos anos 2000 depois que o terreno foi vendido. “Havia uma grande fazenda urbana nesse deserto de alimentos em South Central, uma coisa linda. As pessoas estavam cultivando alimentos porque não havia mercearias na área para comprar produtos e ninguém podia comer nada além de fast food. Tudo estava desenvolvido, as pessoas estavam realmente conseguindo se alimentar. E eles simplesmente destruíram tudo sem motivo algum”. Ela solta um suspiro. “Você sente que há pessoas contra tudo o que poderia ser bom.”

É um sentimento agravado pelos recentes acontecimentos na política americana. War se descreve como “”Negra não como Obama; mas sim Negra como quando os Nigerianos me perguntam de que tribo eu sou””. Em Chattanooga, ela viu recentemente um panfleto de divulgação da divisão local da Ku Klux Klan: “VÃO EMBORA”, dizia; ‘SE AUTO-DEPORTEM’. Ela postou o panfleto no Instagram sugerindo que a única resposta racional seria usar suas velhas botas com biqueira de aço. “Isso é real”, ela acena com a cabeça. “Onde eu moro, a KKK nunca foi embora. Mas agora eles têm o cara deles no poder. A única maneira de lidar com isso, para mim, é aceitar que essas pessoas estão no comando de suas próprias vidas. Não posso colocar toda a minha energia em ficar com raiva de como alguém escolhe pensar. Se você é um adulto e se identifica como um Klansman [membro da KKK], o que devo fazer? Não é minha responsabilidade mudar a maneira de pensar de alguém com 40 anos. É apenas um bando de malditos nazistas. Eu nasci aqui; tudo o que posso fazer é me defender. Você tem o direito de ser o que você é, creio eu. E eu tenho o direito de lutar contra você se algo acontecer.”

Pelo menos, em um nível pessoal, as coisas estão indo bem. Armageddon foi aclamado pela crítica e War planeja entrar em processo de produção e fazer uma turnê pelo Reino Unido, embora as condições financeiras impeçam sua ideia de se apresentar com os “cinco guitarristas” que deseja. Além disso, ela conquistou um espaço único para si mesma: realmente não há muitos artistas americanos Negros de inspiração anarco-punk, embora ela diga que não tem certeza do motivo. “Para mim, é o mesmo tipo de música. Se você gosta de punk por causa das letras e da mensagem, com certeza há muita música antiga que tem esse espírito. O folk costumava ser muito anti-institucional. Pete Seeger, canções sindicais, Woody Guthrie – isso é punk-rock. É basicamente uma questão de ser um forasteiro”.

  • Armageddon in a Summer Dress está disponível hoje em New West

Fonte: https://www.theguardian.com/music/2025/mar/07/americana-anarcho-punk-sunny-war-on-ghosts-crass-and-the-kkk

Tradução > acervo trans-anarquista

agência de notícias anarquistas-ana

Rumo sem destino
Borboletas amarelas
voam par em par.

Rafaela Cristiane W. Kowalski

[França] Apresentação do livro “Jean Meslier, padre, ateu e anarquista para o século 21” por Philippe Diaz

25 março 2025 | Marselha | 19h | Livraria Transit – 51 Bd de la Libération –13001 | Apresentado por Philippe Diaz

Jean Meslier era o pároco de uma pequena aldeia nas Ardenas no século XVII. Lá ele escreveu um dos tratados mais visionários da história da humanidade, propondo uma nova forma de sociedade.

Ele foi o primeiro a lançar as bases do comunismo 150 anos antes de Marx, a delinear a teoria da evolução 100 anos antes de Darwin e a lançar as bases de uma sociedade anarquista 100 anos antes de Proudhon e Bakunin. Ele também foi o primeiro a escrever um tratado sobre o ateísmo, não como um conceito intelectual, mas como uma ferramenta para a libertação dos povos.

Mas, como Meslier escreveu suas memórias à noite, como ele mesmo diz “com pressa”, ele não se importava com estilo ou ensaios. Ele escreveu sob a influência da revolta e da paixão, o que torna este trabalho muito difícil de ler. As páginas que seguem a introdução, a vida de Jean Meslier e seu manuscrito, e que precedem a análise de sua sociedade anarquista, são uma condensação das mil páginas de suas Memórias.

>> Desde o trabalho para elevar o padrão da livraria, a capacidade da livraria é limitada, por isso aconselhamos que você chegue cedo. Desculpe por essa restrição.

agência de notícias anarquistas-ana

Aqui e ali,
Sobre os campos florescem
As quaresmeiras.

Paulo Franchetti

[Espanha] Ser libertária no século XXI também significa ser antimilitarista

No dia 11 de dezembro passado, no edifício da Bolsa de Bilbao, Carlos Taibo nos ofereceu uma palestra organizada em conjunto com a Lumaltik Herriak. Sob o título “Autogestão, apoio mútuo: o que significa ser libertário no século XXI?”, o pensador libertário explorou ideias essenciais para entender as transformações sociais necessárias em tempos de crise global.

A intervenção de Taibo abordou com clareza temas como o decrescimento, a autogestão e a despatriarcalização, posicionando-os como alternativas indispensáveis frente ao capitalismo e às estruturas de poder tradicionais. Sua análise não se limitou ao teórico, mas propôs soluções práticas e profundamente humanas, baseadas no apoio mútuo e na ação direta.

Além disso, Taibo destacou a urgência de desmilitarizar nossas sociedades, denunciar os conflitos armados e construir um futuro baseado na paz ativa e na justiça social.

Neste artigo, apresentamos as 10 chaves principais do que significa ser libertário no século XXI, segundo Taibo, e reunimos algumas de suas reflexões antimilitaristas. Uma síntese que convida à reflexão e ao compromisso coletivo por um mundo possível.

10 Chaves Libertárias

  1. Crítica ao capitalismo e ao neoliberalismo
    “A proposta anarquista deve ser, por necessidade, anticapitalista. […] Ou pode rejeitar ao mesmo tempo o neoliberalismo e o capitalismo, que acredito ser a posição anarquista e libertária clássica.”
  2. Questionamento do Estado e das instituições
    “O Estado, em essência, é um aparato a serviço da classe dominante. […] Me preocupa muito mais o segundo risco: a superstição de que o Estado é uma instituição que nos protege.”
  3. Democracia direta e ação direta
    “A proposta libertária neste campo fala de ação direta, democracia direta e autogestão.”
  4. Autogestão como prática central
    “As coletivizações realizadas no início da Guerra Civil […] demonstraram que era possível gerir uma sociedade complexa sem empresários, burocratas ou capatazes.”
  5. Apoio mútuo e solidariedade
    “Grupos de apoio mútuo surgiram nos momentos iniciais dos confinamentos, criados por pessoas comuns, não por ativistas hiperconscientes de movimentos sociais críticos.”
  6. Decrescimento e descomplicação
    “Temos que decrescer, desurbanizar, despatriarcalizar, descolonizar e descomplicar nossas mentes, nossas vidas e nossas sociedades.”
  7. Revalorização das culturas pré-capitalistas
    “Culturas pré-capitalistas resistem como gatos de barriga para cima às imposições do capital. […] Em muitos casos, preservaram uma relação fluida com o meio natural.”
  8. Luta de classes atualizada
    “Estamos assistindo a um endurecimento planetário das condições do trabalho assalariado. […] Hoje, as regras do jogo da luta de classes mudaram, e devemos nos adaptar.”
  9. Rejeição do individualismo induzido
    “A maioria das pessoas passa a vida diante de uma tela, em virtude de um projeto aberrantemente individual. […] O que carregamos dentro da cabeça nos afasta de uma transformação radical.”
  10. Visão integral e ecossocialista
    “Há anos defendo a construção de espaços autônomos autogeridos, desmercantilizados e despatriarcalizados.”
 
8 Chaves Antimilitaristas da Palestra

O antimilitarismo, o pacifismo e a crítica aos exércitos são elementos centrais no pensamento libertário. Em um mundo marcado por conflitos armados, exploração de recursos naturais e militarização das sociedades, essas reflexões ganham uma relevância renovada. A partir de uma perspectiva crítica, evidencia-se como os Estados e as instituições militares não apenas perpetuam a violência, mas também atuam como instrumentos de dominação, controle e saque global. A seguir, reunimos oito chaves apresentadas por Carlos Taibo que conectam o pensamento libertário às ideias antimilitaristas.

  • Crítica aos Estados e seu uso da força
    “Essa forma de pseudo-democracia não hesita em usar a força por meio da repressão que conhecemos em nossas ruas ou por meio de golpes aplicados em países pobres que têm o azar de possuir matérias-primas muito cobiçadas.”
  • Denúncia dos exércitos e das guerras
    “Me interessam esses adolescentes e jovens que estão morrendo na fronteira, tanto do lado ucraniano quanto do lado russo. Permanentemente esquecidos.”
  • Desmilitarização como princípio libertário
    “Há anos defendo a construção de espaços autônomos autogeridos, desmercantilizados e despatriarcalizados. […] E sinto a obrigação de acrescentar um sétimo verbo: desmilitarizar.”
  • Impacto dos conflitos armados
    “No início do conflito em fevereiro de 2022, a Internacional de Resistentes contra a Guerra pediu que a União Europeia reconhecesse a condição de refugiados às pessoas que decidiram abandonar a Ucrânia e a Rússia. Nenhum dos Estados membros da União aceitou reconhecer essa condição.”
  • Reflexão sobre a desobediência civil frente à guerra
    “Um comboio militar russo avançava. De repente, um grupo de civis, 15, 20, 30, posicionou-se no meio da estrada, bloqueando a passagem do comboio. […] Ninguém se moveu. O tanque que liderava o comboio fez menção de avançar sobre os civis, mas no último momento parou.”
  • Guerra como ferramenta de explotação
    “O capitalismo, no trabalho assalariado, na mercadoria, na alienação, na exploração, na mais-valia, na sociedade patriarcal, nas guerras imperiais, na crise ecológica, no colapso que se aproxima.”
  • Ecofascismo e militarização
    “Cada vez mais conscientes da escassez geral que se aproxima e cada vez mais decididos a preservar em poucas mãos recursos escassos, em virtude de um projeto de darwinismo social militarizado, de ecofascismo.”
  • Análise da Primeira Guerra Mundial e da fraternização
    “Em dezembro de 1914, o primeiro Natal durante a Primeira Guerra Mundial, soldados de ambos os lados confraternizaram, no meio do escândalo de seus superiores, perguntando-se: ‘O que estamos fazendo aqui? Defendendo quem?’.”

Aqui está o áudio completo da palestra:
https://www.youtube.com/watch?v=nDU_7IcmiZI

Fonte: https://www.sinkuartel.org/ser-libertario-en-el-siglo-xxi-tambien-significa-ser-antimilitarista/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

No campo queimado
ainda uma leve fumaça
Tronco resistindo

Eunice Arruda

[EUA] Leonard Peltier continua desafiador em entrevista à AP, mantendo a inocência e prometendo continuar com seu ativismo

Por Graham Lee Brewer, Associated Press | 28/02/2025

Mais de 50 anos depois que um tiroteio na reserva indígena de Pine Ridge o levou à prisão federal, Leonard Peltier continua desafiador.

Apesar de ter sido condenado e sentenciado à prisão perpétua, ele mantém sua inocência nos assassinatos de dois agentes do FBI em 1975 e vê sua liberdade recém-descoberta – resultado de uma comutação do ex-presidente Joe Biden – como o início de uma nova fase de seu ativismo.

“Vou passar o resto de minha vida lutando por nosso povo, porque ainda não terminamos. Ainda estamos em perigo”, disse Peltier, agora com 80 anos, em entrevista exclusiva à The Associated Press em sua nova casa na Turtle Mountain Reservation, sua terra natal tribal em Dakota do Norte, perto da fronteira com o Canadá.

Lá, entre as colinas onduladas, muitas vezes cobertas de neve, ele cumprirá o restante de sua sentença em prisão domiciliar.

Nascido em uma era de hostilidade violenta entre o governo americano e os povos indígenas, o ex-membro do Movimento Indígena Americano entrou agora em outro momento politicamente volátil do país. Ele disse que entende bem as ameaças que a ascensão da extrema direita, bem como do governo federal, representam para as nações tribais e os povos indígenas. Ele acredita que, assim como as administrações anteriores, o presidente Donald Trump virá atrás de minerais e petróleo em terras tribais.

“Não é preciso ser violento, não é preciso fazer nada disso. Basta ir até lá e se levantar”, disse ele à AP esta semana, em sua primeira conversa com um jornalista em mais de 30 anos. “Temos que resistir.”

O FBI e os ativistas nativos americanos: Uma mistura volátil

Peltier fez parte de um movimento no final da década de 1960 e na década de 1970 que lutou pelos direitos dos nativos americanos e pela autodeterminação tribal, às vezes ocupando propriedades federais e tribais.

O movimento ganhou as manchetes em 1973 quando tomou a aldeia de Wounded Knee em Pine Ridge, levando a um impasse de 71 dias com agentes federais. Eles também protestaram em Alcatraz e na sede do Bureau of Indian Affairs. Para muitos membros do American Indian Movement (Movimento Indígena Americano), ou AIM, seu ativismo fazia parte de um legado de resistência que remontava à fundação do país.

O dia do tiroteio ocorreu em meio ao aumento das tensões na reserva de Pine Ridge, onde os moradores sentiam que a forte presença do FBI era uma ameaça à autonomia do povo. Peltier e outros membros do AIM entraram em confronto com os agentes Jack Coler e Ron Williams quando os agentes entraram de carro em uma propriedade rural onde os membros do AIM estavam hospedados. Os dois agentes foram baleados e mortos, juntamente com Joseph Stuntz, outro membro do AIM.

O FBI diz que Peltier atirou nos agentes à queima-roupa. Em uma carta enviada a Biden no ano passado, opondo-se à sua libertação, o ex-diretor do FBI Christopher Wray chamou Peltier de “assassino sem remorso”.

Sua culpa é clara para muitos, inclusive para o governador de Dakota do Norte, Kelly Armstrong.

“Mais de 20 juízes federais mantiveram sua condenação, e a liberdade condicional lhe foi negada em julho passado”, disse Armstrong em uma declaração à AP. “Não havia justificativa legal para sua libertação. Ele ainda deveria estar na prisão.”

Peltier não foi perdoado; Biden disse que estava comutando a sentença de Peltier por causa de sua idade, sua saúde debilitada e o longo período que ele já havia passado na prisão.

Peltier reconheceu que estava presente no tiroteio, mas diz que agiu em legítima defesa e que não foi ele quem matou os agentes com suas balas. Ele acredita que o FBI e os promotores estavam procurando alguém para levar a culpa, depois que seus dois co-réus foram inocentados por legítima defesa.

“Eles queriam vingança e não sabiam quem era o responsável”, disse Peltier à AP da mesa da cozinha de sua nova casa. “E disseram: ‘Coloque todo o peso do governo americano sobre Leonard Peltier, precisamos de uma condenação’. E quando eles dizem isso, você não tem nenhum direito”, disse ele.

A Anistia Internacional e vários líderes políticos de todo o mundo chamaram Peltier de prisioneiro político dos EUA, questionando a imparcialidade de seu julgamento e condenação. James Reynolds, ex-procurador dos EUA para o norte de Iowa, cujo escritório supervisionou os procedimentos pós-condenação, pediu clemência em uma carta a Biden em 2021. Ele escreveu que os promotores não puderam provar que Peltier disparou os tiros fatais e chamou sua prisão de “injusta”.

O neto de Peltier, Cyrus Peltier, lembra-se de visitá-lo todos os fins de semana em Leavenworth, uma prisão federal no Kansas. Ele nem sempre entendia por que seu avô não dizia simplesmente à comissão de liberdade condicional que estava arrependido dos crimes e esperava ganhar a liberdade.

“E ele dizia: ‘Bem, não é por isso que estou lutando, neto'”, lembrou Cyrus Peltier, hoje com 39 anos, de sua casa em Dakota do Norte, esta semana. “Sinto muito pelo que aconteceu com aqueles agentes, mas não vou me sentar aqui e admitir algo que não fiz. E se eu tiver que morrer aqui por isso, eu vou morrer”.

Uma vida atrás das grades, mas sempre com esperança de liberdade

Na prisão, a fama de Peltier só cresceu, pois ele recebeu o apoio de líderes políticos proeminentes de todo o mundo e de celebridades nos EUA, tornando-se um símbolo das injustiças contra os nativos americanos.

Ele disse que foram todas as cartas de apoio e atos de protesto pela sua libertação que o mantiveram vivo.

Peltier disse que, nos últimos anos, houve momentos em que ele começou a perder a esperança de que algum dia veria a liberdade. A negação de sua liberdade condicional em julho foi outro golpe devastador.

“Eles me deram forças para continuar vivo e saber por que eu estava na prisão”, disse ele.

Muitos povos indígenas, líderes e organizações fizeram lobby durante décadas pela libertação de Peltier.

No entanto, alguns que acreditam que Peltier esteve envolvido no assassinato de Anna Mae Pictou Aquash, membro do AIM, em 1975, lutaram contra sua libertação. Dois outros membros do AIM foram condenados pelo crime.

“A capacidade deles de dizer que ele está livre e que pode ir para casa nega o fato de que Anna Mae nunca pôde ir para casa”, disse a filha de Aquash, Denise Pictou Maloney.

Em sua entrevista à AP, Peltier negou ter conhecimento da morte de Aquash.

‘Eu não dei minha vida por nada’

No final, Biden ouviu o conselho da ex-secretária do Interior Deb Haaland, membro do Pueblo de Laguna e a primeira nativa americana a liderar o Departamento do Interior. Peltier foi libertado em 18 de fevereiro e voltou para Dakota do Norte.

Uma semana depois, ele ainda acorda com frequência à noite, apavorado com a possibilidade de tudo ter sido um sonho e de ainda estar em uma cela.

Peltier continua confinado em sua casa e na comunidade vizinha. Mas agora ele tem acesso a tratamento médico de rotina para seus diversos problemas de saúde, inclusive um aneurisma da aorta. Ele se locomove com a ajuda de uma bengala ou de um andador.

Ele se anima com as muitas pessoas que o visitam e deixam presentes, como medalhões de contas, cartas e obras de arte, que estão se acumulando em sua casa.

Peltier quer ganhar a vida vendendo suas pinturas, como fazia na prisão, e planeja escrever mais livros. Ele também quer instruir jovens ativistas sobre as ameaças que enfrentarão.

Quando estava na prisão, deitado em seu beliche à noite, ele sempre se perguntava se seus esforços de protesto resultaram em alguma mudança. Ver os jovens ativistas nativos de hoje continuando a lutar pelas mesmas coisas dá sentido aos 49 anos em que ele esteve preso.

“Isso me faz sentir muito bem, cara, faz mesmo”, disse ele, segurando as lágrimas. “Estou pensando, bem, não dei minha vida por nada.”

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agência de notícias anarquistas-ana

mostro o passaporte
minha sombra espera
depois da fronteira

George Swede

[Espanha] “Infiltração é tortura, as devolveremos todas”

Nos últimos anos, revelaram-se as identidades reais de nove policiais infiltrados nos movimentos sociais de Madri, Catalunha e Valência.

Sobrepondo-se aos sentimentos de tristeza, raiva e medo que provoca ter um policial em suas vidas pessoais e políticas, as ativistas deram um passo à frente e se organizaram para que a atuação desses miseráveis não fique impune. 

Cada vez que se descobria um novo infiltrado, as militantes trouxeram à luz seus dados pessoais, suas caras e, quando possível, seus domicílios e locais de trabalho. 

Faz uns meses, os moradores da casa de La Elipa do policial Sergio Gigirey Amado descobriram, graças a uns cartazes e panfletos, que conviviam com um torturador que esteve infiltrado no coletivo de Moratalaz Distrito-14. 

María Ángeles («Marian») Gómez Armendáriz, que esteve infiltrada durante 35 anos em diversas organizações madrilenhas, pode-se ver nos vídeos que gravaram passeando com seu cão ao redor de sua moradia de Aranjuez e Ramón Muñoz Fernández, infiltrado em Valência, se verá nos cartazes com sua cara quando anda pelas ruas do Prat de Llobregat.

Daniel Hermoso Pérez, infiltrado em Barcelona, e María Victoria Canillas Sánchez «Mavi», infiltrada em Madri, foram gravados nas academias de Mótoles e Chamartín que frequentam e Carlos Pérez Moreno e Ignacio José Enseñat Guerra Carlos Pérez Moreno, infiltrados em Madri e Barcelona, se sentirão pouco tranquilos em suas casas de Algarrobo (Málaga) e de Mahón (Menorca) que compraram com o dinheiro obtido maltratando nossos companheiros. Este último recebeu uma visita em seu local de trabalho por parte do coletivo Arran, na qual realizaram pichações recordando-lhe que “Infiltração é tortura, as devolveremos todas”. 

Porque, como dizia uma das vítimas das infiltrações no documentário Infiltrats “O monstro está aí e o monstro é real e suas táticas são horripilantes, mas ainda assim somos valentes. E estamos trazendo à luz o que eles nunca esperavam”. 

Fonte: https://www.todoporhacer.org/febrero-2025/

Tradução > Sol de Abril


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agência de notícias anarquistas-ana

Algo faz barulho —
Cai sozinho, sem ajuda,
O espantalho.

Bonchô

[Espanha] Redes Libertárias entrevista o Ateneu Al Margen

Redes Libertárias (RRLL): Quando surge o Ateneu Al Margen?

Ateneu Al Margen (AAM): Embora o Ateneu tenha começado a programar atividades abertas ao público a partir de 1986, o projeto já estava sendo concretizado nos anos anteriores. Como primeira referência, pode-se citar a realização da Semana Cultural da CNT (Cine Alameda, 1980) por um grupo de militantes anarcossindicalistas de Valência, cujo núcleo organizativo também estaria presente no nascimento da Rádio Klara em 1982. Os impulsores dessas iniciativas entraram em contato com outras pessoas do campo libertário valenciano (algumas da CNT, outras não) com o objetivo de fortalecer o coletivo e dotá-lo de um espaço estável e amplo, onde pudessem ser desenvolvidas o maior número possível de atividades culturais e artísticas, ao mesmo tempo em que servisse de espaço para a difusão das ideias anarquistas.
Após várias reuniões preparatórias, começaram a ser dados passos para consolidar o projeto, foram definidas as contribuições dos aderentes, criadas comissões de trabalho e, em 1984, já foi adquirido um imóvel no centro histórico da cidade (muito próximo da planta baixa atual) e iniciadas as obras para adaptá-lo às necessidades do centro ou café cultural que se tinha previsto. No entanto, para seu registro e legalização, foi utilizada a denominação de Associação Cultural Estudos, sendo alterada logo depois para Al Margen; assim se manteve até hoje, embora a nível interno e para a programação ou relações com outros grupos, tenha sido decidido utilizar a figura de ateneu libertário.

Quanto ao surgimento da revista Al Margen, que vem sendo publicada ininterruptamente desde 1992, é importante lembrar que seu nascimento ocorreu a partir de um encontro-jantar da militância libertária que o Ateneu convocou em seu 5º Aniversário; desse encontro surgiram iniciativas como o lançamento de uma publicação periódica de debate e reflexão sobre o anarquismo, a criação de uma caixa alternativa para financiar projetos de interesse social ou a reivindicação da memória de Valentín González, trabalhador afiliado à CNT assassinado anos antes na greve do Mercado de Abastos.

RRLL: Quais objetivos vocês estabeleceram?

AAM: Os objetivos desde o início eram dotar-nos de um local e recursos amplos o suficiente para manter o espaço aberto a todo tipo de propostas vanguardistas e críticas ao sistema político e cultural, além de contar com uma boa biblioteca, um arquivo histórico, salas de reunião, um café para as conversas e uma sala multiuso com capacidade suficiente para realizar exposições, teatro, conferências, recitais e outros eventos que surgissem.
É evidente que o projeto inicial era muito ambicioso e que se sabia que nem todos que participaram das primeiras jantas e reuniões se incorporariam à dinâmica de trabalho militante, mas o fato é que, ao ter resistido por quarenta anos e ver em perspectiva tudo o que foi feito, podemos valorizar positivamente a trajetória de Al Margen como coletivo libertário e pensar que algo contribuímos para a renovação e difusão das ideias anarquistas.
Resumindo, dessa trajetória destacam-se a infinidade de atividades realizadas em nossos dois locais sucessivos, os 132 números da revista, a quarentena de livros publicados pela Ediciones Al Margen, nossa participação em programas da Rádio Klara e Rádio Malva, em feiras de livros anarquistas, em mobilizações sociais, etc.
Em definitiva, acreditamos que valeu a pena e, mais importante ainda, que desfrutamos e criamos um grupo de afinidade com uma forte carga afetiva.

RRLL: Quais são os objetivos prioritários?

AAM: Nossas prioridades hoje em dia são resistir ao máximo com o projeto e prolongar nossa permanência pessoal até que as forças permitam. Isso e manter braços e portas abertas para qualquer pessoa jovem que tenha a intenção de se unir ao coletivo e contribuir com suas ideias e ilusões para um futuro que se prevê complexo. De fato, nos últimos meses houve a incorporação de várias pessoas jovens, com as quais procuramos sintonizar para dar continuidade ao ateneu.
Nessa linha, e considerando a escassez de forças e recursos, nossos compromissos atuais incluem manter e melhorar a revista – ampliando o número de colaboradores e leitores -, ir editando alguns livros – tanto textos clássicos do anarquismo como novos trabalhos de pessoas próximas -, e continuar com as atividades habituais de palestras, exposições, poesia, cinema, etc. Também não renunciamos, apesar das reiteradas decepções e frustrações, ao desejo de alcançar uma relação maior e mais fluida entre as múltiplas visões e realidades do movimento libertário, tanto local quanto internacional.

RRLL: Para quem são direcionadas suas atividades?

AAM: Quando programamos uma atividade, nos dirigimos, através de redes sociais e rádios livres, ao maior número possível de destinatários, sabendo logicamente que serão as pessoas mais próximas de nossas ideias as que estarão interessadas. Da mesma forma, fazemos sempre que publicamos um livro ou um novo número da revista.

Mas geralmente são as pessoas que mantêm uma certa relação histórica com o ateneu ou que, em algum momento, colaboraram em nossas atividades que melhor respondem às nossas convocatórias.
Quanto a contatos mais permanentes e colaborações, contamos com os coletivos com os quais tradicionalmente mantemos uma linha de trocas e apoio: rádios livres, ecologistas, feministas, editoras, revistas alternativas, outros ateneus e espaços libertários.
Também temos entre nossos seguidores um bom número de escritores, poetas, pintores, músicos, livreiros, desenhistas, etc., que nos ajudam quando solicitamos.

RRLL: Quais meios de divulgação vocês utilizam?

AAM: Como já foi dito em algum trecho anterior, não descartamos, a priori, nenhum meio de divulgação para nossas convocatórias, embora seja verdade que, com o passar dos anos, temos apostado nos mais eficazes e acessíveis. De fato, nos primeiros anos, costumávamos enviar nossas notas sobre atividades também para rádios e jornais convencionais (Levante, RNE, Cartelera Turia, etc.), mas acabamos nos concentrando nos meios mais próximos e acessíveis: rádios livres, nosso site e redes sociais, grupos de WhatsApp, blogs, publicação de eventos, etc.

RRLL: Contem-nos sobre as características da sua revista

AAM: A revista Al Margen foi mudando com o tempo. No início, era um pequeno boletim com cerca de 12 páginas, sem cores nem fotos, mas progressivamente fomos adicionando páginas (até 32, 36 ou 40, dependendo dos materiais recebidos), duas cores na capa e contracapa, fotos, etc.
Temos várias seções fixas: editorial, poesia, resenha de livros ou filmes, humor (A tapia e Ecos de sujidade), fotos, sindicalismo, notícias e convocatórias de movimentos sociais (El embudo), frases célebres e catálogo das nossas publicações. Desde o nº 30, incluímos um dossiê sobre algum tema de interesse. Além disso, contamos com colaborações fixas em temas como feminismo, ateísmo, ecologia e outros.
A periodicidade, desde o início, é trimestral, o que nos obriga a manter um compromisso e um ritmo determinado de trabalho: escolha do próximo tema para o dossiê, difusão temática proposta, solicitação de colaborações, pedidos de fotos e desenhos para capa e ilustrações internas, diagramação, correções, impressão e, finalmente, distribuição aos pontos de venda e assinantes.

RRLL: A revista ocupa um lugar prioritário?

AAM: Nem sempre foi assim, mas atualmente, provavelmente, é à revista que mais tempo e recursos dedicamos. No entanto, continuam sendo realizadas outras atividades e, quando surge um tema que exige maior dedicação e esforço, ele é tratado.
Se tivesse sido mantido o nível de militância dos primeiros tempos, é muito provável que outras temáticas (presos, biblioteca, memória histórica, distribuidora, antirracismo, etc.) recebessem maior atenção.

RRLL: Quais colaborações poderiam ser feitas entre grupos e publicações anarquistas?

AAM: Em sintonia com o que foi exposto nas respostas anteriores, consideramos muito interessante a colaboração e o intercâmbio de ideias e trabalhos com outros grupos e publicações, mas, conhecendo nossos limites, não nos atreveríamos a grandes projetos nos quais, infelizmente, acabaríamos não cumprindo com os compromissos assumidos. No entanto, até onde pudermos, estamos abertos a colaborar em debates, encontros ou palestras que possam ser gerados com Redes Libertárias e com os outros espaços e publicações de nosso entorno.

Fonte: https://acracia.org/redes-libertarias-entrevista-al-ateneo-al-margen/

Tradução > Liberto

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Longa chuvarada…
Nos matos e nas lagoas,
um canto de vida.

Humberto del Maestro

[França] Vídeo | Marselha: um carnaval popular e rebelde

Neste fim de semana, em Marselha, mais de 13.000 pessoas participaram do Carnaval de la Plaine, uma grande festa de rua autogerida e comprometida.

Para esta 25ª edição, o Carnaval aconteceu em dois dias: uma primeira fogueira iluminou a noite no sábado, 15 de março, à noite, depois um desfile de rua aconteceu no domingo, 16. Fantasias coloridas, corais, máscaras, carros alegóricos e slogans contra a repressão e a extrema direita encheram as ruas.

Uma réplica de carro de polícia e grandes cabeças simbolizando os opressores pegaram fogo na noite de domingo, enquanto a multidão dançava e cantava ao redor da fogueira. Como sempre acontece, a polícia chegou para estragar a festa por volta das 22h, usando granadas e um canhão de água antes de entrar em ação. Mas eles não conseguiram impedir que a festa selvagem e coletiva que acabara de acontecer fosse um sucesso.

Desde seus primórdios, o carnaval tem sido um momento para o povo desabafar, se revoltar e derrubar valores estabelecidos. Um falso “rei” temporário é nomeado, as pessoas se vestem, gêneros e papéis são invertidos, eles celebram e ídolos são queimados. O capitalismo contemporâneo destruiu o significado dos carnavais, que se tornaram procissões regimentadas, turísticas e sinistras, controladas pelo Estado.

Como acontece todos os anos, o Carnaval de Marselha traz à tona a verdadeira tradição do Carnaval: um momento de alegria e irreverência. E, apesar das ameaças das autoridades, nunca houve tantas pessoas no Carnaval de la Plaine. E se esse tipo de carnaval popular e rebelde florescesse em todos os lugares?

>> Veja o vídeo aqui:

https://contre-attaque.net/2025/03/18/marseille-carnaval-populaire-et-revolte-2/

agência de notícias anarquistas-ana

Árvore sem frutos
ainda é uma árvore:
frutifica sombra.

Isaac

[Itália] Não aos megaprojetos de devastação – Vamos parar o porto de cruzeiros em Fiumicino!

Bilancione Occupato é um pedaço do nosso coração. O Bilancione é muito mais do que um espaço físico: é um lugar de agregação, cultura e resistência, um ponto de luta que, ao longo desses anos, tem sido um ponto de referência para o território de Fiumicino e para aqueles que vivem de relações baseadas na autogestão e na solidariedade.

O porto de cruzeiros de Fiumicino, promovido pela Royal Caribbean, é uma ameaça à vida do mar e das pessoas.

Mais uma vez, por trás da retórica do “desenvolvimento”, se esconde a mesma lógica predatória: concreto, poluição e especulação em benefício de poucos, em detrimento de todos. Este mega projeto transformará a costa em uma enorme infraestrutura turística, apagando a vida. Os lucros das multinacionais de cruzeiros virão à custa de um ecossistema comprometido, da erosão costeira e da poluição marinha e atmosférica, como já ocorreu em muitos outros portos do Mediterrâneo.

Nosso NÃO ao porto de cruzeiros em Fiumicino se reflete na luta.

Mantenham as mãos longe do Bilancione!

Nos vemos lado a lado em Fiumicino.

L38SQUAT

33 anos de ocupação, 33 anos de autogestão

l38squat.noblogs.org

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Muro de parquinho –
Pequena abelha descansa
sobre a flor pintada.

Teruko Oda

[França] Niort – Série de incêndios: 15 carros da burguesia são colocados fora de serviço

Mas o que acontecerá com o proletário sem seu Tesla?

Entre 14 de setembro de 2024 e 18 de março de 2025, para atrapalhar a vida cotidiana da pequena burguesia, ou pelo menos de indivíduos que se comportam como tal, 15 de seus carros foram incendiados na região de Niort.

Nenhum desses veículos pegou fogo acidentalmente, como os “jornais” La Nouvelle République e Ouest-France escreveram em seus artigos.

Obviamente, é muito mais cômodo para os “jornalistas” transmitir as mentiras da polícia em vez de fazer perguntas sobre uma série curiosa de incêndios envolvendo exclusivamente veículos de luxo…

2 Tesla – 18 março 2025 – Rue de Gabiel, Chauray

Tesla Model 3 – 10 março 2025 – Route d’Aiffres, Niort

Porsche Cayenne – 21 fevereiro 2025 – Rue Brin-sur-Seille, Niort

Tesla Model Y – 30 dezembro 2024 – Place Georges Renon, Niort

Tesla Model S – 28 novembro 2024 – Avenue Léo Lagrange, Niort

Tesla Model 3 – 24 novembro 2024 – Rue de l’Industrie, Niort

Tesla Model 3 – 18 novembr0 2024 – Boulevard Charles Baudelaire, Niort

Porsche Macan – 12 novembr0 2024 – Rue Pierre Poisson, Niort

Tesla Model 3 – 28 outubro 2024 – Rue de Gabiel, Chauray

Aston Martin – 22 outubro 2024 – Avenue de Limoges, Niort

Tesla Model Y – 21 outubro 2024 – Rue de l’Industrie, Niort

Tesla Model 3 – 15 outubro 2024 – Avenue de Limoges, Niort

Tesla Model 3 – 7 outubro 2024 – Avenue Saint-Jean d’Angély, Niort

Tesla – 15 setembro 2024 – Route d’Aiffres, Niort

– Porque a luta contra a burguesia não tem limites.

– Porque a ação direta é mais do que necessária neste mundo.

– Porque as ações sempre serão mais eficazes do que as palavras.

Dica:

Às vezes, é mais seguro queimar 12 Tesla’s em 12 noites do que em uma.

Apoio a todos os companheiros que estão lutando contra os parasitas desta sociedade: o Estado, os capitalistas, seus cães de guarda… e aqueles que os apoiam.

A luta continua.

Anarquistas

Fonte: https://nantes.indymedia.org/posts/141862/serie-dincendies-a-niort-15-voitures-de-bourgeois-mis-hors-service/

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Num pesado embalo
alguém traz a cerejeira –
Noite de luar.

Suzuki Michihiko

[Espanha] Novidade editorial: “Escuela Eliseo Reclús. Una experiencia de educación autogestionada”, de Félix Carrasquer

A presente obra é uma tentativa de recuperar do esquecimento parte de nossa cultura libertária e um fragmento das correntes não autoritárias no âmbito da pedagogia. A escola Eliseo Reclús foi uma das escolas baseadas em ditas correntes. Poderemos encontrar a cotidianidade deste projeto revolucionário, os obstáculos com os quais se toparam, a metodologia desenvolvida por seus próprios protagonistas, quer dizer, as alunas/os e os impulsionadores do mesmo projeto.

Escuela Eliseo Reclús. Una experiencia de educación autogestionada

ISBN:978-84-16553-05-1

Coleção: Pedagogies

Autor: Félix Carrasquer

Páginas: 230

Preço 7,00 €

descontrol.cat

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Ao sol da manhã,
Imóvel como se dormisse,
A coruja no fio.

Paulo Franchetti